SERMÕES 144 - DESCANSO

 PONHA ORDEM NO SEU MUNDO INTERIOR:

DESCANSO

 

Gordon MacDonal, autor do livro “Ponha Ordem no Seu Mundo Interior”, afirma que nós cristãos devemos guardar o princípio do descanso. Segundo ele o descanso promove a restauração de nosso homem interior. O princípio do descanso ordenado por Deus tem por objetivo fazer com que o homem pare para avaliar, contemplar e se regozijar no que já realizou, como também o descanso no sétimo dia deve levá-lo a olhar para o futuro e se organizar no presente para vivê-lo de forma a alcançar os projetos de Deus.  Portanto o descanso sabático, segundo Gordon MacDonald, não visa se tornar um dia para entretenimento, mas para uma restauração do nosso homem interior.

Nós cristãos pouco falamos sobre o princípio do descanso, do quarto mandamento ordenado na Lei de Moisés. Penso que pouco falamos por ser um assunto muito controverso entre nós cristãos. Mas hoje vou me deter neste princípio devido ao seu valor para a restauração do nosso homem interior e também de nossa saúde física.

Cristãos de diferentes denominações concordam que é errado cultuar ídolos, blasfemar, desrespeitar os pais ou cometer assassinato. Quando o assunto é a guarda do Dia do Senhor, o entendimento comum desaparece.

Alguns defendem que é necessário guardar literalmente o sétimo dia, o sábado de nosso calendário baseados na Aliança Mosaica do Antigo Testamento (os adventistas e os judeus messiânicos). Outros defendem a guarda do sétimo dia, mas compreendem que o sétimo dia é o primeiro dia de nosso calendário, o domingo, baseados na Nova Aliança estabelecida por Jesus (católicos, protestantes, evangélicos e nós batistas).

Outros afirmam que na Nova Aliança, firmada pelo sangue de Jesus na cruz, todos os dias são santos, portanto o crente não deve se preocupar em guardar qualquer dia em particular, mas viver todos os dias como se fossem o sétimo dia do Senhor (linhas do protestantismo e evangélicos).

Mas o que temos visto em nossos dias e cada vez mais são cristãos desfrutando do dia do Senhor, seja qual o dia que ele guarde, de modo muito semelhante aos não-cristãos. Nós cristãos não temos dado o valor devido ao dia do descanso. O sétimo dia foi santificado por Deus com o fim de produzir descanso a nossa alma e ao nosso físico e dessa forma restaurar nosso homem interior. Este descanso restaurador do nosso homem interior só pode ser experimentado numa comunhão profunda com Jesus Cristo. Por isso hoje quero refletir com vocês sobre o princípio do descanso.

O primeiro ponto que quero destacar a respeito do princípio do descanso é que ele surgiu antes da queda do homem no Éden.

 

1 – O DESCANSO SURGIU ANTES DA QUEDA

Uma das grandes razões para a existência do conflito entre os cristãos a respeito do dia do descanso se encontra no dia da semana em que deve ser guardado. Quando Moisés apresentou o quarto mandamento da Lei de Deus, se definiu que o sétimo dia para o descanso, conforme pode ler em Êxodo 20.8-11.

8 Lembra-te do dia de sábado (shabbat), para santificá-lo. 9 Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, 10 mas o sétimo dia é o sábado (shabbat) dedicado ao Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus servos ou servas, nem teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas cidades. 11 Pois em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o Senhor abençoou o sétimo dia e o santificou. (Êxodo 20.8-11)

A palavra shabbat foi transliterada e não traduzida, dando origem à palavra sábado de nosso calendário. A palavra shabbat significa descanso, tomar alento. Portanto o sábado de nosso calendário é o sétimo dia da semana. Acredito que isso é indiscutível e como já dissemos alguns cristãos se apegam a essa verdade fundamentada na Antiga Aliança.

Contudo a grande maioria dos cristãos de hoje desconsideram este princípio do descanso por compreenderem que Jesus cumpriu toda a lei, libertando-os da maldição da lei. De fato Jesus cumpriu toda a lei de Moisés, tanto na esfera cerimonial, civil e moral. Dessa forma ele pode morrer a nossa morte e nos libertar da maldição da lei. Nós não conseguimos cumprir a lei plenamente, por isso Jesus veio ao mundo e se fez homem. Somente Ele poderia cumpri-la.

