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domingo, 21 de abril de 2019

SERMÕES 78 - PÁSCOA A CELEBRAÇÃO DA NOVA VIDA

PÁSCOA A CELEBRAÇÃO DA NOVA VIDA

Hoje, 21 de Abril de 2019, estamos comemorando a páscoa. Mas o que de fato estamos comemorando na páscoa? Embora esta pergunta pareça irrelevante, contudo em nossos dias a páscoa, assim como o Natal, tem sido compreendida, mais pelo seu valor comercial do que pelo seu valor histórico e espiritual. Então vamos tentar compreender a páscoa a partir de sua origem.
1 O Senhor disse a Moisés e a Arão, no Egito: 2 "Este deverá ser o primeiro mês do ano para vocês. 3 Digam a toda a comunidade de Israel que no décimo dia deste mês todo homem deverá separar um cordeiro ou um cabrito, para a sua família, um para cada casa. 4 Se uma família for pequena demais para um animal inteiro, deve dividi-lo com seu vizinho mais próximo, conforme o número de pessoas e conforme o que cada um puder comer. 5 O animal escolhido será macho de um ano, sem defeito, e pode ser cordeiro ou cabrito. 6 Guardem-no até o décimo quarto dia do mês, quando toda a comunidade de Israel irá sacrificá-lo, ao pôr-do-sol. 7 Passem, então, um pouco do sangue nas laterais e nas vigas superiores das portas das casas nas quais vocês comerão o animal. 8 Naquela mesma noite comerão a carne assada no fogo, juntamente com ervas amargas e pão sem fermento. 9 Não comam a carne crua, nem cozida em água, mas assada no fogo: cabeça, pernas e vísceras. 10 Não deixem sobrar nada até pela manhã; caso isso aconteça, queimem o que restar. 11 Ao comerem, estejam prontos para sair: cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado na mão. Comam apressadamente. Esta é a Páscoa do Senhor. 12 "Naquela mesma noite passarei pelo Egito e matarei todos os primogênitos, tanto dos homens como dos animais, e executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor! 13 O sangue será um sinal para indicar as casas em que vocês estiverem; quando eu vir o sangue, passarei adiante. A praga de destruição não os atingirá quando eu ferir o Egito. 14 "Este dia será um memorial que vocês e todos os seus descendentes o comemorarão como festa ao Senhor. Comemorem-no como decreto perpétuo. (Êxodo 12.1-14)


1 – A PÁSCOA E SEU SIGNIFICADO NO A.T.
Páscoa é a festa que marca o início do calendário bíblico de Israel – no primeiro mês, no décimo quarto dia do mês de Abibe (espiga), depois chamado de Nissan – e delimita as datas de todas as outras festas na Bíblia.
A palavra páscoa, no hebraico Pêssach = Pêssarr, significa literalmente “passagem” ou “passar por alto” - pois o anjo do Senhor, na décima praga sobre o Egito, passou sobre toda casa dos egípcios matando o primogênito de toda casa, contudo quando o anjo do Senhor “passou” sobre as casas dos filhos de Israel, ao ver o sangue sobre os umbrais das portas poupo-os da morte, uma vez que eles estavam debaixo do sangue do cordeiro.
Páscoa fala de memória e de identidade. O povo de Israel foi liberto do Egito para poder servir a Deus e ser luz para as nações.
Portanto a festa da Páscoa é uma festa instituída por Deus como um memorial para que os filhos de Israel jamais se esquecessem de que foram escravos no Egito, e que o próprio Deus os libertou com mão poderosa, trazendo juízo sobre os deuses do Egito e sobre o Faraó. Eles nunca deveriam se esquecer de onde vieram e para onde estavam indo – da escravidão para a liberdade – do Egito para Canaã – de um ajuntamento de pessoas para se tornarem uma nação e povo de Deus; “um reino de sacerdotes e uma nação santa” para o Deus de Israel (Êx 19.6).

