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terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

SERMÕES 64 - A JUSTIÇA SANTA


A JUSTIÇA SANTA

15 Nesta vida sem sentido eu já vi de tudo: um justo que morreu apesar da sua justiça, e um ímpio que teve vida longa apesar da sua impiedade. 16 Não seja excessivamente justo nem demasiadamente sábio; por que destruir-se a si mesmo? 17 Não seja demasiadamente ímpio e não seja tolo; por que morrer antes do tempo? 18 É bom reter uma coisa e não abrir mão da outra, pois quem teme a Deus evitará ambos os extremos. (Eclesiastes 7.15-18)
A tradição rabínica afirma que o livro de Eclesiastes foi escrito por Salomão já em sua idade avançada. Salomão neste livro está compartilhando de sua experiência de vida para nos ajudar a compreendermos a vida.
A primeira leitura destes versos podem nos levar a uma conclusão errada sobre o viver uma vida santa. O autor não encontra sentido na vida diante o que seus olhos viram. Primeiro o justo veio a morrer cedo, quando era esperado que ele tivesse vida longa. Depois o ímpio teve vida longa, quando este deveria ter morrido cedo. Para a tradição judaica a longevidade estava condicionada a uma vida santa e justa diante de Deus.
1 Meu filho, não se esqueça da minha lei, mas guarde no coração os meus mandamentos, 2 pois eles prolongarão a sua vida por muitos anos e lhe darão prosperidade e paz. (Provérbios 3.1,2)
Mas diante tal infortúnio que seus olhos viram estaria Salomão dizendo: “As coisas não são bem assim. Portanto viva com equilíbrio. Seja justo em algumas coisas, mas às vezes compre um filme pirata e vá se divertir. Trabalhe honestamente, mas sonegue o imposto afinal o governo nos rouba mesmo. Dê esmola com a mão direita, mas tome um pouco com a mão esquerda, não seja otário. Vá à igreja, mas não deixe de se divertir no carnaval está cheio de meninas e meninos dando mole nos bloquinhos”. Será que é isso que Salomão está querendo dizer? Nem tanto ao mar nem tanto a terra, como diz o ditado popular. Nem tanto a Deus nem tanto ao diabo.
Certamente não é isso que Salomão está querendo dizer. Vejamos o que ele está nos ensinando através de sua experiência.


1 – TODOS OS EXTREMOS SÃO PERIGOSOS
18 É bom reter uma coisa e não abrir mão (יָדֶ֑ךָ – yādh – mão aberta) da outra, pois quem teme a Deus evitará ambos os extremos. (Eclesiastes 7.18)
É bom reter uma coisa. De que coisa o autor está falando? Retenha o pensamento em não ser justo demais e nem sábio demais aos seus próprios olhos.
Não abra mão da outra coisa também. Retenha também o pensamento em não ser ímpio demais e nem tolo demais.
Todos extremos são perigosos na vida. Todo aquele que busca ser perfeito demais em alguma coisa se perde em algum ponto da estrada, em algum lugar no caminho se desvia, e acaba se tornando escravo de sua busca extrema.
Somos incapazes de viver no extremo devido o pecado, pois somos limitados emocionalmente, fisicamente e espiritualmente. Somos incapazes de ver o que se passa no coração de um homem para fazermos julgamentos certos e sábios, assim como somos incapazes de controlar a maldade que existe em nós, se a ela dermos o controle total de nosso ser.  
Portanto não devemos tentar vender a ninguém a imagem que somos “justos” ou “sábios”, porque cedo ou tarde nossa imperfeição se mostrará.
Vídeo: Excesso (todo excesso destrói o seu ser).
A justiça santa, perfeita de Deus, não é alcançada nos extremos de nossas ações, nem no extremo de nossas forças; mas no extremo do abandono do nosso “eu”. Somente quando abandonamos inteiramente nosso “eu” é que permitimos que a justiça divina e santa se manifeste em nós e por meio de nós, no poder do Espírito Santo. Nem sempre a justiça de Deus se manifesta a nosso favor neste tempo presente, ou como a compreendemos que ela deveria se manifestar.
A justiça divina é santa e perfeita. Somente Deus possui toda sabedoria, conhecimento e amor perfeito para julgar com perfeição.

