O CARÁTER MISSIOLÓGICO DA ESPERANÇA
CRISTÃ
INTRODUÇÃO
Esta monografia tem
como objetivo mostrar que a esperança cristã é o fator motivador para a prática
missiológica da igreja. Assim sendo, o nosso estudo estará baseado no termo
"esperança " que expressa a expectativa ou o ato de esperar,
dando-nos a idéia de um objeto ou algo esperado. Embora sabemos que o objeto ou
o produto desta expectativa é Cristo, esse estudo descreverá os momentos de
profunda experiência de Deus com o seu povo, de tal forma que levou pessoas à
formulação de uma compreensão eficaz ao cumprimento da missão da igreja a
partir de Cristo.
Esta compreensão toma
forma no Antigo Testamento, onde a esperança era vista como o ato de esperar,
ansiar, aguardar. Todos esses verbos dão a conotação de que a esperança do povo
de Israel estava baseada em Javé e estava intimamente ligada com o ato de
confiar. Assim, no AT, o povo mantinha a expectativa a partir da relação de
espera e confiança. Javé era, portanto, o motivo da esperança para o povo que
nele confiava. Já no Novo Testamento, a situação que no AT se descreve como
esperança, agora é caracterizada como sendo o já de Deus para o povo com a
presença do Deus encarnado. Aquilo que antes era futuro, agora se torna
presente com a revelação de Cristo, mudando o caráter da esperança em si. Por
causa da presença de Cristo, a esperança no NT é reformulada em relação ao seu
conteúdo. A esperança adquire um sentido duplo diante do Deus presente: ao agora
é preciso acrescentar o ainda não, acrescentando também a esperança
no Cristo e o esperar por ele.
Assim, estaremos
trabalhando a fundamentação bíblico-teológica da esperança cristã, a
metodologia missiológica da esperança cristã e a esperança cristã como
articuladora de uma missão contextualizada, entendendo sempre que o caráter
missiológico da esperança deve ser visto e analisado a partir do Cristo
crucificado, e vai em direção às promessas da ação de Deus no "já" e
no "ainda não", não importando a nossa situação, mas tendo consciência
de que a nossa fé está baseada em Cristo, na sua obra e exemplo, bem como no
seu esperado retorno.
I - FUNDAMENTAÇÃO
BIBLICO-TEOLÓGICA DA ESPERANÇA CRISTÃ
Neste primeiro
capítulo, estaremos aprofundando o estudo da Esperança Cristã a partir da
fundamentação bíblico-teológica. Focalizaremos algumas passagens bíblicas
pertinentes ao tema, acreditando que as narrativas bíblicas exemplificam a
análise da tradição bíblica e a prática reflexiva como teologia.
1.1 Em o Antigo
Testamento:
1.1.1 A missão dos
patriarcas é baseada na esperança da promessa e das bênçãos
As passagens
vétero-testamentárias da esperança judaica tornar-se-ão modelo cristão a partir
dos temas bênção e promessa.
Em Gênesis 1: 28,
Deus abençoa a Adão e Eva com a missão de que eles frutificassem e multiplicassem
sobre a terra. Além desta missão, havia a promessa da bênção de domínio sobre a
criação. Assim, o que impulsionava Adão a cumprir a sua missão era o fato de
que a dádiva e a bênção por parte de Deus são fatores motivadores para o
cumprimento de sua missão. Em Adão, Deus mostra que a sua bênção é determinada
pelo cumprimento da missão que ele outorga aos homens, entendendo que a missão
de Adão era clara e definida e que ele esperava a manifestação da bênção e da
promessa. Em Gênesis 9: 8-17, vemos a ação de Deus chamando Noé para a
missão de preservar a raça humana a partir da promessa de que Ele não mais a
destruiria. O cumprimento desta missão teve como fator básico a bênção para
toda a raça humana.
A partir de Gênesis
12, temos o chamado de Deus para Abraão e a confirmação de que nele seriam
benditas todas as famílias da terra. Abraão responde ao chamado com fé nas
promessas e nas bênçãos. A fé lhe foi exigida, porque em sua missão encontrou,
por várias vezes as dificuldades que foram vencidas pela fé em Deus, que deu
origem à sua missão. Essa fé iniciou-se com Abraão que na história da sua vida
viu a missão que Deus tinha para ele cumprir, mas que apontava para um fim
maior que haveria de realizar-se. Moltmann nos dá um perfil interessante no que
diz respeito ao espaço do crer na realização do prometido:
Se uma palavra é
palavra de promessa, isto significa que ela ainda não encontrou sua
correspondência na realidade, mas está em contradição com a realidade presente
e experimentável... a palavra da promessa sempre cria um tempo intermediário,
carregado de tensão que se estende entre o evento e a realização da promessa.
Assim, Deus chama
Abraão com o objetivo de alcançar todas as outras nações da terra. O propósito
de Deus em Abraão era mostrar ao mundo o caminho da salvação e fazer com que
todos pudessem gozar das promessas e das bênçãos feitas a ele. Assim sendo,
Deus usa Abraão para um propósito maior - alcançar as nações. Com o nascimento
de Isaque (Gênesis 21), Deus mostra a Abraão a sua fidelidade e responde
de forma concreta a todas as promessas feitas a ele, pois é em Isaque que Deus
vai dar continuidade para às suas promessas de abençoar a todos os povos.
