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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

MISSÕES 23 - O CARÁTER MISSIOLÓGICO DA ESPERANÇA CRISTÃ


O CARÁTER MISSIOLÓGICO DA ESPERANÇA CRISTÃ

INTRODUÇÃO
Esta monografia tem como objetivo mostrar que a esperança cristã é o fator motivador para a prática missiológica da igreja. Assim sendo, o nosso estudo estará baseado no termo "esperança " que expressa a expectativa ou o ato de esperar, dando-nos a idéia de um objeto ou algo esperado. Embora sabemos que o objeto ou o produto desta expectativa é Cristo, esse estudo descreverá os momentos de profunda experiência de Deus com o seu povo, de tal forma que levou pessoas à formulação de uma compreensão eficaz ao cumprimento da missão da igreja a partir de Cristo.
Esta compreensão toma forma no Antigo Testamento, onde a esperança era vista como o ato de esperar, ansiar, aguardar. Todos esses verbos dão a conotação de que a esperança do povo de Israel estava baseada em Javé e estava intimamente ligada com o ato de confiar. Assim, no AT, o povo mantinha a expectativa a partir da relação de espera e confiança. Javé era, portanto, o motivo da esperança para o povo que nele confiava. Já no Novo Testamento, a situação que no AT se descreve como esperança, agora é caracterizada como sendo o já de Deus para o povo com a presença do Deus encarnado. Aquilo que antes era futuro, agora se torna presente com a revelação de Cristo, mudando o caráter da esperança em si. Por causa da presença de Cristo, a esperança no NT é reformulada em relação ao seu conteúdo. A esperança adquire um sentido duplo diante do Deus presente: ao agora é preciso acrescentar o ainda não, acrescentando também a esperança no Cristo e o esperar por ele.
Assim, estaremos trabalhando a fundamentação bíblico-teológica da esperança cristã, a metodologia missiológica da esperança cristã e a esperança cristã como articuladora de uma missão contextualizada, entendendo sempre que o caráter missiológico da esperança deve ser visto e analisado a partir do Cristo crucificado, e vai em direção às promessas da ação de Deus no "já" e no "ainda não", não importando a nossa situação, mas tendo consciência de que a nossa fé está baseada em Cristo, na sua obra e exemplo, bem como no seu esperado retorno.


I - FUNDAMENTAÇÃO BIBLICO-TEOLÓGICA DA ESPERANÇA CRISTÃ
Neste primeiro capítulo, estaremos aprofundando o estudo da Esperança Cristã a partir da fundamentação bíblico-teológica. Focalizaremos algumas passagens bíblicas pertinentes ao tema, acreditando que as narrativas bíblicas exemplificam a análise da tradição bíblica e a prática reflexiva como teologia.

1.1 Em o Antigo Testamento:
1.1.1 A missão dos patriarcas é baseada na esperança da promessa e das bênçãos
As passagens vétero-testamentárias da esperança judaica tornar-se-ão modelo cristão a partir dos temas bênção e promessa.
Em Gênesis 1: 28, Deus abençoa a Adão e Eva com a missão de que eles frutificassem e multiplicassem sobre a terra. Além desta missão, havia a promessa da bênção de domínio sobre a criação. Assim, o que impulsionava Adão a cumprir a sua missão era o fato de que a dádiva e a bênção por parte de Deus são fatores motivadores para o cumprimento de sua missão. Em Adão, Deus mostra que a sua bênção é determinada pelo cumprimento da missão que ele outorga aos homens, entendendo que a missão de Adão era clara e definida e que ele esperava a manifestação da bênção e da promessa. Em Gênesis 9: 8-17, vemos a ação de Deus chamando Noé para a missão de preservar a raça humana a partir da promessa de que Ele não mais a destruiria. O cumprimento desta missão teve como fator básico a bênção para toda a raça humana.
A partir de Gênesis 12, temos o chamado de Deus para Abraão e a confirmação de que nele seriam benditas todas as famílias da terra. Abraão responde ao chamado com fé nas promessas e nas bênçãos. A fé lhe foi exigida, porque em sua missão encontrou, por várias vezes as dificuldades que foram vencidas pela fé em Deus, que deu origem à sua missão. Essa fé iniciou-se com Abraão que na história da sua vida viu a missão que Deus tinha para ele cumprir, mas que apontava para um fim maior que haveria de realizar-se. Moltmann nos dá um perfil interessante no que diz respeito ao espaço do crer na realização do prometido:
Se uma palavra é palavra de promessa, isto significa que ela ainda não encontrou sua correspondência na realidade, mas está em contradição com a realidade presente e experimentável... a palavra da promessa sempre cria um tempo intermediário, carregado de tensão que se estende entre o evento e a realização da promessa.
Assim, Deus chama Abraão com o objetivo de alcançar todas as outras nações da terra. O propósito de Deus em Abraão era mostrar ao mundo o caminho da salvação e fazer com que todos pudessem gozar das promessas e das bênçãos feitas a ele. Assim sendo, Deus usa Abraão para um propósito maior - alcançar as nações. Com o nascimento de Isaque (Gênesis 21), Deus mostra a Abraão a sua fidelidade e responde de forma concreta a todas as promessas feitas a ele, pois é em Isaque que Deus vai dar continuidade para às suas promessas de abençoar a todos os povos.
Essa bênção se torna presente em Jacó (Gênesis 32: 22-32), pois Deus começa a lançar os fundamentos para o povo que seriam instrumentos para refletir a sua glória entre as nações, o povo de Israel. Em José, nós podemos ver como a fidelidade de Deus atua, mesmo que de modo estranho ao levar José para o Egito como escravo e abençoando-o, a ponto de promovê-lo aos mais altos escalões da corte, para preservar seu povo e também para abençoar os egípcios e os povos vizinhos naquele tempo de calamidades.
A partir de Êxodo 12, encontramos Moisés que se destaca como uma figura bastante significante para o contexto de missão no Antigo Testamento. Ele é enviado para a missão de resgatar o povo de Israel e fazer dele um canal de bênção para as nações. Isso acontece a partir da libertação do povo que estava cativo, oprimido e sob o domínio de faraó. Vale ressaltar também que Deus usa Moisés, não apenas para libertar o povo, mas para ser o condutor do povo na formação da nação, na elaboração do seu culto e das suas leis, enfim, na expressão da sua fé.
Assim no êxodo, Deus cumpre sua promessa, libertando seu povo da escravidão e do cativeiro. Em Moisés, Deus mostra que o êxodo é a base para a tipologia cristã que antecipa a obra redentora de Cristo. Assim, a ação salvífica de Deus no passado se tornou a base da esperança e da confiança que a salvação poderia ser conhecida como uma experiência na história humana, e não somente um evento além da história atual.
Considerando a promessa e a bênção como elementos de uma esperança judaica primitiva, a cristandade tomou-as como precursoras de uma teologia bíblica desenvolvida na cultura helênica, romana e gentílica do século I. É certo que a Igreja Primitiva levou em consideração o aspecto da esperança cristã inaugurada em Cristo como também o cumprimento da promessa e da bênção.