2 – OS PERIGOS DOS EXTREMOS
16 Não seja excessivamente justo nem demasiadamente sábio; por que destruir-se (shamem) a si mesmo? 17 Não seja demasiadamente ímpio e não seja tolo; por que morrer (mŭth) antes do tempo? (Eclesiastes 7.15-18)
Segundo Salomão os extremos nos levarão a uma destruição do nosso ser e a uma morte prematura.
A palavra destruir (v.16), do hebraico “Šamēm ou Shamem”, significa atordoar, entorpecer. Aquele que busca ser extremamente justo e sábio acaba por se entorpecer em sua própria justiça e sabedoria. Ele irá perder a noção da realidade e acabará destruindo a si mesmo.
Essa pessoa não conseguirá aceitar os desígnios de Deus, pois não encontrará respostas dentro de suas limitações humanas que possam ser suficientemente justas e sábias para lhe acalmar o coração.
Sua sabedoria e sua justiça lhe afirmam que o justo deve ser próspero em todas as dimensões de sua vida, pois isso é justo. Ela passará a questionar Deus e se tornará ingrata e amarga quando as coisas não corresponderem a este padrão.
Como pode um justo morrer ainda jovem? Como pode um justo sofrer? Como pode uma criança morrer por um tiro de bala perdida? Como pode uma mulher morrer espancada por seu marido a quem ela dedica sua vida? Como pode pessoas inocentes enterradas vivas por um lamaçal, como em Brumadinho? Como pode um corrupto ser próspero? Como pode um assassino viver impune?
Salomão está dizendo que ele viu com seus próprios olhos o justo sofrer e morrer ainda jovem, assim como o ímpio prosperar e viver uma longa vida. Por isso ele está dizendo que não devemos ser extremistas em nosso censo de justiça e nem em nossa sabedoria, pois tal atitude certamente destruirá nosso homem interior.
A morte daquele que busca ser demasiadamente justo e sábio é a morte da alma, do ser como pessoa.  A morte daquele que busca ser demasiadamente ímpio ou tolo é a morte física (mŭth – hebraico – v.17), pois alcançara somente o ódio ou o medo das pessoas. Medo este que cedo ou tarde se voltará contra o opressor.
Há muitas coisas debaixo do céu que não nos foram reveladas. Há muitas decisões tomadas por Deus que só Ele sabe por que as tomou. A nós cabe confiar que Deus é Deus, que Deus é amor e que todas as suas decisões são tomadas para o bem maior de todos nós.
Algumas vezes o sofrer do justo é com o fim de transformá-lo ainda mais a imagem de Jesus Cristo, outras vezes é causada por aqueles que o invejam, outras vezes é consequência de um desastre natural ou mesmo um desastre calculável, mas ignorado pelos homens ou quem sabe simplesmente um teste para saber onde está seu coração.
O que o autor de Eclesiastes quer nos ensinar é que o justo não deve esperar ser tratado pela proporção da sua justiça. Nem tudo funciona na base da exata retribuição.

3 – DEFININDO O EXTREMO DA JUSTIÇA
Salomão nos ensina que não devemos viver nos extremos.
Quando um justo se torna demasiadamente justo? Deus é justo e a bíblia nos ensina que devemos ser justos também. Esse é um dever inegociável. O limite entre ser justo e o ser “exageradamente justo” é ultrapassado quando algumas das marcas de exageros se fazem presentes. Todo justo pratica obras de justiça, e deve se esmerar em fazê-las, mas o demasiadamente justo:
·         Primeira Marca: Vive a expectativa que as pessoas o tratem segundo o que ele julga ser justo. Quando isso não acontece ele julga as pessoas como injustas e as coloca em sua lista negra. Sua lógica funciona na base da meritocracia e de uma visão parcial da realidade. Julga tudo a partir de sua leitura. Não existe misericórdia nessa relação.
·         Segunda Marca: Exige de Deus que este o trate segundo o que ele entende ser justo. Se Deus não faz o que ele espera, ele transfere a falta de resposta de Deus a outras pessoas, pois sendo extremamente justo não consegue ver erro em si mesmo. Passa apontar os pecados daqueles que vivem ao seu redor. Ele se torna não ensinável.
·         Terceira Marca: Passa a avaliar sua vida a partir de suas obras. Ele se apega tanto as regras e rituais que não consegue mais perceber Deus fora delas. Acredita que Deus lhe abençoará por causa de suas boas obras. Vive uma relação com Deus baseada em retribuição. Ele se torna infeliz, pois a vida deixa de ter prazer e apenas deveres.
Aqueles que se movem neste mundo a partir de sua religiosidade, de sua própria justiça cometem erros em seus julgamentos como podemos ver na parábola dos trabalhadores da vinha (Mateus 20.1-16).
É justo quem trabalhou uma hora ganhar igual aos que trabalharam três horas? É justo quem trabalhou três horas ganhar igual aos que trabalharam seis horas? O que é justo? Não pode o senhor da vinha por misericórdia e amor dar o mesmo pagamento a todos? Porventura não é ele o dono do seu dinheiro e o distribui a quem quiser? A injustiça não está no senhor da vinha, pois este cumpriu sua palavra com aqueles que foram contratados. A injustiça está naqueles que não julgaram ser justo que aqueles que trabalharam menos horas ganhassem igual aos que trabalharam mais. Que direito têm eles para determinarem como o senhor da vinha deve gastar o seu dinheiro.
Aqueles que vivem no extremo da justiça não conseguem entender que o Pai faça uma festa para o irmão que retornou após ter gastado de forma irresponsável o dinheiro do Pai.
A justiça santa de Deus não é baseada nos méritos, não tem nada haver com quem deu mais ou menos para o Reino de Deus. A justiça divina é baseada unicamente no amor. Deus abraça todos que receberem seu filho Jesus Cristo como Senhor e Salvador de suas vidas.
Deus abraça todos que se arrependeram de seus pecados e que reconhecem que não possuem justiça alguma, mas que confiam plenamente na justiça realizada na cruz por Cristo Jesus.

Reflexão Final:
Salomão termina o livro de Eclesiastes com as seguintes palavras:
13 Agora que já se ouviu tudo, aqui está à conclusão: Tema a Deus e guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem.
14 Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mal. (Eclesiastes 12.13,14)


Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
23/02/2019

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