Essa bênção se torna
presente em Jacó (Gênesis 32: 22-32), pois Deus começa a lançar os
fundamentos para o povo que seriam instrumentos para refletir a sua glória
entre as nações, o povo de Israel. Em José, nós podemos ver como a fidelidade
de Deus atua, mesmo que de modo estranho ao levar José para o Egito como
escravo e abençoando-o, a ponto de promovê-lo aos mais altos escalões da corte,
para preservar seu povo e também para abençoar os egípcios e os povos vizinhos
naquele tempo de calamidades.
A partir de Êxodo
12, encontramos Moisés que se destaca como uma figura bastante
significante para o contexto de missão no Antigo Testamento. Ele é enviado para
a missão de resgatar o povo de Israel e fazer dele um canal de bênção para as
nações. Isso acontece a partir da libertação do povo que estava cativo,
oprimido e sob o domínio de faraó. Vale ressaltar também que Deus usa Moisés,
não apenas para libertar o povo, mas para ser o condutor do povo na formação da
nação, na elaboração do seu culto e das suas leis, enfim, na expressão da sua
fé.
Assim no êxodo, Deus
cumpre sua promessa, libertando seu povo da escravidão e do cativeiro. Em
Moisés, Deus mostra que o êxodo é a base para a tipologia cristã que antecipa a
obra redentora de Cristo. Assim, a ação salvífica de Deus no passado se tornou
a base da esperança e da confiança que a salvação poderia ser conhecida como
uma experiência na história humana, e não somente um evento além da história
atual.
Considerando a
promessa e a bênção como elementos de uma esperança judaica primitiva, a
cristandade tomou-as como precursoras de uma teologia bíblica desenvolvida na
cultura helênica, romana e gentílica do século I. É certo que a Igreja
Primitiva levou em consideração o aspecto da esperança cristã inaugurada em
Cristo como também o cumprimento da promessa e da bênção.
1.1.2 A missão dos
profetas é baseada na esperança do reino messiânico
Considerando o
movimento profético como um fenômeno da urgência crítica do período monárquico
da nação de Israel, entendo que há elementos suficientes para uma análise
quanto ao aspecto da esperança que alcançou momentos históricos decisivos para
o povo. Quero referir-me a alguns profetas que, inspirados pelo Espírito de
Deus (Isaías 61:1-2; Miquéias 3:8), refletiam a crise social, econômica e
política com fortes argumentos teológicos. Essas explanações, todavia,
começaram a ser imitadas por um número muito significativo de profetas tanto
palacianos (Deutero-Isaías) como campesinos (Amós), pois o perfil profético
desses anunciadores trazia em suas mensagens a voz de lahweh, inaugurando
um novo período: o reino messiânico.
Falar sobre o reino
messiânico no período dos profetas é detectar cuidadosamente as estruturas
escatológicas que o tema da esperança judaica proporcionou ao povo Por exemplo,
a crise econômica do reinado de Judá prejudicou sensivelmente os camponeses por
causa dos altos impostos que indicaram para os profetas menores, o anúncio de
uma conversão da injustiça social para uma vida digna e respeitada. Os profetas
desse período caracterizavam a esperança a partir de uma reconversão do reinado
monárquico, ou seja, o rei, os súditos, os profetas, os sacerdotes, o exército
e até mesmo o povo seriam alcançados pelo reino do Messias, pois a injustiça
social seria aniquilada.
O que significaria
então essa esperança no reino messiânico? Certamente, os profetas traziam um
anúncio voltado para uma figura política, sacerdotal, profética e humana, pois
o Messias seria o representante justo de Deus entre o povo. É nesse contexto
simbólico-figurativo que o Messias deixa de ser imagem e memória, ideal e
ficção e, fenomenologicamente falando, torna-se a esperança de realização num
homem que satisfaria os ideais divinos de justiça. Afinal, era ao rei que cabia
a função de administrar o mishphat e o tsadíq (justiça e
direito). Sendo assim, os profetas anunciam um reino messiânico como uma repulsa
ao reinado dos reis que não exerciam cabalmente a função digna e justa. Embora
o ritual da unção do rei fosse uma indicação de que o mesmo fôra escolhido por
Deus, os profetas anunciam um rei que é o próprio Deus: o Renovo Inaugura-se um
novo momento na história de Israel: a esperança de que o reino messiânico seja
efetivamente inaugurado.
A esperança judaica
do reino messiânico é descrita por vários pesquisadores como manifestações
históricas: quando Davi começa a construção do templo, Natã o adverte do seu
pecado de adultério como sendo a decadência do seu reinado. A história dos
cronistas narra episódios de uma estrutura familiar real totalmente
desvinculada do contexto da justiça divina. Certamente, o reinado davídico não
é o messiânico, pois a injustiça dentro do próprio palácio é praticada por
aquele que era tido como o escolhido de Iahweh. Já, no reinado de
Salomão, a injustiça é mais acentuada: o sistema tributário para manutenção do
templo, palácio e oligarquias tribais (sistema de prefeituras), denominados
corvéia, opunha-se totalmente ao projeto já outrora declarado por lahweh (comp.
1 Reis 2:1-4). A partir de Salomão, a monarquia sofre divisões, más
estruturações, principalmente no aparato litúrgico, religioso e cerimonial.
Doravante, a nação de Israel e Judá vão ser dominadas e o povo vai sentir-se
desesperançado. A resposta histórica da esperança messiânica somente é descrita
pelos profetas que presenciaram o retorno do cativeiro babilônico comandado
pelo rei persa Ciro. Este momento histórico é considerado messiânico porque a
nação passa por uma renovação étnica, os valores da tradição javista, eloista,
sacerdotal e deuteronomista voltam a ser lembrados e os novos líderes são
escolhidos a partir do contexto da justiça e do direito margeados pela
experiência e vivência do cativeiro.