1.1.2 A missão dos profetas é baseada na esperança do reino messiânico
Considerando o movimento profético como um fenômeno da urgência crítica do período monárquico da nação de Israel, entendo que há elementos suficientes para uma análise quanto ao aspecto da esperança que alcançou momentos históricos decisivos para o povo. Quero referir-me a alguns profetas que, inspirados pelo Espírito de Deus (Isaías 61:1-2; Miquéias 3:8), refletiam a crise social, econômica e política com fortes argumentos teológicos. Essas explanações, todavia, começaram a ser imitadas por um número muito significativo de profetas tanto palacianos (Deutero-Isaías) como campesinos (Amós), pois o perfil profético desses anunciadores trazia em suas mensagens a voz de lahweh, inaugurando um novo período: o reino messiânico.
Falar sobre o reino messiânico no período dos profetas é detectar cuidadosamente as estruturas escatológicas que o tema da esperança judaica proporcionou ao povo Por exemplo, a crise econômica do reinado de Judá prejudicou sensivelmente os camponeses por causa dos altos impostos que indicaram para os profetas menores, o anúncio de uma conversão da injustiça social para uma vida digna e respeitada. Os profetas desse período caracterizavam a esperança a partir de uma reconversão do reinado monárquico, ou seja, o rei, os súditos, os profetas, os sacerdotes, o exército e até mesmo o povo seriam alcançados pelo reino do Messias, pois a injustiça social seria aniquilada.
O que significaria então essa esperança no reino messiânico? Certamente, os profetas traziam um anúncio voltado para uma figura política, sacerdotal, profética e humana, pois o Messias seria o representante justo de Deus entre o povo. É nesse contexto simbólico-figurativo que o Messias deixa de ser imagem e memória, ideal e ficção e, fenomenologicamente falando, torna-se a esperança de realização num homem que satisfaria os ideais divinos de justiça. Afinal, era ao rei que cabia a função de administrar o mishphat e o tsadíq (justiça e direito). Sendo assim, os profetas anunciam um reino messiânico como uma repulsa ao reinado dos reis que não exerciam cabalmente a função digna e justa. Embora o ritual da unção do rei fosse uma indicação de que o mesmo fôra escolhido por Deus, os profetas anunciam um rei que é o próprio Deus: o Renovo Inaugura-se um novo momento na história de Israel: a esperança de que o reino messiânico seja efetivamente inaugurado.
A esperança judaica do reino messiânico é descrita por vários pesquisadores como manifestações históricas: quando Davi começa a construção do templo, Natã o adverte do seu pecado de adultério como sendo a decadência do seu reinado. A história dos cronistas narra episódios de uma estrutura familiar real totalmente desvinculada do contexto da justiça divina. Certamente, o reinado davídico não é o messiânico, pois a injustiça dentro do próprio palácio é praticada por aquele que era tido como o escolhido de Iahweh. Já, no reinado de Salomão, a injustiça é mais acentuada: o sistema tributário para manutenção do templo, palácio e oligarquias tribais (sistema de prefeituras), denominados corvéia, opunha-se totalmente ao projeto já outrora declarado por lahweh (comp. 1 Reis 2:1-4). A partir de Salomão, a monarquia sofre divisões, más estruturações, principalmente no aparato litúrgico, religioso e cerimonial. Doravante, a nação de Israel e Judá vão ser dominadas e o povo vai sentir-se desesperançado. A resposta histórica da esperança messiânica somente é descrita pelos profetas que presenciaram o retorno do cativeiro babilônico comandado pelo rei persa Ciro. Este momento histórico é considerado messiânico porque a nação passa por uma renovação étnica, os valores da tradição javista, eloista, sacerdotal e deuteronomista voltam a ser lembrados e os novos líderes são escolhidos a partir do contexto da justiça e do direito margeados pela experiência e vivência do cativeiro.
Concluindo, o período profético dentro da história de Israel é caracterizado como um anúncio da esperança judaica de um reino messiânico. Esse reino, todavia seria comandado por lahweh, visto que administraria o direito e a justiça ao povo.

