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sexta-feira, 13 de março de 2015

REFLEXÃO 260 - A IGREJA QUE SONHAMOS E QUE DEUS QUER QUE SEJAMOS

A Igreja Que Sonhamos e Que Deus Quer Que Sejamos


Uma igreja que celebra, contempla e se consagra a Deus em plena adoração, que testemunha com fervor do amor de Cristo aos perdidos , que integra seus membros numa dinâmica vida espiritual baseada na prática do amor fraternal, que prima por expressar o singular caráter de Jesus Cristo ao mundo pela maturidade dos membros de sua comunidade, os quais se fortalecem e servem mutuamente pelo uso intransferível de sua habilidade carismática, não são apenas as características da igreja que sonhamos, na verdade trata-se da identidade da igreja que Deus quer que sejamos e que pelo poder do Espírito Santo podemos chegar a ser.

Introdução
Quem dentre nós já não fez uma imagem mentalizada daquilo que gostaríamos que nossa igreja local fosse em sua prática ministerial ? Uma igreja em que as características acima não lhes seja um retrato fiel ? Com certeza, muitos de nós já sonhamos com nossa igreja local tendo esta identidade. Uns há que já imaginaram sua igreja com uma Escola Bíblica Dominical com um expressivo número de matriculados. Há aqueles que se contassem com 200 alunos matriculados na Escola Dominical estariam realizando um sonho que há muito alimentam e que certamente os deixaria "orgulhosos" de pertencerem a uma igreja assim. Outros há que a imaginam com um culto noturno onde toda sua bancada estivesse repleta de adoradores que juntos, todos, entoassem com ardor e alegria contagiantes hinos e cânticos de celebração à santidade, majestade, graça e amor de nosso Deus, trazendo regozijo e leveza a seu espírito adorador.


