REFLEXÃO SALMO 73 – O PARADOXO DA FÉ
Ø
Por que
paradoxo? Existe
um mito no campo religioso de que ao servirmos a um Deus justo, certamente ele
abençoará os justos e punirá os ímpios no tempo presente. Dizem: “aqui se faz,
aqui se paga”. Este mito foi construído sem a perspectiva da eternidade, o que
acabou criando um paradoxo em nossa fé. Por isso o nosso título.
Ø
Quanto à
autoria? Dizem
ser de Asafe, mas não é algo unânime entre os estudiosos do A.T. Contudo
consideraremos sendo de autoria de “Asafe”.
Ø
Quem era Asafe? Um judeu, da tribo de Levi, e músico
por vocação. Participou do magnífico cortejo musical que levou a Arca do Senhor
da casa de Obede-Edom para a tenda armada pelo rei Davi em Jerusalém. Naquele
dia o rei Davi o descobriu e fez dele ministro de música nos serviços
religiosos de Jerusalém.
Ø
Este salmo
começa com a afirmação “certamente Deus é bom”. Essa afirmação
inicial é na verdade a conclusão do autor sobre Deus, após quase ter perdido a
fé, conforme ele descreve no verso 2 - Quanto a mim, os meus pés quase tropeçaram; por pouco
não escorreguei.
Ø
O
que levou o autor a quase abandonar sua fé? A razão que o
levou quase a se perder está descrito no verso 3. Ele passou a olhar para os
ímpios e viu o quanto eles prosperavam.
Ø
PRIMEIRO PARADOXO DA FÉ: O ímpio prospera
Ø
Quem são os
ímpios? Os
ímpios são aqueles que não temem a Deus, homens que praticam o mal. Que pensam
apenas em si mesmo e não se importam com os outros.
“De tanto ver triunfar as nulidades; de
tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se
os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se
da honra e a ter vergonha de ser honesto.” (Ruy Barbosa).
Ø
Asafe
ao acordar lê na “Gazeta Jerusalém” que o presidente da “PetroLém” desviou
dinheiro para financiar partidos políticos; que o congresso de Jerusalém em
meio a uma crise econômica e política havia aprovado na calada da noite aumento
salarial para a casa; ao virar a página ele se depara com a noticia de que
deputado que havia passado em alta velocidade no sinal vermelho e matado um
pedestre havia sido solto após pagar uma multa. Asafe já indignado resolve dar
uma espiada no facebook para ver o que os amigos estão postando. Ao entrar no
face vê a foto do líder da tribo de Dã numa bela carruagem Ferrari, carro este
incompatível com o salario do mesmo, mas alcançado através do superfaturamento
da merenda escolar que nunca chegou nas escolas; ao mesmo tempo que vê alguns
de seus amigos postarem palavras de tristeza com relação a escola pública de
seus filhos, que não tem carteiras, computadores e algumas nem telhado para
proteger da chuva. Um de seus amigos posta no face um pedido de oração por sua
mãe que está com câncer e o seguro não quer cobrir os gastos. Indignado Asafe
começa a olhar para os ímpios que ao ficarem doentes são tratados nos melhores
hospitais de Jerusalém, os filhos estão nos melhores colégios da cidade, cujos
valores eles não teriam como pagar, viajam pelo mundo inteiro com suas famílias
bancado pelo dinheiro do povo e afirmam que viajam para tratar de interesses do
país. Desanimado Asafe resolve ligar a TV e no jornal “Bom Dia Jerusalém” assiste
uma reportagem sobre as novidades para o mundo pet. Asafe percebe que os pets
dos ímpios vivem melhor que muitas crianças de Jerusalém esquecidas nas ruas da
cidade.
Ø
Diante
dessa realidade Asafe chega a duvidar de
que tenha valido a pena guardar os preceitos de Deus e servi-lo. Veja as
palavras de Asafe - Certamente foi-me inútil manter puro o coração e lavar
as mãos na inocência, pois o dia inteiro sou afligido, e todas as manhãs sou
castigado (Sl 73:13,14).
Ø
SEGUNDO PARADOXO DA FÉ: O justo sofre à O pecado da inveja
começa na insatisfação, na ingratidão em relação ao que temos e o que somos. Ao
dizer “foi-me inútil”, ele está afirmando sua ingratidão pelo que alcançou
através da sua fidelidade a Deus. O texto não diz qual era a aflição e o
castigo que o atormentava, mas penso que podemos concluir que ele se refere a
prosperidade dos ímpios. Ver todos os dias os ímpios prosperarem o fazia cada
vez mais amargo (v.12).