1.2 Em o Novo Testamento
1.2.1 A missão de Jesus é cumprir a esperança da salvação
Dentro da teologia bíblica desde Gênesis, Deus já incluíra em seu projeto de criação do universo o resgate do homem dominado pelo pecado (Gn 3:1-15). Essa missão em resgatar a humanidade, por iniciativa divina, concluiu-se em Jesus. Sua missão foi a de cumprir o resgate da humanidade, doando-se gratuitamente e cumprindo satisfatoriamente a vontade de Deus-Pai. Esse cumprimento da missão deve ser entendido escatologicamente dentro do contexto da soteriologia, pois Jesus é quem inicia e Cristo é quem concretiza a esperança soteriológica. Não são duas pessoas, mas sim duas características essenciais da função divina que representa a esperança e a salvação. Cristo é a consumação de uma missão permeada pela esperança que a criatura tinha de ser resgatada pelo seu Criador.
Dentro do plano bíblico de salvação, Cristo é o enviado de Deus para cumprir a esperança soteriológica da vontade divina. Sendo assim, Ele se torna a Missio-Dei de uma esperança divina compartilhada com a humanidade. Jesus cumpre essa missão porque é Deus que salva.

1.2.2 A missão de Jesus é inaugurar a esperança do Reino de Deus
O aspecto escatológico da missão de Jesus é o de inaugurar a temática do reino de Deus como uma nova esperança: a da prática da justiça. O Reino de Deus é inaugurado por Cristo porque concentra em si a esperança da humanidade. Ele cumpre os aspectos do reino messiânico já anunciado pelos profetas vétero-testamentários. A missão de Jesus ao inaugurar o Reino de Deus, coloca-se em duas situações de concretização: a primeira é o de fundamentar o conteúdo do Reino de Deus, e a segunda é o de identificar os efetivadores desse reino: o novo homem em Cristo.
Portanto, a missão de Jesus traz juntamente consigo elementos visíveis da esperança no anúncio do Reino de Deus, ou seja, os sinais visíveis do Reino de Deus. O primeiro sinal do reino é a presença de Jesus no meio do seu povo. Essa presença traz como resultado final a alegria, paz e celebração (Lc 17:21; Mt 18:20). O segundo sinal do reino de Deus é a pregação do evangelho, ou seja, o Kerigma. Pois não havia até então evangelho para ser pregado. Assim, a vinda de Cristo inaugura o tempo da proclamação. Um tempo de anúncio das boas novas a todos, especialmente aos pobres (Lc 4:18 - 19; 7:22). O terceiro sinal do reino foi o exorcismo. A idéia aqui apresentada é a de que a possessão demoníaca é real e terrível, sendo que a libertação só é possível através de um encontro de poderes no qual o nome de Jesus prevalece. O quarto sinal do reino foi às curas e os milagres realizados por Jesus, dando visão aos cegos, curando enfermos, dando audição aos surdos, fazendo coxos andar, ressurgindo mortos, acalmando tempestades, multiplicando pão e peixes, tudo isso não só apontando para a realidade da chegada do reino, mas eram prenúncios do reino final, em que os problemas vividos pelos homens seriam banidos para sempre. O quinto sinal do reino é o milagre da conversão e do novo nascimento. O encontro com Deus e com o poder salvador do evangelho, faz do homem nova criatura (II Cor 5:17). Um sexto sinal é o povo do reino1 em quem se manifesta o que o apóstolo Paulo denomina de "fruto do Espínto" (GI 5:22-23). Assim sendo1 fica claro que o reino de Deus é governado por paz, amor, alegria, bondade, longanimidade, benignidade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. O sétimo sinal do reino é o sofrimento. No exemplo de Cristo nós temos o paradigma para a nossa atuação como efetivadores deste reino. Foi necessário que ele sofresse a fim de entrar na sua glória. Cristo sofreu por nós, deixando o exemplo maior para que pudéssemos mostrar um sinal concreto para todos de que recebemos a salvação de Deus, ou seja, do seu reino. Concluindo, fica bastante claro que todos esses sinais apontam para uma esperança inaugurada em Cristo.

