TRABALHANDO BEM PARA DESCANSAR BEM
DESCANSANDO BEM PARA TRABALHAR BEM
Diversos textos bíblicos nos apresentam a importância
destes dois conceitos: trabalhar e descansar. Em Gênesis no capítulo dois lemos
que Deus trabalhou seis dias e descansou no sétimo. Esse modus operandi de Deus foi estabelecido pelo próprio Deus como
princípio para nós, conforme lemos em Deuteronômio 5.12-15.
12 "Guardarás o dia de sábado
a fim de santificá-lo, conforme o Senhor, o teu Deus, te ordenou. 13 Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus
trabalhos, 14 mas o sétimo dia é um sábado para o Senhor, o teu
Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu nem teu filho ou filha, nem o
teu servo ou serva, nem o teu boi, teu jumento ou qualquer dos teus animais,
nem o estrangeiro que estiver em tua propriedade; para que o teu servo e a tua
serva descansem como tu. 15 Lembra-te de que foste escravo no Egito e que o
Senhor, o teu Deus, te tirou de lá com mão poderosa e com braço forte. Por isso
o Senhor, o teu Deus, te ordenou que guardes o dia de sábado. (Deuteronômio 5.12-15)
A primeira lição que destacamos neste texto na relação trabalho e
descanso é que:
1 – EXISTE UM CICLO NESSA RELAÇÃO
13 Trabalharás seis dias e neles
farás todos os teus trabalhos, (Deuteronômio 5.13)
Quando falamos de ciclo estamos dizendo que existe um
fenômeno repetitivo e estabelecido por Deus. A cada seis dias de trabalho
ganha-se um dia de descanso. Também temos um ciclo diário, estabelecido por
Deus pelas divisões manhã, tarde e noite. Trabalhamos durante as manhãs e
tardes, mas as noites nos foram dada para descansarmos.
Estes ciclos nos
ensinam que o trabalho é tão importante quanto o descanso. Caso um destes seja
feito de forma relaxada, negligente acabará por afetar e comprometer todas as
dimensões de nossas vidas.
Vivemos em uma
sociedade altamente produtiva. O discurso de nossos dias é trabalhe enquanto os
outros dormem. Estude e leia tudo o que puder enquanto os outros descansam e
você será maior que eles. Os coaching só falam de resultados, de alta
performance, de produzir cada vez mais. A vida tem sido medida pelos resultados
que produzimos e não pelo que somos. Esse é o discurso de nossa sociedade
capitalista. Um discurso onde não existe espaço para o descanso.
As pessoas se
tornaram escravas de um sistema altamente focado na produtividade. Descanso é
para os fracos. De fato temos visto cada vez mais pessoas altamente produtivas,
mas também cada vez mais pessoas dependentes de remédios depressivos. Estamos
diante uma sociedade que trabalha dopada, que vive doente acreditando que
descansar é só para os que já alcançaram grandes fortunas. Entretanto Deus nos
chama para descansar, assim como nos chama para trabalhar. Ambas as atividades
são importantes em nossas vidas.
Não estou
dizendo para você não trabalhar, mas estou dizendo faça o seu melhor trabalho
enquanto é tempo de trabalhar. Trabalhe com excelência, dê o seu melhor, pois
Deus se agrada do que é feito com excelência.
Mas no tempo do descanso, descanse e desfrute deste tempo de descanso,
pois isto agrada a Deus. Não se sinta culpado por descansar.
Portanto trabalhe
bem para descansar bem. Trabalhe bem para descansar com a consciência tranquila
que fez o melhor para Deus ao fazer o melhor por seu cliente, por seu
funcionário, por seu patrão, por seu aluno, por seu paciente, por seu
semelhante, em fim por aquele que precisou do seu dom, do seu serviço, do seu
ministério, do seu trabalho.
