ADMINISTRANDO A VIDA COMO CRISTO (segunda parte):
ADMINISTRANDO A ORAÇÃO
Estamos dando
continuidade a nossa série “Administrando a Vida Como Cristo”. Antes de entrarmos em nossa
reflexão quero lembrá-los que administrar é o ato de gerenciar recursos e pessoas,
e que uma boa administração é aquela que alcança seus objetivos sem desperdiçar
seus recursos materiais ou humanos. Este conceito da administração é o
conceito bíblico da mordomia. Um mordomo é aquele que cuida da administração
dos bens de seu senhor. Neste mês estamos
olhando para Cristo e buscando Nele o modelo para administrarmos bem a vida,
para nos tornarmos bons mordomos.
Se pretendemos ter uma vida bem
administrada, com o fim de glorificarmos a Deus, precisamos cultivar uma vida
de oração Como Cristo, mas também precisamos orar alinhados com Deus. Portanto
nada melhor do que orarmos a partir do modelo da oração do Pai Nosso, ensinada
pelo próprio Senhor Jesus.
9 Vocês, orem assim: ‘Pai nosso,
que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. 10 Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na
terra como no céu. 11 Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. 12 Perdoa
as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. 13 E
não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o
poder e a glória para sempre. Amém’. (Mateus 6.9-13)
Vamos
dividir este texto em nove partes, com o fim de compreendermos esta oração e
destacarmos alguns ensinos. A primeira parte que destacamos é a orientação de Jesus:
1 – UM CAMINHO A SER
SEGUIDO
9 Vocês, orem assim:... (Mateus 6.9a)
Acho interessante o fato desta oração
se chamar “Pai Nosso”, porque na verdade esta oração é proposta, por Jesus,
como um modelo de oração que deve ser feita por seus discípulos, por isso, acho
que deveria se chamar “A Oração do Discípulo”, embora ela se inicie com a
expressão Pai nosso.
Quando
Jesus diz “vocês, orem assim”, ele não está pensando em uma oração para ser
repetida ou decorada, mas em um modelo litúrgico para se orar. A proposta de Jesus é que tenhamos
um caminho orientador para nossas orações. Este caminho proposto por Jesus
evitará fazermos orações repetitivas, desconectadas da vontade de Deus e sem
vida.
Ao dizer “vocês, orem assim”, Jesus,
também deixa claro que a oração deve fazer parte de nossas vidas.
A oração é importante em nossas vidas, conforme refletimos em nossa série de
abertura deste tema “Como Cristo” na mensagem “Três Razões Para se Orar”, onde
apresentamos as seguintes razões para se orar:
1. A oração torna real a experiência da presença de Deus.
2. A oração autentica a nossa humanidade.
3. A oração é o veiculo promotor de uma vida vitoriosa.
Se você deseja
se aprofundar nestas três razões, eu o incentivo a ouvir a mensagem “Três
Razões Para se Orar”. Entre em nosso canal do YouTube e você encontrará a
mensagem lá.
A segunda parte é o inicio da oração
propriamente dita através da expressão:
2 – PAI NOSSO
9 Vocês, orem assim: ‘Pai nosso,... (Mateus 6.9a)
Nestas palavras
temos duas lições.
A primeira lição
é que a oração é um chamado a intimidade. Ao chamarmos Deus de Pai estamos falando de intimidade,
de pertencimento a uma família. Jesus está nos ensinando a nos relacionarmos
com Deus com o coração e não de forma religiosa sem sentimentos. Deus não
deseja ouvir orações vazias de vida e de fé. Somos chamados a olharmos para
Deus como Pai, e, podemos chamá-lo assim, porque todo aquele que crê em Jesus é
feito filho de Deus.
Algumas pessoas
se preocupam com a estética da oração? Como devo orar? O problema na oração não
está na sua estética. Não importa como você se apresenta a Deus, se de joelhos,
deitado, sentado ou em pé. Não importa se faz uso de palavras difíceis ou
fáceis. Não importa o horário, se de madrugada, manhã, tarde ou noite. Não importa o lugar, se no
carro, se no ventre de um peixe, na cova com leões ou em um templo. O que torna
sua oração agradável a Deus é o nível de intimidade que você tem com Ele.
Intimidade não é
falta de reverência, pelo contrário. Intimidade é a consciência de quem Deus é
de fato, e de como Ele quer se relacionar conosco.
