TRABALHANDO COM DEUS NÃO PEGAR BEM...
SER VINGATIVO
Hoje retomamos o nosso tema do mês “Trabalhando Com
Deus Não Pega Bem...”. Nosso objetivo com essa série é mostrar o que não
devemos fazer enquanto estamos trabalhando com Deus em seu projeto de implantar
Seu Reino no coração dos homens, ao mesmo tempo apresentar o que devemos
fazer.
O tema de nossa mensagem de hoje é “Trabalhando Com Deus Não Pega Bem Ser Vingativo”. Penso que todos nós em algum momento de nossas vidas fomos tomados pelo desejo de vingança. Mas o que é vingança? O que a Bíblia diz a respeito dela? Como devo lidar com este sentimento? Vamos começar definindo o que é vingança.
1 – DEFININDO VINGANÇA
Normalmente quando falamos de vingança estamos falando
do desejo de retribuirmos a outro o mal que este nos causou. Neste sentido
vingança é a busca de fazermos justiça com as próprias mãos. É a tentativa de repararmos
um prejuízo patrimonial, moral ou físico que outra pessoa nos causou, motivados
por um sentimento de raiva e muitas vezes de ódio. Essa vingança motivada pelo
sentimento de raiva ou de ódio é destruidora e maligna. Ela é geralmente
expressada através das palavras: “Isso não vai ficar assim”, “Você me Paga”,
“Vou acabar com sua vida” ou ainda uma expressão mais baixa “Vou te ferrar”.
Quem aqui nunca disse isso ou já não pensou isso?
Entretanto a vingança nasce de um sentimento correto
que temos em nós, o sentimento de justiça. Quando o que compreendemos ser justo
a nós é violado, imediatamente é despertado em nós o sentimento de injustiça e
junto o desejo de vingança, de reparação.
A vingança como um ato de reparação não é má. Não
estou dizendo que podemos nos vingar. A Bíblia afirma que não podemos nos
vingar. Estou dizendo que a vingança nasce da busca pela justiça, e buscar
justiça não é algo ruim. Por isso o apóstolo Paulo nos dá a seguinte instrução
com respeito a vingança em sua carta aos Romanos 12.19:
19 Amados, nunca procurem vingar-se, mas
deixem com Deus a ira, pois está escrito: "Minha
é a vingança; eu retribuirei",
diz o Senhor. (Romanos 12.19)
Paulo cita o texto de Deuteronômio 32.35 para afirmar
que Deus fará a vingança por nós. Deus é quem irá fazer a reparação devida a
nós. Esse é um ato que pertence a Ele. A vingança exercida por Deus é um ato de
justiça, porque ela é uma restauração de uma justiça que foi violada.
No segundo ponto que trataremos sobre a vingança
buscaremos responder a seguinte pergunta: Por que não podemos nos vingar?
2 – POR QUE NÃO
PODEMOS NOS VINGAR?
Vimos na carta de Paulo aos romanos que Deus toma para si o
direito de se vingar, ou seja, de fazer a retribuição justa. Portanto quem
busca se vingar usurpa o direito de Deus e já comete aí seu primeiro ato de
injustiça. Aquele que busca fazer justiça está tomando de Deus o seu lugar de
juiz. Essa já é uma boa razão para você não se vingar.
Neste mesmo
verso da carta o apóstolo orienta os irmãos de Roma a “nunca procurarem
vingar-se”. Segundo Paulo, eles deveriam entregar a Deus sua ira, seu desejo de
vingança, de fazer justiça, conforme lemos em Romanos 12.19.
19 Amados, nunca
procurem vingar-se, mas deixem com Deus a
ira, pois está escrito: "Minha é a vingança; eu retribuirei",
diz o Senhor. (Romanos 12.19).
Além da razão que
já citamos a pouco, não usurpar o lugar de Deus, quero levantar mais duas
razões por que não devemos nos vingar.
·
PRIMEIRA RAZÃO
A primeira razão
se deve ao fato de sermos incapazes de retribuirmos na medida justa a injustiça
cometida a nós, isto é, somos incapazes de aplicarmos uma pena com o fim de
causar reparação da justiça que foi violada, de forma justa para os dois lados.