A segunda lição que destacamos neste texto na relação
trabalho e descanso é que:
2 – EXISTE UMA ÉTICA DE RECIPROCIDADE NESSA
RELAÇÃO
14 mas o sétimo dia é um sábado (shabbat) para o Senhor, o teu Deus. Nesse dia não
farás trabalho algum, nem tu nem teu filho ou filha, nem o teu servo (ébhedh - escravo) ou serva, nem o teu boi, teu jumento ou
qualquer dos teus animais, nem o estrangeiro que estiver em tua propriedade;
para que o teu servo e a tua serva descansem como
tu. (Deuteronômio 5.14)
O texto nos
ensina que no sétimo dia o senhor/patrão deve descansar, mas não somente ele,
seus filhos e funcionários também devem descansar, sejam eles servos/escravos
ou estrangeiros. Naquele tempo era comum que uma pessoa se tornasse escrava,
fosse por dívidas financeiras ou vitima de guerra. Contudo o texto mostra
claramente que essa pessoa não deveria ser oprimida, violentada em seus
direitos como ser humano.
O autor também
menciona o estrangeiro, pois era comum naqueles dias pessoas de outras culturas
se tornarem alvos fáceis para trabalhos mal remunerados, de quase escravidão de
homens ambiciosos. Nada muito diferente de nossos dias.
Deus claramente
exige que aqueles que detêm o poder sobre outros o tratem como seus
semelhantes, o tratem com reciprocidade, dando a eles o mesmo direito que lhes
é dado. Encontramos aqui o princípio da regra de ouro citado por Jesus,
conforme lemos em Mateus.
12 Assim, em tudo, façam aos
outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os
Profetas". (Mateus 7.12)
Se existe uma
regra ética de reciprocidade na relação trabalho e descanso, é correto
afirmarmos que não existe um descanso santo por parte do empregador se este não
tratar seus subordinados com igualdade.
A razão
apresentada aqui para a observância do sábado é diferente daquela apresentada
no texto de Êxodo 20.11, onde Deus pede que guardassem o sábado porque Ele o
santificou.
15 Lembra-te de que foste escravo
no Egito e que o Senhor, o teu Deus, te tirou de lá com mão poderosa e com
braço forte. Por isso o Senhor, o teu Deus, te
ordenou que guardes o dia de sábado (shabat). (Deuteronômio
5.15)
Neste texto Deus
pede para que os israelitas se lembrarem de que um dia também foram escravos e
por isso era importante guardarem o dia do descanso. Ao desejar que o povo se
lembrasse de que um dia também foram escravos, Deus pretendia despertar neles
misericórdia para com qualquer homem, mulher ou mesmo animal envolvidos em
trabalho diário. Eles jamais deveriam subjugar outra vida como eles foram
subjugados.
Portanto não
existe santidade no descanso, seja ele no sábado ou domingo, ou ainda na
segunda como é o meu caso, quando não existe reciprocidade para com seu
próximo. Não existe santidade em nossos atos quando não desejamos ao nosso
próximo o que desejamos a nós. Portanto preciso amar o meu próximo como a mim mesmo. Você precisa amar
seu próximo como a você mesmo. Precisa dar a ele o mesmo descanso que
deseja. Precisa dar a ele a mesma oportunidade que deseja. Somente na
reciprocidade seu descanso se tornará santo.
No discurso de
Deus de reciprocidade ou no discurso de Jesus da regra de ouro não existe lugar
para o discurso do racismo, do machismo ou do feminismo, pois estes são
discursos opressores que produzem desigualdade e desarmonia nas relações
humanas.
O discurso de
reciprocidade de Deus e o discurso da regra de ouro de Jesus não tratam das
diferentes funções exercidas por um indivíduo na sociedade, não se refere
também as diferenças de status sociais existentes entre os indivíduos de uma
determinada sociedade, essas diferenças sempre existiram. Jesus mesmo disse que
os pobres sempre os teremos conosco. Contudo o discurso de reciprocidade
apresentada por Deus e por Jesus na regra de ouro trata da igualdade e
dignidade que pertencem a todos os seres humanos.
