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terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

SERMÕES 65 - A PRÁTICA DE UMA JUSTIÇA SANTA


A PRÁTICA DE UMA JUSTIÇA SANTA

Neste mês de fevereiro estamos meditando no tema santidade e hoje gostaria de refletir sobre a prática de uma justiça santa.
20 Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus. (Mateus 5.20)
Para compreendermos o que Jesus está dizendo, precisamos saber quem são os fariseus e mestres da lei e como eles praticavam a justiça, pois ele afirma que precisamos praticar uma justiça superior à deles.
Em nossos dias temos diversas interpretações da bíblia, essas diversas interpretações produziram diversos pensamentos teológicos e diversos grupos denominacionais que representam essas diversas linhas teológicas. Por exemplo: Teologia Católica, Calvinista, Arminista, Pentecostal e o Neopentecostal. Estes grupos são caracterizados por acreditarem em um corpo de doutrinas que os diferenciam entre si.
Nos dias de Jesus também existiam grupos que se divergiam na interpretação das Escrituras. Os principais grupos nos tempos de Jesus eram os Escribas (ficaram conhecidos nas páginas do Novo Testamento como doutores da Lei), Fariseus (um grupo extremamente apegados à Torá), Essênios (levaram as ideias do farisaísmo ao extremo), Saduceus (eram compostos pelos mais ricos da população e muitas vezes faziam oposições às interpretações dos fariseus), Herodianos (eram mais políticos do que religiosos e acreditavam que era possível uma aliança política com os romanos) e Zelotes (um grupo religioso com caráter militarista e revolucionário que combatiam o domínio de Roma sobre Israel). De forma geral todos eram caracterizados pelo legalismo religioso, principalmente os fariseus e escribas que são o alvo dentro deste contexto do sermão do monte. Quando falamos de um legalismo religioso, estamos dizendo que eles eram extremamentes cuidadosos em cumprirem toda a Lei de Deus dada por Moisés.
Como seria possível exceder a justiça daqueles que eram considerados como os mais fiéis seguidores da lei de Moisés? Primeiro...


1 – POSSUIR UM CORAÇÃO COM A DISPOSIÇÃO CORRETA
A resposta está inserida em todo contexto da mensagem do Sermão do Monte. Jesus inicia sua pregação do Sermão com as bem-aventuranças onde ele trata das disposições de nossos corações.
3 "Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus. 4 Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados. 5 Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança. 6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos. 7 Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia. 8 Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus. 9 Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus. 10 Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus. 11 "Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. 12 Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês". (Mateus 5.3-12)
As bem-aventuranças tratam primeiramente de valores e princípios interiores. Jesus nos chama a uma revisão de nossos valores e princípios através das bem-aventuranças. Ele está indicando como deve ser o coração daqueles que almejam o Reino de Deus.
Pessoas que tenham essas disposições em seus corações elas certamente são felizes, não porque não serão atribuladas neste mundo, mas porque serão recompensadas quando o Reino de Deus se estabelecer através de Jesus Cristo.
A felicidade aqui não se trata de algo que se possa agarrar ou comprar. A felicidade é algo que não é saboreada no percurso da vida, mas que nos torna felizes aos olhos de Deus, pois Ele nos recompensará por essas disposições em nosso coração.
Essas disposições não podem ser separadas umas das outras, não é tipo de coisa que podemos dizer “eu tenho misericórdia, mas não tenho fome e sede de justiça” ou “eu sou pobre de espírito, mas não sofro por Jesus”. Elas estão todas conectadas, precisamos ter um coração com essas disposições.
Podemos então concluir que Jesus está falando de como deve ser nosso homem interior. Jesus está dizendo sobre que tipo de coração nós devemos ter e consequentemente que tipo de pessoas nós devemos ser. O segundo modo para exceder a justiça dos fariseus é você...

