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terça-feira, 19 de março de 2019

SERMÕES 71 - NO PERDÃO NÃO HÁ CONTABILIDADE


NO PERDÃO NÃO HÁ CONTABILIDADE

21 Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?" 22 Jesus respondeu: "Eu lhe digo: não até sete, mas até setenta vezes sete”. (Mateus 18.21-22)

Os versos que lemos se encontra dentro do seguinte contexto: Jesus estava ensinando aos seus discípulos que eles deveriam fazer de tudo para que houvesse reconciliação nos relacionamentos que por algum motivo tivessem sido quebrados e que quando essa relação fosse restaurada na terra, também seria restaurada no céu.
Entretanto Jesus não fala aos seus discípulos até quando eles deveriam insistir na reconciliação. Ele fala no “como” eles deveriam buscar essa reconciliação. O que levou Pedro a sua pergunta. Acredito que a pergunta de Pedro é a nossa pergunta também, pois...


1 – SOMOS CONTABILIZADORES POR NATUREZA
21 Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?". (Mateus 18.21)
Veja a pergunta de Pedro: “Quantas vezes deverei perdoar meu irmão?”.
Existe em nós uma tendência de contabilizarmos as coisas. Quando contabilizamos as coisas, contabilizamos na verdade as pessoas, pois atrás do que nos é dito ou feito, encontram-se vidas. Essa tendência de contabilizarmos as pessoas é porque tratamos a vida a partir da régua do mérito ou demérito.
Quando você pergunta “Quantas vezes deverei perdoar meu irmão?” você está contabilizando sua relação com seu irmão. No fundo você está perguntando: “Até quando alguém merece ser perdoado?”.
Dentro de seu coração existe um limite, um determinado número, uma quantidade de pecado, ou ainda um nível de pecado, que a partir deste número ou deste nível essa pessoa não merece mais perdão. Uma vez que a pessoa atinja esse limite na sua contabilidade, você tranquiliza sua consciência e não se sente culpado em não perdoá-la, e nem se sente mais no dever de alcançá-la para Cristo. Aquela pessoa não merece mais sua atenção. Você se sente livre para ignorá-la.
Mas não é só na relação entre irmãos que tentamos contabilizar a vida.    
Quando você pergunta a Deus “eu devo dar o dízimo do líquido ou do bruto?” você está contabilizando sua relação com Deus.
Você quer saber qual é o valor mínimo que você deve dar para que Deus não feche as portas e janelas do céu para você. Você quer saber qual é o limite que você pode andar com Deus sem que ele fique bravo com você. Qual é o mínimo que me torna merecedor da graça de Deus?
Essas perguntas revelam um coração disposto a administrar as relações no limite. Um coração preocupado em fazer o suficiente, o mínimo, para manter a relação com seu próximo ou com Deus em boa perspectiva. Por isso existe um desejo bem claro para se definir qual o limite, para que a consciência possa ser tranquilizada. Então a pessoa pode dizer: “Eu perdoei sete vezes, agora não perdoou mais, estou tranquilo comigo mesmo”. “Eu dei o dízimo do líquido ou do bruto e nada devo a Deus, pelo contrário Ele que me deve”.
Essa tendência de por limites, com o fim de contabilizarmos nossas relações, demonstra a falta de disposição da entrega plena de nosso ser ao outro e ao próprio Deus. Queremos dar o mínimo de nós para Deus e para o nosso próximo. Pessoas assim vivem carregando o livro contábil em todos os lugares que vai.
A resposta de Jesus mostra que...

