JUNTOS COM CRISTO EM SUA RESSURREIÇÃO
Série: Juntos Com Cristo (3 parte)
Em
nosso último encontro refletimos na realidade de estarmos juntos com Cristo em
sua morte, hoje refletiremos na realidade de estarmos juntos com Cristo em sua
ressurreição. Assim como devemos pela fé nos considerarmos mortos com Cristo na
cruz para o pecado, devemos igualmente pela fé nos considerarmos ressurretos
para Deus.
No
último domingo lemos o texto da carta de Paulo escrita aos irmãos de Roma
destacando a libertação de nossas vidas através da nossa união na morte de
Cristo. Hoje quero convidá-los a leitura do mesmo texto, Romanos capítulo seis,
mas diferente do último domingo iremos destacar nossa união na ressurreição de
Cristo.
Paulo
trata nesse capitulo da nossa ressurreição
com Cristo através de duas perspectivas. A primeira perspectiva é escatológica.
Paulo fala da ressurreição que acontecerá no final dos tempos. A segunda
perspectiva é de que a ressurreição já é uma realidade presente.
Vejamos primeiro a ressurreição com Cristo pela perspectiva escatológica.
1 – A
RESSURREIÇÃO COM CRISTO PELA PERSPECTIVA ESCATOLÓGICA
Paulo
escreve aos irmãos de Roma afirmando que eles iriam ressuscitar no último dia,
se referindo à ressurreição dos justos (Romanos 6.5,8).
5 Se dessa forma fomos unidos a ele na semelhança
da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua
ressurreição. [...] 8 Ora, se morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos. (Romanos 6.5,8)
Preste
atenção nos verbos “seremos” e “viveremos”, ambos se referem ao futuro. Nestes
dois versos 5 e 8 percebemos que Paulo afirma aos irmãos de Roma que estes
iriam ressuscitar por meio de Cristo para a nova vida prometida por Deus. Paulo
nestes dois versos aponta para a vida futura, para a realidade escatológica da
ressurreição, quando receberemos um novo corpo, um corpo espiritual,
incorruptível que nos possibilitará vivermos eternamente com Deus.
A
morte nos libertou para a nova vida. A ressurreição escatológica é a
concretização plena dessa nova vida. Eu
não vou me deter na ressurreição escatológica porque meu objetivo hoje é olhar
para a ressurreição através da segunda perspectiva de Paulo: a ressurreição com
Cristo como realidade presente em nossas vidas.
2 – A
RESSURREIÇÃO COM CRISTO COMO REALIDADE PRESENTE
O
apóstolo Paulo ordena a igreja que se encontrava em Roma a viverem a
ressurreição com Cristo de forma imediata, como realidade presente quando os
manda se considerarem mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus,
conforme Romanos 6.11,12.
11 Da mesma forma, considerem-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus
em Cristo Jesus. 12 Portanto, não permitam que o pecado continue dominando os seus corpos
mortais, fazendo que vocês obedeçam aos seus
desejos. (Romanos 6.11,12)
Segundo
Paulo eles deveriam viver a nova vida com Cristo mortificando as obras da carne
e vivendo para Deus. Assim deve viver todo aquele que é nascido de Deus, que
professa Cristo Jesus como seu Salvador e Senhor.
Devemos
considerar que a igreja de Roma tinha em sua membresia romanos, gentios e
judeus; e também ricos, pobres, soldados e escravos.
Eles
possuiam muitos conflitos relacionais devido à origem deles e das classes
socias a que pertenciam. Os romanos, principalmente os soldados eram vistos
como opressores. Eles era odiados pelos judeus e também pelos gentios que por
eles foram conquistados. Os judeus desprezavam os gentios por considerarem eles
impuros. Os pobres e escravos eram desprezados pelos ricos. Eles não tinham
nada em comum. (Ainda bem que naquele tempo não existia assembleia na igreja.