Paulo afirma que ele foi obediente até a morte, e assim nos libertou da Lei de Moisés que denunciava nossa natureza pecaminosa, ao mesmo tempo, que ela nos apontava a justiça de Deus; e a obediência de Jesus também nos salvou da condenação eterna pagando com sua morte o salário do pecado.

Portanto não guardamos a Lei de Moisés com o fim de sermos salvos por ela, como fazem os adventistas, pois nossa salvação é fruto do sacrifício de Jesus Cristo na cruz, ela nos é dada mediante a fé na pessoa e obra de Jesus. Contudo devemos guardar os princípios ensinados por meio da Lei de Moisés, entre eles o princípio do descanso. Este princípio nos foi ensinado por Deus antes mesmo da Lei de Moisés, como podemos ver em Êx 20.8,11.

8 Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. [...] 11 Pois em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o Senhor abençoou o sétimo dia e o santificou. (Êxodo 20.8,11)

“Lembra-te do dia de sábado” essa expressão é uma afirmação que o princípio do descanso já era conhecido pelo povo Hebreu e que é relembrado por Moisés no verso onze. Por isso podemos afirmar que o princípio do descanso no sétimo dia é dado antes da lei de Moisés. O principio do descanso não está vinculado a Lei de Moisés. Estou falando do princípio ensinado por Deus e não de uma ordenança.

Nós batistas, assim como os cristãos católicos, reformados e muitos evangélicos guardamos o domingo como o dia do Senhor porque cremos que Jesus Cristo ressuscitou no domingo, inaugurando uma nova era, uma nova criação, onde entramos no descanso eterno prometido por Deus. Hoje vivenciamos esse descanso pela fé, e o experimentamos não completamente, pois aguardamos a manifestação plena do Reino de Deus, conforme descreve o autor de Hebreus 4.3a.

3a Pois nós, os que cremos, é que entramos naquele descanso. (Hebreus 4.3a)

O segundo ponto que quero destacar é que precisamos guardar o descanso.

 

2 – PRECISAMOS GUARDAR O DESCANSO

Creio que preciso deixar claro que não estou falando de guardar o sábado literalmente, pois tal afirmação seria contraria ao ensino bíblico. Estou falando de guardar o princípio do descanso ensinado por Deus.

O apóstolo Paulo já em seus dias confrontava os judeus que exigiam que os cristãos não-judeus guardassem o sábado literalmente. Diante estes confrontamentos Paulo escreve aos irmãos de Colosso a seguinte orientação:

16 Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. 17 Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo. (Colossenses 2.16,17)

Paulo estava combatendo a literalidade do cumprimento dessa lei, mas não o princípio da lei. O apóstolo afirmou claramente que a celebração dos dias de sábado são sombras do que haveria de vir e que Cristo é a realidade para a qual estas coisas apontavam.

Portanto a guarda literal do dia do sábado ou domingo não traz implicações negativas para nossa salvação, uma vez que elas apontam para Cristo que é a realidade por trás do significado do dia do descanso. Com isso Paulo está afirmando que Cristo é o nosso sábado real, é o nosso descanso verdadeiro. Nele encontramos descanso eterno para nossas vidas. Precisamos descansar nossas vidas em Cristo, pois Ele é o nosso redentor e consumador de nossa fé.

Aqueles que creem em Jesus Cristo se apropriam do descanso sabático prometido por Deus ao seu povo. Este descanso sabático é um descanso espiritual – um cessar eterno do domínio do pecado. O descanso sabático se concretiza por meio do novo nascimento, onde nossa nova vida em Cristo é vivenciada em plena comunhão com Deus.

A realidade de que em Jesus entramos no descanso prometido por Deus, não anula o valor existente no princípio de guardarmos o sétimo dia. Jesus nos ensina que o (sábado) descanso foi feito para o homem e não o homem foi feito para o descanso. Portanto o descanso foi feito para que o homem em Deus encontrasse restauração e refrigério para seu viver. O dia do descanso é o dia para lembrarmos também que um dia viveremos o descanso pleno e eterno. Toda luta, toda dor, toda lágrima cessará e tudo se fará novo. Nossa alma viverá, nosso espírito se renovará, nosso corpo pulará de alegria. Tudo novo se fará e você se deleitará e se alegrará eternamente em Deus. E assim será o nosso descanso eterno em Cristo.

