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segunda-feira, 27 de abril de 2020

SERMÕES 130 - ESPIRITUALIDADE CENTRADA NO OUTRO


ESPIRITUALIDADE CENTRADA NO OUTRO

Estamos iniciando uma nova série cujo tema é: “Espiritualidade Centrada no Outro”. Nosso objetivo como cristãos e como igreja é trabalharmos com Deus. Somente podemos trabalhar com Deus quando servimos o outro.
Não existe espiritualidade sadia quando ela não é centrada no outro, quando ela não é direcionada ao outro. Uma espiritualidade somente vertical, direcionada somente a Deus não é uma espiritualidade sadia.
27 A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo. (Tiago 1.27)
Tiago está dizendo que para uma espiritualidade sadia duas coisas são necessárias. A primeira é cuidar dos órfãos e das viúvas, isto é, ter o outro como objeto de seu serviço a Deus. Chamamos isto de espiritualidade centrada no outro. A segunda coisa necessária para uma espiritualidade sadia, segundo Tiago, é não se deixar corromper pelo mundo, isto é, você deve viver no mundo regido pelos valores e princípios dos céus onde Deus está. Nós sabemos que todas as ações e falas de Deus estão fundamentadas no amor que sente por sua criação. Até mesmo o juízo de Deus visa trazer concerto, e por isso, é também um ato de amor.
A visão de nossa igreja – Ser uma comunidade onde cada membro seja uma expressão do amor de Deus onde estiver – é uma declaração de espiritualidade centrada no outro, mas que nasce de uma espiritualidade centrada em Deus. Não podemos ser comunidade, sem que primeiro estejamos todos conectados em Jesus Cristo, e não podemos ser uma expressão do amor de Deus sem que experimentemos primeiro o amor de Deus em nossas vidas.
Mas o que significa sermos uma comunidade? O que queremos dizer quando afirmamos que nossa visão é ser uma comunidade? Primeiro vamos definir o que é uma comunidade.

1 – DEFININDO UMA COMUNIDADE
A palavra comunidade tem origem no termo latim communitas. O conceito refere-se à qualidade daquilo que é comum. Comunidade é o nome dado a um agrupamento de pessoas unidas em torno de algo comum a todas elas. O que as une pode ser a crença (que é o nosso caso). Mas pode ser também um espaço geográfico (por exemplo: Comunidade de Paraisópolis); ou ainda trabalho, ideologias ou quaisquer outros tipos de laços que as unem.
Quando nós a Igreja de Jesus Cristo falamos de sermos uma comunidade, estamos falando de vivermos como comunidade. Não estamos falando somente de termos crenças comuns que nos identificam como cristãos, por exemplo:
·      Cremos que Jesus Cristo é o Filho de Deus, nascido da virgem Maria, que morreu crucificado por nossos pecados e que ressuscitou ao terceiro dia.
Este credo nos identifica como cristãos. Mas apenas termos o mesmo credo não nos torna comunidade de fato. É preciso que tenhamos a mesma experiência vivida pela igreja em seus primórdios.
42 Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão (Kοινωνίᾳ - koinōnia), ao partir do pão e às orações. 43 Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. 44 Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum (Kοινά – koiná). (Atos 2.42-44)
Eu quero destacar duas palavras nos versos que lemos. A primeira palavra: comunhão, do grego koinōnia. E a segunda palavra: comum, do grego koiná. A palavra koinōnia tem sua raiz na palavra koiná.
Lucas diz que a igreja em seus primórdios se dedicava a comunhão, isto é, ela perseverava na comunhão. Isto significa que os crentes daquela igreja, independente das circunstâncias, fugindo de Roma ou confinados por causa de uma epidemia como a que vivemos em nossos dias, eles se mantinham em parceria, compartilhavam tudo o que possuíam uns com os outros, participavam ativamente da vida uns dos outros com o fim de se ajudarem e também de se edificarem uns aos outros.
Lucas afirma ainda que eles mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Nós podemos nos manter unidos, congregarmos juntos, mas não termos nada em comum.
Uma comunidade só se torna de fato comunidade quando todos seus membros possuem uma espiritualidade centrada no outro. Quando cada membro se vê no outro. Quando cada membro se compreende como continuidade do outro e interdependente do outro. Quando cada membro dessa comunidade se vê como parte do mesmo corpo que o outro. Portanto nos tornamos comunidade quando temos comunhão uns com os outros, quando o que afeta o outro me afeta também, seja negativamente ou positivamente. Alegro-me com a alegria do outro, me entristeço com a dor do outro. Portanto a marca de uma comunidade é a mutualidade.

2 – A MARCA DE UMA COMUNIDADE É A MUTUALIDADE
Mutualidade é uma palavra que vem do latim mutuus e quer dizer reciprocidade, troca. No Novo Testamento existem diversos imperativos de mutualidade. No grego o pronome reciproco é derivado da palavra allos (outros) e estes vêm sempre acompanhados do verbo na forma imperativa, indicando uma ordem. Dessa forma temos sempre uma ordem reciproca. Por exemplo: suportai-vos uns aos outros; perdoai uns aos outros.
A Mutualidade Cristã é a prática do “uns aos outros”. Logo, se existe comunhão na Igreja, ela deve se exteriorizar através da mutualidade, se não, não há verdadeira comunhão.
Não existe comunidade se não houver comunhão, assim como, não existe comunhão se não houver mutualidade. Estas duas palavras trazem ideias muito parecidas, mas é interessante diferenciá-las para uma melhor compreensão.
Comunhão diz respeito ao estado de um grupo e mutualidade a ação do grupo. É uma simples relação de causa e efeito. Comunhão é o estado alcançado pela prática da mutualidade. Comunhão significa ter em comum com o outro, no que somos e temos. É se encontrar exatamente no estado que os cristãos primitivos se encontravam: Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum (Atos 2.44).
Eles estavam em comunhão. Isto acontecia na igreja primitiva porque eles dividiam tudo que possuíam uns com os outros. Eles dividiam o conhecimento da Palavra (através do ensino, da admoestação, do consolo, do encorajamento, dos cânticos espirituais), também dividiam o sustento e compartilhavam seus dons uns com os outros. Esse compartilhar de tudo uns com os outros é que os levavam a se encontrarem no estado de comunhão.
Se tivermos algo em comum, temos algo que nos torna uma comunidade. Por exemplo: temos em nós o Espírito de Deus em comum, temos uma visão em comum, um sonho em comum como igreja em Itapevi; isto nos torna uma comunidade.
A comunhão é a compreensão de que vivo nessa comunidade, que sou somente um membro dessa comunidade e não a comunidade. Precisamos compreender que somos um membro do Corpo de Cristo e não o Corpo de Cristo.
Quando vivo a mutualidade, isto é, quando ponho em prática ações concretas visando o bem comum de toda comunidade, não o meu bem, mas o bem de todo o Corpo de Cristo do qual faço parte, a comunhão se torna real entre nós, e eu contribuo com meu dom, meu conhecimento e com meu sustento para o fortalecimento da minha comunidade. Em outras palavras, dessa forma eu contribuo para o crescimento do corpo de Cristo, através da minha igreja local e torno a comunhão onde estou uma realidade.
Portanto o seu desafio é viver a mutualidade ordenada por Deus a nós através da Bíblia. Vejamos algumas mutualidades cristãs.

3 – AS MUTUALIDADES CRISTÃS 
Dos trinta e seis mandamentos mútuos existentes no Novo Testamento, Lowell Bailey destacou vinte e cinco mandamentos, nos quais ele os divide em quatro módulos, conforme podemos ver em seu livro 25 Segredos Para Derrotar a Crise da Comunhão

Módulo 1 – Os Discípulos Valorizam Relacionamentos (Neste módulo estão agrupados os mandamentos que tem a finalidade de nos aproximarmos uns dos outros, de criar entre nós uma relação amorosa saudável)
1.      Amem-se uns aos outros (Rm 12.10)
2.      Aceitem-se uns aos outros (Rm 15.7)
3.      Saúdem-se uns aos outros (2 Co 13.12)
4.      Cuidai uns dos outros (1 Co 12.25)
5.      Sujeitem-se uns aos outros (Ef 5.21 -22)
6.      Suportem-se uns aos outros (Cl 3.13)

Módulo 2 – Os Discípulos Protegem o Corpo Contra a Poluição e a Infecção (Neste módulo Lowell Bailey agrupou os mandamentos que tem a finalidade de evitar os conflitos entre nós cristãos e também de promover a cura entre nós).
7.      Não tenham inveja uns dos outros (Gl 5.26)
8.      Deixem de julgar uns aos outros (Rm 14.13)
9.      Não se queixem uns dos outros (Tg 5.9)
10.  Não falem mal uns dos outros (Tg 4.11)
11.  Não mordam e devorem uns aos outros (Gl 5.15)
12.  Não provoquem uns aos outros (Gl 5.26)
13.  Não mintam uns aos outros (Cl 3.9)
14.  Confessem os seus pecados uns aos outros (Tg 5.16)
15.  Perdoai-vos uns aos outros (Tg 5.15)