Já imaginou que confusão seria? rsrsrs) Como poderiam eles se reunirem para
prestarem culto ao mesmo Deus? Paulo apela para que se considerassem mortos
para o pecado, isto é, para o domínio da carne, a fim de que não dessem vazão
aos seus desejos interiores e se considerassem portadores da nova vida por meio
da ressurreição de Cristo. Assim como nós eles precisavam lutar interiormente
todos os dias para viverem a nova vida ressurreta.
Para
que estes grupos se relacionassem era preciso enfrentar a falta de confiança
que tinham uns dos outros, abafar os desejos de vingança que possuíam e ignorar
os conceitos já formulados que tinham uns dos outros. Assim como nós precisamos
freiar muitos de nossos sentimentos, eles também precisavam freiar seus
sentimentos para viverem relacionamentos saudáveis entre eles. Afinal a
ressurreição com Cristo como realidade presente na vida deles os fizeram tomarem
assentos juntos na mesa de Jesus.
Romanos,
gentios e judeus que antes possuiam uma relação conflitiva agora eram irmãos em
Cristo. Não existia mais opressores e oprimidos. Eles só poderiam sentar juntos
estando mortos com Cristo e ao mesmo tempo considerando-se ressurretos com
Cristo, pois na morte de Cristo há perdão para todos e morte do velho homem,
enquanto na ressurreição com Cristo podiam se ver como um só povo, se
alimentando do mesmo pão, da mesma vida.
Ricos
e pobres, soldados e escravos, homens e mulheres deveriam se tratar como
iguais, ninguém mais deveria se considerar superior ao outro, pois em Cristo a desigualdade
entre eles deixou de existir. Agora eles deveriam estar prontos para servirem uns
aos outros em amor.
A
ressurreição com Cristo como realidade presente exige uma nova vida, nova
postura, nova ética diante as relações humanas. A ressurreição com Cristo como
realidade presente põe fim a toda hierarquia existente em nosso mundo, mantendo
somente a hierarquia funcional estabelecida pelo próprio Deus, baseada na
tarefa que ele deu a cada um. Assim temos a hieraquia familiar – marido e
esposa; pais e filhos. Temos a hierarquia eclesiástica – pastores, líderes
ministeriais e demais membros. Assim temos também a hierárquia institucionais,
militares e governamentais, sem as quais não teríamos ordem. Dentro dessas
estruturas funcionais, ninguém é maior que ninguém, apenas realizam funções
diferentes, porque receberam de Deus capacidades e oportunidades diferentes e cada
um deve ser respeitado por sua função. No reino de Deus não existe hierarquia
entre os seres humanos estruturada no gênero sexual. Não existe hierarquia
estruturada na santidade. Não existe hierarquia estruturada na classe social.
Não existe hierarquia estruturada na raça, na etnia, na sabedoria, na idade, na
força, no poder ou em qualquer outra coisa.
A
ressurreição com Cristo como realidade presente nos colocou dentro do Reino de
Deus e agora vivemos neste mundo dominado pelo maligno, mas vivemos
fundamentado nos valores e principios do reino de Deus. Somos para este mundo
de trevas inimigo, mas para aqueles que se encontram cansados e sobrecarregados
um ponto de esperança, de claridade, por isso a ressurreição com Cristo exige
de nós obras de justiça.
3 – A
RESSURREIÇÃO COM CRISTO EXIGE DE NÓS OBRAS DE JUSTIÇA
Os
irmãos de Roma além dos conflitos relacionais entre eles que precisavam ser
vencidos, eles também sofriam pressões externas do império romano e dos líderes
religiosos do judaismo que tentavam calar a voz da Igreja. Em meio a tudo isso, que já não era pouco, também
sofriam pressões internas dos judaizantes. Um grupo de judeus que embora
cressem que Jesus Cristo era o Messias acreditavam que era preciso guardar a
Lei de Moisés. Acostumados a ritos e tradições como forma de adoração os judaizantes
se tornaram religiosos insuportáveis dentro da igreja cristã, exigindo de todos
que guardassem os mandamentos de Moisés e que os homens se circuncidassem. Assim
como Paulo antes de sua conversão que chegou até mesmo a matar cristãos, estes judaizantes
pensavam estarem fazendo justiça e agradando a Deus, mas estavam de fato
ferindo o Corpo de Cristo, como fazem os religosos de hoje apegados aos ritos,
tradições e leis de homens.
