A PRÁTICA DE UMA JUSTIÇA SANTA
Neste mês de
fevereiro estamos meditando no tema santidade e hoje gostaria de refletir sobre
a prática de uma justiça santa.
20 Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito
superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos
céus. (Mateus 5.20)
Para
compreendermos o que Jesus está dizendo, precisamos saber quem são os fariseus
e mestres da lei e como eles praticavam a justiça, pois ele afirma que
precisamos praticar uma justiça superior à deles.
Em nossos dias
temos diversas interpretações da bíblia, essas diversas interpretações
produziram diversos pensamentos teológicos e diversos grupos denominacionais
que representam essas diversas linhas teológicas. Por exemplo: Teologia Católica,
Calvinista, Arminista, Pentecostal e o Neopentecostal. Estes grupos são
caracterizados por acreditarem em um corpo de doutrinas que os diferenciam
entre si.
Nos dias de Jesus também existiam grupos que se divergiam
na interpretação das Escrituras. Os principais grupos nos tempos de Jesus eram
os Escribas
(ficaram conhecidos nas páginas do Novo Testamento como doutores da Lei), Fariseus (um grupo
extremamente apegados à Torá), Essênios (levaram as ideias do farisaísmo ao extremo), Saduceus (eram
compostos pelos mais ricos da população e muitas vezes faziam oposições às
interpretações dos fariseus), Herodianos (eram mais políticos do que religiosos e
acreditavam que era possível uma aliança política com os romanos) e Zelotes (um grupo
religioso com caráter militarista e revolucionário que combatiam o domínio de
Roma sobre Israel). De forma geral todos eram caracterizados pelo legalismo
religioso, principalmente os fariseus e escribas que são o alvo dentro deste
contexto do sermão do monte. Quando falamos de um legalismo religioso, estamos
dizendo que eles eram extremamentes cuidadosos em cumprirem toda a Lei de Deus
dada por Moisés.
Como
seria possível exceder a justiça daqueles que eram considerados como os mais
fiéis seguidores da lei de Moisés? Primeiro...
1 – POSSUIR UM CORAÇÃO COM A
DISPOSIÇÃO CORRETA
A resposta está inserida em todo contexto da mensagem do
Sermão do Monte. Jesus inicia sua pregação do Sermão com as bem-aventuranças onde
ele trata das disposições de nossos corações.
3 "Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus. 4 Bem-aventurados os
que choram, pois serão consolados. 5 Bem-aventurados os
humildes, pois eles receberão a terra por herança. 6 Bem-aventurados os
que têm fome e sede de justiça, pois serão
satisfeitos. 7 Bem-aventurados os misericordiosos, pois
obterão misericórdia. 8 Bem-aventurados os puros de coração, pois
verão a Deus. 9 Bem-aventurados os pacificadores, pois
serão chamados filhos de Deus. 10 Bem-aventurados os perseguidos
por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus. 11 "Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. 12 Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a
recompensa de vocês nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que
viveram antes de vocês". (Mateus 5.3-12)
As
bem-aventuranças tratam primeiramente de valores e princípios interiores. Jesus
nos chama a uma revisão de nossos valores e princípios através das
bem-aventuranças. Ele está indicando como deve ser o coração daqueles que
almejam o Reino de Deus.
Pessoas que
tenham essas disposições em seus corações elas certamente são felizes, não
porque não serão atribuladas neste mundo, mas porque serão recompensadas quando
o Reino de Deus se estabelecer através de Jesus Cristo.
A felicidade
aqui não se trata de algo que se possa agarrar ou comprar. A felicidade é algo
que não é saboreada no percurso da vida, mas que nos torna felizes aos olhos de
Deus, pois Ele nos recompensará por essas disposições em nosso coração.
Essas
disposições não podem ser separadas umas das outras, não é tipo de coisa que
podemos dizer “eu tenho misericórdia, mas não tenho fome e sede de justiça” ou
“eu sou pobre de espírito, mas não sofro por Jesus”. Elas estão todas
conectadas, precisamos ter um coração com essas disposições.
Podemos então
concluir que Jesus está falando de como deve ser nosso homem interior. Jesus
está dizendo sobre que tipo de coração nós devemos ter e consequentemente que
tipo de pessoas nós devemos ser. O segundo modo para
exceder a justiça dos fariseus é você...
2 – ASSUMIR A EXPECTATIVA DE JESUS A SEU
RESPEITO
13 Vocês são o sal da terra. Mas se o
sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para
ser jogado fora e pisado pelos homens. 14 Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte.