1
- Qual o verdadeiro problema de Asafe? Por que seu coração esfriou? Ao olhar para os
ímpios, Asafe tirou os olhos da eternidade. Este é o problema, Asafe perdeu de
vista o Kairós e passou a ver a vida apenas na dimensão do Kronos. (Pedro fez
isso ao descer do barco e andar sobre as águas – Mt 14:28-30)
Talvez você tenha se identificado com
Asafe – esteja sofrendo do mal de Asafe. Caso isso tenha acontecido, cuidado
porque quando tiramos os olhos da eternidade toda nossa vida é afetada
negativamente. Passamos a desconfiar de Deus e do seu caráter. Por que Deus dá
oportunidades a ele (colega de trabalho/vizinho/igreja) e não a mim? Por que
Deus permite que o ímpio (irmão) prospere? A ausência da dimensão eterna afeta nossa:
·
Comunhão com Deus àNos
tornamos religiosos. Vivemos na tentativa de sermos suficientemente bons para
conquistarmos o amor de Deus ou dos homens na perspectiva de sermos abençoados
aqui e agora. Passamos a olhar Deus como servo e não como Pai.
·
Orações à
Nossas orações passam a se concentrar em nossa lista de pedidos. Oramos para que
Deus faça a nossa vontade. Nossa oração é modelo SAC (Sistema Autoatendimento
ao Consumidor).
·
Família à Se torna o
objeto onde tentamos encontrar prazer e sentido para nosso viver. Mas a família
não tem esta finalidade. O prazer até pode ser experimentado, contudo ele é uma
consequência nessa relação; não o fim.
·
Vida profissional à
Se torna apenas um meio para nossa realização pessoal. Muitos morrem e matam na busca dessa
realização pessoal. Outros ainda veem apenas um meio para ganhar dinheiro e
satisfazer seus sonhos materiais.
Entretanto
o salmista nos enche de esperança porque ao passar por essa experiência, ele
concluiu que Deus é bom e nos apresenta o caminho para também vencermos - Quando tentei entender tudo isso,
achei muito difícil para mim, até que entrei no santuário de Deus, e então
compreendi o destino dos ímpios (Salmos 73:16,17).
2
- Entrar no santuário é buscar Deus, é voltar os olhos para a eternidade. Asafe tirou os
olhos dos ímpios e voltou seus olhos para Deus, então encontrou paz novamente,
pois passou a confiar no caráter de Deus. Ele diz “então compreendi o destino
dos ímpios” (vs 18-19). Ele confiou, em Deus, que afirmou que no seu tempo
julgará a todos conforme suas obras. Quando colocamos os olhos na eternidade toda nossa vida é afetada, nossa:
·
Comunhão com Deus àPassa
a ser baseada pelo que Deus é, e não numa tentativa de conquistá-lo; uma entrega movida por um sentimento de
gratidão pelo reconhecimento do amor oferecido por Ele a nós, sem mérito algum
de nossa parte.
·
Orações à
Nossas orações já não se concentram em nossa lista de pedidos. Oramos porque
desejamos conhecer mais o Pai. Oramos porque é nosso prazer construir um
relacionamento significativo com o Pai. Oração não é SAC! É tempo de conhecer o
Pai.
·
Família àA família deixa de ser objeto com
o fim de encontrarmos prazer, mas o lugar onde aprendemos a servir a Deus e a
amar incondicionalmente.
·
Vida profissional àVista
como uma vocação de Deus para Deus e não mais para minha realização pessoal ou
para enriquecimento pessoal.
Em fim quando voltamos nossos olhos para
a eternidade, não trabalhamos mais para as coisas temporais, não vivemos mais
para o que é temporal, mas para as eternas.
Assim como Asafe percebemos que ainda nos encontramos na antessala
aguardando a entrada para o salão principal onde a festa do cordeiro terá
inicio. Aqui somos estrangeiros e ainda não chegamos a nossa casa. Segundo
Asafe (v.24) quando entrarmos no salão principal seremos honrados diante todos
que nos humilharam, que usaram de sua autoridade para nos oprimir, que se
enriqueceram ilicitamente a custa de nossos salários, que esbanjaram enquanto
muitos morriam de fome, que viveram sem temor a Deus.
Não se deixe ser tomado pela inveja e
pela insatisfação. Olhe para a eternidade, olhe para as promessas de Deus, viva
na esperança, pois aquele que espera em Deus alcançará.
Pr.
Cornélio Póvoa de Oliveira
Paradoxo da fé – Paradoxo é uma afirmação
ou opinião que à primeira vista parece ser contraditória, mas na realidade
expressa uma verdade possível. – Justo sofre e o ímpio prospera
Oximoro da fé – oximoro é uma figura
de linguagem que
consiste em relacionar numa mesma expressão ou locução palavras que exprimem conceitos contrários,
tais como festina lente ("apressa-te lentamente"),
"lúcida loucura", "silêncio eloquente" etc. – Justo pecador
e o “santo ímpio”.
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