Outros também já sonharam contemplando-a com um repleto grupo de jovens saindo às ruas, distribuindo folhetos, fazendo pregação da Palavra ao ar livre, testemunhando com ousadia de sua fé cristã, convencidos de que não há uma fé semelhante sobre a face da terra, vociferando a seus amigos e até inimigos que em sua igreja local o Senhor reina e que aqueles que não são membros dela ainda não sabem o que estão perdendo. Há aqueles ainda que, comprometidos com uma doutrinação firme, anelam por ver os membros de sua igreja local distinguindo o que é teológicamente correto daquilo que não passa de heresia e modismo religioso e que traz subjacentes as mesmas, letais mentiras satânicas. Há aqueles também que já mentalizaram sua igreja conduzindo dezenas e até centenas de jovens ao altar matrimonial onde gozem e conheçam o que é a benção de ter um lar cristão.
E o que falar daqueles que com uma visão missionária e ministerial grandiosa já não sonharam com sua igreja tendo vários e diversificados ministérios ? Ministério como alguns voltados para menores abandonados, prostitutas, universitários, alcoólatras, viciados em drogas, dramaturgia, coral, grupos de louvor musical, institutos bíblicos, atletas de Cristo, etc. Mas quão grande é a decepção e frustração de muitos de nós quando saímos do mundo dos sonhos e voltamos à realidade e nos deparamos com uma igreja diametralmente oposta àquela que mentalizamos, imaginamos, sonhamos e que Deus espera e quer que sejamos. Em vez de uma Escola Dominical com 200 alunos, como sonhado, nossa realidade nos amargura quando olhamos no relatório e constatamos que não passamos dos mesmos matriculados dos últimos sete anos, evidenciando a falta de progresso naquela que muitos consideram o carro chefe do propósito de edificação da igreja local.
A tormenta aumenta quando nos deparamos com um culto noturno de uma assistência que não chega ao número ensejado de pessoas, pois os irmãos não convidam seus amigos e vizinhos para dele participarem, e o que é pior, a celebração feita não cativa, não contagia e nem alegra, tendo a sensação muitas vezes, em meio a estes cultos, que se estivéssemos em um funeral seria bem mais vibrante, pois lá pelo menos estariam rolando algumas piadas e cafezinho com bolachas. Na verdade, o próprio ambiente de culto dificulta qualquer convite à pessoas não crentes à sua participação.
Você entra em desespero quando percebe que sua mocidade não é dinâmica, mas letárgica, fria, e descomprometida, onde seu único compromisso é o de terem satisfeitos os seus caprichos, que por serem tão infantis e banais ofendem e irritam os mais velhos da igreja; e que em vez de serem jovens testemunhadores são mimados e querem ser servidos e não servidores como você sonha. Você até pensa em desistir da fé quando descobre que na verdade a grande maioria de seus jovens e de tantos outros irmãos não passa de uma legião de "ocos espirituais" e que estão mais preocupados com seu próprio mundo, para não dizer ventre, do que ver os propósitos de Deus ministrados e realizados em suas vidas. Mediante tudo isso até dúvidas de que sua igreja seja uma igreja, de fato, você começa a nutrir. Se o que acabo de descrever lhe ofende ou descreve seus sonhos ou realidade sobre a natureza de sua igreja local, não se irrite e nem se desespere.
Como membro de uma mesma igreja, durante onze anos, e seu pastor durante seis, vivenciei os dois lados. Viajava em sonhos imaginando que minha igreja local fosse dinâmica, mas me angustiava com a realidade de sua letargia, frieza e descompromisso no viver e compartilhar de sua fé. Entretanto, em árduos, às vezes tumultuosos, e conflitivos seis anos como pastor de uma pequena igreja vi meu sonho se realizando em realidade paulatinamente. Confesso que ele não chegou ao ponto que minha imaginação muitas vezes me fez transportar, mas deixaria qualquer pastor em estado de "realização ministerial" ao ver até onde Deus nos conduziu. E isso, mesmo desvirtuando-nos em muitas ocasiões de seus propósitos claramente revelados. Sofremos, choramos, nos angustiamos, mas crescemos. Mas o crescimento que a igreja experimentou em meu ministério, no de outros que me antecederam e experimentará no dos que hão de me suceder, não foi e nem será obra do acaso ou fortuito. Resultou e resultará antes de uma compreensão de quem Deus é e de como Ele quer Sua igreja. Isto é, o crescimento se dá quando a igreja aceita o fato de que Deus é quem efetua o seu crescimento e que nós podemos, como membros dela, ter a benção de ser seus instrumentos para isso.
Dentre as muitas coisas que nos foram necessárias aprender, em nosso processo de retomada do crescimento eclesiástico, e não foram pouco as vezes em que isso veio através da dor, estava a imperativa iniciativa de demover de nossas mentes e corações o que não se coadunava com a vontade revelada de Deus em sua Palavra. Para que a saúde espiritual retornasse, e com ela chegasse a retomada do crescimento de nossa comunidade, pois desde que houvéramos nascido tínhamos crescido. tínhamos que renovar nossa mentalidade pela Palavra de Deus, como soleniza-nos o apóstolo Paulo em Romanos 12:1-2. É que em nosso processo histórico de ministério eclesiástico, deixamo-nos enfermar por males que atrofiaram e impediram nosso crescimento e amadurecimento durante alguns anos.
E se em vez de ficarmos procurando um culpado para o retrocesso em nosso processo de crescimento, como ficamos fazendo durante significado tempo, tivéssemos diagnosticado os males, e juntos, cada um cooperado, dando o máximo de si a Deus, não teríamos perdido tanto e muitos de nossa geração que deixamos de alcançar em função disso, teriam sido alcançados com o evangelho de Cristo através de um ministério bem mais sadio de nossa igreja local. Descobrimos também que o caminho do crescimento sadio não oferece atalhos, mas deve ser trilhado pelos trilhos absolutos dos princípios de Deus. São os infalíveis e universais princípios revelados na Palavra de Deus que qualquer igreja local precisa compreender e incorporar, caso queira crescer e ser a igreja que sonha e que Deus deseja que venha a ser.
E qualquer igreja local que paute sua identidade e seu ministério na teologia bíblica tem reais possibilidades de crescer o crescimento que vem de Deus. Não podemos querer ser uma igreja modista, cuja fé varia e oscila de acordo com as circunstâncias da vida e da sociedade humana. Afinal de contas, antes de ser um fenômeno social, a igreja é estritamente de caráter teológico. E uma má compreensão disso pode vir a ser o caos, como de fato tem sido em muitos casos contemporâneos. Decididamente se não for para sermos a igreja que o Senhor quer e espera que sejamos, é melhor desistirmos e cada um ir para sua casa e cuidar de seu mundo restrito, aguardando apenas o dia de acertarmos nossas contas com o Senhor da igreja. Em Atos 2:42-47 e 4:32-37 encontramos as características da igreja que sonhamos e que Deus quer que sejamos. E o melhor é que nós, pela graça de Deus, também podemos ser uma igreja com aquelas características, acredite! Vejamos estas características:
Desenvolvimento