Somente Deus tem essa capacidade e por isso Ele reivindica para si o direito de
vingança, de fazer a retribuição da justiça.
Não podemos nos
esquecer de que nascemos com uma natureza corrompida, pecaminosa, conforme vimos
em nossa mensagem “Trabalhando Com Deus Não Pega Bem Ser Corrupto”. Essa
natureza pecaminosa nos impulsiona para o exercício da injustiça, nos
incapacitando de exercermos justiça plena. De forma que ao tentarmos retribuir
uma injustiça causada a nós, corremos o risco de gerarmos uma nova injustiça.
Por isso o apóstolo Paulo ordena aos irmãos de Roma (Romanos 12.17,18):
17 Não retribuam a ninguém mal por
mal. Procurem fazer o que é correto aos olhos de todos. 18 Façam todo o possível para viver em paz com todos. (Romanos 12.17,18)
É dentro desse contexto de orientação para não
retribuirmos o mal com mal e nos esforçarmos pela paz que Paulo diz para nunca
procurarmos a vingança e entregarmos a Deus a nossa ira, aquilo que despertou
em nós o desejo de vingança, de retribuir o mal a quem nos fez mal.
Essa ordem de
Paulo “não retribuam a ninguém mal por mal” era muito relevante para os seus
dias, e se baseava no ensino de Jesus. No Evangelho de Mateus 5.38-45, Jesus
ensinou que não devemos pagar o mal com mal. A relevância deste ensino de Jesus
e aplicado por Paulo se dava porque os judeus baseados na lei de talião, ou da retaliação, citada nos
livros de Levítico e Deuteronômio julgavam ter o direito de vingança, de pagar
o mal com mal. Vejamos o que diz a lei da retaliação.
17 "Se alguém ferir uma
pessoa a ponto de matá-la, terá que ser executado. 18 Quem matar um animal fará restituição: vida por vida.
19 Se alguém ferir seu próximo, deixando-o defeituoso, assim como fez lhe será feito: 20 fratura por fratura, olho por olho, dente por dente. Assim como feriu o outro, deixando-o defeituoso,
assim também será ferido. 21 Quem matar um animal fará restituição, mas quem matar
um homem será morto. (Levítico 24.17-21)
18 Os juízes investigarão o caso
e, se ficar provado que a testemunha mentiu e deu falso testemunho contra o seu
próximo, 19 dêem-lhe
a punição que ele planejava para o seu irmão. Eliminem o mal do meio de vocês. 20 O restante do povo
saberá disso e terá medo, e nunca mais se fará uma coisa dessas entre vocês.
21 Não tenham piedade. Exijam vida por vida,
olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé. (Deuteronômio 19.18-21)
Numa leitura rápida dessa lei
podemos até pensar que realmente ela incentivava a vingança. Essa lei era um
princípio legal de restituição ou retribuição a alguém pelos danos causados por
um delito ou uma transação ilegal. Porém, a lei era um estatuto civil, e a
punição devia ser dada com a supervisão de um tribunal, conforme lemos.
Essa lei determinava que, sob um
processo jurídico, um criminoso deveria pagar a condenação exatamente
proporcional ao crime que cometeu. Se ele furou um olho de sua vítima, o máximo
que ele deveria sofrer é ter um olho vazado, nada mais, além disso. A lei do
talião buscava restituir a justiça e impedir que o injustiçado viesse a cometer
uma injustiça exigindo uma reparação além do mal que lhe foi causado. Ela
jamais teve o fim de promover ou regulamentar a vingança. Mas muitos judeus
passaram a mal interpretá-la, utilizando-a como um princípio dado por Deus para
regulamentar o seu desejo de vingança pessoal.
Assim como toda
a Lei de Deus, essa lei foi dada sob o princípio do amor, buscando proteger a
vida. Ela buscava impedir que no desejo de vingança a injustiça se
estabelecesse.