1.2.3 A missão de Jesus é criar expectativas de vida
Após vermos que a missão de Jesus era inaugurar a esperança do reino de Deus, vamos agora ver a conotação que essa missão vai assumir em relação à criação de expectativas de vida. Vale ressaltar, que o significado da esperança dos contemporâneos de Jesus está intimamente ligada na pluralidade do conceito vétero-testamentário visto anteriormente. O que caracterizava essa época era a expectativa messiânica. A idéia aqui apresentada é de um libertador da nação. Já na pluralidade da época de Jesus, encontramos quatro tipos de expectativas: a primeira, chamada de apocalíptica, entendia que o presente estava entregue a poderes malignos e fadado a desaparecer. Haveria todo tipo de desgraça como terremotos, fome, fogo, guerras e depois surgiria um novo tempo, repleto de paz e justiça num mundo eterno onde a morte e todas as configurações malignas estariam vencidas. A Segunda, chamada de rabínico-farisáica, adotou elementos da apocalíptica e desenvolveu um tipo de escatologia semelhante, que unia as diversas esperanças a respeito dos tempos finais. Há, evidência do caráter político-nacionalista de esperada manifestação do reino de Deus. O povo, privado de força política, vivia esta expectativa no legalismo. Desta forma, constatamos
O Reino de Deus será erigido quando ele libertar Israel da escravidão, sob os povos do mundo, por meio de poderosos sinais, históricos o cósmicos, e obrigar os povos a reconhecê-lo como Senhor.
Já o terceiro grupo tinha também sentimentos apocalípticos e era formado pelos essênios. Consideravam-se o único Israel verdadeiro. Para esse grupo a espera do Messias davídico foi relacionada a pessoa do Messias de Israel, visão essa extraída do Antigo Testamento. O quarto e último grupo são o mais radical. São os Zelotas, que não se contentavam em esperar calmamente a vinda do Messias, mas desejava sua vinda através da luta armada. Eram profundamente nacionalistas e traduziam sua expectativa em uma prática guerreira de libertação, com o objetivo de forçar a realização do reino por meio da força. É nesse contexto de espera que aparece a pessoa de Jesus, o Messias. A expectativa do Antigo Testamento de lahweh iria intervir na história. O Verbo se faz carne (Jo 1:14); Deus tornou-se homem, o Todo-Poderoso apareceu na terra e veio ao encontro do homem. Em Jesus, o dia mundial da salvação chegou como o grande dia de Deus. Aquilo que era futuro, tornou-se presente nele uma realidade já presente entre os homens (Lc 10:23; 11:20; 17:20)
Portanto, em Jesus, a expectativa de vida se faz presente. Jesus assume a missão de gerar vida, colocando a esperança sob uma nova perspectiva. Em Jesus, a esperança se torna uma realidade concreta, gerando uma expectativa nova para as pessoas. Essa nova expectativa gera também um novo tempo: um tempo de paz, de amor, de justiça e saúde. Gera um tempo de celebração, um tempo de festa, algo que só a missão de Jesus faz tornar realidade. Essa missão, portanto, traz uma nova expectativa, pois ele cumpre aqui e agora e aponta suas ações e palavras como sendo um acontecimento salvífico do fim dos tempos.

  
1.3 Na Teologia Paulina
1.3.1 A ressurreição escato-cosmológica de Jesus enquanto paradigma missiológico
O apóstolo Paulo coloca na base angular de nossa esperança o evento pascal e pós-pascal e a união com ele (1 Tess. 4:14). A ressurreição de Jesus, e em conseqüência, a dos fiéis são ações salvíficas de Deus (1 Cor 15: 22 5) A pregação da ressurreição era uma esperança viva. Ela elimina todas as dúvidas acerca da autenticidade da reivindicação de Jesus, além disso, se a ressurreição de Cristo não fosse um fato, a experiência na estrada de Damasco não teria passado de um sonho apenas e nada convenceria Paulo disso. Ele sabia que Cristo havia ressuscitado. Esse era portanto o fator determinante para a ação missiológica de Paulo: O Cristo ressurreto! Para o apóstolo tudo o que se refere a Jesus Cristo é portanto, objeto de esperança e de ação missiológica, especialmente a sua ressurreição. Desta forma, o pensamento escatológico de Paulo une sempre o evento da ressurreição de Jesus no contexto da expectativa escatológica, em relação aquilo que há vir e a espera do futuro é sempre baseada no evento Cristo.
1.3.2 A missão de Paulo na confecção escatológica da esperança cristã
O apóstolo Paulo teve um papel muito salutar na confecção do conceito escatológico da esperança cristã. Afinal, não fôra fácil para ele conscientizar os cristãos acerca dessa realidade, pois a influência judaica (acerca do messianismo) e a grega (a respeito da utopia filosófica) são religiões ou sistemas já muito bem estruturados e de difícil acesso. Dessa forma, pode-se afirmar que a missão de Paulo foi a de compor a metodologia teológica necessária para se conceber a esperança cristã.
Para o apóstolo, a fé é o critério para se compreender a esperança (Romanos 1:16-17). Ela é o sujeito, pois o objeto da esperança é, normalmente, escatológico: a glória de Deus, a esperança reservada nos céus (CI 1:5), a graça que será concedida na revelação (escatológica) de Jesus Cristo. Era preciso que o apóstolo desse aos cristãos a segurança necessária aos obstáculos enfrentados: o sofrimento, a desesperança, a injustiça, a opressão, às doenças etc. O amor também ocupa uma saliência na tríade paulina (1 Coríntios 13:13, pois fé, esperança e amor são dons a serem exercitados), veiculado pela expectativa da comunhão em Cristo pelo Espírito. Sendo assim, essa construção do amor entre fé e esperança ajuda a concepção paulina para estabelecer conceitos, diretrizes e medidas pastorais a favor das comunidades primitivas.
A variedade das experiências, pelas quais Paulo orientou as comunidades a suportarem, resultou como elementos didáticos da preocupação apostólica em redescobrir novos horizontes para a fé cristã. Esses horizontes foram vistos nos personagens bíblicos (Rm 4:18), naquilo que não vimos ou sentimos (Rm 8:24; Hb 3:6), na glória de Deus (Rm 5:2); na libertação do pecado (Rm ~:20), na salvação do justo (Rm 8:24), na alegria dos justificados (Rm 12:12), na libertação do perigo (2 Cor 2:10) etc. Enfim, várias passagens que estruturam o pensamento de Paulo, além, é claro, de conciliar a missão, a glorificação de Deus e a unidade do Corpo.