I. Primeira Característica: Uma Igreja Edificada Em Sua Fé - Atos 2:42a
O texto acima sugere que a igreja em Jerusalém era uma igreja fortalecida em sua fé, sólida no que cria e no que fazia. Este fortalecimento era oriundo de sua perseverança na doutrina dos apóstolos (Cf. Atos 2:42 a). Isto é, seu apego e orientação baseados na doutrina dos apóstolos lhes dava a característica de uma igreja fundamentada na Palavra de Deus a eles revelada. Isto significa que a Palavra de Deus era o seu manual de crença e conduta, o que nos impõe algumas implicações ministeriais práticas. Por exemplo, se cada crente não estiver desejoso de conhecer mais sobre Deus e de Sua Palavra, valorizando com sua presença, atenção, esmero e cuidado os programas da igreja que lhes proporcionam firmeza na Palavra de Deus, ou mesmo pessoalmente como autodidatas, caso sua igreja não lhes proporcionem tais programas, estarão demonstrando que não querem construir e fazer parte de uma igreja fortalecida em sua fé.
Antes estarão revelando que seus propósitos em relação a sua igreja local diferem daquilo que Deus quer para ela, visto não se importarem com seu fortalecimento doutrinário. E neste sentido serão muito mais uma pedra de tropeço e escândalo do que instrumentos que desejam ser usado na edificação da comunidade de seus irmãos em Cristo, mesmo que neguem isto com toda sorte de argumentos. Além é claro de se tornarem presa fácil de heresias sedutoras, enganadoras e destruidoras da genuína fé cristã. Afinal, não é a Palavra de Deus que nos equipa para toda boa obra (Cf. 2 Timóteo 3:16-17) ? Só na firmeza da Palavra de Deus e por sua aplicação, pelo Espírito Santo, uma igreja local é edificada e tem o caráter de Cristo formado plenamente em si (Cf. Atos 20:28-32 com Efésios 4:11-16).
Na verdade, todo que se diz crente mas não submete-se a autoridade das Escrituras é instrumento de Satanás para impedir que a igreja seja fortalecida em sua fé (Cf. 1 Coríntios 5:1-13 com Romanos 16:17-18). Não foi à toa que o apóstolo Paulo instigou o jovem pastor Timóteo a centrar seu ministério na proclamação da Palavra de Deus (Cf. 2 Timóteo 4:1-5). O mesmo apóstolo ressaltara aos crentes em Corinto que não pensara em apoiar a fé deles em outra coisa senão na Palavra de Deus (Cf, 1 Coríntios 2:1-5). E qualquer igreja local que queira crescer sadiamente não pode ignorar este princípio, principalmente nestes dias em que o hedonismo religioso é prevalecente em muitos círculos evangélicos e o evangelho tem sido encarado mais como um produto de consumo capitalista que se molda ao gosto daqueles que o consomem. Edificar a igreja na Palavra de Deus, incutindo pela sã doutrina, a noção exata de quem Deus é e o que faz em sua criação, é extremamente revolucionário na atual conjuntura evangélica.
E se para nos solidificarmos como igreja sadia, temos que perpassar pelo boa doutrinação dos membros de nossa igreja, como nos demonstra a eclesiologia bíblica, temos que nos colocar na contra mão da tendência eclesiástica de nossos dias, que prima pela superficialidade da sã doutrina e que tem legado ao mundo uma imensa geração de "ocos espirituais", preocupados mais com seu próprio ventre do que com a glória de Deus. Isto é, a tendência atual é a de que os crentes fiquem bem consigo mesmos do que mesmo venham a ter o caráter de Cristo como marca de sua maturidade cristã.