Concluindo, o período
profético dentro da história de Israel é caracterizado como um anúncio da
esperança judaica de um reino messiânico. Esse reino, todavia seria comandado
por lahweh, visto que administraria o direito e a justiça ao povo.
1.2 Em o Novo
Testamento
1.2.1 A missão de
Jesus é cumprir a esperança da salvação
Dentro da teologia
bíblica desde Gênesis, Deus já incluíra em seu projeto de criação do universo o
resgate do homem dominado pelo pecado (Gn 3:1-15). Essa missão em resgatar a
humanidade, por iniciativa divina, concluiu-se em Jesus. Sua missão foi a de
cumprir o resgate da humanidade, doando-se gratuitamente e cumprindo
satisfatoriamente a vontade de Deus-Pai. Esse cumprimento da missão deve ser entendido
escatologicamente dentro do contexto da soteriologia, pois Jesus é quem inicia
e Cristo é quem concretiza a esperança soteriológica. Não são duas pessoas, mas
sim duas características essenciais da função divina que representa a esperança
e a salvação. Cristo é a consumação de uma missão permeada pela esperança que a
criatura tinha de ser resgatada pelo seu Criador.
Dentro do plano
bíblico de salvação, Cristo é o enviado de Deus para cumprir a esperança
soteriológica da vontade divina. Sendo assim, Ele se torna a Missio-Dei de
uma esperança divina compartilhada com a humanidade. Jesus cumpre essa missão
porque é Deus que salva.
1.2.2 A missão de
Jesus é inaugurar a esperança do Reino de Deus
O aspecto
escatológico da missão de Jesus é o de inaugurar a temática do reino de Deus
como uma nova esperança: a da prática da justiça. O Reino de Deus é inaugurado
por Cristo porque concentra em si a esperança da humanidade. Ele cumpre os
aspectos do reino messiânico já anunciado pelos profetas vétero-testamentários.
A missão de Jesus ao inaugurar o Reino de Deus, coloca-se em duas situações de
concretização: a primeira é o de fundamentar o conteúdo do Reino de Deus, e a
segunda é o de identificar os efetivadores desse reino: o novo homem em Cristo.
Portanto, a missão de
Jesus traz juntamente consigo elementos visíveis da esperança no anúncio do
Reino de Deus, ou seja, os sinais visíveis do Reino de Deus. O primeiro
sinal do reino é a presença de Jesus no meio do seu povo. Essa presença
traz como resultado final a alegria, paz e celebração (Lc 17:21; Mt 18:20). O segundo
sinal do reino de Deus é a pregação do evangelho, ou seja, o Kerigma. Pois
não havia até então evangelho para ser pregado. Assim, a vinda de Cristo
inaugura o tempo da proclamação. Um tempo de anúncio das boas novas a todos,
especialmente aos pobres (Lc 4:18 - 19; 7:22). O terceiro sinal do reino
foi o exorcismo. A idéia aqui apresentada é a de que a possessão demoníaca é
real e terrível, sendo que a libertação só é possível através de um encontro de
poderes no qual o nome de Jesus prevalece. O quarto sinal do reino foi
às curas e os milagres realizados por Jesus, dando visão aos cegos, curando
enfermos, dando audição aos surdos, fazendo coxos andar, ressurgindo mortos,
acalmando tempestades, multiplicando pão e peixes, tudo isso não só apontando
para a realidade da chegada do reino, mas eram prenúncios do reino final, em
que os problemas vividos pelos homens seriam banidos para sempre. O quinto sinal
do reino é o milagre da conversão e do novo nascimento. O encontro com Deus e
com o poder salvador do evangelho, faz do homem nova criatura (II Cor 5:17). Um
sexto sinal é o povo do reino1 em quem se manifesta o que o
apóstolo Paulo denomina de "fruto do Espínto" (GI 5:22-23). Assim
sendo1 fica claro que o reino de Deus é governado por paz, amor,
alegria, bondade, longanimidade, benignidade, fidelidade, mansidão,
domínio próprio. O sétimo sinal do reino é o sofrimento. No exemplo de
Cristo nós temos o paradigma para a nossa atuação como efetivadores deste reino.
Foi necessário que ele sofresse a fim de entrar na sua glória. Cristo sofreu
por nós, deixando o exemplo maior para que pudéssemos mostrar um sinal concreto
para todos de que recebemos a salvação de Deus, ou seja, do seu reino.
Concluindo, fica bastante claro que todos esses sinais apontam para uma
esperança inaugurada em Cristo.
1.2.3 A missão de
Jesus é criar expectativas de vida
Após vermos que a
missão de Jesus era inaugurar a esperança do reino de Deus, vamos agora ver a
conotação que essa missão vai assumir em relação à criação de expectativas de
vida. Vale ressaltar, que o significado da esperança dos
contemporâneos de Jesus está intimamente ligada na pluralidade do conceito
vétero-testamentário visto anteriormente. O que caracterizava essa época era a
expectativa messiânica. A idéia aqui apresentada é de um libertador da nação.
Já na pluralidade da época de Jesus, encontramos quatro tipos de expectativas:
a primeira, chamada de apocalíptica, entendia que o presente estava
entregue a poderes malignos e fadado a desaparecer. Haveria todo tipo de
desgraça como terremotos, fome, fogo, guerras e depois surgiria um novo tempo,
repleto de paz e justiça num mundo eterno onde a morte e todas as configurações
malignas estariam vencidas. A Segunda, chamada de rabínico-farisáica,
adotou elementos da apocalíptica e desenvolveu um tipo de escatologia
semelhante, que unia as diversas esperanças a respeito dos tempos finais. Há,
evidência do caráter político-nacionalista de esperada manifestação do reino de
Deus. O povo, privado de força política, vivia esta expectativa no legalismo.