A segunda lição é
que não somos filhos únicos. Ao chamarmos Deus de “Pai Nosso”, estamos verbalizando a
realidade de que somos muitos filhos de um mesmo Pai. Portanto nossa
relação com Deus deve ser pautada no desejo do bem comum e não girar em torno
dos nossos desejos pessoais. Devo orar me compreendendo não como o centro do
mundo, mas como um dos membros da família de Deus. Não sou o único filho a quem
o Pai busca ouvir.
Vamos agora caminhar para a terceira
parte onde destacamos a expressão:
3 – QUE ESTÁS NOS CÉUS
9 Vocês, orem assim: ‘Pai nosso, que estás nos céus!... (Mateus
6.9a)
A grande lição desta expressão é que Jesus nos arremete,
nos lança a lidarmos com a vida além da perspectiva terrena. Somos
transportados aos céus para iniciarmos nossa intercessão.
É evidente que a
afirmação de que nosso Pai está no céu, por Jesus, nos dá direção, nos aponta
um local para olharmos, nos apresenta um lugar de referência para que possamos
nos encontrar com Deus. Jesus
não está falando de um lugar geográfico dentro do nosso mapa-múndi ou de um
lugar geográfico no universo, mas de um reconhecimento de que o Pai governa
sobre tudo. Céu é todo lugar onde o reinado de Deus é vivenciado. Portanto
quando olho para o céu, me vejo submisso a Deus.
A partir do
momento que me vejo submisso ao Pai que está nos céus, minha vida é afetada por
inteira. As dimensões terrena, ética e espiritual são agora vividas a partir
dos valores e princípios celestiais. Minha oração também é afetada pela amplitude da dimensão celestial, e é
neste sentido que tudo que eu pedir ao Pai, em nome de Jesus, Ele me concederá.
Ela nos convoca para olharmos a vida e a orarmos a partir
dos olhos do Pai que está nos céus. Oro de cima para baixo e não de baixo para
cima.
Continuemos nossa caminhada para a
quarta parte onde destacamos a expressão:
4 – SANTIFICADO SEJA O TEU NOME
9 Vocês, orem assim: ‘Pai nosso,
que estás nos céus! Santificado seja o teu nome.
(Mateus 6.9)
Uma vez que fomos lançados em oração a olharmos a
história a partir dos céus e não da terra, somos conduzidos à primeira petição:
Santificado seja o teu nome.
Observe que essa
primeira petição ela não tem nada a ver conosco, mas com Deus.
O que Jesus está nos ensinando é que devemos orar “por” Deus e não “para” Deus.
Quem ora “por” Deus abre mão de sua vontade própria para que
a vontade de Deus se estabeleça e o nome de Deus seja honrado. Quem ora “para” Deus busca os favores de Deus para si mesmo.
A intercessão é na verdade a oração “por Deus”. A oração intercessória
acontece quando oramos pela edificação da igreja de Cristo, pelo
estabelecimento do Reino de Deus no mundo; e não pelo estabelecimento do meu
reino.
Não podemos nos
esquecer de que a “santificação” do nome de Deus é a razão de nossa existência;
existimos para que a santidade de Deus seja vista através de nós e desta forma
Deus seja glorificado. Quando santificamos o nome de Deus acabamos promovendo
oportunidades para a salvação daqueles que estão perdidos nas trevas.
A quinta parte de nossa reflexão é a
expressão:
5 – VENHA O TEU REINO E
SEJA FEITA A TUA VONTADE
10 Venha o teu Reino; seja feita a
tua vontade, assim na terra como no céu. (Mateus 6.10)
Jesus, ao nos ensinar a pedir pela vinda do Reino de Deus
evidentemente pensava no estabelecimento do reino de Deus sobre todos os
governos humanos. Jesus está pensando em algo que vai além do governo sobre um
indivíduo, essa oração não trata do governo sobre mim ou sobre você, mas do
domínio de Deus sobre todas as nações, Estados e instituições.
Essa oração
trata da segunda vinda de Jesus ao mundo. Quando esse tempo chegar o Reino de
Deus se estabelecerá para sempre e a vontade de Deus desde o início da criação
se cumprirá trazendo cura a humanidade e a toda criação.
