PRIMEIRO
ESQUELETO: A TENDÊNCIA DE JULGARMOS
Estamos
iniciando uma nova série de mensagens cujo tema é TIRANDO OS ESQUELETOS DO
ARMÁRIO. Nosso objetivo neste mês é olharmos para nós como igreja e falarmos
daquilo que está escondido dentro de nossos armários.
Assim
como Cristo veio trazer luz ao que estava escondido, desejamos trazer a luz
nossos segredos, nossos problemas, nossos defeitos para sermos curados. Hoje iremos
tirar nosso primeiro esqueleto do armário. trata-se da tendência de julgarmos
os outros. Um de nossos grandes erros como igreja é a grande tendência de
julgarmos a todos. O texto de nossa reflexão está no evangelho de Lucas
7.36-50.
1 – JESUS É CONVIDADO PARA UM JANTAR
36 Convidado por um dos fariseus
para jantar, Jesus foi a casa dele e reclinou-se à mesa. (Lucas 7.36)
Essa narrativa
de Lucas começa com a descrição de um convite a Jesus, realizado por um fariseu
chamado Simão, que o chama para jantar em sua casa. Jesus prontamente aceitou o
convite. O que nos mostra que Jesus não tinha nenhum preconceito, nem mesmo
medo dos fariseus.
Simão é identificado
por Lucas como um fariseu. A importância deste detalhe está no fato que os
fariseus eram um grupo de religiosos que tentavam identificar o verdadeiro
Messias. Muitas pessoas antes e mesmo depois de Jesus afirmaram ser o messias.
Os fariseus eram as pessoas que observavam e avaliavam estes candidatos a
messias, dando seu parecer ao sumo-sacerdote e aos membros do Sinédrio.
Certamente
Simão, o fariseu, convidou Jesus para avaliá-lo de mais perto. A narrativa nos
deixa claro que Simão não fez questão nenhuma de honrar seu convidado diante
todos que assistiam ao banquete oferecido a Jesus, objeto de seu estudo.
Segundo os
historiadores e teólogos era costume naqueles dias que as portas das casas ficassem
abertas para que o banquete fosse visto, como uma grande sala teatral.
Os curiosos
podiam entrar e espiar o que os convidados estavam comendo e falando. Jovens,
velhos, mendigos ajuntavam-se diante da porta e ficavam ali observando todo o
movimento.
Essa era uma forma de um senhor mostrar a sua riqueza
de forma liberal a toda vizinhança. Jesus conhecendo este costume buscou tornar
este costume uma oportunidade de dignificar a todos, conforme podemos ver em
suas palavras.
13 Mas, quando der um banquete, convide
os pobres, os aleijados, os mancos, e os cegos. (Lucas 14.13)
Mas eis que de
repente entra uma mulher na sala do banquete e sua presença leva Simão, o
fariseu, a emitir um julgamento a respeito dela e de Jesus, conforme podemos
ler em...
2 – O FARISEU JULGA A MULHER E JESUS
37 Ao saber que Jesus estava comendo na casa do fariseu, certa
mulher daquela cidade, uma ‘pecadora’, trouxe um frasco de alabastro com
perfume, 38 e se colocou atrás de
Jesus, a seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe os pés com as suas lágrimas.
Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume. 39 Ao ver isso, o fariseu que o havia convidado
disse a si mesmo: "Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está tocando e que
tipo de mulher ela é: uma ‘pecadora’". (Lucas 7.37-39)
Lucas a
identifica como pecadora, porque ela era reconhecida por todos como uma pecadora que vivia na região. Essa era a
forma de descrever uma mulher imoral, uma prostituta. Essa mulher era aquela de quem as pessoas comentavam,
cochichavam aos ouvidos quando ela se aproximava. Ela era discriminada. Ninguém queria
a sua companhia ou amizade. Ninguém queria ser visto conversando com ela, muito
menos teriam coragem de tocá-la, “sob o risco de serem contaminados por
seus pecados!”. Este era o pensamento religioso da época.
O fariseu ao ver
a mulher tocando em Jesus emite o seu juízo a respeito da mulher e de Jesus,
mas ele faz isso para si mesmo, isto é, em pensamento. Ele dá o seu veredito a respeito da mulher: “ela é uma
pecadora”. E também o faz a respeito de Jesus: “Se este homem fosse
profeta...”. Ele conclui que Jesus não é um profeta e muito menos o Messias.