(Mateus 5.13,14)
Jesus tem uma
elevada expectativa a nosso respeito, seus discípulos. Ele inicia o sermão nos
apresentando a disposição que deve ter nossos corações e nos diz que somos o
sal e a luz do mundo.
Jesus espera que
realmente vivamos de forma a fazermos a diferença no mundo. Essa diferença só
será possível se você assumir a expectativa que Jesus tem a seu respeito e se
deixar ser moldado por Ele através do Espírito Santo.
Jesus está
afirmando que Deus será conhecido através de nós. Quando o mundo buscar tempero
para a vida, luz para o caminhar, é em nós que eles deverão encontrar o tempero
de Deus e a luz de Deus. Nós somos o sinal de Deus para o mundo. Nós os
discípulos de Jesus somos a referência do Reino de Deus para os seres humanos.
Somos a referência da justiça do Reino de Deus para o mundo. Essa é a
expectativa de Jesus para você. Assuma ser o sal e luz neste mundo em meio às
trevas e dissabores que a vida apresenta. A terceira forma para exceder a justiça dos fariseus é você...
3 – ASSUMIR A EXPECTATIVA NO CUMPRIMENTO DA
LEI
17 "Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim
abolir, mas cumprir. 18 Digo-lhes a verdade:
Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor
letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra. 19 Todo aquele que desobedecer a um desses
mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será
chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes
mandamentos será chamado grande no Reino dos céus. 20 Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não
for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no
Reino dos céus". (Mateus 5.17-20)
Ao contrário do
que muitos pensam Jesus nos libertou da Lei, não para que vivêssemos segundo as
nossas paixões, mas nos libertou com a expectativa que na liberdade
cumpríssemos toda a Lei. É neste sentido que somos chamados a exercermos uma
justiça superior à dos fariseus e mestres da lei, e, se a nossa justiça for
igual ou menor, de modo nenhum entraremos no Reino de Deus.
A fala de Jesus
se deve porque existe uma diferença entre a justiça do Reino de Deus, estabelecida
pela Lei de Moisés, e a justiça compreendida pelos fariseus e mestres da lei, a
respeito da Lei de Deus dada por Moisés.
Veja que Jesus
apontou para seus discípulos de como deveriam ser os seus corações, e nos
versos seguintes Ele irá mostrar como é o coração dos fariseus e doutores da
lei, ao mesmo tempo em que irá apontar o verdadeiro sentido da Lei da Moisés.
21 Vocês ouviram o que foi dito aos
seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’. 22 Mas eu lhes digo que
qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também,
qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’, será levado ao tribunal. E qualquer
que disser: ‘Louco!’, corre o risco de ir para o fogo do inferno. (Mateus
5.21-22)
27 Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não
adulterarás’. 28 Mas eu lhes digo: qualquer
que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu
coração. (Mateus
5.27,28)
31 Foi dito: ‘Aquele que se divorciar (repudiar) de
sua mulher deverá dar-lhe certidão de divórcio’. 32 Mas eu lhes digo que
todo aquele que se divorciar (repudiar) de sua mulher, exceto por
imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher
divorciada (repudiada) estará cometendo adultério. (Mateus 5.31-32)
33 Vocês também ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não jure falsamente, mas cumpra os juramentos que você fez diante do Senhor’. 34 Mas eu lhes digo: Não jurem de forma alguma. (Mateus 5.33-34a)
38 Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho
por olho e dente por dente’. 39 Mas eu lhes digo: Não
resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a
outra. (Mateus 5.38-39)
43 Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o
seu próximo e odeie o seu inimigo’. 44 Mas eu lhes digo:
Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, (Mateus 5.43-44)
Cada vez que
Jesus diz: “vocês ouviram” ou “foi dito”; ele está se referindo a Lei de Moisés.
Da mesma forma cada vez que Ele diz: “mas eu lhes digo”; ele está apresentando
uma nova interpretação da Lei de Moisés. Jesus não só apresenta uma nova
interpretação, ele está dizendo que Ele é superior a Moisés.
Jesus eleva a
lei de Moisés ao nível máximo. Jesus a interpreta naquilo que a lei de Moisés
trata na sua essência. A lei aponta para o coração do ser humano, contudo os
fariseus e doutores da lei a aplicavam apenas de forma externa. Eles as liam preocupados
apenas com os resultados exteriores, visíveis aos olhos dos homens.
A justiça
farisaica era estabelecida a partir de comportamentos morais visíveis aos olhos
humanos. A justiça dos doutores da lei era uma justiça de aparência, que
julgava a partir dos atos concretizados, mas a justiça do Reino de Deus é
estabelecida a partir do coração, ela trata dos sentimentos enraizados no
profundo do nosso homem interior.
