Translate

quarta-feira, 29 de março de 2017

SERMÕES 1 - O PARADOXO DA FÉ

REFLEXÃO SALMO 73 – O PARADOXO DA FÉ

Ø Por que paradoxo? Existe um mito no campo religioso de que ao servirmos a um Deus justo, certamente ele abençoará os justos e punirá os ímpios no tempo presente. Dizem: “aqui se faz, aqui se paga”. Este mito foi construído sem a perspectiva da eternidade, o que acabou criando um paradoxo em nossa fé. Por isso o nosso título.
Ø Quanto à autoria? Dizem ser de Asafe, mas não é algo unânime entre os estudiosos do A.T. Contudo consideraremos sendo de autoria de “Asafe”.
Ø Quem era Asafe? Um judeu, da tribo de Levi, e músico por vocação. Participou do magnífico cortejo musical que levou a Arca do Senhor da casa de Obede-Edom para a tenda armada pelo rei Davi em Jerusalém. Naquele dia o rei Davi o descobriu e fez dele ministro de música nos serviços religiosos de Jerusalém.
Ø Este salmo começa com a afirmação “certamente Deus é bom”. Essa afirmação inicial é na verdade a conclusão do autor sobre Deus, após quase ter perdido a fé, conforme ele descreve no verso 2 - Quanto a mim, os meus pés quase tropeçaram; por pouco não escorreguei.
Ø O que levou o autor a quase abandonar sua fé? A razão que o levou quase a se perder está descrito no verso 3. Ele passou a olhar para os ímpios e viu o quanto eles prosperavam.
Ø PRIMEIRO PARADOXO DA FÉ: O ímpio prospera

Ø Quem são os ímpios? Os ímpios são aqueles que não temem a Deus, homens que praticam o mal. Que pensam apenas em si mesmo e não se importam com os outros.
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” (Ruy Barbosa).
Ø Asafe ao acordar lê na “Gazeta Jerusalém” que o presidente da “PetroLém” desviou dinheiro para financiar partidos políticos; que o congresso de Jerusalém em meio a uma crise econômica e política havia aprovado na calada da noite aumento salarial para a casa; ao virar a página ele se depara com a noticia de que deputado que havia passado em alta velocidade no sinal vermelho e matado um pedestre havia sido solto após pagar uma multa. Asafe já indignado resolve dar uma espiada no facebook para ver o que os amigos estão postando. Ao entrar no face vê a foto do líder da tribo de Dã numa bela carruagem Ferrari, carro este incompatível com o salario do mesmo, mas alcançado através do superfaturamento da merenda escolar que nunca chegou nas escolas; ao mesmo tempo que vê alguns de seus amigos postarem palavras de tristeza com relação a escola pública de seus filhos, que não tem carteiras, computadores e algumas nem telhado para proteger da chuva. Um de seus amigos posta no face um pedido de oração por sua mãe que está com câncer e o seguro não quer cobrir os gastos. Indignado Asafe começa a olhar para os ímpios que ao ficarem doentes são tratados nos melhores hospitais de Jerusalém, os filhos estão nos melhores colégios da cidade, cujos valores eles não teriam como pagar, viajam pelo mundo inteiro com suas famílias bancado pelo dinheiro do povo e afirmam que viajam para tratar de interesses do país. Desanimado Asafe resolve ligar a TV e no jornal “Bom Dia Jerusalém” assiste uma reportagem sobre as novidades para o mundo pet. Asafe percebe que os pets dos ímpios vivem melhor que muitas crianças de Jerusalém esquecidas nas ruas da cidade.
Ø Diante dessa realidade Asafe chega a duvidar de que tenha valido a pena guardar os preceitos de Deus e servi-lo. Veja as palavras de Asafe - Certamente foi-me inútil manter puro o coração e lavar as mãos na inocência, pois o dia inteiro sou afligido, e todas as manhãs sou castigado (Sl 73:13,14).
Ø SEGUNDO PARADOXO DA FÉ: O justo sofre à O pecado da inveja começa na insatisfação, na ingratidão em relação ao que temos e o que somos. Ao dizer “foi-me inútil”, ele está afirmando sua ingratidão pelo que alcançou através da sua fidelidade a Deus. O texto não diz qual era a aflição e o castigo que o atormentava, mas penso que podemos concluir que ele se refere a prosperidade dos ímpios. Ver todos os dias os ímpios prosperarem o fazia cada vez mais amargo (v.12).