II. Segunda Característica: Uma Igreja Integrada Em Sua Fé (Atos 2:42b, 44-45 e 4:32-35)
O texto clássico de Mateus 28:19-20 deixa claro que aqueles que forem feitos discípulos de Cristo devem ser batizados em nome do Pai, Filho e Espírito Santo e serem ensinados a guardar tudo quanto Jesus tenha ordenado. A referência ao batismo aqui implica muito mais que mera descida às águas. Quando a ordem batismal é associada ao imperativo de discipulado nos mandamentos de Cristo, como neste texto, o batismo sobressai-se ao mero significado de imersão aquática. Ele passa a significar a integração do novo convertido na vida da igreja local que o levou ao conhecimento da salvação em Cristo. Significa torná-lo participante ativo na interação de vida que há entre os nascidos de novo.
Significa recebê-lo como novo integrante da família dos nascidos de Deus e dedicar-lhe os cuidados necessários a um recém nascido para que se desenvolva, amadureça, cresça e se reproduza. Que os novos convertidos ganhos pela igreja em Jerusalém eram integrados de forma plena na vida comunitária daqueles crentes é evidenciado tanto em Atos 2:42b, que assevera sua perseverança na comunhão, quanto em Atos 2:44-45 e 4:32-35, que descrevem a natureza desta comunhão, que estendia-se aos níveis das necessidades básicas e materiais uns dos outros, e não apenas em comunhão espiritual. Ou seja, aquela igreja tinha uma vida cristã muito mais carismática, como um organismo vivo, do que uma vida institucionalizada, como uma associação de pessoas com interesses comuns.
A falta de uma plena integração dos novos convertidos à família da igreja local, para que desenvolvam sua salvação alcançada em Cristo, com o auxílio dos irmãos mais antigos e maduros na fé, tem sido um dos maiores dramas de muitas comunidades cristãs de nossos dias. Ou seja, os novos convertidos saem pelas portas do fundo das igrejas na mesma proporção em que entram pelas da frente. O êxodo tem sido proporcional a entrada. Mas se uma igreja local quer crescer sadiamente ela terá que fazer a integração plena de seus novos convertidos. Isto envolve uma plena comunhão da vida que os crentes têm em comum como mesma herança de Deus Pai em Cristo, através do Espírito Santo. Com isso, quero dizer que não só podemos ser uma igreja que cresce na comunhão, integrando seus novos convertidos e presenciando a interação de vida abundante entre seus membros, como temos a "obrigação" de fazê-lo pois as armas para isso já nos foram dadas por Cristo.
Isto é, a nova natureza e o Espírito Santo são uma realidade na vida dos crentes em Cristo, o que os potencializa a serem o novo homem que expressa a imagem do Filho de Deus (Cf. Gálatas 5:16-23 com Romanos 8:29-30). A igreja é essencialmente uma assembléia de novas criaturas que juntas vivem o evangelho, expressando ao mundo o caráter que estão desenvolvendo em Cristo pelo Espírito Santo, para a glória de Deus Pai. Uma igreja local organizada, portanto, que agregue pessoas nascidas do Espírito Santo, e que estejam dispostas a juntas viverem sua fé com base nesta vida comum, tem apenas que organizar e/ou reformular suas estruturas eclesiásticas para que a integração e troca de vida lhe seja possibilitada com mais freqüência, intensidade e vivacidade do que o que tenha vivido até então.