A justiça
farisaica estava preocupada com o comportamento adequado dos seres humanos, ela
estava somente preocupada com a questão comportamental. Em outras palavras ela
não estava preocupada se por dentro a pessoa é racista, homofóbica, machista,
feminista, homicida, feminicida, etc. A preocupação é tão somente que elas não
demonstrem isso, que elas não ponham para fora o que realmente pensam e são. Os
fariseus não se preocupavam se no coração as pessoas guardavam estes
sentimentos e disposições contrárias à vontade de Deus.
Entretanto Jesus
está dizendo que você pode NÃO bater em alguém por causa de sua raça, pode NÃO
violentar alguém por ser gay, lésbica, mas se por dentro você a despreza, você
a insulta, você já está em pecado, pois você deveria amar a todas as pessoas.
Não adianta dizer que você não adulterou, mas por dentro você já possuiu a
pessoa desejada, então seu coração é adultero. Não adianta você bater no peito
que ora, que entrega seus dízimos, que oferta aos pobres, mas por dentro
despreza seu irmão agradecendo por não ser igual a ele, julga a todos como
pecadores porque confia em suas próprias obras. Os fariseus oravam dessa forma
porque sua justiça estava baseada nos comportamentos visíveis, morais. Mas ao
orarem assim eles já denunciavam seus corações corruptos, soberbos e
arrogantes. Sua alma estava mergulhada na sua própria virtude e a justiça do
Reino de Deus não tolera isso.
Jesus está
falando que não adianta dizer para ele que você nunca matou ninguém, ele quer
saber e tratar do ódio que você carrega em seu coração. Não adianta você falar
para Jesus que nunca se vingou de ninguém, se você é consumido por dentro de
magoas e ressentimentos. Você pode não ter realizado o mal, mas carrega o mal
em seu coração. É disso que Deus trata na lei de Moisés.
Jesus quer saber
o que você é, o que você carrega dentro do seu coração. Ele quer saber se você
é racista, homofóbico, homicida, adúltero, vingador, assassino, etc. A justiça
de Deus é santa e nos chama para uma disposição santa que resultará em uma
prática santa.
Jesus não se
impressiona com nossas ações concretas, mas com o que se passa em nossos
corações. O que Jesus estava ensinando para eles já tinha sido ensinado no
Antigo Testamento, conforme o próprio Jesus os relembrou.
7 Hipócritas! Bem profetizou Isaías acerca de vocês, dizendo: 8 ‘Este povo me honra com os lábios, mas o seu
coração está longe de mim. 9 Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras
ensinadas por homens’". (Mateus 15.7-9)
A religião
judaica apresentada pelos fariseus tinha muito haver com rituais e aparência
externa. A religião de Jesus é uma chamada para uma espiritualidade voltada
para o âmago do nosso ser, para o nosso coração.
A religião dos
fariseus é uma religião teatral, preocupada com que os homens irão pensar,
buscando aplausos humanos. A religião de Jesus é voltada somente para Deus. Se
vive para agradar a Deus somente e não a homens. Se ora no quarto em secreto,
jejua em secreto, dê a esmola em secreto. Se vive a religiosidade no secreto
onde só Deus te vê.
Viver em
santidade é viver a prática de uma justiça santa como reflexo de um coração
santo; é ser perfeito nos seus relacionamentos como o Pai é perfeito.
48 Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de
vocês". (Mateus 5.48)
A perfeição se
apresenta NÃO em nossa capacidade de não errar, mas na intencionalidade de viver
e ter um coração com as disposições corretas, descritas nas bem-aventuranças.
Davi talvez
tenha sido o homem que mais falhou aos olhos da religião farisaica. Dos grandes
heróis da Bíblia não vejo quem tenha cometido mais erros que Davi. Mas aos
olhos de Deus era o homem segundo o seu coração, porque a justiça de Deus vai
no mais profundo de nossa alma e vê as intenções mais profundas do nosso ser.
Ser perfeito
como o Pai é amar justos e injustos, bons e maus e ajudar a todos de forma
indiscriminada, assim como Deus Pai. Ele faz chover para os justos e injustos. Ele
ama a todos, mesmo com suas imperfeições. Ele quer transformar eu e você para
sermos expressão de seu caráter. Jesus deseja que tenhamos um coração com as
características descritas nas bem-aventuranças. Jesus quer consertar as
imperfeições de seu coração para que você tenha um coração santo, para viver na
prática de uma justiça santa.
Pr. Cornélio
Póvoa de Oliveira
24/02/2019
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