 1.3.3 Temas e Figuras paulinas para a missão da esperança
A esperança tem uma missão: tornar eficiente a fé cristã e proporcionar expectativas àqueles que são alcançados por ela. Para isso, o apóstolo Paulo desenvolveu temas e figuras que exemplificam a sua eficácia. Queremos, então, esboçar os temas e as figuras.
FIGURAS
TEMAS
Tempo (kairós)
Juízo e misericórdia pela ação
de Deus na História
Épocas (kronos)
Rememorações dos feitos de Deus
Reino (basiléia)
Paradigma de restauração e manifestação da graça de Deus
Israel
Referencial da tipologia Povo de Deus
com um ministério definido
Alturas/Nuvens
Dimensão escatológica da soberania de
Deus/referencial para a glorificação divina
Espírito Santo/
poder/autoridade
Poder de Deus/essência à qualidade
dos cristãos na evangelização


Testemunhas
Proclamação/Serviço
/referencial para o sofrimento cristão
Confins da Terra
Dimensão Extra territorial da pregação
Visão/discernimento
Testemunho da experiência cristã,
p. exemplo a ressurreição de Cristo
Palavra
Conforto/Consolo
Glória
Criação de uma expectativa extratemporal;
dimensão escatológica da promessa e
bênção inauguradas pela esperança cristã.
Parousia de Cristo
Expectativa da redenção final da criação/
consumação do projeto de Deus
Céu
Referencial de oposição ao
baixos domínios territoriais
Percebe-se que os temas encontrados nas figuras paulinas não são uma limitação do significado que ela encerra, mas uma tentativa de explicar e exemplificar o propósito da experiência cristã. Sendo assim podemos afirmar que essas figuras tinham uma missão: concretizar na mente dos cristãos que a realidade da esperança era a catalisadora dos sofrimentos, das desesperanças, das injustiças, das estruturas opressoras e desumanas. Em cada uma delas, o contexto neo-testamentário é provedor de um ação realizadora da missão da esperança.


II- METODOLOGIA MISSIOLÓGICA DA ESPERANÇA CRISTÃ
A seguir, apresentaremos os métodos missiológicos que podem ser encontrados na Esperança Cristã. Para o estudo dessas correntes escatológicas de interpretação da esperança cristã, iremos considerar a ênfase missiológica que cada uma tem se proposto a oferecer.
  
2.1 A Esperança se realiza na fé em Cristo  
Cristo veio cumprir a vontade do Pai, morrendo e ressuscitando. Ele possibilitou essa realização, pois cumpriu cabalmente os desígnios divinos, determinando o cumprimento dos eventos escatológicos a partir da sua encarnação, morte, ressurreição e exaltação. E é, ademais, na parousia que se encontra um novo aspecto dessa escatologia cristológica: nEle tudo se cumprirá (Romanos 11:33-36). Os temas com respeito ao julgamento e juízo divinos não se referem aos aspecto escatológico, mas sim apocalíptico (consumação). Assim sendo, o reino já está consumado e realizado em Cristo. No entanto, há várias concepções de interpretação com metodologias que necessitam ser aprofundadas.
No caso de Dodd, encontramos a fé como concretizadora dessa esperança. A fé se torna o instrumento de medida para a realização dessa esperança. Os intérpretes julgam-na necessários para que a esperança cristã se junte às estratégias de evangelização e que cada ato missionário revele a missão cristã enquanto fé escatológica.
É mister, portanto, o ministério pastoral voltar-se a essa prática de fé enquanto promotora da missão. A prática pastoral é um ato de fé em Cristo. Mesmo com respeito aos futuros desafios que a Ekklesia terá que realizar, a fé será ainda um elemento escatológico de realização cristã. Enfim, a comunidade que crê é a que espera a realização do futuro.

2.2 A Esperança está em realização pela pregação do Evangelho (Cullmann)
Cristo é considerado como o escatós, como agente da realização escatológica divina em processos diferenciados pela vontade do Pai, ou seja, no Antigo Testamento o sentido escatológico da esperança era ilustrado pelas alianças de Deus com seu povo; em o Novo Testamento a escatologia divina é manifestada no Filho e executada pelo Espírito, mas no futuro, ela será consumada na parousia. Assim sendo, somos ensinados pelo Espírito nas questões que hão de vir.
É salutar que a posição de Cullmann seja pautada na pregação do Evangelho, uma vez que o aspecto kerigmático do cristianismo é essencialmente escatológico. Tudo indica que esta interpretação é uma dialética do já e ainda não O primeiro seria entendido como uma condição, ou seja, pregar o Evangelho. Já o segundo como resultado-conseqüência, isto é, a realização da esperança pela pregação. A comunidade condicionada à pregação, anuncia a realidade da esperança na vida cristã e, em conseqüência disto, a mesma comunidade goza dos resultados dessa pregação. Resta-nos, apenas entender como fica a missão, uma vez que a compreensão da Grande Comissão (Mateus 18:18-20; Marcos 16:15-17; Lucas 24:47-49; João 20:19-23; Atos 1:6-11) é de caráter imperativo e não condicional. Daí, entende-se que a esperança está em realização (o ainda não).

2.3 A Esperança está condicionada à práxis eclesiológica (Weiss e Schweitzer)
O paradigma escatológico é Cristo, logo, todos os elementos de sua escatologia são conseqüentes a nós. Essa corrente vê o reino como essencialmente escatológico e supra terreno. Esta é a posição que defende o reino futuro. Ela estabelece parâmetros de medida e ação eclesiológica, não permitindo uma outra maneira de reconhecer a manifestação da esperança senão pela prática cristã. É claro que não está se referindo à presença cristã, mas sim à prática missiológica pela Igreja.
Por vezes, pode ser confundida com a corrente anterior, mas ela está querendo abranger a estrutura que a Ekklesia possui para concretizar a esperança enquanto catalisadora da missão. É relevante, pois permite à atual missiologia refletir sobre os esquemas de prática cristã dentro das próprias estruturas que igrejas e agências missionárias possuem.