III. Terceira Característica: Uma Igreja Evidenciada Por Sua Fé - (Atos 2:47 e 8:1-5)
As igrejas locais tem marcas características que as distinguem uma das outras, tendo determinadas particularidades que evidenciam sua natureza e ministério. Em alguns casos estas marcas evidenciam enfermidades, revelando uma identidade distorcida e um ministério quebrado. Tal é o caso da igreja em Corinto, que apesar da abundante riqueza carismática (Cf. 1 Coríntios 1:7) lhe faltava a evidência maior do fruto do Espírito Santo, o amor (Cf. 1 Coríntios 13). A igreja em Jerusalém por outro lado era reconhecida pela autenticidade de sua fé, por sua lealdade ao Senhor Jesus Cristo, pela beleza de suas relações pautadas no amor cristão fraternal, por isso, como diz Lucas em Atos 2:47 contavam "com a simpatia de todo o povo" e "acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos". Jerusalém era uma igreja que por encarnar o real sentido do termo "igreja" impactou a sociedade de sua época com um testemunho avassalador. Ou seja, a igreja em Jerusalém transpirava, respirava e evidenciava Jesus Cristo.
Propalavam-no como o único Senhor e Salvador capaz de dar sentido a vida de quem quer que nEle cresse. E qualquer igreja local cujo testemunho não evidencie, com vidas, que em Cristo há poder de transformação não logrará muito êxito, sendo quase certo seu definhamento como comunidade cristã. Isto é, nenhuma igreja local se expandirá se não testemunhar com vida transformada o evangelho de Cristo. Não há expansão eclesiástica sem evangelização eclesiocêntrica, fundamentada e pautada no conteúdo do poderoso evangelho de Cristo. A evangelização é pela igreja, por isso é eclesiocêntrica, mas seu conteúdo deve ser estritamente crístico e não humanístico.
Este era o diferencial na evangelização de muitas igrejas nos primórdios da era apostólica. É necessário sermos autênticos e fundamentados em nossa fé, leais ao Senhorio de Cristo custe o que custar, embelezados em nossas relações pela prática do amor fraternal, como eram os fiéis da igreja em Jerusalém, caso queiramos um testemunho evangelístico de real impacto. Potencial para conseguirmos galgar uma realidade semelhante a deles ? Deus já nos dispôs desde que sobre a igreja desceu o Espírito Santo, dando-lhe poder e graça para que fosse sua testemunha pelos quatro cantos da terra (Cf, Atos 1:8). Viver para tornar cada espaço que ocupo num ambiente onde Cristo seja conhecido e levar cada pessoa com quem me relaciono a contemplar Jesus Cristo em minha vida, deve ser a razão mor de minha existência como cristão.

IV. Quarta Característica: Uma Igreja Equipada Em Sua Fé (Atos 2:42c e 6:1-6)
O apóstolo Paulo em carta escrita aos crentes de Éfeso assevera-nos que apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres são concedidos por Cristo à igreja para que equipem os santos, para que estes desempenhem a obra do ministério (Cf. Efésios 4:11-12). Esta assertiva de Paulo contrapões-se a tendência clericalista de ministério prevalecente em muitas igrejas contemporâneas. Na verdade, o texto de Efésios, ladeado por 1 Pedro 4:10, revela-nos a verdade de que cada crente é um ministro de Deus na igreja. Não há a tão comum e propalada dicotomia pastor e leigo na obra ministerial. O que há, de acordo com a eclesiologia bíblica, são variedades funcionais e diversificações ministeriais (Cf. Romanos 12:3-8) mas nunca hierarquia sacerdotal, pois todos na igreja são sacerdotes de Deus, não havendo nenhum crente que não o seja (Cf. 1 Pedro 2:9-10). Por isso todos os crentes tem pelo menos uma habilidade carismática com a qual deve e pode contribuir na edificação de sua igreja local (Cf. 1 Coríntios 12:7 com 14:12).
A tão notificada rede ministerial, que organiza diferentes e diversificados ministérios eclesiásticos baseados nos dons espirituais dos membros da igreja, não é nenhuma novidade revolucionária, antes já constituíra-se princípio e prática ministerial nas igrejas apostólicas (Cf. 1 Coríntios 12:4-6). O fim último no desenvolvimento da salvação do crente é que ele venha a ter a imagem de Cristo (Cf. Romanos 8:29-30) e que se constitua em um ministro ativo da graça de Deus na comunidade eclesiástica (Cf. 1 Pedro 4:10 com Efésios 4:11-16). Havia uma nítida preocupação por parte dos apóstolos, especialmente por parte de Paulo, em que os líderes das igrejas ocupassem-se em equipar os crentes para o desempenho de seu sacerdócio real (Cf. 2 Timóteo 2:1-2). Conosco não pode ser diferente!
Que a igreja em Jerusalém era uma igreja equipada em sua fé, com pleno desenvolvimento do sacerdócio universal de seus crentes, se vê na narrativa de Lucas em Atos. No capítulo 8:1-5, por exemplo, o médico amado registra a intensa perseguição ocorrida em Jerusalém, ressaltando que os dispersos anunciavam a Palavra de Deus por onde passavam. Em Atos 11:19-21 ele relata a conversão de alguns gentios da Fenícia, Chipre e Antioquia, ganhos justamente em função da pregação feita por aqueles dispersos da perseguição sobrevinda a Estevão. Em Atos 13:1 já vemos uma igreja organizada em Antioquia com notáveis profetas e mestres, dentre eles Saulo, e Barnabé. Quem fundara aquela igreja ? Os apóstolos ? Certamente que não. Sua fundação se dera pelo testemunho dos crentes dispersos. Se deu pelos leigos, diríamos em nossa cultura eclesiástica clericalista. Uma igreja que deseja crescer sadiamente primará por uma liderança capacitadora, onde a função de seu pastor, profeta, evangelista, missionário e mestre seja a de equipar os santos para o desempenho da obra ministerial, exatamente como prescreve a teologia paulina (Cf. Efésios 4:11-12). Isto porque cada membro é um ministro, tendo uma habilidade particular e peculiar que deve ser exercida somente por ele, e isto para o benefício geral da comunidade cristã.

