ESPIRITUALIDADE CENTRADA NO OUTRO
Estamos
iniciando uma nova série cujo tema é: “Espiritualidade Centrada no Outro”. Nosso
objetivo como cristãos e como igreja é trabalharmos com Deus. Somente podemos
trabalhar com Deus quando servimos o outro.
Não existe
espiritualidade sadia quando ela não é centrada no outro, quando ela não é
direcionada ao outro. Uma espiritualidade somente vertical, direcionada somente
a Deus não é uma espiritualidade sadia.
27 A religião que Deus, o nosso
Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas
dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo. (Tiago
1.27)
Tiago está
dizendo que para uma espiritualidade sadia duas coisas são necessárias. A
primeira é cuidar dos órfãos e das viúvas, isto é, ter o outro como objeto de
seu serviço a Deus. Chamamos isto de espiritualidade centrada no outro. A
segunda coisa necessária para uma espiritualidade sadia, segundo Tiago, é não
se deixar corromper pelo mundo, isto é, você deve viver no mundo regido pelos
valores e princípios dos céus onde Deus está. Nós sabemos que todas as ações e
falas de Deus estão fundamentadas no amor que sente por sua criação. Até mesmo
o juízo de Deus visa trazer concerto, e por isso, é também um ato de amor.
A visão de nossa
igreja – Ser uma comunidade onde cada
membro seja uma expressão do amor de Deus onde estiver – é uma declaração
de espiritualidade centrada no outro, mas que nasce de uma espiritualidade
centrada em Deus. Não podemos ser comunidade, sem que primeiro estejamos todos
conectados em Jesus Cristo, e não podemos ser uma expressão do amor de Deus sem
que experimentemos primeiro o amor de Deus em nossas vidas.
Mas o que
significa sermos uma comunidade? O que queremos dizer quando afirmamos que nossa
visão é ser uma comunidade? Primeiro vamos definir o que é uma comunidade.
1 – DEFININDO UMA COMUNIDADE
A palavra comunidade tem origem no termo latim communitas. O conceito refere-se à
qualidade daquilo que é comum. Comunidade é o nome dado a um agrupamento de pessoas
unidas em torno de algo comum a todas elas. O que as une pode ser a crença (que
é o nosso caso). Mas pode ser também um espaço geográfico (por exemplo: Comunidade
de Paraisópolis); ou ainda trabalho, ideologias ou quaisquer outros tipos de
laços que as unem.
Quando nós a Igreja
de Jesus Cristo falamos de sermos uma comunidade, estamos falando de vivermos
como comunidade. Não estamos falando somente de termos crenças comuns que nos
identificam como cristãos, por exemplo:
·
Cremos
que Jesus Cristo é o Filho de Deus, nascido da virgem Maria, que morreu
crucificado por nossos pecados e que ressuscitou ao terceiro dia.
Este credo nos
identifica como cristãos. Mas apenas termos o mesmo credo não nos torna
comunidade de fato. É preciso que tenhamos a mesma experiência vivida pela
igreja em seus primórdios.
42 Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos
e à comunhão (Kοινωνίᾳ - koinōnia), ao partir do pão e às orações. 43 Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e
sinais eram feitos pelos apóstolos. 44 Todos os que criam mantinham-se
unidos e tinham tudo em comum (Kοινά – koiná). (Atos 2.42-44)
Eu quero
destacar duas palavras nos versos que lemos. A primeira palavra: comunhão, do
grego koinōnia. E a segunda
palavra: comum, do grego koiná. A palavra koinōnia tem sua raiz na palavra
koiná.
Lucas diz que a igreja em seus primórdios se dedicava a
comunhão, isto é, ela perseverava na comunhão. Isto significa que os crentes
daquela igreja, independente das circunstâncias, fugindo de Roma ou confinados
por causa de uma epidemia como a que vivemos em nossos dias, eles se mantinham
em parceria, compartilhavam tudo o que possuíam uns com os outros, participavam
ativamente da vida uns dos outros com o fim de se ajudarem e também de se edificarem
uns aos outros.
Lucas afirma ainda que eles mantinham-se unidos e tinham
tudo em comum. Nós podemos nos manter unidos, congregarmos juntos, mas não
termos nada em comum.
Uma comunidade
só se torna de fato comunidade quando todos seus membros possuem uma
espiritualidade centrada no outro. Quando cada membro se vê no outro. Quando
cada membro se compreende como continuidade do outro e interdependente do
outro. Quando cada membro dessa comunidade se vê como parte do mesmo corpo que
o outro. Portanto nos tornamos comunidade quando temos comunhão uns com os
outros, quando o que afeta o outro me afeta também, seja negativamente ou
positivamente. Alegro-me com a alegria do outro, me entristeço com a dor do
outro. Portanto a marca de uma comunidade é a mutualidade.