A ressurreição com
Cristo como realidade presente exige de nós obras de justiça como afirma o
apóstolo Paulo em Romanos 6.13,14:
13 Não ofereçam os membros dos seus corpos ao pecado, como instrumentos de
injustiça; antes ofereçam-se a Deus como quem voltou da
morte para a vida; e ofereçam os membros dos seus corpos a
ele, como instrumentos de
justiça. 14 Pois o pecado
não os dominará, porque vocês não estão debaixo da lei, mas debaixo da graça. (Romanos 6.13,14)
O
texto nos deixa claro que quem se levanta da morte com Cristo, se levanta para
uma nova vida em Cristo, portanto não pode mais viver na velha vida dominada
pelo pecado e atormentado pela culpa, pois agora vive debaixo da graça.
Quando
falamos de não viver mais na velha vida, logo pensamos nas coisas gritantes
como não pular mais carnaval, não roubar, não mentir, não falar palavrões, não
fazer sexo com a namorada, não adulterar, etc. Todas estas coisas precisam ser
abandonadas, mas Paulo está falando de coisas mais profundas que essas. Paulo
está falando de coisas que estão apegadas ao nosso homem interior e que nos
torna instrumentos de injustiça.
No
século VI o papa Gregório Magno definiu os sete pecados capitais: a gula, a
avareza, a luxúria, a ira, a inveja, a preguiça e a vaidade (orgulho).
Certamente todos estes comportamentos humanos são pecaminosos, pois levam o ser
humano a tornarem seus corpos instrumentos de injustiça. Eles ferem a Deus em
primeiro lugar ao destruir a capacidade do ser humano de ser livre, pois Cristo
na cruz morreu para que fossemos verdadeiramente livres; e em segundo lugar
ferem os nossos semelhantes.
Ser
dominado pela gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça ou vaidade é tornar
a obra de Cristo na cruz sem eficácia. Aquele que com Cristo morreu e
ressuscitou precisa se considerar morto para o pecado e vivo para Deus. Precisa
fazer morrer o velho homem com suas obras e tornar o novo homem dominante sobre
seu ser. O crente em Cristo não pode aceitar viver no pecado. O crente em
Cristo precisa lutar contra o domínio do pecado até o dia da ressurreição,
quando receber um novo corpo, um corpo incorruptível.
O
apóstolo João fala sobre essa realidade, conforme podemos ler em 1 João 3.7-10.
7 Filhinhos, não deixem que ninguém os engane. Aquele que pratica a
justiça é justo, assim como ele é justo. 8 Aquele que pratica o pecado
é do diabo, porque o diabo vem pecando desde o
princípio. Para isso o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do
diabo. 9 Todo aquele que é nascido
de Deus não pratica o pecado,
porque a semente de Deus permanece nele; ele não pode estar no pecado, porque é
nascido de Deus. 10 Desta forma sabemos quem são os filhos de
Deus e quem são os filhos do diabo: quem não pratica a justiça não procede de Deus; e também quem não ama seu irmão. (1 João 3.7-10)
João
está falando a mesma coisa que Paulo, o crente, o nascido de Deus, o ressurreto
com Cristo não pratica obras de injustiça, não usa seu corpo para obras de
injustiça, pelo contrário pratica obras de justiça. João é mais inflamado nas
suas palavras, pois ele diz que aquele que não pratica obras de justiça não
procede de Deus, mas do diabo.
João não está dizendo que o crente não peca, mas
que não vive na prática do pecado, isto é, não vive abraçado com o pecado.
Segundo ele aquele que vive na prática do pecado é do diabo e aquele que vive
na prática da justiça procede de Deus.
