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quinta-feira, 9 de abril de 2015

ESTUDOS 76 - A IMPECABILIDADE DE CRISTO

A IMPECABILIDADE DE CRISTO
(Autor desconhecido)

Havia em Jesus Cristo a possibilidade do pecado ou não?
Esta dúvida que permeou a Igreja nos primeiros séculos e continua sendo um tema polêmico entre os evangélicos.
Para esclarecermos melhor o assunto é necessário que tenhamos alguns conceitos definidos sobre três disciplinas da teologia:
    1 ) A TEOLOGIA Propriamente dita, ou seja o estudo da pessoa divina
    2 ) A ANTROPOLOGIA que estuda o homem criado à imagem e semelhança de Deus e
    3 ) A HAMARTIOLOGIA, o pecado definido como um princípio malígno não procedente de Deus que afetou toda a criação.


Não obstante às inúmeras heresias que surgiram sobre a pessoa de Cristo na história, em nossos dias encontramos conceitos distorcidos acerca do Filho Unigênito do Pai. A pergunta feita por Jesus a respeito de sua identidade se faz necessária entre os cristãos contemporâneos. A reflexão bíblica revela-nos que Cristo vere Deus et vere homo, não é apenas um homem ideal digno de nossa imitação, que sofreu as agruras humanas, mas de um Deus Verdadeiro que trouxe a salvação na sombra de suas asas.
Alguns erroneamente tentam dividir as duas naturezas de Jesus, como homem ele agia assim e como Deus assado, mas não passa de uma grande falácia ou de um nestorianismo disfarçado.
A possibilidade do pecado na vida de Cristo colocaria em xeque toda a humanidade, porque é impossível que Deus peque ou se associe ao pecado, os seus atributos morais e naturais são notórios. O teólogo Langston define o atributo da Onipotência Moral de Deus da seguinte forma “ Deus não pode fazer nenhum mal, mas todo bem que deseje ”.
Se o pecado realmente era uma impossibilidade na vida de Jesus então surgem algumas questões que exigem explicação:

1 – Se Jesus não podia pecar, a tentação do diabo foi uma encenação?
Satanás com toda a sua sagacidade não podia perder a oportunidade de tentar desviar Jesus Cristo de sua missão, mas a tentação no deserto serviu para demonstrar que Cristo não tinha pecado. Steven J. Lawson em sua brilhante obra sobre a tentação descreve que em momento algum satanás duvidou que Jesus era o Deus-homem. A frase melhor traduzida não seria “se tu és o Filho de Deus”, mas “desde que você é o Filho de Deus, porque você é o Filho de Deus faça ...

2 – Se Jesus não podia pecar é sinal de que Ele não era humano?
Se defendermos que o pecado faz parte da essência da natureza humana então Deus seria o responsável por haver criado uma natureza essencialmente má. É evidente que a nossa natureza não é pura, porque foi corrompida e danificada. Só houve três seres humanos puros na história: Adão e Eva antes da queda ,e Jesus. Os demais não passam de versões quebradas e corrompidas de humanidade. Jesus não é apenas tão humano quanto nós, mas Ele é mais humano.
“ Não deveríamos questionar se Jesus é tão humano quanto nós, mas se nós somos tão humanos quanto Jesus ”.

3 - Se Jesus não podia pecar, porque Ele se batizou?
A relação de Cristo com o pecado não é pessoal, mas vocacional. O Verbo encarnado precisou humilhar-se, contextualizar-se e submeter-se à Lei. Submetendo-se ao batismo estava se submetendo à uma ordem especial de Deus, sem aceitar qualquer privilégio.
“ A decisão de Jesus aceitar o batismo não visa apenas obedecer a uma regra da comunidade, mas o Jesus batizado é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.

4 – Jesus passou por uma evolução ética e moral, de um momento negativo para positivo?
Geralmente esta dúvida se refere ao texto de Hebreus 5.7-9. O escritor aos Hebreus reconhece o que há de humano em Jesus, toca o mistério do Filho de Deus na carne. Creio que o texto se refere à maturidade de Cristo, que a medida que o tempo passava Ele entendia , compreendia e cumpria melhor a sua missão. Este texto nos confronta com a humanidade de Jesus sem desvendar o mistério da pessoa Teantrópica de Cristo.

5 – Se Jesus não podia pecar como a Bíblia diz que Ele se fez pecado por nós?
Quando nos referimos à transferência dos pecados da humanidade sobre Cristo surgem várias teorias sobre a expiação. O teólogo Pentencostal Stanley Horton defende que a transferência dos pecados para Cristo não é mecânica, mas de identificação, da mesma forma que a Justiça de Cristo é imputada aos crentes. Hodge dá uma explicação mais plausível, dizendo que a “ imputação não significa que a nossa pecaminosidade foi tranferida para Ele, mas que a culpa do nosso pecado lhe foi imputado ”.
“O fato de Jesus carregar os pecados do mundo nunca deslustra sua orientação pessoal com o Pai, pelo contrário, é carregando esta culpa que sua santidade resplandece. No mistério do Filho do homem vemos duas coisas serem combinadas: a tremenda carga de todos os pecados e a santidade imaculada ”.

A minha intenção com  este breve ensaio não é esgotar o assunto, com certeza existem outros questionamentos que não foram mencionados neste artigo. Me darei por satisfeito se a pessoa de Cristo se tornar um assunto de maiores investigações e reflexões por parte dos mestres e líderes, que geralmente apelam para a humanização de Cristo, em detrimento de Sua divindade, ignorando a união Teantrópica misteriosa que tornou possível a salvação da humanidade, pois só um Deus-Homem poderia reconciliar o homem a seu Criador.
A possibilidade do pecado na pessoa de Cristo relativizaria o Deus Todo-Poderoso e Absoluto, colocando-o no mesmo nível dos deuses cruéis e humanizados da mitologia Grega. É impossível o pecado e a possibilidade do mesmo em Cristo.
“Quem de vós pode argüir-me de pecado? ” ( Jo 8.46 )    



1 Frase latina que significa: Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem.
2 Nestorianismo foi uma heresia que surgiu no quinto século pelo patriarca de Constantinopla chamado Nestório. Ele negava a união verdadeira das duas naturezas de Cristo, atribuindo duas divisões a Cristo, uma humana e outra divina. Quando Jesus dormia, comia etc era a parte humana, quando curava, repreendia os ventos era a parte divina.
3 Lawson, Steven A. Fé Sob Fogo. CPAD, RJ, p.70
4 MILLARD, J.Erickson, Teologia Sistemática, Vida Nova, p.297
5 BERKOWER, A Pessoa de Cristo, ASTE, p.182
6 Teantrópica vem de duas palavras grega Teos= Deus e Antropos=Homem. É um termo singular na teologia só designado ao mistério de Cristo.
7 HORTON, Stanley, Teologia Sistemática, CPAD, RJ, p.351
8 BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, Luz para o Caminho.
9 BERKOWER, A Pessoa de Cristo, ASTE, p.186


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