2 – VIDAS NÃO PODEM SER CONTABILIZADAS
22 Jesus respondeu: "Eu lhe digo: não até sete, mas até setenta vezes sete”. (Mateus 18.21)
A resposta de Jesus a Pedro é que as relações não podem ser contabilizadas. Nos relacionamos com pessoas, com vidas. Não podemos contabilizar o valor de uma vida. Não existem limites para se amar ou perdoar.
Um amor que é limitado a condições ou tempo não é amor – é um exercício egoísta de interesses. Um perdão que é limitado a condições ou tempo não é perdão – é um exercício egoísta de interesses também.
Eu me sensibilizo com a tragédia do Ninho do Urubu, assim também com a tragédia de Brumadinho e agora com a tragédia vivida pelos moradores do ABC Paulista. Pessoas morreram inocentemente. Pergunto-me: “Qual o valor da vida das pessoas que morreram nessas tragédias?”.  “Como quantificar o valor de alguém para uma indenização?”.
É certo que o Flamengo, as autoridades da Vale e também do ABC Paulista devem indenizar as famílias que perderam bens e vidas – acredito que eles devem fazer não como um pagamento pelos que se foram, mas como uma ajuda aos familiares para que estes continuem a vida e continuem sonhando.
Mas o que realmente precisamos compreender é que o perdão não pode estar condicionado a um valor de indenização.
Quando sou indenizado ou restituído de alguma forma não estou exercendo o perdão, estou sendo justiçado, portanto estou desculpando, isto é, estou tirando a culpa de sobre o outro, uma vez que ele não tem mais culpa, me restituiu.
O perdão é dado quando não existe como reparar algo. As pessoas envolvidas nessas tragédias devem perdoar as autoridades do Flamengo, da Vale e do ABC Paulista pela perda de seus filhos, maridos, esposas, mães, amigos porque eles não têm como reparar o que tiraram deles. Vidas não se repõem. O perdão se torna o único caminho de cura para essas famílias.
Jesus nos ensina constantemente que não podemos contabilizar a vida. Não podemos viver com uma agenda nas mãos contabilizando, para mais ou para menos, o que as pessoas pedem ou fazem a nós.
39 Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. 40 E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. 41 Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas. 42 Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado". (Mateus 5.39-42)
Na matemática divina, eu sempre devo proceder de forma que o outro fique devendo amor a mim – eu preciso estar sempre a frente no amor. Assim como nós devemos amor a Cristo que nos perdoou.
Jesus claramente está dizendo que devemos viver além do que nos pedem, além do que esperam de nós. Somos chamados a perdoar e a amar até o fim de nossas vidas. Somos chamados a perdoar Como Deus em Cristo nos perdoou.
32 Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou vocês em Cristo. (Efésios 4.32)
Para que possamos entender como Deus nos perdoou em Cristo, o próprio Senhor Jesus contou uma parábola, onde ele nos mostra que...



3 – DEUS RASGOU O LIVRO CONTÁBIL DE NOSSAS VIDAS
23 Por isso, o Reino dos céus é como um rei que desejava acertar contas com seus servos. 24 Quando começou o acerto, foi trazido à sua presença um que lhe devia uma enorme quantidade de prata. 25 Como não tinha condições de pagar, o senhor ordenou que ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que ele possuía fossem vendidos para pagar a dívida. 26 O servo prostrou-se diante dele e lhe implorou: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’. 27 O senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a dívida e o deixou ir. (Mateus 18.23-27)
A parábola do credor foi ensinada por Jesus para reforçar as palavras que ele havia dito a Pedro. Jesus passa a mostrar a dimensão do perdão do Pai, com o fim de levar Pedro e seus discípulos a compreenderem que, assim como o Pai não contabiliza os pecados daqueles que se mostram arrependidos, também eles não podiam contabilizar os pecados de seus transgressores que se mostravam arrependidos.
Deus é representado pela figura do rei que perdoa a dívida de seu servo, dívida essa impagável, mesmo que o servo viesse a vender sua mulher e filhos a mesma não seria liquidada.
A parábola também nos mostra que é o rei quem toma a atitude de chamar seu servo para o acerto de contas. Isso significa dizer que é Deus Pai quem toma a iniciativa de nos chamar para o acerto de contas.
Quanto ao servo, diante uma divida impagável, demonstrou arrependido. O rei, sendo justo é misericordioso perdoou a divida e o deixou ir livremente, sem nada dever; assumindo o prejuízo da divida para si mesmo.
Jesus está dizendo que o Pai rasgou e jogou fora o livro contábil das nossas vidas. O Pai deseja se relacionar com você sem lhe apresentar nenhum boleto espiritual, nenhuma cobrança pelo que você é ou fez. Sua dívida impagável no banco celestial está paga.
A dívida que pesava contra você, Jesus já pagou na cruz. Você é livre e o Pai quer que você desfrute dessa liberdade com Ele.
Nosso Pai celestial não baseia suas relações pela lei da meritocracia, pelas leis religiosas e nem pelas leis Estatais. Deus nosso Pai rasgou e jogou fora todos os livros contábeis que existiam. Ninguém deve mais nada a Ele. Ninguém deve mais nada ao diabo. Ninguém deve mais nada as religiões. Ninguém deve mais nada a ninguém.
Essa é a mensagem da graça de Deus. Esse é o evangelho das boas novas de Cristo Jesus. A obra de Cristo está consumada. Somos salvos pelo sangue precioso de Cristo Jesus. Ele é gracioso e oferece o seu amor e perdão a todos por meio de Jesus Cristo. Cabe a você crer que o pagamento de Cristo é suficiente e tomar posse dessa verdade pela fé. Por isso somos salvos pela graça de Deus – Jesus nos perdoou sem que merecêssemos –, mediante a fé – devemos nos apropriar pela fé do que Jesus fez na cruz por nós.