A ordem de
guardar o dia de sábado, não diz respeito a um dia da semana no calendário, mas
em guardar um dia de descanso. Este princípio continua valendo para nós ainda
hoje. Precisamos guarda o descanso.
Portanto só
podemos descansar bem se estivermos dispostos a amar o nosso próximo como a nós
mesmos. No meu descanso devo me lembrar do quão humano sou, de minhas
fraquezas, de meu desejo de ser amado, reconhecido e ouvido, e então olhar para
o meu próximo e reconhecer suas fraquezas e o seu desejo de ser amado,
reconhecido e ouvido.
O descanso nos
foi dado por Deus para que possamos nos colocar no lugar do outro e nos dispormos
a servi-lo como nós desejamos ser servido, a perdoá-lo em suas fraquezas como nós
desejamos ser perdoados, a amá-lo como nós desejamos ser amados.
Descanse bem
para trabalhar bem. Descanse bem para renovar seu coração e suas forças e então
poder tratar todos que o cercam com igualdade e dignidade que eles merecem como
seus semelhantes. Um bom descanso resultará em um bom trabalho.
A terceira lição que destacamos neste texto na relação
trabalho e descanso é que:
3 – EXISTE UMA PALAVRA PROFÉTICA NESSA
RELAÇÃO
Acredito que a
falta de compreensão da palavra profética que se encontra nestes versos na
relação trabalho e descanso é a causa de algumas seitas ainda guardarem o dia
do sábado como o dia do descanso.
Deus criou todas
as coisas em seis dias, no sétimo descansou (shabbat) de sua obra. Isso
significa que Deus cessou toda obra criativa por haver terminado. Nada mais
precisava ser criado. A criação estava completa. Portanto Deus descansou do ato
criativo (Gn 2.3). Isso não significa que Deus parou de trabalhar, Ele continua
ativo governando sobre tudo o que criou.
O homem foi
criado por Deus no sexto dia e colocado em um jardim no Éden. Deus deu ao ser
humano o trabalho de cuidar e cultivar este jardim (Gn 2.15). Portanto o
trabalho não é algo de ruim, sempre fez parte do projeto de Deus para nós. Contudo
quando o ser humano decidiu romper com Deus e seguir seus próprios pensamentos,
viver independente de Deus, toda a criação sofreu os danos dessa escolha. A
terra se tornou maldita e o trabalho se tornou para o ser humano uma tarefa
pesada e cansativa (Gn 3.17-19). Por isso mesmo é importante que o ser humano
respeite o limite de seu corpo e valorize o seu descanso.
O sofrimento
causado pelo trabalho físico sobre nós terá seu fim quando Jesus voltar
novamente a terra e estabelecer definitivamente seu reino sobre nós. Na cruz
Jesus já reconciliou todas as coisas (Cl 1.19,20), inclusive reconciliou a
terra conosco e então não mais sentiremos cansaço e peso ao desenvolvermos
nossos trabalhos. Por isso
Jesus é o nosso descanso, o nosso sábado eterno, pois Nele viveremos uma vida não
mais debaixo da maldição imposta sobre esta terra. Jesus nos levará a vivermos
numa nova terra, uma terra reconciliada com Deus e com a humanidade.
O rompimento do
homem com Deus também fez com que fosse necessário Deus criar um caminho para
que o homem pudesse novamente se reconciliar com Ele. Deus então apresenta um
esboço, um pequeno resumo do seu plano de reconciliação ainda no Éden, conforme
podemos ler no livro de Gênesis 3.15. Até que este plano chegasse ao seu ápice
e fosse executado, na pessoa de Jesus Cristo, Deus escolheu um povo, os judeus,
para através deles se revelar a toda humanidade e tornar conhecido seu plano de
salvação.