Simão dá o seu veredito a respeito da mulher a partir do que
ele ouvia dela, isto é de sua fama. E seu veredito a respeito de Jesus foi dado
a partir do que ele viu na mesa e de seus sentimentos com relação a Jesus.
Devemos incluir em seu veredito, além do que ele ouviu e viu
na mesa, os conceitos que possuía a respeito do que é certo e errado. Para
Simão um homem de Deus não se deixaria ser tocado por uma pessoa impura, pois
este se tornaria impuro, cumplice do seu pecado.
Os conceitos de Simão eram baseados nas Escrituras. Contudo
ele não compreendia a verdade por trás das palavras das Escrituras e por isso
emitiu um julgamento errado das pessoas em questão.
Somos tendenciosos, assim como o fariseu, a emitirmos
julgamentos sobre as pessoas a partir de nossos credos e valores. Erramos
quando não compreendemos de fato a lógica das Escrituras Sagradas. Nossa
superficialidade no entendimento da Bíblia nos faz errar. Quando isso acontece
em vez de salvarmos, condenamos à morte as pessoas; em vez de aproximarmos o
pecador de Deus, os afastamos com nosso legalismo.
Outra forma de julgamento errado que praticamos muito é a tendência
de julgar os outros a partir de nossas próprias falhas. A pessoa mentirosa, sempre
acha que as pessoas estão mentindo para ela. A pessoa adúltera, sempre acha que
seu cônjuge irá trai-la também. O invejoso acha que todos tem inveja dele, e
assim por diante. Somos tendenciosos a projetar para o outro nossos erros.
Culpamos o outro por aquilo que nós praticamos de errado.
Esta atitude do fariseu em julgar a partir de seus valores e
credos nos leva a um ensino de Jesus que se encontra no evangelho de João.
3 – NÃO
JULGUE APENAS PELA APARÊNCIA. JULGUE COM JUSTIÇA!
24 Não julguem apenas pela aparência, mas façam julgamentos
justos". (João 7.24)
Julgar pela aparência é fazer juízo de uma pessoa baseado no
seu padrão, nos seus valores pessoais. É fazer juízo de pensamentos, das
motivações ou atitudes de outra pessoa baseado no sentimento que você tem em
relação a ela.
Esse foi o julgamento que Simão, o fariseu emitiu da mulher e
de Jesus. Ele os julgou a partir de seus valores e de seus sentimentos com
relação à mulher e a Jesus.
Nós somos tendenciosos a fazer este tipo de julgamento. Aliás,
nós o fazemos o tempo todo. Julgamos, por exemplo, a beleza de uma pessoa a
partir dos valores que temos a respeito de beleza e então sentenciamos se ela é
bela ou feia. Se para mim ser magra é padrão de beleza, então defino que uma
pessoa é bela quando esta é magra.
Fazemos juízos a partir dos conceitos que estão estabelecidos
em nós e em grande parte estes conceitos nos são transmitidos pela cultura da
qual fazemos parte. Daí se origina o preconceito, a discriminação e a
injustiça. Por exemplo:
·
Aquele jovem é negro. Esse é um juízo justo. Este
é um juízo caracterizado pela cor da pele daquele jovem. Neste modelo de
julgamento não existe juízo de valores.
·
Aquele jovem negro é ladrão. Esse é um juízo
injusto. É um juízo baseado no valor que a sociedade dá as pessoas negras.
É a este tipo de julgamento que Jesus diz para não fazermos. Conhecermos
parcialmente uma pessoa pode nos levar a julgamentos errados a respeito dela.
1 "Não julguem, para que vocês não sejam julgados. 2 Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão
julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês. (Mateus 7.1,2)
Entretanto existem julgamentos que precisamos fazer. Jesus
diz que devemos julgar com justiça. Isso significa que precisamos avaliar o que
é certo e o que é errado. Precisamos discernir os caminhos que escolhemos; os
pregadores que seguimos; os amigos que abraçamos; o trabalho que realizamos;
etc..
Mas como discernir o certo e o errado em um mundo relativista?
Temos que discernir a partir da Palavra de Deus. A Bíblia é nosso livro de
conduta. Na Bíblia encontramos as palavras que nos ajudarão a julgar com
justiça e desta forma discernirmos o que é certo e errado.