Desta forma, constatamos
O Reino de Deus será
erigido quando ele libertar Israel da escravidão, sob os povos do mundo, por
meio de poderosos sinais, históricos o cósmicos, e obrigar os povos a
reconhecê-lo como Senhor.
Já o terceiro grupo
tinha também sentimentos apocalípticos e era formado pelos essênios.
Consideravam-se o único Israel verdadeiro. Para esse grupo a espera do Messias
davídico foi relacionada a pessoa do Messias de Israel, visão essa extraída do
Antigo Testamento. O quarto e último grupo são o mais radical. São os
Zelotas, que não se contentavam em esperar calmamente a vinda do Messias, mas
desejava sua vinda através da luta armada. Eram profundamente nacionalistas e
traduziam sua expectativa em uma prática guerreira de libertação, com o
objetivo de forçar a realização do reino por meio da força. É nesse contexto de
espera que aparece a pessoa de Jesus, o Messias. A expectativa do Antigo
Testamento de lahweh iria intervir na história. O Verbo se faz
carne (Jo 1:14); Deus tornou-se homem, o Todo-Poderoso apareceu na terra e veio
ao encontro do homem. Em Jesus, o dia mundial da salvação chegou como o grande
dia de Deus. Aquilo que era futuro, tornou-se presente nele uma realidade já
presente entre os homens (Lc 10:23; 11:20; 17:20)
Portanto, em Jesus, a
expectativa de vida se faz presente. Jesus assume a missão de gerar vida,
colocando a esperança sob uma nova perspectiva. Em Jesus, a esperança se torna
uma realidade concreta, gerando uma expectativa nova para as pessoas. Essa nova
expectativa gera também um novo tempo: um tempo de paz, de amor, de justiça e
saúde. Gera um tempo de celebração, um tempo de festa, algo que só a missão de
Jesus faz tornar realidade. Essa missão, portanto, traz uma nova expectativa,
pois ele cumpre aqui e agora e aponta suas ações e palavras como sendo um
acontecimento salvífico do fim dos tempos.
1.3 Na Teologia
Paulina
1.3.1 A ressurreição
escato-cosmológica de Jesus enquanto paradigma missiológico
O apóstolo Paulo
coloca na base angular de nossa esperança o evento pascal e pós-pascal e a
união com ele (1 Tess. 4:14). A ressurreição de Jesus, e em conseqüência, a dos
fiéis são ações salvíficas de Deus (1 Cor 15: 22 5) A pregação da ressurreição era
uma esperança viva. Ela elimina todas as dúvidas acerca da autenticidade da
reivindicação de Jesus, além disso, se a ressurreição de Cristo não
fosse um fato, a experiência na estrada de Damasco não teria passado de um
sonho apenas e nada convenceria Paulo disso. Ele sabia que Cristo havia
ressuscitado. Esse era portanto o fator determinante para a ação missiológica
de Paulo: O Cristo ressurreto! Para o apóstolo tudo o que se refere a Jesus
Cristo é portanto, objeto de esperança e de ação missiológica, especialmente a
sua ressurreição. Desta forma, o pensamento escatológico de Paulo une sempre o
evento da ressurreição de Jesus no contexto da expectativa escatológica, em
relação aquilo que há vir e a espera do futuro é sempre baseada no evento
Cristo.
1.3.2 A missão de
Paulo na confecção escatológica da esperança cristã
O apóstolo Paulo teve
um papel muito salutar na confecção do conceito escatológico da esperança
cristã. Afinal, não fôra fácil para ele conscientizar os cristãos acerca dessa
realidade, pois a influência judaica (acerca do messianismo) e a
grega (a respeito da utopia filosófica) são religiões ou sistemas já muito bem
estruturados e de difícil acesso. Dessa forma, pode-se afirmar que a
missão de Paulo foi a de compor a metodologia teológica necessária para se
conceber a esperança cristã.
Para o apóstolo, a fé
é o critério para se compreender a esperança (Romanos 1:16-17). Ela é o
sujeito, pois o objeto da esperança é, normalmente, escatológico: a glória
de Deus, a esperança reservada nos céus (CI 1:5), a graça que será concedida na
revelação (escatológica) de Jesus Cristo. Era preciso que o
apóstolo desse aos cristãos a segurança necessária aos obstáculos enfrentados:
o sofrimento, a desesperança, a injustiça, a opressão, às doenças etc. O amor
também ocupa uma saliência na tríade paulina (1 Coríntios 13:13, pois fé,
esperança e amor são dons a serem exercitados), veiculado pela expectativa da
comunhão em Cristo pelo Espírito. Sendo assim, essa
construção do amor entre fé e esperança ajuda a concepção paulina para
estabelecer conceitos, diretrizes e medidas pastorais a favor das comunidades
primitivas.
A variedade das
experiências, pelas quais Paulo orientou as comunidades a suportarem, resultou
como elementos didáticos da preocupação apostólica em redescobrir novos
horizontes para a fé cristã. Esses horizontes foram vistos nos personagens
bíblicos (Rm 4:18), naquilo que não vimos ou sentimos (Rm 8:24; Hb 3:6), na
glória de Deus (Rm 5:2); na libertação do pecado (Rm ~:20), na salvação do
justo (Rm 8:24), na alegria dos justificados (Rm 12:12), na libertação do
perigo (2 Cor 2:10) etc. Enfim, várias passagens que estruturam o pensamento de
Paulo, além, é claro, de conciliar a missão, a glorificação de Deus e a unidade
do Corpo.