Penso
que precisamos refletir mais nessas palavras, pois acredito que muitos crentes
praticam as obras da injustiça, obras do diabo. Muitos estão nas igrejas
pensando que são filhos de Deus, mas são filhos do diabo. Eles creem em Deus,
mas a Bíblia afirma que até os demonios creem em Deus. Eles declaram Jesus como
Senhor, mas o próprio Senhor Jesus disse “nem
todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que
faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7.21).
O
que nos define como ressurretos com Cristo são as obras de justiça que praticamos.
Mas cuidado porque muitas obras de injustiça são praticadas escondidas nas
obras de justiça. Os religiosos são peritos nesta prática. Jesus apontou várias
dessas obras e ainda assim muitos ainda hoje continuam praticando. Vejamos
algumas dessas obras apontadas por Jesus:
1. Orações,
jejuns e esmolas podem ser obras de
injustiça quando não são feitas no secreto (Mt 6.1-5,16). São obras de injustiça
quando são realizadas com o fim de que todos vejam e admirem sua bondade.
Quando elas são praticadas por você com a intenção de mostrar sua
espiritualidade a outros. Elas podem ser praticadas na presença de outros, mas
quando o lugar e o momento são apropriados para isso.
2. Dizimar
pode se tornar uma obra de injustiça quando se faz sem exercer no dia a dia
justiça, misericórdia e fidelidade (Mt 23.23). Exercer justiça não é ficar
cobrando dos outros perfeição. Não é condenar outros por seus erros. Não é usar
da lei para punir, humilhar e condenar os que nela cairem. Exercer justiça é
repartir com os necessitados o pão de cada dia. Você deve entregar seu dízimo
na igreja que congrega, mas não pode negligenciar a dor da fome de seu
semelhante. Exercer justiça é lutar para que os pobres e aqueles que estão
abaixo da linha da pobreza possam ter pão, escola, saúde todos os dias. Ser
misericordioso é se compadecer da dor do próximo e agir para socorrê-lo, mas
sem cair no erro de querer ser visto fazendo o bem.
3. Adorar a
Deus desprezando o irmão ou vivendo uma relação conflitante com ele é obra de
injustiça (Mt 5.21-24). Deus não aceita essa oferta de adoração. É preciso
primeiro se reconciliar com seu irmão.
4. Sentar
na mesa de Jesus considerando-se superior a um de seus irmãos é praticar obras
de injustiça. Jesus repreendeu seus discípulos quando estes brigavam para ver
quem seria maior entre eles (Lc 9.46). Esse foi um dos erros praticados pela
igreja de Corinto quando celebravam a festa do ágape (1 Co 11.17-22).
5. Tentar
tirar o cisco do olho do seu irmão, quando se tem uma trave no seu próprio olho
é praticar um ato de injustiça (Lc 6.42). Tire primeiro a trave do seu olho,
julgue a si mesmo primeiro, para depois em amor ajudar o seu irmão. Todos temos
ciscos em nossos olhos, todos pecamos.
Possivelmente
você pode estar se lembrando de outras obras de injustiça apontada por Jesus.
Note que estas obras embora pareçam justas, são atos de hipocresia aos olhos de
Deus, pois são feitas com intenções escusas, egoístas, sem levar em
consideração a vontade de Deus para os homens e sem estarem fundamentadas no
amor.
REFLEXÃO
FINAL
Quero
encerrar essa mensagem lembrando que a ressurreição com Cristo é uma realidade
presente que exige de você que crê nessa ressurreição uma nova vida, uma nova
postura ética e moral diante as relações humanas e sociais, que exige que você
viva usando seu corpo para a pratica de obras de justiça. Encerro com as
palavras do apóstolo Paulo.
13 Não ofereçam os membros dos seus corpos ao pecado, como instrumentos de
injustiça; antes ofereçam-se a Deus como quem voltou da
morte para a vida; e ofereçam os membros dos seus corpos a
ele, como instrumentos de
justiça. (Romanos 6.13)
Deus
te abençoe em todo tempo!
Pr. Cornélio
Póvoa de Oliveira
25/04/2021
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