Portanto não
devemos orar pelo estabelecimento do nosso reino, mas pelo estabelecimento do
Reino de Deus sobre as nações, sobre toda forma de poder. Contudo nossas
orações quase sempre são mais direcionadas ao estabelecimento do nosso reino,
dos nossos desejos e anseios. Precisamos mudar urgentemente esta nossa postura, pois ela não
manifesta a verdade contida nos ensinos de Jesus aos seus discípulos. Somos
chamados para morrer, isto é, renunciar a nós mesmos em prol do Reino de Deus e
de Sua vontade.
Eu
e você precisamos ter a consciência que nossa pátria não é aqui, mas que
enquanto aqui estivermos devemos implantar o Reino de Deus, isto é, seus
valores e princípios nos corações de todos os homens.
O desafio nessa oração é que ao fazê-la estamos nos oferecendo como
agentes para implantação do Reino de Deus. Não podemos orar “venha o teu Reino”
se não desejamos nos submeter ao Rei Jesus. Não podemos dizer “venha o teu reino” se
primeiramente eu não estiver disposto a me render a este reino e a seus
valores, seu eu não estiver disposto a me tornar um súdito do reino. Eu oro para que as nações e toda
forma de poder se renda aos pés de Jesus e através de palavras e ações trabalho
para que o Reino de Deus se estenda a todos próximos de mim.
Nosso próximo passo nos levará a
expressão:
6 – DÁ-NOS O PÃO NOSSO
DE CADA DIA
11 Dá-nos hoje o nosso pão de cada
dia. (Mateus 6.11)
Até este momento
estávamos orando a partir do olhar dos céus sobre toda terra, sobre todas as
nações e sobre toda humanidade, mas agora passamos a olhar para nós cristãos de
forma individual e também coletiva. Acredito que temos aqui três ensinamentos
que nos orientam em nossas petições pessoais:
1º Lição: Podemos
Pedir o Pão Nosso! Não o Que Quisermos.
Jesus está nos ensinando a pedirmos “o pão nosso”. Jesus
não está nos estimulando a pedir tudo o que quisermos. Não podemos pedir “o pão
nosso” desmembrado dos ensinos anteriores apresentados nesta oração. Ele está nos ensinando a valorizar o essencial, orarmos
pelo pão, não pelo caviar.
Quando um
discípulo pede “o pão nosso de cada dia”, Jesus espera que ele já tenha
entendido que sua vida é para o Pai, que sua existência só tem sentido quando o
nome do Pai é santificado, e que ele deve viver para construção do Reino do Pai.
2º Lição: Devemos
Pedir o Pão Nosso de Cada Dia.
Jesus ao nos ensinar a suplicar “o pão
nosso de cada dia” nos faz colocar Deus no centro de nossas necessidades
cotidianas. Jesus está dizendo que devemos pedir o que necessitamos para o dia,
e assim fazermos a cada dia, e dessa Jesus forma nos leva a nos relacionarmos
com o Pai todos os dias. Precisamos cultivar um relacionamento cotidiano com
Deus nosso Pai, pois Ele é aquele que provê o verdadeiro alimento para nossas
almas.
Pedir
pelo “pão de cada dia” é sábio, pois ter além do que precisamos pode nos tornar
insensíveis para com Deus, pois a abundância de bens tende a nos fazer confiar
em nossos próprios recursos, e desta forma nos distanciamos de Deus.
3º Lição: Devemos
Compreender Que o “Pão Nosso” Não é Meu Somente.
É uma oração que precisa ser feita com
os olhos bem atentos ao nosso próximo, porque ao fazê-la, nos tornamos mordomos
responsáveis dos bens de Deus. Ela coloca em choque o necessário, o “pão de
cada dia”, em meio a tantas “necessidades irreais” criadas pelo espírito
consumista. Ela pede por justiça, que é fruto da conversão do “meu” para o
“nosso”, e rompe com o egoísmo, nos transformando em seres solidários.
Em fim,
aprendemos aqui que devemos orar pelo essencial, pelo pão nosso e não pelo
caviar; que devemos orar a cada dia pelo pão nosso, pois devemos cultivar a
dependência de Deus todos os dias, e não almejar uma vida abundante que possa
nos tornar independentes de Deus; e devemos orar nos compreendendo como
responsáveis em fazer com que o pão nosso chegue às mãos daqueles que não têm.
