A IMPECABILIDADE DE CRISTO
(Autor desconhecido)
Havia em Jesus Cristo a
possibilidade do pecado ou não?
Esta dúvida que permeou a
Igreja nos primeiros séculos e continua sendo um tema polêmico entre os
evangélicos.
Para esclarecermos melhor o
assunto é necessário que tenhamos alguns conceitos definidos sobre três
disciplinas da teologia:
1 ) A
TEOLOGIA Propriamente dita, ou seja o estudo da pessoa divina
2 ) A ANTROPOLOGIA que estuda o homem
criado à imagem e semelhança de Deus e
3 ) A HAMARTIOLOGIA, o pecado definido como
um princípio malígno não procedente de Deus que afetou toda a criação.
Não obstante às inúmeras
heresias que surgiram sobre a pessoa de Cristo na história, em nossos dias
encontramos conceitos distorcidos acerca do Filho Unigênito do Pai. A pergunta
feita por Jesus a respeito de sua identidade se faz necessária entre os
cristãos contemporâneos. A reflexão bíblica revela-nos que Cristo vere Deus et
vere homo1 , não é apenas um homem
ideal digno de nossa imitação, que sofreu as agruras humanas, mas de um Deus
Verdadeiro que trouxe a salvação na sombra de suas asas.
Alguns erroneamente tentam
dividir as duas naturezas de Jesus, como homem ele agia assim e como Deus
assado, mas não passa de uma grande falácia ou de um nestorianismo2 disfarçado.
A possibilidade do pecado na
vida de Cristo colocaria em xeque toda a humanidade, porque é impossível que
Deus peque ou se associe ao pecado, os seus atributos morais e naturais são
notórios. O teólogo Langston define o atributo da Onipotência Moral de Deus da
seguinte forma “ Deus não pode fazer nenhum mal, mas todo bem que deseje ”.
Se o pecado realmente era
uma impossibilidade na vida de Jesus então surgem algumas questões que exigem
explicação:
1 – Se Jesus não podia pecar, a tentação do diabo foi uma encenação?
Satanás com toda a sua
sagacidade não podia perder a oportunidade de tentar desviar Jesus Cristo de
sua missão, mas a tentação no deserto serviu para demonstrar que Cristo não
tinha pecado. Steven J. Lawson em sua brilhante obra sobre a tentação descreve
que em momento algum satanás duvidou que Jesus era o Deus-homem. A frase melhor
traduzida não seria “se tu és o Filho de Deus”, mas “desde que você é o Filho
de Deus, porque você é o Filho de Deus faça ... 3 ”
2 – Se Jesus não podia pecar é sinal de que Ele não era humano?
Se defendermos que o pecado
faz parte da essência da natureza humana então Deus seria o responsável por
haver criado uma natureza essencialmente má. É evidente que a nossa natureza
não é pura, porque foi corrompida e danificada. Só houve três seres humanos
puros na história: Adão e Eva antes da queda ,e Jesus. Os demais não passam de
versões quebradas e corrompidas de humanidade. Jesus não é apenas tão humano
quanto nós, mas Ele é mais humano.
“ Não deveríamos questionar
se Jesus é tão humano quanto nós, mas se nós somos tão humanos quanto Jesus 4 ”.
3 - Se Jesus não podia pecar, porque Ele se batizou?
A relação de Cristo com o
pecado não é pessoal, mas vocacional. O Verbo encarnado precisou humilhar-se,
contextualizar-se e submeter-se à Lei. Submetendo-se ao batismo estava se
submetendo à uma ordem especial de Deus, sem aceitar qualquer privilégio.
“ A decisão de Jesus aceitar
o batismo não visa apenas obedecer a uma regra da comunidade, mas o Jesus
batizado é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo5 ”.
4 – Jesus passou por uma evolução ética e moral, de um momento negativo
para positivo?
Geralmente esta dúvida se
refere ao texto de Hebreus 5.7-9. O escritor aos Hebreus reconhece o que há de
humano em Jesus, toca o mistério do Filho de Deus na carne. Creio que o texto
se refere à maturidade de Cristo, que a medida que o tempo passava Ele entendia
, compreendia e cumpria melhor a sua missão. Este texto nos confronta com a
humanidade de Jesus sem desvendar o mistério da pessoa Teantrópica6 de Cristo.
5 – Se Jesus não podia pecar como a Bíblia diz que Ele se fez pecado
por nós?
Quando nos referimos à
transferência dos pecados da humanidade sobre Cristo surgem várias teorias
sobre a expiação. O teólogo Pentencostal Stanley Horton defende que a
transferência dos pecados para Cristo não é mecânica, mas de identificação, da
mesma forma que a Justiça de Cristo é imputada aos crentes7 . Hodge dá uma explicação
mais plausível, dizendo que a “ imputação não significa que a nossa pecaminosidade
foi tranferida para Ele, mas que a culpa do nosso pecado lhe foi imputado8 ”.
“O fato de Jesus carregar os
pecados do mundo nunca deslustra sua orientação pessoal com o Pai, pelo
contrário, é carregando esta culpa que sua santidade resplandece. No mistério
do Filho do homem vemos duas coisas serem combinadas: a tremenda carga de todos
os pecados e a santidade imaculada 9 ”.
A minha intenção com este breve ensaio não é esgotar o assunto,
com certeza existem outros questionamentos que não foram mencionados neste
artigo. Me darei por satisfeito se a pessoa de Cristo se tornar um assunto de
maiores investigações e reflexões por parte dos mestres e líderes, que
geralmente apelam para a humanização de Cristo, em detrimento de Sua divindade,
ignorando a união Teantrópica misteriosa que tornou possível a salvação da
humanidade, pois só um Deus-Homem poderia reconciliar o homem a seu Criador.
A possibilidade do pecado na
pessoa de Cristo relativizaria o Deus Todo-Poderoso e Absoluto, colocando-o no
mesmo nível dos deuses cruéis e humanizados da mitologia Grega. É impossível o
pecado e a possibilidade do mesmo em Cristo.
“Quem de vós pode argüir-me
de pecado? ” ( Jo 8.46 )
1 Frase latina
que significa: Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem.
2 Nestorianismo foi uma heresia que surgiu no
quinto século pelo patriarca de Constantinopla chamado Nestório. Ele negava a
união verdadeira das duas naturezas de Cristo, atribuindo duas divisões a
Cristo, uma humana e outra divina. Quando Jesus dormia, comia etc era a parte
humana, quando curava, repreendia os ventos era a parte divina.
3 Lawson, Steven A. Fé Sob Fogo. CPAD, RJ, p.70
4 MILLARD, J.Erickson, Teologia Sistemática,
Vida Nova, p.297
5 BERKOWER, A Pessoa de Cristo, ASTE, p.182
6 Teantrópica vem de duas palavras grega Teos=
Deus e Antropos=Homem. É um termo singular na teologia só designado ao mistério
de Cristo.
7 HORTON, Stanley, Teologia Sistemática, CPAD,
RJ, p.351
8 BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, Luz para
o Caminho.
9 BERKOWER, A Pessoa de Cristo, ASTE, p.186
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