2 – ASSUMIR A EXPECTATIVA DE JESUS A SEU RESPEITO
13 Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. 14 Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. (Mateus 5.13,14)
Jesus tem uma elevada expectativa a nosso respeito, seus discípulos. Ele inicia o sermão nos apresentando a disposição que deve ter nossos corações e nos diz que somos o sal e a luz do mundo.
Jesus espera que realmente vivamos de forma a fazermos a diferença no mundo. Essa diferença só será possível se você assumir a expectativa que Jesus tem a seu respeito e se deixar ser moldado por Ele através do Espírito Santo.
Jesus está afirmando que Deus será conhecido através de nós. Quando o mundo buscar tempero para a vida, luz para o caminhar, é em nós que eles deverão encontrar o tempero de Deus e a luz de Deus. Nós somos o sinal de Deus para o mundo. Nós os discípulos de Jesus somos a referência do Reino de Deus para os seres humanos. Somos a referência da justiça do Reino de Deus para o mundo. Essa é a expectativa de Jesus para você. Assuma ser o sal e luz neste mundo em meio às trevas e dissabores que a vida apresenta. A terceira forma para exceder a justiça dos fariseus é você...

3 – ASSUMIR A EXPECTATIVA NO CUMPRIMENTO DA LEI
17 "Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. 18 Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra. 19 Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes mandamentos será chamado grande no Reino dos céus. 20 Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus". (Mateus 5.17-20)
Ao contrário do que muitos pensam Jesus nos libertou da Lei, não para que vivêssemos segundo as nossas paixões, mas nos libertou com a expectativa que na liberdade cumpríssemos toda a Lei. É neste sentido que somos chamados a exercermos uma justiça superior à dos fariseus e mestres da lei, e, se a nossa justiça for igual ou menor, de modo nenhum entraremos no Reino de Deus.
A fala de Jesus se deve porque existe uma diferença entre a justiça do Reino de Deus, estabelecida pela Lei de Moisés, e a justiça compreendida pelos fariseus e mestres da lei, a respeito da Lei de Deus dada por Moisés.
Veja que Jesus apontou para seus discípulos de como deveriam ser os seus corações, e nos versos seguintes Ele irá mostrar como é o coração dos fariseus e doutores da lei, ao mesmo tempo em que irá apontar o verdadeiro sentido da Lei da Moisés.
21 Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’. 22 Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’, será levado ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco!’, corre o risco de ir para o fogo do inferno. (Mateus 5.21-22)

27 Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não adulterarás’.  28 Mas eu lhes digo: qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. (Mateus 5.27,28)

31 Foi dito: ‘Aquele que se divorciar (repudiar) de sua mulher deverá dar-lhe certidão de divórcio’. 32 Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar (repudiar) de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada (repudiada) estará cometendo adultério. (Mateus 5.31-32)

33 Vocês também ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não jure falsamente, mas cumpra os juramentos que você fez diante do Senhor’. 34 Mas eu lhes digo: Não jurem de forma alguma. (Mateus 5.33-34a)

38 Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. 39 Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. (Mateus 5.38-39)