Visto que nenhum
homem foi encontrado sem pecado e sendo Deus santo, justo e amoroso, Ele proveu
a este povo um caminho por meio de sacrifícios de animais para que o homem
pudesse entrar em sua presença. Este caminho era trabalhoso e custava a vida de
muitos animais inocentes. Entretanto este caminho foi dado por Deus como sombra
do sacrifício que Deus iria prover na cruz pela humanidade. Deus estava
apontando para Cristo o Cordeiro que tiraria o pecado do mundo e abrindo as
portas do céu para sempre a humanidade. O homem não precisaria mais sacrificar
animais para ter comunhão com Deus. Este trabalho se torna a partir de Cristo
acabado. Por isso Jesus
Cristo é o descanso para todo pecador. Jesus é o sábado eterno para os que nele
se refugiam. Não precisamos fazer mais sacrifício algum para entrarmos na
presença de Deus. Cristo fez tudo por nós. Só precisamos nos apropriar pela fé
desta verdade.
Deus também
estabeleceu com esse povo uma aliança firmada sob um conjunto de leis, que
chamamos “Lei Mosaica”, os hebreus a chamam de “Torá”. Segundo o apóstolo Paulo
a lei foi dada aos homens para apontar nossa incapacidade de nos salvarmos (Rm
3.20). A lei ela não nos justifica, mas pelo contrário, ela nos condena e nos
faz carregarmos um peso de culpa e inutilidade diante o desejo de vivermos uma
vida santa.
Os
judeus estavam constantemente "trabalhando" para tornarem-se
aceitáveis a Deus. Eles tentavam obedecer às diversas regras da lei cerimonial,
da lei do templo e da lei civil. Mas parece que quanto mais se esforçavam para
obedecê-las, mais hipócritas se tornavam, pois percebiam que não conseguiam cumpri-las
fielmente, contudo faziam de tudo para que as pessoas pensassem que eles as
cumpriam. Quanto mais desejavam obedecer às leis, mais legalistas se tornavam,
pois passavam a exigir das pessoas o que eles não conseguiam cumprir, mas que
fingiam cumprir. Quanto mais trabalhavam para cumpri-las, mas religiosos se
tornavam, pois mais confiavam em seus esforços do que na graça de Deus.
Jesus
veio ao mundo para cumprir toda a Lei Mosaica (Mt 5.17), e ele a cumpriu (Rm
10.4). A Lei Mosaica apontava para Jesus, o Cristo e Cordeiro de Deus, tendo o
seu encerramento em Jesus Cristo. Não vivemos mais debaixo da Lei (Gl 3.22-25).
Jesus cumpriu a Lei para todos, mas Sua obra é eficaz apenas para
todo aquele que Nele crê. Por isso afirmo mais uma vez, Jesus é o nosso descanso, o nosso sábado,
Nele podemos repousar seguros sabendo que fomos justificados, não por nossas
obras, mas pelo seu precioso sangue derramado no Calvário. Jesus cumpriu toda
Lei Mosaica e nos fez participantes de sua justiça, por isso temos paz com
Deus, mediante a fé. Isso é sábado. Isso é o verdadeiro descanso, que só
aqueles que creem em Jesus podem desfrutar.
REFLEXÃO FINAL
Você
está cansado? Cansado dos discursos moralistas? Dos discursos religiosos? Dos
discursos exigindo mais produtividade? Dos discursos do corpo perfeito? Dos
discursos homofóbicos? Heterofônicos? Ainda
não encontrou descanso para sua alma? Está cansado da vida? Jesus te chama para
descansar Nele. Jesus tem o discurso que abraça toda alma cansada e
sobrecarregada. Jesus te convida a descansar Nele.
28 "Venham a mim, todos os
que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. 29 Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois
sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas
almas. 30 Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve". (Mateus 11.28-30)
Pr. Cornélio
Póvoa de Oliveira
09/02/2020
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