2.4 A Esperança é inaugurada em Cristo (Fuller)
Tem como objetivo, enfatizar a missiologia a partir da escatologia. Cristo também é o paradigma escatológico. Ele é o inaugurador da nova concepção da parousia no Novo Testamento. Essa compreensão dá-nos uma visão apocalíptica da volta de Cristo, ou seja, a pregação se torna emergente, o tema da volta de Cristo é o conteúdo prioritário da evangelização. Desta forma, Jesus inaugura uma nova visão de messianismo. E a exigência é a fé.
Esse paradigma escatológico é o cumpridor da missão inaugurada em Cristo. Favorece os meios de atuação missionária a partir da esperança. Como isso se dá? Pela inauguração em Cristo. É escatológico pelo aspecto apocalíptico, na manifestação de Cristo, a esperança se realiza enquanto fator consumador. A missão se cumpre e oferece duplo aspecto: o da libertação em Cristo se inaugura a esperança salvífica patrocinada pela misericórdia do Pai; e o outro o da condenação, que explicita a justiça no julgamento do Pai.

2.5 Reação às Metodologias: A Esperança Cristã via paradigmas escatológicos de plantão prejudica a missão da Igreja
Quando olhamos a esperança cristã a partir dessas metodologias, via escatólogos de plantão, perdemos a verdadeira noção do reino de Deus e da missão da igreja, porque o que importa na realidade é lembrar que não é presente, nem futuro, ou seja, não está totalmente no presente, nem somente a realizar-se no futuro. Há uma relação dialética entre presente e futuro, pois:
O reino de Deus não é apenas futuro e utopia, é presente e encontra concretizações históricas. Por isso deve ser pensado como um processo que começa no mundo e culmina na escatologia final. Em Jesus encontramos a tensão dialética sustentada adequadamente; por um lado a proposição de um projeto de total libertação, que podemos entender como reino de Deus, e, por outro, mediação (gestos, atos, atitudes) que o traduzem processualmente na história. Por um lado o reino é futuro, por outro lado é presente e está perto.
Desta maneira, em Cristo, a realidade do reino vai além do que um estado comandado por Deus. Significa também o cumprimento da vontade do Pai. Assim sendo, a missão da igreja deve ter como fator motivador a esperança cristã, baseada na promessa da parousia em um futuro desconhecido.
III- A ESPERANÇA CRISTÃ COMO ARTICULADORA DE UMA MISSÃO CONTEXTUALIZADA
Nesse capítulo, a Esperança Cristã será tratada enquanto elemento de articulação para a efetivação da missão no contexto latino americano. E salutar que essa articulação decorre das experiências históricas vividas nesses 500 anos de colonização e evangelização. O tema da justiça é algo que ainda percorre na América Latina como carro-chefe da esperança cristã. É a missão profética da Igreja que articulará essa esperança.


3.1.1 A Igreja é cumpridora de uma missão encarnada na Esperança Cristã
A eclesiologia latino-americana volta á prática de uma teologia encarnacional, pois o cumprir missiológico se dá quando a presença cristã efetiva a esperança na transformação da realidade atual. A vida na América Latina precisa sofrer uma conscientização a partir do papel missiológico da Igreja. Essa função só se cumprirá se ela inaugurar um novo imperativo da escatologia cristã. Não é pois desconsiderar o papel de Cristo na redenção universal da criação, mas extrapolar o sentido que a esperança tem para a missão da Igreja. Em poucas palavras, a Igreja é a responsável pela conscientização da sociedade no cumprir da missão que gera novidade de vida.
Se a igreja é a cumpridora da missão, qual o melhor conteúdo para expressar essa verdade. Dizemos, pois que se encontra na esperança cristã. Em Tito 2:11-13, há a promessa da manifestação da esperança e da glória em Cristo. A igreja experimenta a vida de Cristo porque espera na manifestação de sua glória. Diríamos que a esperança cristã incentiva-nos a um caráter revolucionário: esperamos porque acreditamos na transformação da América Latina. Sendo assim, a Ekklesia tem a missão de encarnar essa esperança e cumpri-la cabalmente, pois todos aguardam a bendita esperança da manifestação da glória de Cristo (cfe verso 11).
Esse sentido escatológico de que a missão da igreja se encontra na encarnação da esperança cristã é vivido pela fé que a comunidade cristã tem na concretização do reino anunciado por Jesus para o tempo presente. O encarnar-se é colocar em funcionamento a missão da Igreja. Não é um aspecto ético-moral apenas, mas profético, pois anuncia a graça salvadora a todos os homens. Para nós, portanto, latino-americanos, somos desafiados a cumprir a esperança cristã. É preciso que o ministério pastoral volte-se à encarnação da esperança como cumpridor da missão integral da Igreja. Somente através de uma prática encarnacional da esperança é que a Ekklesia motivará e cumprirá a missão na América Latina.

3.2 O conteúdo da Esperança em Cristo é a missão educativa da Igreja com alcance à liberdade
O ministério educativo da Igreja possui também um aspecto escatológico. Entende-se esse ministério aliado à missão integral da Igreja com a perspectiva de liberdade. O cristão, conhecendo a Cristo, alcança a liberdade como paradigma de uma missão educativa. Essa apologia pode ser esquematizada pelos seguintes elementos:
a) A Palavra: é, pois, na proclamação que os cristãos compreendem o poder da esperança enquanto agente catalisador da esperança. O ministério da Palavra é essencial no entendimento da esperança que liberta;
b) A comunhão: gera uma esperança viva, eficaz e solidária na comunidade a ponto de extrapolar o sentido da liberdade, haja vista as comunidades cristãs primitivas surgirem de um contexto de libertação da opressão e dos opressores;
c) O Espírito: também é agente catalisador da esperança que liberta. Ele renova a alma (mente) humana dando novas estruturas de pensamento, linguagem e intenções. É o Espírito que possui a função de ensinador (João 14:26) e direcionador da verdade;
Uma comunidade que tem como conteúdo o ministério educativo da esperança enquanto libertadora, se preocupa em traçar estratégias de atuação no cumprimento da missão, pois educa para o reino de Deus, para a justiça e para o futuro (esperança cristã). Esta última é a responsável pela realidade da liberdade humana. A Igreja é a promotora da esperança que liberta. Para isso, ela deve contextualizar o ministério educativo, trazendo em seus currículos o conteúdo da esperança cristã com vistas à libertação.