Toda justiça que
exercemos é falha, porque é limitada em nosso conhecimento da verdade. Julgamos
pelo que ouvimos e vemos. Nem tudo que ouvimos e vemos é suficiente para
esclarecer o que levou alguém a fazer um ato que exija reparação. Somente Deus
consegue considerar o que se passou no coração desta pessoa que cometeu o ato
de injustiça. Somente Deus consegue ver a história por trás do ato desta
pessoa. Somente Deus consegue avaliar a história de vida desta pessoa para
julgar a história por trás do ato desta pessoa. Somente Deus consegue medir a
profundidade da dor experimentada por esta pessoa diante o ato que cometeu. Somente
Deus é capaz de fazer com que a justiça exigida não se torne um ato de
injustiça para um terceiro, dando origem a um ciclo de injustiça. Em fim
somente Deus é capaz de julgar qualquer um de nós com justiça.
SEGUNDA RAZÃO
A segunda razão para Paulo orientar a igreja de
Roma a não buscar vingança era para que dessem testemunho do amor de Deus. Veja
as palavras do apóstolo Paulo:
20 Pelo contrário: "Se o seu inimigo tiver
fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você
amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele". 21 Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o
bem. (Romanos 12.20,21)
A frase “você
amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele” quer dizer que você o deixará pensativo
a respeito de sua pessoa. Sua atitude irá fazê-lo reconsiderar a imagem que ele
possui de você. Dessa forma você testemunha o amor de Deus.
A expressão pelo
contrário está amarrada a ordem de Paulo no verso dezenove “nunca procurem
vingar-se”. Ao invés de se vingarem sirvam aquele que lhe causou prejuízo, que
o tratou com injustiça. Amar é servir! Amar não é uma questão de sentimento,
mas de atitude. E segundo Paulo assim vencemos o mal, respondendo com o bem.
Essa segunda
razão também esta baseada no ensino de Jesus do Sermão do Monte, no texto já
citado de Mateus 5.38-45.
38 "Vocês ouviram o que foi
dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. 39 Mas eu lhes digo: Não
resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe
também a outra. 40 E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica,
deixe que leve também a capa. 41
Se alguém o forçar a caminhar com ele uma
milha, vá com ele duas. 42 Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que
deseja pedir-lhe algo emprestado". (Mateus 5.38-42)
Jesus apresenta
aqui uma lei mais elevada aos seus ouvintes, que podemos chamar de “lei da não
retaliação”. Além dele buscar corrigir a má interpretação que havia sido dada a
lei da retaliação, ele desafia seus ouvintes a não retribuírem a agressão e nem
buscarem a vingança, a reparação dos danos. Pelo contrário, Jesus os desafia a
oferecer ao agressor, ao perverso, aquele que te fere o amor, servindo-o com
excelência.
Jesus
exemplifica para seus ouvintes algumas maneiras práticas para vivenciarem o
amor ensinado por Deus. As palavras de Jesus não podem ser interpretadas de
forma literal, isso seria um erro, ele na verdade nos ensina princípios vitais
para nossa caminhada cristã. Por exemplo:
Ø Se alguém o ferir na face direita, ofereça a outra face (v.39): Na
cultura judaica antiga, bater na face direita de uma pessoa era uma maneira de
infligir vergonha, o objetivo não era causar dor física. A face do indivíduo era
considerada como símbolo de sua honra. Ousar desferir um golpe contra ela
representava um atentado inadmissível à sua autoimagem, respeito e
dignidade. Não se trata de uma agressão física, mas moral. Jesus estava
instruindo eles e a nós hoje a não desforrar, a não devolver na mesma moeda
quando alguém nos insultar visando nossa humilhação. Você já ouviu a expressão:
“Não levo desaforo para casa”. Jesus está nos ensinando a levar o desaforo para
casa e buscar a paz com aquele que te humilhou. Contra a humilhação, Jesus nos
manda sermos mansos e buscarmos a paz.
Ø Se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe levar também a
capa (v.40): Esta ilustração se refere a um processo judicial causado pela
perda de bens. Um judeu ao fazer negócios nos dias de Jesus podia exigir a
túnica de seu devedor como garantia de pagamento. Um judeu pobre geralmente
tinha apenas duas túnicas. A túnica era a vestimenta do judeu que cobria a sua
nudez. Jesus falava a uma plateia praticamente formada de pobres. A capa era
uma cobertura que se usava sobre a túnica e tinha um valor maior, e também
servia de cobertor na noite fria. Jesus diz que se um credor lhe pedisse a túnica,
deixasse ele levar também a capa. Um credor jamais poderia ficar com a capa,
ele precisaria devolvê-la antes do por do sol, conforme descreve o texto de
Êxodo 22.26,27. Se o perverso desejar sua roupa, dê-lhe sua melhor roupa.
Contra um conflito judicial, Jesus nos manda abrir mão de nossos direitos,
aceitarmos o prejuízo, não ficarmos devendo nada a ninguém e termos paz.
Ø
Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com
ele duas (v. 41): Obrigar alguém a
andar uma milha para te servir é ofender a liberdade dessa pessoa, é explorar
da boa vontade dos mais fracos. Nos tempos de Jesus,
havia situações em que o Estado ou pessoas poderosas perversamente exigiam
serviços gratuitos, isto se chamava corveia, e era um direito do Estado Romano
sobre os povos que haviam conquistado. Soldados romanos abusavam deste direito.
Simão o cireneu foi obrigado a cometer uma corveia, levando a cruz de Cristo
(Mateus 23.32). O que Jesus propõe é que, se uma autoridade romana exigisse
algo abusivo, legal ou ilegalmente, de um de seus seguidores, este deveria
obedecer e fazer além. Isto não implicava em concordar com o sistema, mas em
aproveitar a oportunidade para servir com excelência e amor aos que abusavam de
sua autoridade. Contra a exploração, Jesus nos manda servir com excelência e
amor.
Ø
Dê a quem lhe pede (v. 42): Estas palavras parecem se referir à caridade, que
se espera de todo cristão e não é totalmente errado aplicá-la dessa forma, pois
Jesus nos ensina a dar esmolas. Mas, pelo contexto, estas palavras estão ligadas
ao tema da resistência pacífica, parecem ser uma continuidade do verso 41. Pessoas
perversas e revestidas de autoridade podem forçar outras pessoas a lhe darem
algo que não merecem. O pedido aqui não é um pedido de esmola e nem de
empréstimo, mas se trata de uma exigência violenta. Nos texto de Lucas 6.30,
este "pedir" é claramente tirar do outro o que lhe pertence. É um
abuso de autoridade. Segundo Jesus, o que foi retirado, mesmo de modo perverso,
não deve ser tomado de volta, pela força. Contra o egoísmo e a inveja, Jesus
nos manda ser generosos.
Jesus está nos
ensinando que ao nos humilharem e exigirem de nós algo de forma abusiva devemos
retribuir com amor, com mansidão, com generosidade, agindo de forma a
conquistar o perverso e assim quebrar o ciclo de perversidade. Ele não nos
incentiva a buscarmos a vingança, nem a reparação da justiça.
CONCLUSÃO
Quero concluir
essa mensagem reafirmando o que Jesus ensinou e o que Paulo ordenou a igreja de
Roma.
Não se deixe ser
tomado pelo sentimento de vingança. Não tente fazer justiça! Não usurpe a
posição de Deus, pois fazer vingança, tentar retribuir uma injustiça feita a
você, é usurpar o lugar de Deus.
Não retribua o
mal que fizeram a você, pois retribuir o mal é ser vencido por ele. Lembre-se
que você também é pecador e incapaz de avaliar com justiça o que levou uma
determinada pessoa a lhe fazer mal.
Jesus nos ordena
a amarmos a todas as pessoas. Sabe aquela pessoa que te feriu, aquela que te
traiu, aquela que te roubou, aquela te humilhou no facebook, aquela que você
quando bate o olho nela imediatamente se enche de ira. Jesus manda você amá-la.
43 "Vocês ouviram o que foi
dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. 44 Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por
aqueles que os perseguem, 45 para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está
nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva
sobre justos e injustos. (Mateus 5.43-45)
Jesus manda você
orar por essa pessoa que você não suporta. E você deve fazer isso, porque o Pai
faz isso pelos injustos. Ele os abençoa todos os dias provendo o sol e a chuva
para que eles possam plantar e sobreviver. Você como filho precisa ser
expressão do amor do Pai que está nos céus. Que você possa sair daqui hoje
decido a amar e orar por seus inimigos. Deus te abençoe!
Pr. Cornélio
Póvoa de Oliveira
20/09/2020
(noite)
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