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quinta-feira, 20 de julho de 2017

SERMÕES 4 - QUEM EU SOU?

QUEM EU SOU?
Romanos 12:3

“Ser ou não ser... Eis a questão. Que é mais nobre para a alma: suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes? Morrer... dormir... mais nada...” 
                                     (Ato III, cena I – Hamlet – William Shakespeare)

Estas palavras são uma síntese do conflito interior vivido por Hamlet, personagem de uma das peças de William Shakespeare. Ele se vê diante a difícil escolha de se resignar diante o infortúnio que o destino lhe havia dado ou por fim a este infortúnio tirando sua própria vida.
Assim como Hamlet, acredito que nós cristãos vivemos um conflito a respeito de nosso ser que tem se agravado devido distorções de algumas verdades bíblicas.
A Bíblia afirma que somos mais que vencedores em Cristo Jesus. Que a vitória de Cristo é a base da nossa vitória. Vencemos em Cristo:
·       Sobre a carne Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. (Gálatas 5:24)
·       Sobre o mundo O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. (1 João 5:4)
·       Sobre o diabo Resistam-lhe, permanecendo firmes na fé, sabendo que os irmãos que vocês têm em todo o mundo estão passando pelos mesmos sofrimentos. (1 Pedro 5:9)
·       Sobre a morte - 21Visto que a morte veio por meio de um só homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem.
22Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados. (1 Coríntios 15:21,22)
Embora eu seja mais que vencedor; não vivo como vencedor! Muitas vezes sou vencido. Embora a Bíblia declare que eu sou justo e santo o pecado continua muitas vezes me levando a derrotas avassaladoras, o mundo continua me aprisionando em sua rede e Satanás ainda me induz com suas mentiras prazerosas, inflando minha carne e me levando dessa forma a errar o alvo de minha existência. Afinal “sou ou não sou” vencedor? Sou justo ou não? Sou santo ou não? Quem eu sou? Eis a questão!
A verdade é que “já” sou vencedor por causa da vitória de Cristo na cruz. O sacrifício de Cristo Jesus me tornou justo e santo. Quando olho para a eternidade vejo minha vitória certa. Entretanto a minha vitória “ainda não” está completa, neste tempo presente, porque continuo vivendo num corpo e num mundo corrupto, sujeito ao pecado.

A falta de compreensão de alguns líderes a respeito do “já” e “ainda não” tem produzido uma teologia triunfalista distorcida, e esta tem levado muitos a pensarem de si, além do que convém, causando um estrago na vida de muitas pessoas e contribuindo para que estas se afastem de Deus, em vez de se aproximarem Dele. Veja o que Paulo diz:
·      Pois pela graça que me foi dada digo a todos vocês: ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, pelo contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu. (Romanos 12:3).
Se eu tenho um conceito “elevado” de mim, tenho uma distorção do que “sou”. Essa distorção do meu ser me leva, a me olhar de forma errada:

1 – Passo acreditar que sou melhor do que sou
O próprio ambiente religioso produz em nós uma sensação que somos melhores do que realmente somos.
Todos nós que já experimentamos a conversão e que caminhamos algum tempo na vida religiosa, somos tendenciosos a nos considerar melhor do que os outros homens. Seja sincero com você mesmo: Você não se acha melhor que um ladrão? Não se acha melhor que os políticos corruptos de nosso país, que um assassino, que uma pessoa de outra religião? Só que não! Na essência somos todos pecadores.
Nos achamos melhores, porque jejuamos, dizimamos ou simplesmente porque frequentamos uma igreja; ou talvez porque nos consideramos os portadores da verdade, e de fato o somos. Contudo isto não deveria gerar em nós o sentimento de sermos melhor, mas um sentimento de responsabilidade para com aqueles que ainda não conhecem a verdade, que é Jesus.
Se o ambiente religioso já produz soberba em nós, imagine somado com uma teologia triunfalista?
Essa sensação de que somos bons se torna evidente em nosso sentimento de que Deus deve nos poupar dos sofrimentos experimentados pelos demais humanos. Nós como bons cristãos, bons religiosos vivemos na expectativa de uma vida vitoriosa “já”. Se somos melhores, merecemos o melhor de Deus, não é verdade?
Tal sensação nos leva a vivermos a síndrome de Asafe descrita no Salmo 73 – “Como posso eu sofrer e o ímpio prosperar?” Isso não parece ser justo.
Por nos considerarmos melhores que os outros, nos distanciamos dos outros e não percebemos que nos distanciamos de Deus. O orgulho religioso faz com que nossas orações sejam rejeitadas por Deus.
·         10 "Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano.
11 O fariseu, em pé, orava no íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano.
12 Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’.
13 "Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’.
14 "Eu lhes digo que este homem, e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado". (Lucas 18:10-14)
Quando o orgulho toma nossos corações dia após dia nos esquecemos de quem somos e nos distanciamos do que deveríamos ser. Pergunte para si mesmo: “trato os outros como superiores a mim ou os trato com desprezo?”
Quando penso além do que sou...