3.3 A Esperança Cristã se cumpre na prática da justiça
A justiça é tema constante na teologia bíblica e sistemática. Ela precipua a esperança cristã, pois exige praticidade de uma fé que realiza milagres na história humana. Pode-se dizer que a prática da justiça é a afirmação da esperança que salva, justifica e liberta. É salutar, em nosso contexto latino-americano, o cumprimento da justiça, pois, efetiva e concomitantemente, ela executa a esperança cristã.
Que diremos pois da esperança que não cumpre a justiça de Deus? É inócua, ineficaz e irrelevante. A comunidade que anseia pela honestidade, pelos valores morais direcionados ao próximo, pela filantropia e pela fraternidade é aquela que volta seus olhos ao anúncio da justiça e coloca em prática esses elementos de transformação. A comunidade uma vez justificada cumpre a justiça de Deus na expectativa de viver pela fé a esperança da realização do reino na vida presente.
Eis, pois, o desafio lançado à eclesiologia latino-americana: converter-se à justiça, praticá-la e viver na esperança do reino de Deus. Atualmente, vive-se uma expectativa de realização do anúncio profético contra a injustiça, mas é preciso, agora, cumprir esse anúncio: da teoria, do palanfratório, da ineficácia para a práxis cristã, ou seja, ser mais prático, dinâmico, contextual e profético. A Igreja latino-americana vive a expectativa do anúncio do reino, mas anseia pelo cumprimento dele em nosso meio.

3.4 A Esperança Cristã se realiza na América Latina: propostas de uma missão evangelizadora
A partir do Clade III, ficou decidido na confissão de Evangelização pelos documentos finais do Congresso, que o ide é para todos e, parafraseando Atos 1:8... e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, Galiléia, Sarnaria e até os confins da terra... a começar pela América Latina. Entendemos que o conteúdo da esperança na evangelização ocupa um espaço relevante na missão da Igreja. Dessa maneira, os congressos, consultas, conferências e eventos evangelísticos tiveram um papel de amadurecimento quanto à questão de expressar o sentido escatológico da evangelização. Para tanto, a caminhada é rumo às propostas de uma missão evangelizadora.
As teologias contemporâneas de missão vêm de encontro à tradição bíblica para expressar a ação evangelizadora da Igreja, observando o contexto da cultura, da raça e do ambiente de atuação. Missiólogos têm se preocupado nessa área, favorecendo-nos com ideais diferentes de missão, mas que são essencialmente contextuais. Vamos estudar três modelos básicos de uma proposta de missão evangelizadora com vistas à esperança cristã.

3.4.1 René Padilha: servindo os pobres na América Latina
A proposta de Padilha é a de apresentar o ministério integral numa perspectiva bíblica. É, pois, através dessa abordagem que ele propõe uma avaliação teológica dos tipos de ministérios já desenvolvidos até então. Sua conclusão é de que todos foram frutos de uma missão conquistadora de territórios, ideologias eclesiásticas e, sobretudo, de estratégias evangelísticas.
Ao avaliar a situação da América Latina, propõe uma teologia de missão evangelizadora contextual e de transformação social, ou seja, servindo os pobres. Não é uma rememoração à Teologia da Libertação, mas sim uma resposta evangélica à Teologia Contemporânea de Missão. No que diz respeito às estratégias, comprova-se:
Até muito recentemente, a evangelização feita pelas igrejas evangélicas era, em boa parte , "desencarnada". Estava dirigida para a salvação da alma, mas passava ao largo das necessidades do corpo. Ela oferecia a reconciliação com Deus por meio de Jesus Cristo, mas deixava de lado a reconciliação do ser humano com seu próximo, que se baseia no mesmo sacrifício de Jesus Cristo. Ela proclamava a justificação pela fé, mas omitia toda e qualquer referência à justificação social enraizada no amor de Deus pelos pobres.
Compreendo tais dimensões da evangelização no ministério integral, podemos dizer que o caráter missiológico da esperança cristã é o do serviço aos necessitados da América Latina. É uma missão voltada à prática diaconal semeada pela esperança de Cristo. É mister, portanto, que o ministério pastoral (integral e contextual) seja o da esperança cristã que viabiliza a evangelização da América Latina.

3.4.2 Orlando Costas e a Evangelização contextual
O segundo modelo é mais teológico. Orlando Costas propõe também uma Evangelização contextual tanto nos fundamentos bíblico-teológicos quanto nos pastorais. Fiquemos com o primeiro, pois relata a Trindade como paradigma de uma missão evangelizadora contextual. Esse modelo1 todavia, requer uma conscientização global da Ekklesia, pois busca encarnar em seus membros a ação transformadora do evangelho.
Se atentarmos para a temática da esperança cristã, compreenderemos que a responsabilidade missionária da Igreja para a América Latina resulta nas quatro teses defendidas por Costas:
1.            A evangelização contextual envolve o testemunho da igreja em todas as partes e em todo momento na presença da ação do Deus trino.
2.            A evangelização contextual requer a imersão da igreja na origem da história humana e da história trina de Deus.
3.            A evangelização contextual oferece à Igreja a oportunidade de fazer uma contribuição significativa à reconciliação do mundo com Deus e consigo.
4.            A evangelização contextual não deve ser entendida na igreja como uma atividade que se faz em tempo parcial por um grupo de especialistas, mas sim como um ministério que pertence a todo o povo de Deus.
Entende-se, portanto que a esperança cristã se cumpre na América Latina quando a Igreja encarna e vive a trindade. É claro que esse ponto teológico deve ser melhor definido: o ministério pastoral deve elaborar meios de articulação da práxis evangelizadora com vistas ao envolvimento dos santos no serviço do Reino.