2 – A MARCA DE UMA COMUNIDADE É A
MUTUALIDADE
Mutualidade é
uma palavra que vem do latim mutuus e
quer dizer reciprocidade, troca. No Novo Testamento existem diversos imperativos
de mutualidade. No grego o pronome reciproco é derivado da palavra allos (outros) e estes vêm sempre
acompanhados do verbo na forma imperativa, indicando uma ordem. Dessa forma temos sempre uma ordem
reciproca. Por exemplo: suportai-vos uns aos outros; perdoai uns aos outros.
A Mutualidade
Cristã é a prática do “uns aos outros”. Logo, se existe comunhão na Igreja, ela
deve se exteriorizar através da mutualidade, se não, não há verdadeira
comunhão.
Não existe
comunidade se não houver comunhão, assim como, não existe comunhão se não
houver mutualidade. Estas duas palavras trazem ideias muito parecidas, mas é
interessante diferenciá-las para uma melhor compreensão.
Comunhão diz
respeito ao estado de um grupo e mutualidade a ação do grupo. É uma simples
relação de causa e efeito. Comunhão é o estado alcançado pela prática da
mutualidade. Comunhão significa ter em comum com o outro, no que somos e temos.
É se encontrar exatamente no estado que os cristãos primitivos se encontravam: Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em
comum
(Atos 2.44).
Eles estavam em
comunhão. Isto acontecia na igreja primitiva porque eles dividiam tudo que
possuíam uns com os outros. Eles dividiam o conhecimento da Palavra (através do
ensino, da admoestação, do consolo, do encorajamento, dos cânticos espirituais),
também dividiam o sustento e compartilhavam seus dons uns com os outros. Esse
compartilhar de tudo uns com os outros é que os levavam a se encontrarem no
estado de comunhão.
Se tivermos algo
em comum, temos algo que nos torna uma comunidade. Por exemplo: temos em nós o
Espírito de Deus em comum, temos uma visão em comum, um sonho em comum como
igreja em Itapevi; isto nos torna uma comunidade.
A comunhão é a
compreensão de que vivo nessa comunidade, que sou somente um membro dessa
comunidade e não a comunidade. Precisamos compreender que somos um membro do
Corpo de Cristo e não o Corpo de Cristo.
Quando vivo a
mutualidade, isto é, quando ponho em prática ações concretas visando o bem
comum de toda comunidade, não o meu bem, mas o bem de todo o Corpo de Cristo do
qual faço parte, a comunhão se torna real entre nós, e eu contribuo com meu dom,
meu conhecimento e com meu sustento para o fortalecimento da minha comunidade. Em
outras palavras, dessa forma eu contribuo para o crescimento do corpo de Cristo,
através da minha igreja local e torno a comunhão onde estou uma realidade.
Portanto o seu
desafio é viver a mutualidade ordenada por Deus a nós através da Bíblia.
Vejamos algumas mutualidades cristãs.
3 – AS MUTUALIDADES CRISTÃS
Dos trinta e seis
mandamentos mútuos existentes no Novo Testamento, Lowell Bailey destacou vinte
e cinco mandamentos, nos quais ele os divide em quatro módulos, conforme
podemos ver em seu livro 25 Segredos Para
Derrotar a Crise da Comunhão:
Módulo 1 – Os Discípulos Valorizam
Relacionamentos (Neste módulo estão agrupados os mandamentos que tem a
finalidade de nos aproximarmos uns dos outros, de criar entre nós uma relação
amorosa saudável)
1. Amem-se uns aos
outros (Rm 12.10)
2. Aceitem-se uns aos
outros (Rm 15.7)
3. Saúdem-se uns aos
outros (2 Co 13.12)
4. Cuidai uns dos outros
(1 Co 12.25)
5. Sujeitem-se uns aos
outros (Ef 5.21 -22)
6. Suportem-se uns aos
outros (Cl 3.13)
Módulo 2 – Os Discípulos Protegem o
Corpo Contra a Poluição e a Infecção (Neste módulo Lowell Bailey agrupou os
mandamentos que tem a finalidade de evitar os conflitos entre nós cristãos e
também de promover a cura entre nós).
7. Não tenham inveja uns
dos outros (Gl 5.26)
8. Deixem de julgar uns
aos outros (Rm 14.13)
9. Não se queixem uns
dos outros (Tg 5.9)
10. Não falem mal uns dos
outros (Tg 4.11)
11. Não mordam e devorem
uns aos outros (Gl 5.15)
12. Não provoquem uns aos
outros (Gl 5.26)
13. Não mintam uns aos
outros (Cl 3.9)
14. Confessem os seus
pecados uns aos outros (Tg 5.16)
15. Perdoai-vos uns aos
outros (Tg 5.15)
Módulo 3 – Os Discípulos Contribuem
Para o Crescimento Uns dos Outros (Neste módulo foram agrupados os mandamentos
que nos ordena investirmos no outro, nos dedicarmos no crescimento do outro).