V. Quinta Característica: Uma Igreja Animada Em Sua Fé (Atos 2:42d, 46-47)
Lucas registra em Atos 2:46-47 que os crentes da igreja em Jerusalém "diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo...". Eis o retrato de uma igreja verdadeiramente animada em sua fé, alegre e exultante por ter o Deus que tem, um Deus inigualável em todo seu ser e obra. Sua adoração alegre, singela e jubilosa contagiava, ao ponto de se tornarem simpáticos de todo o povo. E isto sem precisar deformar ou diminuir o conceito de Deus e de sua mensagem ao homem, como muitas igrejas contemporâneas fazem para atrair público. A igreja é antes de tudo a comunidade dos verdadeiros adoradores de Deus, que dEle fazem sua única possessão e razão de ser, ter e fazer.
É a comunidade daqueles que o magnificam com celebração cultual jubilosa e alegre, que a Ele se conforma pela contemplação de sua majestade e que a Ele se consagra em obediência a sua vontade. É imprescindível a uma igreja que queira crescer sadiamente, o entusiasmar-se em sua fé, vivendo-a como a única e verdadeira fé, com fogo e paixão cativantes. É preciso estar entusiasmado com a comunidade local de crentes a que se pertence. É preciso concebê-la e vivê-la como a mais espetacular comunidade cristã existente sobre a face da terra, a comunidade na qual desejemos que todos nossos amigos e parentes façam parte, por ter o Deus da Bíblia como seu Deus. Uma comunidade onde a oração (o diálogo com Deus) nos seja uma experiência inspiradora e o cultuá-lo uma experiência tremendamente "gostosa".
Igrejas onde a relação com Deus não se caracteriza como "gostosa", sendo encarada mais pela ótica da "obrigação religiosa", tendem a ser fábricas de neuróticos e angustiados. Fazem de Deus o terrível policial que lhes está a espreita de um erro para castigá-los. Não vêem nEle aquele em quem podem confiar e abrir seu coração para que seja moldados segundo seu querer. A igreja em Jerusalém era animada em sua fé porque sabia quem era o Deus que tinha e o que Ele, como seu Deus, esperava de seus membros. Quanto a nós a razão não pode ser diferente, nossa animação deve se fundamentar naquilo que Deus é e não somente por aquilo que Ele pode fazer por nós ou em nós. Compreendendo que temos o Deus que aborrece o pecado, temos que nos dedicar à santidade. Sabendo que temos o Deus cuja estrutura é o amor, não devemos semear o ódio, mas hemos que nos amar da mesma forma como Ele em sua Trindade manifesta amor (Cf. João 17:24). E, sendo o Deus que expressa seu caráter e multiforme sabedoria pela igreja, é mister deixar-mo-nos moldar pela imagem de seu Filho, que em nós o Espírito Santo está desenvolvendo, para que, como o Deus de toda glória, seja exaltado em nossas vidas com uma adoração verdadeira.