1 - Qual o verdadeiro problema de Asafe? Por que seu coração esfriou? Ao olhar para os ímpios, Asafe tirou os olhos da eternidade. Este é o problema, Asafe perdeu de vista o Kairós e passou a ver a vida apenas na dimensão do Kronos. (Pedro fez isso ao descer do barco e andar sobre as águas – Mt 14:28-30)
Talvez você tenha se identificado com Asafe – esteja sofrendo do mal de Asafe. Caso isso tenha acontecido, cuidado porque quando tiramos os olhos da eternidade toda nossa vida é afetada negativamente. Passamos a desconfiar de Deus e do seu caráter. Por que Deus dá oportunidades a ele (colega de trabalho/vizinho/igreja) e não a mim? Por que Deus permite que o ímpio (irmão) prospere? A ausência da dimensão eterna afeta nossa:
·     Comunhão com Deus àNos tornamos religiosos. Vivemos na tentativa de sermos suficientemente bons para conquistarmos o amor de Deus ou dos homens na perspectiva de sermos abençoados aqui e agora. Passamos a olhar Deus como servo e não como Pai.
·     Orações à Nossas orações passam a se concentrar em nossa lista de pedidos. Oramos para que Deus faça a nossa vontade. Nossa oração é modelo SAC (Sistema Autoatendimento ao Consumidor).
·     Família à Se torna o objeto onde tentamos encontrar prazer e sentido para nosso viver. Mas a família não tem esta finalidade. O prazer até pode ser experimentado, contudo ele é uma consequência nessa relação; não o fim.
·     Vida profissional à Se torna apenas um meio para nossa realização pessoal.  Muitos morrem e matam na busca dessa realização pessoal. Outros ainda veem apenas um meio para ganhar dinheiro e satisfazer seus sonhos materiais.
Entretanto o salmista nos enche de esperança porque ao passar por essa experiência, ele concluiu que Deus é bom e nos apresenta o caminho para também vencermos - Quando tentei entender tudo isso, achei muito difícil para mim, até que entrei no santuário de Deus, e então compreendi o destino dos ímpios (Salmos 73:16,17).

2 - Entrar no santuário é buscar Deus, é voltar os olhos para a eternidade. Asafe tirou os olhos dos ímpios e voltou seus olhos para Deus, então encontrou paz novamente, pois passou a confiar no caráter de Deus. Ele diz “então compreendi o destino dos ímpios” (vs 18-19). Ele confiou, em Deus, que afirmou que no seu tempo julgará a todos conforme suas obras. Quando colocamos os olhos na eternidade toda nossa vida é afetada, nossa:
·        Comunhão com Deus àPassa a ser baseada pelo que Deus é, e não numa tentativa de conquistá-lo; uma entrega movida por um sentimento de gratidão pelo reconhecimento do amor oferecido por Ele a nós, sem mérito algum de nossa parte.
·        Orações à Nossas orações já não se concentram em nossa lista de pedidos. Oramos porque desejamos conhecer mais o Pai. Oramos porque é nosso prazer construir um relacionamento significativo com o Pai. Oração não é SAC! É tempo de conhecer o Pai.
·        Família àA família deixa de ser objeto com o fim de encontrarmos prazer, mas o lugar onde aprendemos a servir a Deus e a amar incondicionalmente.
·        Vida profissional àVista como uma vocação de Deus para Deus e não mais para minha realização pessoal ou para enriquecimento pessoal.

Em fim quando voltamos nossos olhos para a eternidade, não trabalhamos mais para as coisas temporais, não vivemos mais para o que é temporal, mas para as eternas.  Assim como Asafe percebemos que ainda nos encontramos na antessala aguardando a entrada para o salão principal onde a festa do cordeiro terá inicio. Aqui somos estrangeiros e ainda não chegamos a nossa casa. Segundo Asafe (v.24) quando entrarmos no salão principal seremos honrados diante todos que nos humilharam, que usaram de sua autoridade para nos oprimir, que se enriqueceram ilicitamente a custa de nossos salários, que esbanjaram enquanto muitos morriam de fome, que viveram sem temor a Deus.
Não se deixe ser tomado pela inveja e pela insatisfação. Olhe para a eternidade, olhe para as promessas de Deus, viva na esperança, pois aquele que espera em Deus alcançará.

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

Paradoxo da fé – Paradoxo é uma afirmação ou opinião que à primeira vista parece ser contraditória, mas na realidade expressa uma verdade possível. – Justo sofre e o ímpio prospera


Oximoro da fé oximoro é uma figura de linguagem que consiste em relacionar numa mesma expressão ou locução palavras que exprimem conceitos contrários, tais como festina lente ("apressa-te lentamente"), "lúcida loucura", "silêncio eloquente" etc. – Justo pecador e o “santo ímpio”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário