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terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

SERMÕES 166 - AS BEM-AVENTURANÇAS (1 parte)

 

AS BEM-AVENTURANÇAS (1 parte)

 

O sermão do monte é provavelmente a parte mais conhecida dos ensinamentos de Jesus, embora talvez seja a menos compreendida e certamente a menos obedecida.

As palavras de Jesus neste sermão expressam o que Ele desejava que os seus seguidores fossem e fizessem. Eu diria que elas expressam o que Ele deseja que sejamos hoje. O ensino do Sermão do Monte é uma oposição clara ao sistema que governa o mundo em que vivemos.

Jesus se levantou em oposição à cultura de sua época e apresentou uma nova cultura, um novo padrão de vida que foi amplamente rejeitado pelos estudiosos das Escrituras Sagradas. A interpretação da Bíblia feita por Jesus não foi bem recebida pelos detentores da teologia de seus dias. A leitura que Jesus fez do Antigo Testamento foi amplamente rejeitada pelos religiosos de seus dias.

Ainda hoje as gerações mais novas se levantam tentando de alguma forma mudar o mundo que herdaram para melhor. De certa forma a nova geração despreza a superficialidade do materialismo descrente, que propõe uma vida sem uma missão honrosa, como também despreza o conformismo religioso, que produz pessoas alienadas do mundo. Elas desprezam essas formas de vida porque sentem que há uma realidade muito maior do que essas oferecidas por nossa geração. Elas buscam de alguma forma darem as suas vidas significado, sentido de existência. Nossos adolescentes e jovens sonham em se tornarem uma peça importante para a mudança do mundo, uma mudança para melhor.

Esta atitude de lutar contra o mundo que herdou, demonstra que elas querem algo novo, onde a paz, o amor e a sinceridade existam. Onde todo ser humano tenha valor.

A juventude de hoje está à procura das coisas certas, mas eles têm procurado nos lugares errados. O primeiro lugar onde eles deveriam procurar é o lugar que eles normalmente ignoram, a Igreja. Entretanto eles só encontraram a paz, o amor e a sinceridade em igrejas onde somente o Espírito de Deus e Palavra de Deus governem sobre a igreja.

Segundo John Stott, em seu livro “A Mensagem do Sermão do Monte”, Jesus no Sermão do Monte apresenta uma “contracultura cristã”. Esta “contracultura cristã” é a resposta que as gerações passadas procuravam e é a resposta que as nossas gerações de hoje procuram.

Por que “contracultura cristã”? John Stott chama de “contracultura” porque o modo de vida que Jesus apresenta no Sermão do Monte caminhava em direção oposta a cultura estabelecida no mundo de seus dias e continua caminhando em direção oposta a cultura do mundo atual. E é chamada de “contracultura cristã” porque foi apresentada pelo Cristo.

O Sermão do Monte nos mostra que Jesus também não se conformou com o mundo que encontrou e trouxe a visão de um novo mundo. Uma visão celestial a respeito de como se deve viver a vida.

Vou dividir essa mensagem em duas partes onde refletiremos nas oito bem-aventuranças. Nesse domingo estudaremos a primeira parte da mensagem, as quatro primeiras bem-aventuranças e no próximo domingo iremos refletir nas quatro últimas bem-aventuranças.

O apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos diz que “não devemos nos conformar com este mundo, mas transforma-lo pela renovação da nossa mente” (Rm 12:2). Devemos escrever em nossas mentes e em nossos corações as bem-aventuranças e fazermos delas o nosso estilo de vida.

As bem-aventuranças enfatizam oito sinais da conduta e do caráter cristão, em relação a Deus e aos homens. Estes sinais deveriam ser encontrados em todos cristãos. As bem-aventuranças também enfatizam as bênçãos divinas que repousam sobre aqueles que externam estes sinais. Como já dissemos hoje iremos tratar apenas dos quatros primeiros sinais. Os convido a lerem comigo Mateus 5.1-6.

1 Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, 2 e ele começou a ensiná-los, dizendo: 3 "Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus. 4 Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados. 5 Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança. 6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos". (Mateus 5.1-6)

Vejamos cada uma destas quatro bem-aventuranças.