Existem coisas que são claras e concretas. Estas eu consigo
julgar a partir da Palavra de Deus. Mas nem todas são assim. Por exemplo: Você
roubou um refrigerante da loja. Posso afirmar e julgar sem dúvida nenhuma que
você roubou e, portanto pecou. Você matou uma pessoa. Posso afirmar sem dúvida
alguma que você pecou, cometeu um assassinato. Estas coisas são claras e
concretas.
Mas daí dizer que você é ladrão ou assassino já não é
possível, existem muitos outros fatores que precisam ser considerados para
emitir este juízo. Muitos menos afirmar que você vai para o inferno por causa
destes pecados.
Não podemos julgar a partir de nossas vontades ou dos nossos
corações, pois somos pessoas parciais e imperfeitas. Precisamos nos pautar na
Bíblia, para isso precisamos nos aprofundarmos nela, pois conhecê-la
parcialmente pode nos levar a julgamentos errados.
Diante o juízo emitido por Simão, Jesus abre o armário de
Simão e lhe mostra o esqueleto que ele estava escondendo. Seu farisaísmo, sua
antipatia para com os pecadores, seu preconceito para com a mulher, sua frieza
para com sua pessoa, sua falta de compreensão com relação ao Messias, tudo isso
é escancarado por Jesus. Simão, o fariseu, é levado por Jesus a uma
autoavaliação. Ele precisava enxergar a
si mesmo, antes de emitir juízo sobre outros.
4 – ENXERGANDO
A SI MESMO
40 Respondeu-lhe Jesus: "Simão, tenho algo a lhe
dizer". "Dize, Mestre", disse ele. 41 "Dois homens deviam a certo credor. Um lhe
devia quinhentos denários e o outro, cinquenta. 42 Nenhum dos dois tinha com que lhe pagar, por isso
perdoou a dívida a ambos. Qual deles o amará mais?". 43 Simão respondeu: "Suponho que aquele a quem
foi perdoada a dívida maior". "Você julgou bem", disse Jesus. 44 Em seguida, virou-se para a mulher e disse a
Simão: "Vê esta mulher? Entrei em sua casa, mas você não me deu água para
lavar os pés; ela, porém, molhou os meus pés com as suas lágrimas e os enxugou
com os seus cabelos. 45 Você não me saudou com
um beijo, mas esta mulher, desde que entrei aqui, não parou de beijar os meus
pés. 46 Você não ungiu a minha
cabeça com óleo, mas ela derramou perfume nos meus pés. 47 Portanto, eu lhe digo, os muitos pecados dela lhe
foram perdoados, pelo que ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi perdoado,
pouco ama". 48 Então Jesus disse a
ela: "Seus pecados estão perdoados". (Lucas 7.40-48)
Jesus conta uma história para ajudar Simão a perceber quem de
fato ele era nessa história e quem era a mulher a quem ele declarou pecadora.
Nos tempos de Jesus era muito comum que o dono da casa ao
receber um convidado providenciasse um servo para lavar os seus pés, e quando
este não tinha um servo, o próprio dono da casa lavava os pés de seu convidado.
Também fazia parte dos rituais da hospitalidade receber seus convidados com um
beijo na testa, simbolizando as boas-vindas, e durante a refeição se derramava
algumas gotas de óleo perfumado sobre a cabeça dos convidados como símbolo de
respeito aos convidados.
Simão não fez
nenhum destes ritos para com seu convidado, Jesus. Sua hospitalidade foi fria e
desconfiada, pois seu objetivo era avaliar Jesus e não conhecê-lo intimamente.
Sua atitude já demonstrava o preconceito que tinha da pessoa de Jesus e seu
caráter soberbo. Ele como os demais fariseus, não reconheciam os seus pecados,
se achavam santos e cheios da sua própria justiça.
Por ventura,
muitas vezes não agimos assim também com nosso próximo, com nossos irmãos? Não
somos por vezes desconfiados e julgamos as pessoas a partir dos nossos
conceitos já formados a respeito delas?
Tudo aquilo que
o fariseu tinha deixado de fazer com Jesus Cristo aquela mulher fez. O interessante
é que ela não se importou se viriam a falar mal dela ou se ela era bem-quista
dentro daquela casa e diante dos que ali estavam.
Ela apenas foi em
direção a Jesus, quebrando a barreira do preconceito, sem medo dos olhares que
a condenavam, dos dedos que se apontavam para ela e dos comentários maldosos a
seu respeito. Ela foi direto para os pés de Jesus, não quis saber de se
assentar a mesa ou ficar olhando de longe. Foi para o lugar aonde somente
aqueles que conseguem enxergar verdadeiramente quem Jesus é vão: para os seus pés.