1.3.3
Temas e Figuras paulinas para a missão da esperança
A esperança tem uma
missão: tornar eficiente a fé cristã e proporcionar expectativas àqueles que
são alcançados por ela. Para isso, o apóstolo Paulo desenvolveu temas e figuras
que exemplificam a sua eficácia. Queremos, então, esboçar os temas e as
figuras.
FIGURAS
|
TEMAS
|
Tempo (kairós)
|
Juízo e misericórdia pela ação
de Deus na História |
Épocas (kronos)
|
Rememorações dos feitos de Deus
|
Reino (basiléia)
|
Paradigma de restauração e manifestação da
graça de Deus
|
Israel
|
Referencial da tipologia Povo de Deus
com um ministério definido |
Alturas/Nuvens
|
Dimensão escatológica da soberania de
Deus/referencial para a glorificação divina |
Espírito Santo/
poder/autoridade |
Poder de Deus/essência à qualidade
dos cristãos na evangelização |
Testemunhas
|
Proclamação/Serviço
/referencial para o sofrimento cristão |
Confins da Terra
|
Dimensão Extra territorial da pregação
|
Visão/discernimento
|
Testemunho da experiência cristã,
p. exemplo a ressurreição de Cristo |
Palavra
|
Conforto/Consolo
|
Glória
|
Criação de uma expectativa extratemporal;
dimensão escatológica da promessa e bênção inauguradas pela esperança cristã. |
Parousia de Cristo
|
Expectativa da redenção final da criação/
consumação do projeto de Deus |
Céu
|
Referencial de oposição ao
baixos domínios territoriais |
Percebe-se que os
temas encontrados nas figuras paulinas não são uma limitação do significado que
ela encerra, mas uma tentativa de explicar e exemplificar o propósito da
experiência cristã. Sendo assim podemos afirmar que essas figuras tinham uma
missão: concretizar na mente dos cristãos que a realidade da esperança era a
catalisadora dos sofrimentos, das desesperanças, das injustiças, das estruturas
opressoras e desumanas. Em cada uma delas, o contexto neo-testamentário é
provedor de um ação realizadora da missão da esperança.
II- METODOLOGIA
MISSIOLÓGICA DA ESPERANÇA CRISTÃ
A seguir,
apresentaremos os métodos missiológicos que podem ser encontrados na Esperança
Cristã. Para o estudo dessas correntes escatológicas de interpretação da
esperança cristã, iremos considerar a ênfase missiológica que cada uma tem se
proposto a oferecer.
2.1 A Esperança se
realiza na fé em Cristo
Cristo veio cumprir a
vontade do Pai, morrendo e ressuscitando. Ele possibilitou essa realização,
pois cumpriu cabalmente os desígnios divinos, determinando o cumprimento dos
eventos escatológicos a partir da sua encarnação, morte, ressurreição e
exaltação. E é, ademais, na parousia que se encontra um novo
aspecto dessa escatologia cristológica: nEle tudo se cumprirá (Romanos
11:33-36). Os temas com respeito ao julgamento e juízo divinos não se referem
aos aspecto escatológico, mas sim apocalíptico (consumação). Assim sendo, o
reino já está consumado e realizado em Cristo. No entanto, há várias concepções
de interpretação com metodologias que necessitam ser aprofundadas.
No caso de Dodd,
encontramos a fé como concretizadora dessa esperança. A fé se torna o
instrumento de medida para a realização dessa esperança. Os intérpretes
julgam-na necessários para que a esperança cristã se junte às estratégias de
evangelização e que cada ato missionário revele a missão cristã enquanto fé
escatológica.
É mister, portanto, o
ministério pastoral voltar-se a essa prática de fé enquanto promotora da
missão. A prática pastoral é um ato de fé em Cristo. Mesmo com respeito aos
futuros desafios que a Ekklesia terá que realizar, a fé será ainda um
elemento escatológico de realização cristã. Enfim, a comunidade que crê é a que
espera a realização do futuro.
2.2 A Esperança está
em realização pela pregação do Evangelho (Cullmann)
Cristo é considerado
como o escatós, como agente da realização escatológica divina em
processos diferenciados pela vontade do Pai, ou seja, no Antigo Testamento o
sentido escatológico da esperança era ilustrado pelas alianças de Deus com seu
povo; em o Novo Testamento a escatologia divina é manifestada no Filho e
executada pelo Espírito, mas no futuro, ela será consumada na parousia. Assim
sendo, somos ensinados pelo Espírito nas questões que hão de vir.
É salutar que a
posição de Cullmann seja pautada na pregação do Evangelho, uma vez que o
aspecto kerigmático do cristianismo é essencialmente escatológico. Tudo
indica que esta interpretação é uma dialética do já e ainda não O primeiro
seria entendido como uma condição, ou seja, pregar o Evangelho. Já o segundo
como resultado-conseqüência, isto é, a realização da esperança pela pregação. A
comunidade condicionada à pregação, anuncia a realidade da esperança na vida
cristã e, em conseqüência disto, a mesma comunidade goza dos resultados dessa
pregação. Resta-nos, apenas entender como fica a missão, uma vez que a
compreensão da Grande Comissão (Mateus 18:18-20; Marcos 16:15-17; Lucas
24:47-49; João 20:19-23; Atos 1:6-11) é de caráter imperativo e não
condicional. Daí, entende-se que a esperança está em realização (o ainda
não).