 

1 – BEM-AVENTURADOS OS POBRES EM ESPÍRITO

3 Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus. (Mateus 5.3)

Algumas traduções dizem bem-aventurados os humildes de espírito. A ideia de ser “pobre” significava inicialmente passar necessidades materiais. Mas, gradualmente, porque os necessitados não tinham outro refúgio a não ser Deus, a “pobreza” recebeu nuances espirituais e passou a ser identificada como uma humilde dependência de Deus.

O “aflito” (homem pobre) no V.T. é aquele que está sofrendo e não tem capacidade de salvar-se por si mesmo e que, por isso, busca a salvação de Deus, reconhecendo que não tem direito à mesma.

Os pobres em espírito são pessoas humildes de espírito. Jesus não está se referindo a pessoas de espírito pobres, isto é, pessoas negativas, pessimistas, cheias de complexos inferiores, derrotadas como alguns sugerem. Ele está dizendo que são felizes os que de coração reconhecem sua pobreza espiritual, que se reconhecem necessitados de Deus.

Calvino escreveu; “Só aqueles que, em si mesmo, foi reduzido a nada, e repousa na misericórdia de Deus, é pobre em espírito”.

Felizes, bem-aventurados são os pobres em espírito porque reconhecem que precisam de Deus para tudo na vida e para alcançarem a vida eterna.

O mundo e a sua cultura nos diz que somos capazes de realizar qualquer coisa pelo poder da mente, nos ensina que somos deuses em potencial e que se acreditarmos em nós nada nos será impossível. Estes ensinamentos deixam Deus de lado e coloca o homem como um ser capaz de viver sem seu criador.

Não encontramos Deus dentro de nós, encontramos Deus em Jesus Cristo. Precisamos olhar para fora de nós se desejamos encontrar Deus. Precisamos olhar para Jesus.

Devemos ser humildes de espírito. Precisamos reconhecer que dependemos totalmente de Deus. Nele e somente Nele podemos vencer todas as coisas. Devemos ter em mente que o reino dos céus pertence aos humildes de espírito.

 

2 – BEM-AVENTURADOS OS QUE CHORAM

4 Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados. (Mateus 5.4)

Podemos e devemos chorar! Existem muitas razões que nos levam a chorar, por exemplo: quando perdermos um ente querido, padecemos de uma dor terrível, nossos sonhos são frustrados, etc. É claro que podemos chorar nestes momentos tão difíceis. Mas, o choro a que Jesus se refere aqui é o choro daqueles que lamentam os seus próprios pecados e falhas, o choro do homem arrependido que percebe de fato quem ele é. Chora pela perda de sua inocência, de sua justiça, de sua unidade com Deus. Este homem encontrará consolo nos braços do Pai e no reino do Filho. O perdão de Deus trará renovo e alegria a estes que choram.

Felizes ou bem-aventurados também são aqueles que derramam lágrimas por não suportarem verem o mal dominando o mundo dos homens e causando tanto sofrimento e miséria a todos. Jesus chorou pelo pecado dos outros que trouxe juízo e castigo sobre Jerusalém.

Somente os que são humildes de espírito podem expressar essa tristeza por causa do pecado que assola o mundo. Não devemos ser duros como pedra e insensíveis às dificuldades causadas pelo mal que domina a humanidade.

Não devemos pensar que chorar é tão somente para as pessoas fracas e assim fechar nossos corações. Chorar não é coisa de mulher como ensina nosso país machista. A Bíblia diz que devemos chorar com os que choram e nos alegrarmos com os que se alegram.

Dos nossos olhos devem cair lágrimas de arrependimento por nossos erros e falhas, mas também de tristeza por ver o mundo dominado pelo mal, tomado pelas forças do pecado. Dos nossos olhos deveriam cair lágrimas ao vermos alguém apanhando por causa de uma escolha sexual, ao vermos alguém sendo maltratado por causa da cor de sua pele, idosos passando fome, mulheres apanhando de seus maridos, crianças sendo abusadas sexualmente. Deveríamos chorar diante de Deus ao vermos pastores, apóstolos, bispos, sacerdotes em geral usando dos púlpitos para se enriquecerem. Manipulando pessoas usando o nome de Jesus.

Bem-aventurados os que ainda choram, pois serão consolados. Jesus deixou-nos a certeza que chegará o dia que Deus enxugará dos nossos olhos toda lagrima.

 

3 – BEM-AVENTURADOS OS HUMILDES

5 Bem-aventurados os humildes (πραεῖς - praeis), pois eles receberão a terra por herança. (Mateus 5.5)

O adjetivo praüs significa gentil, manso ou humilde. O texto está dizendo felizes os mansos. Jesus está dizendo que devemos ter um espírito gentil para com os outros. Respeitar a opinião do próximo em relação a nossa pessoa. Tratar as pessoas com cordialidade.

Nossa gentileza deve brotar da estimativa correta que temos de nós mesmos. Sabemos quem somos, choramos por nossos pecados.  Choramos porque Jesus precisou ir para a cruz por nossa causa. Somos miseráveis pecadores. Portanto não podemos nos ver melhores do que ninguém. Não podemos olhar para ninguém de cima para baixo, pelo contrário devemos considerar os outros superiores a nós mesmos e assim devemos tratá-los.

Deveríamos nos tratar assim na igreja, nas assembleias, em nossas casas, em nossos trabalhos. A mansidão deve ser um adjetivo presente em nossas vidas. Dessa forma nossa humildade se tornará vista.

Não devemos ter a idéia de que somente os valentões, os arrogantes são os que vencem na luta pela existência. Achamos que as pessoas “mansas” nada conseguem porque são ignoradas por todos ou tratadas com desprezo. Jesus está nos dizendo aqui que quem herdará a terra não serão os valentões, nem os arrogantes, mas os mansos herdarão a terra.

No fim a condição que nos levará a tomar posse da herança espiritual em Cristo Jesus, não é a força, a arrogância, a violência, mas a mansidão, a gentileza. Pois aqueles que se humilham na poderosa mão de Deus serão exaltados, e os que se exaltam hoje serão abatidos.

 

4 – BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇA

6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos. (Mateus 5.6)

Devemos ter fome e sede de justiça – tal fome espiritual é uma característica do povo de Deus, cuja ambição suprema não é o material, mas espiritual.

Nós cristãos não podemos ser como os pagãos que correm atrás de bens materiais, que buscam em primeiro lugar a satisfação pessoal. Nós devemos nos esmerar em buscar o Reino de Deus e Sua justiça em primeiro lugar.

O nosso mundo esta governado pela injustiça, seja ela de ordem econômica, política, racial, judiciaria, etc. Devemos lutar para que a justiça se estabeleça em nosso mundo, em nosso país, em nossa casa. Deus é um Deus justo e que em toda história do homem lutou pela justiça. E não devemos nos calar diante as injustiças e muito menos ser praticantes dela.

Assistirmos as injustiças sociais e nada fazermos para amenizá-las também é pecado. Omissão é uma forma de covardia, de medo e associação ao pecado. Não somos perseguidos em nosso país porque somos omissos. O Evangelho que pregamos não produz mudança alguma, pelo contrário tem contribuído para a continuidade de uma sociedade capitalista injusta e indiferente a dor e sofrimento dos mais fracos. 

Temos que ter fome e sede de justiça! Os que têm tal fome e sede serão fartos. Não basta chorarmos o pecado cometido no passado, não basta reconhecermos nossos erros, é preciso que façamos diferente do que fazíamos antes, é preciso nos engajarmos na luta pela justiça para todos hoje. Os que lutam hoje pela justiça para todos serão fartos no Reino de Deus, pois o Reino de Deus é justiça para todos.

 

CONCLUSÃO:

Quero concluir com as palavras de John R. W. Stott:

“Temos de ser humildes de espírito, reconhecendo nossa completa e total falência espiritual diante de Deus. Temos de chorar por causa disto, por causa dos nossos pecados e... Pelo poder que o pecado exerce no mundo...

Temos de ser mansos, humildes e gentis para com os outros,... E temos de ter fome e sede de justiça, pois de que vale confessar e lamentar o nosso pecado, ou reconhecer a verdade a nosso respeito diante de Deus e dos homens, se pararmos aí?

A confissão do pecado deve nos levar a fome de justiça. Desta forma vivemos contracultura e estabelecemos então a contracultura cristã”. 

        

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

07/02/2021

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