2 – Passo a exigir de Deus e do meu próximo o que não tenho direito de exigir
35Um deles, perito na lei, o pôs à prova com esta pergunta:
36"Mestre, qual é o maior mandamento da Lei? "
37Respondeu Jesus: " ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’.
38Este é o primeiro e maior mandamento.
39E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. (Mateus 22:35-39)
Nós somos ordenados a amar a Deus e nosso próximo. Amar na Bíblia implica em servir. Amar é agir em prol do outro, seja o outro Deus ou ser humano. Se somos ordenados a servir, por que alguns oram reivindicando de Deus bênçãos? Porque pensam de si além do que convém. Estas pessoas se julgam perfeitas, acreditam que já alcançaram literalmente o céu.
Quem vive no mundo com a cabeça na eternidade se considera digno de exigir de Deus o cumprimento de Suas promessas para “já”.
A supervalorização de que já vivemos assentados com Cristo nas regiões celestiais, de que já vencemos a morte e suas consequências, de que já somos herdeiros de Deus, tem nos induzido a reivindicarmos as vitórias de Cristo “já”, desconsiderando o “ainda não” da teologia.
Quando nos vemos assim, como vencedores neste tempo (kronos), fazemos de Deus e do próximo nossos servos e temos pouca disposição em servi-los.
Acreditamos que a vitória de Cristo na cruz, nos colocou como “príncipe deste mundo” e nos esquecemos de que “ainda não” somos governantes deste mundo. Ainda oramos “venha o Teu Reino”.
Essa visão triunfalista distorcida recusa a reconhecer que pecamos todos os dias, que sentimos dores devido à natureza de nosso corpo, que somos passíveis dos mais terríveis sentimentos, sujeitos a foice da morte e que este mundo está nas mãos do maligno. Tratamos a vida e nossa missão de maneira irresponsável e nos tornamos sujeito a vaidade. Amamos o mundo e suas concupiscências e exigimos que Deus nos ajude a conquista-las.
Acreditamos que podemos desafiar o diabo e o inferno e exigir de Deus proteção. Vivemos dominados pela mentira criada por Satanás e defendida pelo mundo, por ele domesticado.
O mundo pluralista, hedonista, materialista e utilitarista nos domina dia após dia. Acreditamos na mentira que fomos criados para sermos felizes “já” e desconsideramos a felicidade prometida no “ainda não”. Essa cosmovisão nos leva a olhar para o próximo como meio para alcançarmos nossos desejos.
Sem percebermos o mundo cresce em nós; e nos tornamos reféns do mundo. Nossos desejos e sonhos estão presos a essa era temporal, que deixará de existir. O que você está fazendo que ecoará na eternidade?
A teologia triunfalista nos leva a esquecermos de quem somos! Pergunte para si mesmo: “Você vive para servir ou vive esperando ser servido?”
Quando penso além do que sou...
  