No final da
história, Jesus deixa claro para o fariseu, o religioso que confiava em seus
conhecimentos das Escrituras, em suas obras religiosas, que pensava estar
salvo; que ele não estava. Jesus deixa claro para ele que acreditava saber tudo
sobre o Messias, que se julgava pronto a identificá-lo; que não sabia nada.
Ao mesmo tempo
Jesus aponta para a mulher a qual o religioso julgou pecadora, a quem o fariseu
tinha certeza ser desprezada por Deus, indigna de assentar em sua mesa,
entretanto Jesus afirmou que ela estava salva, seus pecados tinham sido
perdoados.
As palavras de
Jesus causou um alvoroço entre os convidados, possíveis fariseus, amigos de
Simão. Diz o texto...
49 Os outros convidados começaram a perguntar: "Quem é este
que até perdoa pecados?". 50 Jesus disse à mulher: "Sua fé a salvou; vá em paz".
(Lucas 7.49-50)
Os fariseus e
judeus de forma geral sabiam que somente Deus poderia perdoar pecados, pois
todo pecado é uma agressão direta a Deus, portanto somente Ele (Deus) teria
autoridade de perdoar pecados.
Jesus ao
declarar aquela mulher perdoada estava dizendo e afirmando ser o Messias. Jesus
termina o jantar dizendo: “Muito prazer Simão, Eu sou Deus”.
Reflexão Final
Quero pontuar
algumas lições que tiramos desta narrativa para nós.
1. Jesus tira do
armário o esqueleto que escondemos. Ele expõe o nosso coração e nossas intenções.
O
fariseu foi desnudado diante todos. Jesus o viu e percebeu que ele se julgou
digno de ser aceito por Deus mediante suas obras religiosas. Mas foi rejeitado.
Deus abate o soberbo. Somente aquele que não tem um espírito humilde confia em
suas obras.
A
mulher foi desnudada. Jesus a viu e percebeu que ela se julgou indigna de ser
aceita por Deus e por isso foi a Ele com obras de arrependimento, e foi aceita
por Jesus. Deus exalta o humilde.
Diante
Jesus todos nós somos desnudados. Jesus expõe nossos esqueletos queira você ou
não; portanto abra mão de qualquer tentativa de mérito diante Dele. Reconheça
que é pecador, aceite sua graça e amor por você. Jesus te perdoa de todo
pecado, contanto que você O reconheça como seu Salvador e abandone seu pecado.
2. Jesus nos ensina
que todo julgamento só pode ser feito a partir de Sua Palavra.
Aquele
que julga o seu próximo baseado em seus próprios critérios e valores se torna
alvo de julgamento de outros, pois da mesma forma que julgam serão julgados.
Jesus
ensina que devemos julgar com justiça, e só conseguimos fazer isso, se
julgarmos a partir da Palavra de Deus. Para isso precisamos conhecer
profundamente a Palavra de Deus e julgar somente o que é claro e fato.
Temos
que parar de julgar as pessoas e de colocar valores nelas, pois não somos “deuses”
para avaliar corações e intenções. Precisamos parar de dizer: “ela só fez
aquilo para me provocar”, “ele só pensa em seus interesses”. Estas palavras são
palavras de julgamento baseadas em valores e critérios próprios.
3. Jesus nos ensina que devemos amar a todas
as pessoas ao invés de julgá-las. Participar na mesa com Jesus é se
abrir para honrar a todos. Jesus aceitou o convite do fariseu, se abriu para
amá-lo, mesmo quando suas intenções fossem somente de avaliá-lo. Só podemos
honrar a Cristo, se honrarmos ao outro. Na mesa com Jesus é lugar de amar a
todos e não de julgar e avaliar as pessoas, mas de se entregar a elas em amor.
Na
medida, que você acolhe o outro, você o acolhe com seus erros, com seus pecados
e com suas virtudes também. Na medida, que você o acolhe, o abraça e anda com
ele, o outro vai se curando, se transformando pelo poder do amor.
Aceite
o outro na sua mesa, sem julgar, apenas ame e deixe que o amor restaure todas
as coisas. Convide para sua mesa aquelas pessoas que você não as conhece bem, e
de a você e a ela uma oportunidade de se conhecerem melhor. Se abra para o
amor.
Pr. Cornélio
Póvoa de Oliveira
04/08/2019
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