Ø  Vídeo – A PÁSCOA JUDAICA

2 – A CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA NO A.T.
A páscoa deveria ser celebrada com um jantar familiar, onde um Cordeiro seria assado e comido por todos. O jantar também deveria ter o pão asmo ou sem fermento (Matzá, em hebraico – tem três matzá – se come o pão do meio que simboliza Isaque ou Jesus) e ervas amargas (Maror).
O pão sem fermento era para lembrar que na noite da Páscoa no Egito, eles comeram às pressas e o pão não teve tempo de fermentar.
As ervas amargas eram para lembrar como a vida era amarga e sofrida, durante os anos em que foram escravos do Faraó.
Desde o século VI a.C. o jantar passou a ter uma “ordem” – um ritual, por isso esse jantar pascal passou a ser chamado Sêder. Na mesa temos um prato especial chamado “Keará” que é compostos pelos seguintes elementos:
·         Beitzá - um ovo cozido que representa a oferta de Páscoa (o cordeiro) feita no Templo – simboliza o luto pelos primogênitos e a esperança da reconstrução do Templo.
·         Zerôa (significa braço) - um osso de cordeiro que representa o Cordeiro Pascal. Nos lares judaicos tradicionais não se come cordeiro em luto à destruição do Templo em 70 d.C.
·         Maror - raiz amarga ou ervas amargas que simboliza a amargura do tempo da escravidão (alface romana).
·         Karpás - batata cozida ou cebola que representa o duro trabalho dos hebreus no Egito. Estas são molhadas na água salgada simbolizando as lágrimas e o suor derramado pelos judeus durante a escravidão
·         Charôsset (pronuncia-se Raroset) - uma pasta doce que se assemelha a um barro, lembrando o barro que os filhos de Israel amassavam no Egito para fazerem tijolos. É uma pasta que mistura maça, uva passas e nozes.
·         Vinho - São servidas quatro taças de vinho durante o Sêder. O primeiro cálice simboliza a separação, da santificação – “tirarei da carga do Egito”; o segundo cálice simboliza a libertação – “e vos libertarei da escravidão”; o terceiro cálice simboliza a remissão (este foi o cálice que Jesus usou para instituir a Ceia afirmando ser o Cordeiro que tira o pecado do mundo); o quarto cálice simboliza a adoção do povo (este Jesus usou para firmar a nova aliança).

3 – A PÁSCOA E SEU SIGNIFICADO NO N.T.
Quando Jesus celebrou seu último jantar de Páscoa com os discípulos, seguiu exatamente a tradição judaica vigente em sua época e até os dias de hoje. Ele utilizou quase todos os elementos e a sequência que temos hoje nos lares judaicos. Não apenas isso, mas ele utilizou parte da tradição criada no século VI a.C. para institucionalizar a Santa Ceia, dando um significado mais valioso para alguns dos elementos da páscoa.
Como cristãos, não precisamos mais celebrar a páscoa judaica, da mesma forma que os judeus faziam. A páscoa judaica era sombra da páscoa cristã promovida pelo próprio Deus em favor do homem. A páscoa judaica é uma tipologia da páscoa cristã.
·      Cordeiro (salvação) – Jesus é o verdadeiro cordeiro (salvação)
Ø  Sangue do cordeiro – Sangue de Jesus (preço pago)
Ø  Cordeiro deveria ser comido sem que nada sobrasse (deveriam se encher do cordeiro) – nós precisamos nos alimentar de Cristo até ficarmos cheios de Cristo em nós.
·      Egito (lugar da servidão) – Mundo caído (lugar da servidão)
·      Libertação do Egito – Libertação do Mundo caído
A páscoa judaica sempre apontou para o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Ela sempre apontou para uma coisa maior do que a libertação de Israel do Egito, ela apontava para a libertação do ser humano da lei do pecado. A páscoa judaica não era só a passagem do anjo do Senhor dando o direito de vida a toda casa que tinha o sangue do cordeiro, mas era o anuncio da vitória de todo ser humano sobre a morte através de Jesus Cristo, o cordeiro de Deus, sacrificado na cruz. A páscoa judaica era o inicio de uma nova vida para os judeus, a páscoa cristã se tornou o inicio de uma nova vida para todo aquele que crê em Jesus Cristo, o cordeiro de Deus.
Jesus foi crucificado durante a festa da Páscoa judaica – Ele é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, conforme afirmou João Batista.
29 No dia seguinte João viu Jesus aproximando-se e disse: "Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (Jo 1.29)
Assim como o sangue do cordeiro poupou a vida do primeiro filho de cada família judaica, o sangue de Jesus nos livra da morte e da condenação eterna.
Diante esta nova realidade é que Jesus dá novo significado aos elementos do jantar pascal. O pão passou a sinalizar o corpo de Jesus, que foi oferecido por nós e o vinho o sangue que pagou o preço dos nossos pecados firmando uma nova aliança.
26 Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos seus discípulos, dizendo: "Tomem e comam; isto é o meu corpo". 27 Em seguida tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, dizendo: "Bebam dele todos vocês. 28 Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados. (Mateus 26.26-28)
A Ceia que celebramos mensalmente em nossa igreja é a representação da festa pascal cristã. Todas as vezes que celebramos a Ceia do Senhor nos lembramos da morte e ressurreição de Jesus, que nos libertou da escravidão do pecado e nos deu uma nova vida – vida eterna, vida abundante, transbordante – Cristo nos tornou participante de Sua vida.
A páscoa judaica pertencia a Israel, anunciava a salvação de um povo, mas a páscoa cristã pertence a todos os povos, a todos que creem em Cristo Jesus, é o anuncio de salvação a todos os seres humanos.