3 – Passo a viver como se eu já tivesse alcançado o alvo para o qual fui criado
Paulo diz: 13Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante,14prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.
16Tão somente vivamos de acordo com o que já alcançamos (Filipenses 3:13,14 e 16)
Muitos pensam que ao terem encontrado a cruz e se rendido ao amor de Cristo chegaram ao fim da jornada. Isso é mentira do diabo. Na verdade sua jornada começou na cruz, a não ser que você tenha deixado este mundo material e não saiba.
Quando você foi transportado das trevas para a luz...  você apenas começou a ver. Quando você encontrou o caminho, porque estava perdido... você apenas começou a caminhada com Cristo, pelo caminho estreito.  
Você não chegou no ponto final. Você precisa andar no caminho, que é Jesus. Você precisa viver o Reino de Deus (colocar os valores e princípios do Reino como padrão do seu viver).
A obra consumada na cruz é o ponto inicial de sua jornada para a nova vida, de sua descoberta de quem realmente é aqui e agora, e de quem é em Cristo.
De fato ainda não sou o que “sou em Cristo”, mas vivo lutando intensamente para ser. Sou injusto e pecador de fato, mas, ao mesmo tempo, sou justo e santo em Cristo. Porém chegará o dia que serei apenas justo e santo, quando receber um novo corpo e o Reino de Deus se manifestar por completo.
Se acreditarmos que já alcançamos o alvo corremos o risco de esquecermos de quem somos! Pergunte para si mesmo: “vivo caminhando em busca do SER para qual fui criado por Deus ou já estou satisfeito com o que SOU hoje?”

Conclusão: Assim como Hamlet vivia um conflito em seu ser, também nós vivemos. Diante a escolha de se resignar ou se matar, Hamlet acaba optando por um terceiro caminho, enfrentar o infortúnio de frente.
Quero convidar você hoje a enfrentar o conflito de sua alma de frente. “Quem é você”?
Nesses dias tenho tentado responder a mim mesmo: “Quem eu sou?” Percebi que sou pequeno demais, fraco, cheio de medos e de feridas causadas pela vida. Descobri que muitas vezes me escondo atrás dos papéis que a vida me destinou. Percebi que desejo fazer o bem, mas não consigo. Que desejo amar, mas firo quem quero tanto amar. Percebi que me amo demais e por isso sofro. Sofro porque vivo um amor voltado para mim e não para Deus e para o outro. Eu me doo esperando ser amado e quando não correspondido me sinto ferido, traído e sofro. Inutilmente vivo na busca da felicidade e ela está sempre um passo além de mim. Mais um carro, mais uma casa, mais uma viagem, mais um dia de malhação, mais um smartfone e mais e mais alguma coisa.
Quem sou eu? Essa caveira diz para mim que não sou nada. Que meu destino é o nada, um viver no vazio absoluto. Mas ao olhar para a cruz eu me deparo com o Deus que disse a respeito de si mesmo: “Eu sou o que sou”.  
Deus disse “Eu sou o que sou” porque fora Dele nada existe. Tudo foi criado por Ele e para Ele. Tudo subsiste Nele. Portanto fora Dele só existe o vazio absoluto. Fora Dele não somos nada.
Acredito que o inferno é a ausência de Deus e de todas as pessoas, um lugar vazio, onde iremos gemer eternamente pela ausência de Deus e de todo outro ser; porque sem um outro ser, eu não existo, não sou nada. No inferno a alma arderá em chamas eternas que brotará da sua própria consciência, consumida pela culpa de não ter tomado a sua cruz, por não ter negado a sua existência para viver a vida em Cristo, e dessa forma se tornar um “ser existente” naquele que é, que era e que há de vir.
Na cruz Jesus te chamou para ser com Ele, ser vencedor, ser bênção, ser nova criatura, um novo homem, uma nova mulher, ser justo, ser santo, ser ressurreto, ser luz e ser um “ser eterno” Nele.
Não sei quem você é, mas se você tem vivido com um conceito elevado de si mesmo, e hoje você percebeu essa realidade, percebeu que não é nada; eu quero orar para que você seja um com Deus, e que a vida Dele flua através de você; do contrário o vazio que hoje te consome será sua habitação para sempre.

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

17/05/2017

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