Mas hoje não podemos nos esquecer que a Igreja de Cristo em seus primórdios guardava o sétimo dia no domingo. Portanto precisamos santificar o dia do descanso, pois a ausência da guarda do princípio do descanso pode trazer implicações graves ao nosso homem interior e consequentemente a nossa fé. Mediante essa verdade trataremos em nosso próximo ponto de como santificamos o dia do descanso.

 

3 – COMO SANTIFICAMOS O DIA DO DESCANSO?

Jesus nos ensina que...

 

1.      Santificamos o dia do descanso quando valorizamos mais a vida do que a religiosidade – A religiosidade é marcada por um culto ausente de misericórdia e carregada de legalismo. Jesus usa da palavra do profeta Oséias para afirmar que Deus deseja misericórdia e não sacrifícios. Ofertas apresentadas sem uma vida de amor é ofensa e não oferta a Deus. Essa verdade é ensinada no texto de Mateus 12.1-8.

1 Naquela ocasião Jesus passou pelas lavouras de cereal no sábado. Seus discípulos estavam com fome e começaram a colher espigas para comê-las. 2 Os fariseus, vendo aquilo, lhe disseram: "Olha, os teus discípulos estão fazendo o que não é permitido no sábado". 3 Ele respondeu: "Vocês não leram o que fez Davi quando ele e seus companheiros estavam com fome? 4 Ele entrou na casa de Deus, e juntamente com os seus companheiros comeu os pães da Presença, o que não lhes era permitido fazer, mas apenas aos sacerdotes. 5 Ou vocês não leram na Lei que, no sábado, os sacerdotes no templo profanam esse dia e, contudo, ficam sem culpa? 6 Eu lhes digo que aqui está o que é maior do que o templo. 7 Se vocês soubessem o que significam estas palavras: ‘Desejo misericórdia, não sacrifícios’, não teriam condenado inocentes. 8 Pois o Filho do homem é Senhor do sábado". (Mateus 12.1-8)

 

2.      Santificamos o dia do descanso quando fazemos o bem – Jesus é o nosso referencial de como devemos viver e sem dúvida é o nosso referencial de como devemos santificar o dia do descanso. Ele afirma que nos é permitido fazer o bem no sábado, no dia do descanso. Curar pessoas, socorrer necessitados, confortar os feridos, abrigar os desabrigados, alimentar os famintos, lutar pelos injustiçados e tratar o seu próximo com amor. Através de todas estas atitudes você está santificando o dia do descanso e alegrando o coração de Deus.

Mas creio que seja relevante dizer, devido aos dias em que vivemos, que atitudes de amor não são demonstradas apenas em ações positivas e proativas que visam o bem-estar do nosso próximo. Você também pode demonstrar atitudes de amor refreando atitudes negativas para com seu próximo. Como? Não sendo racista, nem fascista, nem homofóbico, xenofóbico, feminicida, pedófilo, ladrão, estelionatário, corrupto, nem mesmo um religioso legalista, extremista e sectário. Refreando estas atitudes negativas você está santificando o dia do Senhor, pois já está fazendo o bem, conforme aprendemos no texto de Mateus 12.9-12.

9 Saindo daquele lugar, dirigiu-se à sinagoga deles, 10 e estava ali um homem com uma das mãos atrofiada. Procurando um motivo para acusar Jesus, eles lhe perguntaram: "É permitido curar no sábado?" 11 Ele lhes respondeu: "Qual de vocês, se tiver uma ovelha e ela cair num buraco no sábado, não irá pegá-la e tirá-la de lá? 12 Quanto mais vale um homem do que uma ovelha! Portanto, é permitido fazer o bem no sábado". (Mateus 12.9-12)

 

3.      Santificamos o dia do descanso quando vamos à Igreja – Jesus costumava ir à sinagoga. O que são nossos templos hoje para nós, eram as sinagogas no tempo de Jesus. Os judeus iam às sinagogas para prestarem louvores a Deus e aprenderem mais de Deus por meio de Sua Palavra. Jesus como um bom judeu aprendeu a valor desta tradição.

16 Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. (Lucas 4.16)

Ir à igreja ou ao templo no dia do descanso é importante para nos ajudar a compreendermos a vontade de Deus para nós. Através do aprendizado obtido pela leitura da Bíblia podemos se necessário alinhar ou realinhar nossas vidas a fim de glorificarmos a Deus. Na igreja encontramos maior clareza para nos mantermos firmes em nossa missão (ou pelo menos deveríamos encontrar, infelizmente muitas igrejas hoje não ensinam o evangelho de Jesus Cristo, mas outro evangelho).