4 – A PÁSCOA E SUA RESSIGNIFICAÇÃO EM NOSSAS VIDAS
A páscoa é a libertação da morte que se tornou parte de nossa existência devido ao pecado original, cometido no Éden. A páscoa é o anuncio da possibilidade de uma nova existência, de uma vida experimentada além do poder destruidor da morte e do pecado. A páscoa é a reafirmação de que a vida vence a morte, de que ela sempre ressurgirá quando se confia no Criador, o autor da vida e fonte de vida.  A páscoa ressignifica nossas vidas porque Jesus proveu nossa libertação em todas as dimensões de nossas vidas.
·      Libertação pessoal - A escravidão era um drama israelita que já durava 400 anos aproximadamente. O escravo não tem cidadania, direitos, identidade, liberdade, sonhos; seus horizontes limitam-se à vida de escravidão. O escravo não tem o direito de ser alguém. Ele se torna um ninguém que vive a expectativa de ser alguém. E talvez esta seja a maior angustia daquele que se encontra escravo de algo ou de alguém.
Nós éramos escravos do pecado. Por causa do pecado não conseguíamos ser o que deveríamos ser – a imagem do Deus Criador; pois sempre nos víamos vencido pelo pecado. Contudo o cordeiro promove nossa libertação. Jesus é aquele que te liberta de seus traumas, das suas dores mais profundas, dos vícios ocultos, do medo de si mesmo e dos outros - o medo de ser rejeitado, de não ser aceito como é. Jesus quer te libertar e tornar você alguém valiosos no seu Reino. Na cruz Jesus te convida para se descobrir, para ser o que de fato você é, pois foi criado por Ele para ser sua imagem e semelhança.
·      Libertação familiar – A páscoa é uma festa celebrada em família e entre amigos. Isso significa que Jesus deseja resgatar a família que vivia debaixo do poder do Faraó. Resgatar a família da influência da cultura daqueles dias que disseminavam ensinos e valores de um mundo caído, distante do Deus Criador. É na família que se começa a viver o social, que se ensina a se amar e amar o outro. Aprendemos também que a família se estende entre os amigos e vizinhos (Êx 12.4), pois família para Cristo se inicia em nossa casa, mas se estende a todos que compartilham da mesma fé, a todos que se colocam debaixo do sangue do Cordeiro de Deus. Para Deus a vida se vive em comunidade. Na cruz Jesus te convida para se tornar membro de sua grande família – ser um com Ele e com os demais membros da sua comunidade. Jesus te convida a amar o teu próximo como a ti mesmo, isto é, para que você se veja no seu próximo e se realize por meio do seu próximo.
·      Libertação socialDeus tirou os israelitas da opressão do Egito. Debaixo de um sistema injusto, onde homens e mulheres nasciam escravos, sem oportunidades de serem alguém, de construírem uma história digna, de sonharem, de viverem além de amassar barros para tijolos e plantar para outros colherem.  Jesus quando nos liberta, nos liberta para sermos povo do seu povo, para vivermos numa terra onde a justiça e a oportunidade serão para todos. Onde todos vivem para o bem comum.
Jesus nos chama para vivermos aqui como se já estivéssemos em nossa pátria celestial. Dessa forma trazemos o Reino de Deus e Sua vontade a existência em nossos dias até que Jesus venha reinar definitivamente sobre toda terra.
·      Libertação religiosaNo Egito o povo recebeu a influência de uma religiosidade politeísta, baseada em “deuses” muito humanos, uma vez que não passavam de criações humanas. Deuses (no minúsculo) que mudavam constantemente de humor, que não tinham princípios e valores, que lutavam entre si e exigiam sacrifícios de seres humanos para apaziguarem sua ira ou mesmo para favorecerem aqueles que o cultuavam. Deus o Criador convida Israel para uma relação pessoal e exclusiva. Israel serviria somente ao Criador, o Adonai, o El-Shadai. Deus o convida para uma relação não baseada no medo, mas no amor.

REFLEXÃO FINAL:
Quero desafiá-lo(a) nessa páscoa a avaliar seu coração a partir da sua vida pessoal, familiar, social e religiosa. O que entristece seu coração? O que alegra seu coração? Tire uma meia-hora do seu dia e confronte sua vida, sem medo, com sinceridade, para verificar se você realmente tem experimentado a nova vida provida pelo Cordeiro de Deus.
Viver a nova vida em Cristo, neste mundo presente, não significa não ter adversidades, não chorar, não perder, pelo contrário, todas estas coisas serão mais presentes porque o amor nos levará a nos doarmos mais, a sentirmos mais as dores daqueles que nos cercam, a nos compadecermos com aqueles que estão perdidos, a sermos odiados e perseguidos por aqueles que amam as trevas e se beneficiam dela; Mas também a nos alegrarmos com os que se alegram, a comemorarmos a cada “ninguém” – a cada pessoa escravizada – que se descobre através da cruz e se torna “alguém” em Cristo; a festejarmos cada família que se compreende como parte da grande família de Deus e que estabelecem em seu lar os princípios e valores de Deus; a cada sociedade, tribo, grupo que se tornam mais justos, que criam leis que promovam a dignidade da maioria; a cada um que deixa a religiosidade, que abandona a tentativa de alcançar Deus por seus esforços pessoais e passa a viver uma relação pessoal com Deus baseada exclusivamente na graça, no favor imerecido, mas disponível a todos em Cristo Jesus.
Que a páscoa te liberte! Que sua vida seja ressignificada a partir da vida doada por Cristo Jesus na cruz. Que ela seja libertadora para você, pois Jesus morreu para que você fosse verdadeiramente livre.
36 Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres. (João 8.36)

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
21/04/2019

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