2.3 A Esperança está
condicionada à práxis eclesiológica (Weiss e Schweitzer)
O paradigma
escatológico é Cristo, logo, todos os elementos de sua escatologia são
conseqüentes a nós. Essa corrente vê o reino como essencialmente escatológico e
supra terreno. Esta é a posição que defende o reino futuro. Ela estabelece
parâmetros de medida e ação eclesiológica, não permitindo uma outra maneira de
reconhecer a manifestação da esperança senão pela prática cristã. É claro que
não está se referindo à presença cristã, mas sim à prática missiológica pela
Igreja.
Por vezes, pode ser
confundida com a corrente anterior, mas ela está querendo abranger a estrutura
que a Ekklesia possui para concretizar a esperança enquanto catalisadora
da missão. É relevante, pois permite à atual missiologia refletir sobre os
esquemas de prática cristã dentro das próprias estruturas que igrejas e
agências missionárias possuem.
2.4 A Esperança é inaugurada
em Cristo (Fuller)
Tem como objetivo,
enfatizar a missiologia a partir da escatologia. Cristo também é o paradigma
escatológico. Ele é o inaugurador da nova concepção da parousia no Novo
Testamento. Essa compreensão dá-nos uma visão apocalíptica da volta de Cristo,
ou seja, a pregação se torna emergente, o tema da volta de Cristo é o conteúdo
prioritário da evangelização. Desta forma, Jesus inaugura uma nova visão de
messianismo. E a exigência é a fé.
Esse paradigma
escatológico é o cumpridor da missão inaugurada em Cristo. Favorece os meios de
atuação missionária a partir da esperança. Como isso se dá? Pela inauguração em
Cristo. É escatológico pelo aspecto apocalíptico, na manifestação
de Cristo, a esperança se realiza enquanto fator consumador. A missão se cumpre
e oferece duplo aspecto: o da libertação em Cristo se
inaugura a esperança salvífica patrocinada pela misericórdia do Pai; e o outro o
da condenação, que explicita a justiça no julgamento do Pai.
2.5 Reação às
Metodologias: A Esperança Cristã via paradigmas escatológicos de plantão
prejudica a missão da Igreja
Quando olhamos a
esperança cristã a partir dessas metodologias, via escatólogos de plantão,
perdemos a verdadeira noção do reino de Deus e da missão da igreja, porque o
que importa na realidade é lembrar que não é presente, nem futuro, ou seja, não
está totalmente no presente, nem somente a realizar-se no futuro. Há uma
relação dialética entre presente e futuro, pois:
O reino de Deus não é
apenas futuro e utopia, é presente e encontra concretizações históricas. Por
isso deve ser pensado como um processo que começa no mundo e culmina na
escatologia final. Em Jesus encontramos a tensão dialética sustentada
adequadamente; por um lado a proposição de um projeto de total libertação, que
podemos entender como reino de Deus, e, por outro, mediação (gestos, atos,
atitudes) que o traduzem processualmente na história. Por um lado o reino é
futuro, por outro lado é presente e está perto.
Desta maneira, em
Cristo, a realidade do reino vai além do que um estado comandado por Deus.
Significa também o cumprimento da vontade do Pai. Assim sendo, a missão da
igreja deve ter como fator motivador a esperança cristã, baseada na promessa da
parousia em um futuro desconhecido.
III- A ESPERANÇA CRISTÃ COMO ARTICULADORA DE
UMA MISSÃO CONTEXTUALIZADA
Nesse capítulo, a
Esperança Cristã será tratada enquanto elemento de articulação para a
efetivação da missão no contexto latino americano. E salutar que essa
articulação decorre das experiências históricas vividas nesses 500 anos de
colonização e evangelização. O tema da justiça é algo que ainda percorre
na América Latina como carro-chefe da esperança cristã. É a missão
profética da Igreja que articulará essa esperança.
3.1.1 A Igreja é
cumpridora de uma missão encarnada na Esperança Cristã
A eclesiologia
latino-americana volta á prática de uma teologia encarnacional, pois o cumprir
missiológico se dá quando a presença cristã efetiva a esperança na
transformação da realidade atual. A vida na América Latina precisa sofrer uma
conscientização a partir do papel missiológico da Igreja. Essa função só se
cumprirá se ela inaugurar um novo imperativo da escatologia cristã. Não é pois
desconsiderar o papel de Cristo na redenção universal da criação, mas
extrapolar o sentido que a esperança tem para a missão da Igreja. Em poucas
palavras, a Igreja é a responsável pela conscientização da sociedade
no cumprir da missão que gera novidade de vida.
Se a igreja é a
cumpridora da missão, qual o melhor conteúdo para expressar essa verdade.
Dizemos, pois que se encontra na esperança cristã. Em Tito 2:11-13, há a
promessa da manifestação da esperança e da glória em Cristo. A igreja
experimenta a vida de Cristo porque espera na manifestação de sua glória.
Diríamos que a esperança cristã incentiva-nos a um caráter revolucionário:
esperamos porque acreditamos na transformação da América Latina. Sendo assim, a
Ekklesia tem a missão de encarnar essa esperança e cumpri-la cabalmente, pois
todos aguardam a bendita esperança da manifestação da glória de Cristo (cfe
verso 11).