Módulo 3 – Os Discípulos Contribuem Para o Crescimento Uns dos Outros (Neste módulo foram agrupados os mandamentos que nos ordena investirmos no outro, nos dedicarmos no crescimento do outro).
16.  Edifiquem-se uns aos outros (1 Ts 5.11)
17.  Ensinem uns aos outros (Cl 3.16)
18.  Encorajem uns aos outros (At 13.15)
19.  Aconselhem-se uns aos outros (1 Ts 5.12)
20.  Cantem uns para os outros (Cl 3.16)

Módulo 4 – Os Discípulos Servem Uns aos Outros (Neste último módulo Lowell Bailey agrupou os mandamentos que nos incentivam a prática do que ensinamos uns aos outros).
21.  Sirvam uns aos outros (1 Pe 4.10)
22.  Levem as cargas uns dos outros (Gl 6.2)
23.  Hospedem uns aos outros (1 Pe 4.9)
24.  Sejam bondosos uns para com os outros (Ef 4.32)
25.  Orem uns pelos outros (Tg 5.16) 

Quando praticarmos todos estes mandamentos nós experimentaremos todo o potencial da diversidade do Corpo de Cristo e nos tornaremos de fato uma comunidade em plena comunhão uns com os outros, onde o amor de Deus é expresso através de cada um de seus membros.

REFLEXÃO FINAL
Quero concluir fazendo uma reflexão final baseada nas palavras do apóstolo Paulo para a igreja de Roma. Paulo diz aos irmãos romanos a seguintes palavras:
4 Assim como cada um de nós tem um corpo com muitos membros e esses membros não exercem todos a mesma função, 5 assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros. (Romanos 12.4,5)
O primeiro desafio para vivermos uma espiritualidade centrada no outro é cada membro do Corpo de Cristo entender o que significa ser membro de uma comunidade local chamada “igreja”, e entender o que significa ser membro do Corpo de Cristo. Paulo está dizendo que num corpo existem diferentes partes que executam funções diferentes, mas que cada parte é interdependente da outra. Assim, uma parte depende da outra. Um membro do corpo só subsiste ligado aos demais membros do corpo. E um membro do corpo só pode estar ligado aos demais membros do corpo quando ele está ligado e interagindo ativamente com um, dois ou três membros do corpo. Uma mão só faz parte do corpo quando ela está ligada ao braço; por sua vez o braço só tem sentido no corpo quando ele está ligado ao tronco e a mão. Por isso precisamos participar de um grupo pequeno ou de um ministério, pois dessa forma ficamos conectados a todo o corpo, a toda igreja da qual fazemos parte.
6 Temos diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi dada. Se alguém tem o dom de profetizar, use-o na proporção da sua fé. 7 Se o seu dom é servir, sirva; se é ensinar, ensine; 8 se é dar ânimo, que assim faça; se é contribuir, que contribua generosamente; se é exercer liderança, que a exerça com zelo; se é mostrar misericórdia, que o faça com alegria. (Romanos 12.6-8)
O segundo desafio para vivermos uma espiritualidade centrada no outro é vivermos “bem ajustados”. Isto significa que cada um de nós precisa saber qual sua função no corpo, qual dom possui e servir o outro a partir de seu dom. Aquele que nega servir o outro com seu dom, está agindo em oposição ao Corpo de Cristo, está sabotando o Corpo de Cristo, e isto é pecado. Portanto não basta ser membro de uma igreja local é preciso participar ativamente de suas atividades, contribuindo com todos os recursos que Deus disponibilizou a você, isto é, com seus dons, com seu conhecimento, com sua presença e também com seus recursos financeiros.
Na medida em que cada parte coopera no serviço do corpo, na medida em que cada membro realiza a sua função na comunidade e respeita a função do outro, reconhecendo seu valor para o corpo e para a comunidade local, todo o corpo cresce bem ajustado.  O corpo cresce quando todas as partes atuam de forma correta, cada um no seu lugar buscando agir com excelência e valorizando o serviço do outro.  
Portanto só vivemos uma espiritualidade centrada no outro quando reconhecemos que somos parte de um corpo e que ser membro de uma comunidade local é assumirmos que praticaremos os mandamentos de mutualidades que nos foram dadas por Deus através de Sua Palavra. Diante disso neste mês estaremos refletindo em alguns destes mandamentos de mutualidade com o fim de que possamos praticá-los e nos disponibilizarmos para que Deus faça grandes coisas entre nós e a partir de nós. Deus te abençoe. Oremos...


Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
03/05/2020


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