43 Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. 44 Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, (Mateus 5.43-44)
Cada vez que Jesus diz: “vocês ouviram” ou “foi dito”; ele está se referindo a Lei de Moisés. Da mesma forma cada vez que Ele diz: “mas eu lhes digo”; ele está apresentando uma nova interpretação da Lei de Moisés. Jesus não só apresenta uma nova interpretação, ele está dizendo que Ele é superior a Moisés.
Jesus eleva a lei de Moisés ao nível máximo. Jesus a interpreta naquilo que a lei de Moisés trata na sua essência. A lei aponta para o coração do ser humano, contudo os fariseus e doutores da lei a aplicavam apenas de forma externa. Eles as liam preocupados apenas com os resultados exteriores, visíveis aos olhos dos homens. 
A justiça farisaica era estabelecida a partir de comportamentos morais visíveis aos olhos humanos. A justiça dos doutores da lei era uma justiça de aparência, que julgava a partir dos atos concretizados, mas a justiça do Reino de Deus é estabelecida a partir do coração, ela trata dos sentimentos enraizados no profundo do nosso homem interior.
A justiça farisaica estava preocupada com o comportamento adequado dos seres humanos, ela estava somente preocupada com a questão comportamental. Em outras palavras ela não estava preocupada se por dentro a pessoa é racista, homofóbica, machista, feminista, homicida, feminicida, etc. A preocupação é tão somente que elas não demonstrem isso, que elas não ponham para fora o que realmente pensam e são. Os fariseus não se preocupavam se no coração as pessoas guardavam estes sentimentos e disposições contrárias à vontade de Deus.
Entretanto Jesus está dizendo que você pode NÃO bater em alguém por causa de sua raça, pode NÃO violentar alguém por ser gay, lésbica, mas se por dentro você a despreza, você a insulta, você já está em pecado, pois você deveria amar a todas as pessoas. Não adianta dizer que você não adulterou, mas por dentro você já possuiu a pessoa desejada, então seu coração é adultero. Não adianta você bater no peito que ora, que entrega seus dízimos, que oferta aos pobres, mas por dentro despreza seu irmão agradecendo por não ser igual a ele, julga a todos como pecadores porque confia em suas próprias obras. Os fariseus oravam dessa forma porque sua justiça estava baseada nos comportamentos visíveis, morais. Mas ao orarem assim eles já denunciavam seus corações corruptos, soberbos e arrogantes. Sua alma estava mergulhada na sua própria virtude e a justiça do Reino de Deus não tolera isso.
Jesus está falando que não adianta dizer para ele que você nunca matou ninguém, ele quer saber e tratar do ódio que você carrega em seu coração. Não adianta você falar para Jesus que nunca se vingou de ninguém, se você é consumido por dentro de magoas e ressentimentos. Você pode não ter realizado o mal, mas carrega o mal em seu coração. É disso que Deus trata na lei de Moisés.
Jesus quer saber o que você é, o que você carrega dentro do seu coração. Ele quer saber se você é racista, homofóbico, homicida, adúltero, vingador, assassino, etc. A justiça de Deus é santa e nos chama para uma disposição santa que resultará em uma prática santa.
Jesus não se impressiona com nossas ações concretas, mas com o que se passa em nossos corações. O que Jesus estava ensinando para eles já tinha sido ensinado no Antigo Testamento, conforme o próprio Jesus os relembrou.
7 Hipócritas! Bem profetizou Isaías acerca de vocês, dizendo: 8 ‘Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. 9 Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens’". (Mateus 15.7-9)
A religião judaica apresentada pelos fariseus tinha muito haver com rituais e aparência externa. A religião de Jesus é uma chamada para uma espiritualidade voltada para o âmago do nosso ser, para o nosso coração.
A religião dos fariseus é uma religião teatral, preocupada com que os homens irão pensar, buscando aplausos humanos. A religião de Jesus é voltada somente para Deus. Se vive para agradar a Deus somente e não a homens. Se ora no quarto em secreto, jejua em secreto, dê a esmola em secreto. Se vive a religiosidade no secreto onde só Deus te vê.
Viver em santidade é viver a prática de uma justiça santa como reflexo de um coração santo; é ser perfeito nos seus relacionamentos como o Pai é perfeito.
48 Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês". (Mateus 5.48)
A perfeição se apresenta NÃO em nossa capacidade de não errar, mas na intencionalidade de viver e ter um coração com as disposições corretas, descritas nas bem-aventuranças.
Davi talvez tenha sido o homem que mais falhou aos olhos da religião farisaica. Dos grandes heróis da Bíblia não vejo quem tenha cometido mais erros que Davi. Mas aos olhos de Deus era o homem segundo o seu coração, porque a justiça de Deus vai no mais profundo de nossa alma e vê as intenções mais profundas do nosso ser.
Ser perfeito como o Pai é amar justos e injustos, bons e maus e ajudar a todos de forma indiscriminada, assim como Deus Pai. Ele faz chover para os justos e injustos. Ele ama a todos, mesmo com suas imperfeições. Ele quer transformar eu e você para sermos expressão de seu caráter. Jesus deseja que tenhamos um coração com as características descritas nas bem-aventuranças. Jesus quer consertar as imperfeições de seu coração para que você tenha um coração santo, para viver na prática de uma justiça santa.


Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
24/02/2019

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