3.4.3 Leonardo Boff: 500 anos de evangelização
 A análise feita por Boff é histónco-teológica. Sua apreciação sobre o pano-de-fundo da colonização e evangelização latino-americana é pertinente à nossa pesquisa, pois não há realização da esperança cristã senão a feita na história humana e divina. É, portanto, uma ajuda à reflexão histórica da própria realização da esperança cristã. Pode-se afirmar que as conseqüências de realização do reino de Deus a partir da esperança cristã no contexto latino americano é o de uma volta à história e, paulatinamente, uma recomposição desta observando os critérios de injustiça opostos aos de justiça ou seja, recontar a história a partir dos vencidos ou oprimidos.
Sendo assim, Boff diz que a missão da América Latina se realiza na antecipação da esperança cristã que, comunica os aspectos do profetismo na evangelização, tão peculiares à atual pastoral latino-americana: o sentido da justiça na sociedade hodierna. Basta-nos, então, encontrar as raízes da interpretação escatológica da esperança cristã dominante para, também, ser aludida à voz profética da Igreja missionária que liberta, emancipa e transcende o conceito da volta de Cristo.
A América Latina comunica aos seus habitantes o sentido original da esperança cristã a partir de uma missão evangelizadora Daí, entende-se, primariamente, a reconquista histórica do povo de Deus: Havendo Deus, outrora falado, muitas vezes e de muitas maneira aos nossos país pelos profetas. Hoje, de certa forma, tem nos falado através da história de evangelização da América Latina (Hebreus 1:1). É o momento de enxergar as conquistas à realidade da esperança cristã no continente latino americano.


IV - CONCLUSÕES

4.1      A Esperança Cristã é missiológica porque apresenta única e exclusivamente Cristo
 Entendemos que a esperança cristã é missiológica porque tem como base e fundamento a pessoa de Cristo. É em Cristo que a nossa esperança está firmada, assim sendo, a esperança cristã passa a ter um novo caráter, entendendo que a vitória de Cristo já foi ganha na ressurreição e na cruz, onde Cristo triunfou sobre a morte. Desta forma, a esperança cristã assume uma nova concepção, pois somos motivados a proclamar o reino de Deus, a partir da vitória de Cristo. O reino de Deus portanto, já não é algo futuro, mas bem presente entre nós. E é neste presente que podemos afirmar "venha o teu reino". Quando fazemos esta afirmação, estamos vivenclando o caráter missiológico da esperança que está em nós. Apresentamos a Cristo como a nossa motivação e esperança maior. Cristo é portanto, a razão da nossa esperança.

4.2      Não existe missão se baseada numa metodologia de escatólogos plantonistas
 Ao vislumbrarmos o reino de Deus dentro das concepções do já e do ainda não, fica claro que a nossa atuação, do ponto de vista da proclamação do evangelho está totalmente prejudicada por causa da definição dos escatólogos de pIantão. Se somos movidos a proclamar e ter esperança a partir dessas metodologias, com certeza a nossa motivação não estará firmada na verdadeira esperança, que transforma-nos a partir da vitória de Cristo sobre a morte, mas sim determinada pela visão de uma metodologia que nos aponta para uma verdadeira apatia profética.
Com esta visão, os escatólogos de plantão mostram que a sua teologia não é uma teologia engajada e comprometida com as transformações sociais que a América Latina tanto clama. Assim sendo, não podemos enquanto igreja aceitar de forma passiva a idéia daqueles que pensam missão a partir dessas metodologias. Devemos pensar em missão, a partir da visão de que a igreja não espera edificar o reino de Deus sobre a terra, nem cristianizar a sociedade. A nossa esperança é escatológica, mas seu serviço e seu testemunho são o sinal bem presente dessa esperança e do domínio de Cristo em nossas vidas.

4.3 A missão da Igreja é motivar a humanidade à fé em Cristo e esperar na realização do Seu Reino
Quando a igreja através do anúncio profético fala à humanidade sobre o reino de Deus, ela motiva as pessoas à fé em Cristo. Assim sendo, falar do reino de Deus é falar do propósito redentor de Deus para toda a criação e da vocação histórica que a igreja tem em relação a este objetivo no aqui e agora. É também falar de uma realidade escatológica que constitui simultaneamente o ponto de partida e a meta da igreja. A missão da igreja, consequentemente, só pode ser entendida á luz do reino de Deus. E já que este reino foi inaugurado em Jesus Cristo, não é possível entender corretamente a missão da igreja sem entendermos a própria missão de Jesus. É a manifestação, ainda que incompleta do reino de Deus, tanto por meio da proclamação, como por meio do ensino, comunhão e ação social. Desta forma, a igreja como comunidade do reino produz sinais visíveis e estes devem ser direcionados aos cativos e perdidos. O viver da comunidade então, é o antecipar da presença do reino de Deus no meio do povo.

AUTOR DESCONHECIDO
(Não nos responsabilizamos pelo conteúdo teológico deste material)

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