Conclusão
A igreja dos nossos sonhos, fortalecida, integrada, evidenciada, equipada e animada na prática de sua fé, não nos é nenhuma utopia eclesiástica. Antes é uma realidade perfeitamente possível quanto plausível. Temos tanto comprovação histórica desta possibilidade, como no caso das igrejas apostólica, e mais especificamente a igreja em Jerusalém, quanto temos também a certeza teológica pela universalidade dos princípios eclesiásticos bíblicos, que estão a disposição de qualquer comunidade local de crentes em Jesus Cristo. Em muitos casos, o que falta para a materialização desta igreja dos sonhos é uma renovação dos conceitos pela Palavra de Deus, conforme Romanos 12:1-2. É preciso renovar a mentalidade eclesiástica, demovendo da mente e da prática ministerial, aquilo que não se coaduna com a natureza bíblica do caráter e ministério da igreja.
Deus não planejou a igreja para ser uma instituição de cunho sociológico irrelevante, como às vezes se pensa e se vê na prática de muitas delas. Ele planejou a igreja para que expresse seu caráter no mundo, que evidencie seu ser e obra em Cristo, mediada pelo Espírito Santo. Não podemos deixar a igreja perder sua identidade e se desvirtuar de seu triplo ministério: o teológico, no qual se relaciona com Deus, crescendo em sua plena adoração; o sociológico, no qual se relaciona com o mundo, testemunhando-lhe das boas novas de salvação que há em Jesus Cristo em sua evangelização; e o eclesiológico, no qual integra seus convertidos pela prática do amor fraternal, edifica-os nos valores de Cristo, neles desenvolvendo a imagem do Filho de Deus pela mediação do Espírito Santo e aplicação da Palavra de Deus e ministra graça mutuamente entre seus membros, visando o desarrolo completo e maduro do ministério cristão pelos propósitos de integração, edificação e ministração, respectivamente.
Pode ser que para galgarmos o ápice da igreja que queremos, sonhamos e que Deus deseja que sejamos, tenhamos que reformular ou reorganizar nossas estruturas eclesiásticas, demovendo inclusive aquilo que já se constituiu como seu marco tradicional, mas que, mesmo tendo ganho o status de "tradicional", não se enquadra como propósito ou prática eclesiástica legítima. Recomeçar é sempre mais difícil que começar, mas para concertarmos os erros é preciso se saber onde se errou ou se tem errado. Nenhuma enfermidade é curada se não for primeiro diagnosticado sua causa para aplicação da terapia adequada e eficaz. Da mesma sorte em relação a igreja. É ponto pacífico descobrir as causas de seus males para a partir disso, então, empreendermos a terapia adequada e eficaz contra cada um destes males. Só assim, não há dúvidas, de que a saúde retornará e permitirá o desenvolvimento equilibrado da igreja como organismo vivo que é.
Uma igreja fortalecida em sua fé; que integra seus membros em uma vida comunitária pautada pela prática do amor cristão fraternal; que testemunha sem medo sua nova vida em Cristo; em que seus membros mutuamente ministram graça visando seu desenvolvimento; e que anima-se na adoração a Deus, em celebração de sua majestade, em contemplação de sua santidade e em consagração à sua vontade, são características que evidenciam a boa saúde de uma comunidade cristã. De igual modo, a ausência delas também evidenciam sua enfermidade e deformidade, necessitando de terapia urgente, caso contrário a morte prematura, antes do amadurecimento e envelhecimento será certa como dois mais dois são quatro. E com enfermidades letais, o que mais se espera de uma igreja ela não conseguirá. Isto é, saúde para poder se reproduzir. Que Deus nos seja misericordioso e nos ajude a ser a igreja que Ele quer que sejamos. E que nós, com humildade e decisão deixemo-lo agir para que tenhamos a igreja que queremos.


AUTOR DESCONHECIDO

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