16. Edifiquem-se uns aos
outros (1 Ts 5.11)
17. Ensinem uns aos
outros (Cl 3.16)
18. Encorajem uns aos
outros (At 13.15)
19. Aconselhem-se uns aos
outros (1 Ts 5.12)
20. Cantem uns para os
outros (Cl 3.16)
Módulo 4 – Os Discípulos Servem Uns aos
Outros (Neste último módulo Lowell Bailey agrupou os mandamentos que nos
incentivam a prática do que ensinamos uns aos outros).
21. Sirvam uns aos outros
(1 Pe 4.10)
22. Levem as cargas uns
dos outros (Gl 6.2)
23. Hospedem uns aos
outros (1 Pe 4.9)
24. Sejam bondosos uns
para com os outros (Ef 4.32)
25. Orem uns pelos outros
(Tg 5.16)
Quando
praticarmos todos estes mandamentos nós experimentaremos todo o potencial da diversidade
do Corpo de Cristo e nos tornaremos de fato uma comunidade em plena comunhão
uns com os outros, onde o amor de Deus é expresso através de cada um de seus
membros.
REFLEXÃO FINAL
Quero
concluir fazendo uma reflexão final baseada nas palavras do apóstolo Paulo para
a igreja de Roma. Paulo diz aos irmãos romanos a seguintes palavras:
4 Assim como cada um de nós tem
um corpo com muitos membros e esses membros não exercem todos a mesma função, 5 assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos
um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros. (Romanos 12.4,5)
O
primeiro desafio para vivermos uma espiritualidade centrada no outro é cada
membro do Corpo de Cristo entender o que significa ser membro de uma comunidade
local chamada “igreja”, e entender o que significa ser membro do Corpo de
Cristo. Paulo está dizendo que num corpo existem diferentes partes que executam
funções diferentes, mas que cada parte é interdependente da outra. Assim, uma
parte depende da outra. Um membro do corpo só subsiste ligado aos demais
membros do corpo. E um membro do corpo só pode estar ligado aos demais membros
do corpo quando ele está ligado e interagindo ativamente com um, dois ou três
membros do corpo. Uma mão só faz parte do corpo quando ela está ligada ao
braço; por sua vez o braço só tem sentido no corpo quando ele está ligado ao
tronco e a mão. Por isso precisamos participar de um grupo pequeno ou de um
ministério, pois dessa forma ficamos conectados a todo o corpo, a toda igreja
da qual fazemos parte.
6 Temos diferentes dons, de
acordo com a graça que nos foi dada. Se alguém tem o dom de profetizar, use-o
na proporção da sua fé. 7 Se o seu dom é
servir, sirva; se é ensinar, ensine; 8 se é dar ânimo, que assim faça;
se é contribuir, que contribua generosamente; se é exercer liderança, que a
exerça com zelo; se é mostrar misericórdia, que o faça com alegria. (Romanos 12.6-8)
O segundo desafio para vivermos uma
espiritualidade centrada no outro é vivermos “bem ajustados”. Isto
significa que cada um de nós precisa saber qual sua função no corpo, qual dom
possui e servir o outro a partir de seu dom. Aquele que nega servir o outro com
seu dom, está agindo em oposição ao Corpo de Cristo, está sabotando o Corpo de
Cristo, e isto é pecado. Portanto não basta ser membro de uma igreja local é
preciso participar ativamente de suas atividades, contribuindo com todos os
recursos que Deus disponibilizou a você, isto é, com seus dons, com seu
conhecimento, com sua presença e também com seus recursos financeiros.
Na
medida em que cada parte coopera no serviço do corpo, na medida em que cada
membro realiza a sua função na comunidade e respeita a função do outro,
reconhecendo seu valor para o corpo e para a comunidade local, todo o corpo
cresce bem ajustado. O corpo cresce
quando todas as partes atuam de forma correta, cada um no seu lugar buscando
agir com excelência e valorizando o serviço do outro.
Portanto
só vivemos uma espiritualidade centrada no outro quando reconhecemos que somos
parte de um corpo e que ser membro de uma comunidade local é assumirmos que
praticaremos os mandamentos de mutualidades que nos foram dadas por Deus
através de Sua Palavra. Diante disso neste mês estaremos refletindo em alguns
destes mandamentos de mutualidade com o fim de que possamos praticá-los e nos
disponibilizarmos para que Deus faça grandes coisas entre nós e a partir de
nós. Deus te abençoe. Oremos...
Pr.
Cornélio Póvoa de Oliveira
03/05/2020
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