Participarmos do culto na igreja no dia do Senhor também nos fortalece espiritualmente, pois a comunhão e a troca de experiências com os irmãos nos proporciona força para continuarmos firmes em nossa fé.

 

4.      Santificamos o dia do descanso quando nós paramos tudo por Deus – Este é o princípio primordial do sétimo dia. Ele é antes de qualquer coisa um tempo de parar, de cessar todo trabalho. Até mesmo os servos deviam parar conforme lemos em Êxodo 20.10.

10 mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus servos ou servas, nem teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas cidades. (Êxodo 20.10)

A razão de Deus ordenar que cessasse todo trabalho era para se dedicarem a Ele. Este era um tempo de buscar ao Senhor, de realizar coisas para Deus. O fim de parar não era para dormirem o dia inteiro, não era para se dedicarem ao lazer, mas para se encontrarem com Deus e Nele se regozijarem de todo trabalho.

Em nossos dias somos tendenciosos a tirarmos o dia do Senhor para fazermos um churrasco, um passeio no parque ou no shopping, fazermos reparos em nossas casas ou simplesmente dormirmos. O fazer estas coisas em si mesmo não é errado, podem ser feitas, mas precisam ser feitas de forma contemplativa, com um coração voltado a Deus. Devem ser feitas em atitude de gratidão a Ele pela vida e pela bênção de poder reunir a família, comer um churrasco, fazer um passeio e de ter uma casa para morar.

Quando estas atividades não são feitas com o fim de promoverem um encontro seu com Deus, quando não são compreendidas como um meio de você experimentar Deus juntamente com sua família e amigos, quando essas atividades roubam suas energias e tempo impedindo que você contemple Deus no dia em que deveria dedicar a Ele, essas atividades se tornam pecado, pois te fazem errar o alvo.

No dia do Senhor devemos parar tudo por Deus. Ele deve ser a razão do nosso parar. Devemos parar tudo para ouvi-lo, adorá-lo e percebê-lo em nossas vidas. Não é dia de produzirmos. Seis dias nos foram dados para produzirmos, mas o sétimo dia nos foi dado para desfrutarmos a vida com Deus.

 

5.      Santificamos o dia do descanso quando paramos para recordar quem éramos e quem nos libertou – Este era um dos propósitos do estabelecimento do dia do Senhor conforme podemos ler em Deuteronômio 5.15.

15 Lembra-te de que foste escravo no Egito e que o Senhor, o teu Deus, te tirou de lá com mão poderosa e com braço forte. Por isso o Senhor, o teu Deus, te ordenou que guardes o dia de sábado. (Deuteronômio 5.15)

O dia do Senhor também nos foi dado para lembrarmos que éramos escravos do pecado e que estávamos condenados à morte eterna. Muitos de nós éramos escravos das drogas, do cigarro, da rejeição, da culpa, da imoralidade e todos nós éramos culpados diante de Deus. Talvez alguns de nós ainda estejamos lutando contra estes pecados. Mas também é tempo de lembrarmos que Jesus com sua morte na cruz nos libertou da condenação eterna e pagou o preço de toda divida que era contra nós.

Trazermos a memória a nossa história, quem éramos e quem nos libertou do Egito espiritual gera em nós humildade, submissão, satisfação e paz com Deus.

 

CONCLUSÃO

Concluo essa mensagem afirmando que ao santificarmos o dia do descanso corretamente proporcionamos ao nosso homem interior o refrigério e a restauração de nossa força espiritual para que possamos continuar nossa jornada da vida saudáveis.

Devemos praticar o princípio do descanso compreendendo que em Cristo já experimentamos o descanso prometido por Deus, pois Nele vivemos em plena comunhão com Deus Pai, mas ainda experimentamos este descanso não em sua plenitude, mas quando Jesus voltar e seu Reino se manifestar plenamente viveremos a promessa de forma plena. Tudo novo se fará. Como diz a canção – “O poder do Altíssimo te envolverá. Tua alma viverá, teu espírito renovará e no teu corpo tudo novo se fará”. (colocar a música – Vento do Espírito).

  

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

30/08/2020