Esse sentido
escatológico de que a missão da igreja se encontra na encarnação da esperança
cristã é vivido pela fé que a comunidade cristã tem na concretização do reino
anunciado por Jesus para o tempo presente. O encarnar-se é colocar em
funcionamento a missão da Igreja. Não é um aspecto ético-moral apenas, mas
profético, pois anuncia a graça salvadora a todos os homens. Para nós,
portanto, latino-americanos, somos desafiados a cumprir a esperança cristã. É
preciso que o ministério pastoral volte-se à encarnação da esperança como
cumpridor da missão integral da Igreja. Somente através de uma prática
encarnacional da esperança é que a Ekklesia motivará e cumprirá a missão
na América Latina.
3.2 O conteúdo da Esperança em Cristo é a
missão educativa da Igreja com alcance à liberdade
O ministério
educativo da Igreja possui também um aspecto escatológico. Entende-se esse
ministério aliado à missão integral da Igreja com a perspectiva de liberdade. O
cristão, conhecendo a Cristo, alcança a liberdade como paradigma de uma missão
educativa. Essa apologia pode ser esquematizada pelos seguintes elementos:
a) A Palavra: é,
pois, na proclamação que os cristãos compreendem o poder da esperança
enquanto agente catalisador da esperança. O ministério da Palavra é essencial
no entendimento da esperança que liberta;
b) A comunhão: gera
uma esperança viva, eficaz e solidária na comunidade a ponto de extrapolar o
sentido da liberdade, haja vista as comunidades cristãs primitivas surgirem de
um contexto de libertação da opressão e dos opressores;
c) O Espírito:
também é agente catalisador da esperança que liberta. Ele renova a alma (mente)
humana dando novas estruturas de pensamento, linguagem e intenções. É o
Espírito que possui a função de ensinador (João 14:26) e direcionador da
verdade;
Uma comunidade que
tem como conteúdo o ministério educativo da esperança enquanto libertadora, se
preocupa em traçar estratégias de atuação no cumprimento da missão, pois educa
para o reino de Deus, para a justiça e para o futuro (esperança cristã). Esta
última é a responsável pela realidade da liberdade humana. A Igreja é a
promotora da esperança que liberta. Para isso, ela deve contextualizar o
ministério educativo, trazendo em seus currículos o conteúdo da esperança
cristã com vistas à libertação.
3.3 A Esperança
Cristã se cumpre na prática da justiça
A justiça é tema
constante na teologia bíblica e sistemática. Ela precipua a esperança cristã,
pois exige praticidade de uma fé que realiza milagres na história humana.
Pode-se dizer que a prática da justiça é a afirmação da esperança que salva,
justifica e liberta. É salutar, em nosso contexto latino-americano, o
cumprimento da justiça, pois, efetiva e concomitantemente, ela executa a
esperança cristã.
Que diremos pois da
esperança que não cumpre a justiça de Deus? É inócua, ineficaz e
irrelevante. A comunidade que anseia pela honestidade, pelos valores morais
direcionados ao próximo, pela filantropia e pela fraternidade é aquela que
volta seus olhos ao anúncio da justiça e coloca em prática esses elementos de
transformação. A comunidade uma vez justificada cumpre a justiça de Deus na
expectativa de viver pela fé a esperança da realização do reino na vida
presente.
Eis, pois,
o desafio lançado à eclesiologia latino-americana: converter-se à justiça,
praticá-la e viver na esperança do reino de Deus. Atualmente, vive-se uma
expectativa de realização do anúncio profético contra a injustiça, mas é
preciso, agora, cumprir esse anúncio: da teoria, do palanfratório, da ineficácia
para a práxis cristã, ou seja, ser mais prático, dinâmico, contextual e
profético. A Igreja latino-americana vive a expectativa do anúncio do reino,
mas anseia pelo cumprimento dele em nosso meio.
3.4 A Esperança
Cristã se realiza na América Latina: propostas de uma missão evangelizadora
A partir do Clade
III, ficou decidido na confissão de Evangelização pelos documentos finais do
Congresso, que o ide é para todos e, parafraseando Atos 1:8... e
sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, Galiléia, Sarnaria e até os confins
da terra... a começar pela América Latina. Entendemos que o conteúdo
da esperança na evangelização ocupa um espaço relevante na missão da Igreja.
Dessa maneira, os congressos, consultas, conferências e eventos evangelísticos
tiveram um papel de amadurecimento quanto à questão de expressar o sentido
escatológico da evangelização. Para tanto, a caminhada é rumo às propostas de
uma missão evangelizadora.
As teologias
contemporâneas de missão vêm de encontro à tradição bíblica para expressar a
ação evangelizadora da Igreja, observando o contexto da cultura, da raça e do
ambiente de atuação. Missiólogos têm se preocupado nessa área, favorecendo-nos
com ideais diferentes de missão, mas que são essencialmente contextuais. Vamos
estudar três modelos básicos de uma proposta de missão evangelizadora com
vistas à esperança cristã.
3.4.1 René Padilha:
servindo os pobres na América Latina
A proposta de Padilha
é a de apresentar o ministério integral numa perspectiva bíblica. É, pois,
através dessa abordagem que ele propõe uma avaliação teológica dos tipos de
ministérios já desenvolvidos até então. Sua conclusão é de que todos foram
frutos de uma missão conquistadora de territórios, ideologias eclesiásticas e,
sobretudo, de estratégias evangelísticas.