4 – O FIM DOS QUE CONTABILIZAM É SER CONTABILIZADO
28 Mas quando aquele servo saiu, encontrou um de seus conservos, que lhe devia cem denários. Agarrou-o e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Pague-me o que me deve!’ 29 Então o seu conservo caiu de joelhos e implorou-lhe: ‘Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei’. 30 Mas ele não quis. Antes, saiu e mandou lançá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. 31 Quando os outros servos, companheiros dele, viram o que havia acontecido, ficaram muito tristes e foram contar ao seu senhor tudo o que havia acontecido. 32 Então o senhor chamou o servo e disse: ‘Servo mau, cancelei toda a sua dívida porque você me implorou. 33 Você não devia ter tido misericórdia do seu conservo como eu tive de você?’ 34 Irado, seu senhor entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia. 35 Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão. (Mateus 18.28-35)
As palavras finais desta parábola nos mostra que Jesus espera que façamos como o Pai, que rasguemos e joguemos fora nosso livro contábil, onde escrevemos o que as pessoas disseram ou fizeram conosco durante essa vida.
Paremos de tratar as pessoas pela meritocracia ou qualquer outro tipo de regras ou leis que nos induzam a voltar a colocar valores nas pessoas e que nos levam a perdoar somente se elas não tiverem ultrapassado os limites de valores pré-estabelecidos por nós.
A parábola mostra que se você não se despojar do livro contábil, da agenda onde você coloca valores as pessoas, você será torturado, pois seu coração se encherá de amargura. A amargura levará sua alegria de viver.
Aquele que guarda ressentimentos de alguém se torna prisioneiro da pessoa a quem tem ressentimento. Ele vive preso a ela e por isso sofre. A única forma de ser curado dessa amargura é perdoando.   

Reflexão Final:
Viver COMO CRISTO no perdão é viver sem contabilizar, é estar aberto a perdoar sempre e disposto a ir sempre além do que lhe pedem.
Viver COMO CRISTO no perdão é viver um esforço inesgotável pela paz.
Viver COMO CRISTO no perdão é viver de forma a assumir todo prejuízo, causado por alguém contra mim, para que a comunhão entre nós seja restabelecida.

1.      Você tem contabilizado suas relações? Você serve as pessoas no mínimo para tranquilizar sua consciência? Você faz o mínimo pela sua esposa? Marido? Filhos? Trabalho? Você doa o mínimo de você para Deus?
2.      Você está disposto a jogar seu livro de contabilidade fora? Você está disposto a viver sem o livro de contabilidade nas mãos? A viver além do que te pedem? Você está disposto a perdoar hoje quem te ofendeu? (ação prática de jogar o livro fora)



Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
17/03/2019 (noite)


Um comentário:

  1. muito edificante, vou começar a praticar isso hoje mesmo. Paulo Nunes

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