Essa trilha de oração nos leva a
sétima parte onde nos deparamos com a expressão:
7 – PERDOA AS NOSSAS DÍVIDAS, ASSIM COMO
PERDOAMOS...
12 Perdoa as nossas dívidas, assim
como perdoamos aos nossos devedores. (Mateus 6.12)
Jesus nos ensina que ao orarmos devemos confessar nossos
pecados e perdoarmos aqueles que nos ofenderam. Sem dúvida esta é a petição
mais desafiadora dentro da oração do Pai Nosso, e também a que exige de nós uma
reflexão mais cuidadosa, pois ela mexe com nossas feridas mais profundas.
Observe que o
texto não diz: perdoa as nossas dividas
porque vamos perdoar os nossos
devedores. O texto diz: assim como perdoamos
(nós temos perdoado) aos nossos
devedores – O texto se encontra no passado. Quando faço esta oração eu já
assumi diante de Deus minha responsabilidade pelo perdão.
O que Jesus está afirmando nesta passagem é que o perdão
é uma atitude obrigatória de todo àquele que chama Deus de Pai, que olha para o
céu e tem Deus como sua referência, que clama para que o nome de Deus seja
santificado, que pede para que o Reino de Deus seja implantado na terra como é
no céu e que deseja que a vontade de Deus seja cumprida. Em fim, Jesus
está nos dizendo que o Pai espera que nós perdoemos assim como Ele perdoa. O
perdão para Deus é inegociável.
Aquele que conhece a graça de Deus, que experimentou o
perdão de Deus, que compreendeu o que Deus fez na cruz por ele, perdoa seja a
quem for e pela razão que for.
O referencial
para o nosso perdão é o perdão que Deus nos ofereceu em Cristo Jesus. Quem conhece o amor de Deus, que tem
consciência de quanto custou para Deus nos perdoar, que percebe quem realmente
é, perdoa a todos que lhe causaram danos, feridas e prejuízos.
Vamos agora caminhar para a oitava
parte de nossa reflexão:
8 –
NÃO NOS DEIXES CAIR EM TENTAÇÃO
13 E não nos deixes cair (εἰσενέγκῃς – eisenenkēs) em tentação, mas livra-nos do
mal,... (Mateus 6.13a)
A palavra grega usada nessa passagem é
a palavra eisenegkhs (eisenenkes) que tem sua origem na palavra εισφερω (eisphero) que foi
traduzida na versão Almeida por “deixes cair” e na Corrigida por “induza”, a sua tradução literal significa
levar para dentro, introduzir. Dessa forma a tradução seria: “e não nos
introduza a tentação,...”.
Então o que Jesus está nos ensinando é
que devemos orar para que o Pai não nos conduza a situações de tentações, que
ele não nos coloque em situação que possamos ser tentados, em fim, estamos
pedindo para não sermos tentados.
Podemos
dizer que estamos pedindo a Deus que não faça conosco o que fez com Jesus,
conforme podemos ler em Mateus 4.1 – A seguir foi Jesus levado pelo Espírito ao
deserto, para ser tentado pelo diabo.
Quem levou Jesus ao deserto? O próprio Espírito Santo! E para que Ele
levou? Para Jesus ser tentado pelo diabo. Uma coisa é levar, conduzir até o
lugar da tentação, a outra é ser o tentador. Deus não tenta ninguém (Tg 1.13), mas pode nos levar até o
lugar da tentação para sermos provados.
E finalmente chegamos na última parte
de nossa caminhada na oração do Pai Nosso.
9 – TEU É O REINO, O
PODER E A GLÓRIA
13 ...porque teu é o Reino, o
poder e a glória para sempre. Amém’. (Mateus 6.13b)
Somos levados
nestas palavras finais a reconhecermos que Deus é o Senhor de tudo e de todos,
que Ele tem todo o poder e a glória. Não pode existir oração sem este
reconhecimento. Quem assim não crê não tem porque orar, e o pior, não tem a
quem orar.
A oração do Pai
Nosso é concluída com o discípulo rendido aos pés de seu Pai em adoração. Esta
é a trilha ensinada por Jesus para que seus discípulos possam orar alinhados
com o coração do Pai. Deus abençoe a todos.
Pr. Cornélio
Póvoa de Oliveira
08/09/2019
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