Ao avaliar a situação
da América Latina, propõe uma teologia de missão evangelizadora contextual e de
transformação social, ou seja, servindo os pobres. Não é uma rememoração à
Teologia da Libertação, mas sim uma resposta evangélica à Teologia Contemporânea
de Missão. No que diz respeito às estratégias, comprova-se:
Até muito
recentemente, a evangelização feita pelas igrejas evangélicas era, em boa parte
, "desencarnada". Estava dirigida para a salvação da alma, mas
passava ao largo das necessidades do corpo. Ela oferecia a reconciliação com Deus por
meio de Jesus Cristo, mas deixava de lado a reconciliação do ser humano com seu
próximo, que se baseia no mesmo sacrifício de Jesus Cristo. Ela
proclamava a justificação pela fé, mas omitia toda e qualquer referência à
justificação social enraizada no amor de Deus pelos pobres.
Compreendo tais
dimensões da evangelização no ministério integral, podemos dizer que o caráter
missiológico da esperança cristã é o do serviço aos necessitados da América
Latina. É uma missão voltada à prática diaconal semeada pela esperança de
Cristo. É mister, portanto, que o ministério pastoral (integral e
contextual) seja o da esperança cristã que viabiliza a evangelização da América
Latina.
3.4.2 Orlando Costas
e a Evangelização contextual
O segundo modelo é
mais teológico. Orlando Costas propõe também uma Evangelização contextual tanto
nos fundamentos bíblico-teológicos quanto nos pastorais. Fiquemos
com o primeiro, pois relata a Trindade como paradigma de uma missão
evangelizadora contextual. Esse modelo1 todavia, requer uma
conscientização global da Ekklesia, pois busca encarnar em seus membros
a ação transformadora do evangelho.
Se atentarmos para a
temática da esperança cristã, compreenderemos que a responsabilidade
missionária da Igreja para a América Latina resulta nas quatro teses defendidas
por Costas:
1.
A
evangelização contextual envolve o testemunho da igreja em todas as partes e em
todo momento na presença da ação do Deus trino.
2.
A
evangelização contextual requer a imersão da igreja na origem da história
humana e da história trina de Deus.
3.
A
evangelização contextual oferece à Igreja a oportunidade de fazer uma
contribuição significativa à reconciliação do mundo com Deus e consigo.
4.
A
evangelização contextual não deve ser entendida na igreja como uma atividade
que se faz em tempo parcial por um grupo de especialistas, mas sim como um
ministério que pertence a todo o povo de Deus.
Entende-se, portanto
que a esperança cristã se cumpre na América Latina quando a Igreja encarna e
vive a trindade. É claro que esse ponto teológico deve ser melhor
definido: o ministério pastoral deve elaborar meios de articulação da práxis
evangelizadora com vistas ao envolvimento dos santos no serviço do Reino.
3.4.3 Leonardo Boff:
500 anos de evangelização
Sendo assim, Boff diz
que a missão da América Latina se realiza na antecipação da esperança cristã
que, comunica os aspectos do profetismo na evangelização, tão peculiares à
atual pastoral latino-americana: o sentido da justiça na sociedade hodierna.
Basta-nos, então, encontrar as raízes da interpretação escatológica da
esperança cristã dominante para, também, ser aludida à voz profética da Igreja
missionária que liberta, emancipa e transcende o conceito da volta de Cristo.
A América Latina
comunica aos seus habitantes o sentido original da esperança cristã a partir de
uma missão evangelizadora Daí, entende-se, primariamente, a
reconquista histórica do povo de Deus: Havendo Deus, outrora falado, muitas
vezes e de muitas maneira aos nossos país pelos profetas.
Hoje, de certa forma, tem nos falado através da história de evangelização da
América Latina (Hebreus 1:1). É o momento de
enxergar as conquistas à realidade da esperança cristã no continente latino
americano.
IV - CONCLUSÕES
4.1
A Esperança Cristã é missiológica porque apresenta única
e exclusivamente Cristo
4.2
Não existe missão se baseada numa metodologia de
escatólogos plantonistas
Com esta visão, os
escatólogos de plantão mostram que a sua teologia não é uma teologia engajada e
comprometida com as transformações sociais que a América Latina tanto clama.
Assim sendo, não podemos enquanto igreja aceitar de forma passiva a idéia
daqueles que pensam missão a partir dessas metodologias. Devemos pensar em
missão, a partir da visão de que a igreja não espera edificar o reino de Deus sobre
a terra, nem cristianizar a sociedade. A nossa esperança é escatológica, mas
seu serviço e seu testemunho são o sinal bem presente dessa esperança e do
domínio de Cristo em nossas vidas.
4.3 A missão da
Igreja é motivar a humanidade à fé em Cristo e esperar na realização do Seu
Reino
Quando a igreja
através do anúncio profético fala à humanidade sobre o reino de Deus, ela
motiva as pessoas à fé em Cristo. Assim sendo, falar do reino de Deus é falar
do propósito redentor de Deus para toda a criação e da vocação histórica que a
igreja tem em relação a este objetivo no aqui e agora. É também
falar de uma realidade escatológica que constitui simultaneamente o ponto de
partida e a meta da igreja. A missão da igreja, consequentemente, só pode ser
entendida á luz do reino de Deus. E já que este reino foi inaugurado em Jesus
Cristo, não é possível entender corretamente a missão da igreja sem entendermos
a própria missão de Jesus. É a manifestação, ainda que incompleta do reino de
Deus, tanto por meio da proclamação, como por meio do ensino, comunhão e ação
social. Desta forma, a igreja como comunidade do reino produz sinais visíveis e
estes devem ser direcionados aos cativos e perdidos. O viver da comunidade
então, é o antecipar da presença do reino de Deus no meio do povo.
AUTOR DESCONHECIDO
(Não nos responsabilizamos pelo conteúdo teológico deste material)
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