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quinta-feira, 22 de abril de 2021

SERMÕES 176 - JUNTOS COM CRISTO EM SUA RESSURREIÇÃO

JUNTOS COM CRISTO EM SUA RESSURREIÇÃO

Série: Juntos Com Cristo (3 parte)

 

Em nosso último encontro refletimos na realidade de estarmos juntos com Cristo em sua morte, hoje refletiremos na realidade de estarmos juntos com Cristo em sua ressurreição. Assim como devemos pela fé nos considerarmos mortos com Cristo na cruz para o pecado, devemos igualmente pela fé nos considerarmos ressurretos para Deus.

No último domingo lemos o texto da carta de Paulo escrita aos irmãos de Roma destacando a libertação de nossas vidas através da nossa união na morte de Cristo. Hoje quero convidá-los a leitura do mesmo texto, Romanos capítulo seis, mas diferente do último domingo iremos destacar nossa união na ressurreição de Cristo.

Paulo trata  nesse capitulo da nossa ressurreição com Cristo através de duas perspectivas. A primeira perspectiva é escatológica. Paulo fala da ressurreição que acontecerá no final dos tempos. A segunda perspectiva é de que a ressurreição já é uma realidade presente.

Vejamos primeiro a ressurreição com Cristo pela perspectiva escatológica.

 

1 – A RESSURREIÇÃO COM CRISTO PELA PERSPECTIVA ESCATOLÓGICA

Paulo escreve aos irmãos de Roma afirmando que eles iriam ressuscitar no último dia, se referindo à ressurreição dos justos (Romanos 6.5,8).

5 Se dessa forma fomos unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição. [...] 8 Ora, se morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos. (Romanos 6.5,8)

Preste atenção nos verbos “seremos” e “viveremos”, ambos se referem ao futuro. Nestes dois versos 5 e 8 percebemos que Paulo afirma aos irmãos de Roma que estes iriam ressuscitar por meio de Cristo para a nova vida prometida por Deus. Paulo nestes dois versos aponta para a vida futura, para a realidade escatológica da ressurreição, quando receberemos um novo corpo, um corpo espiritual, incorruptível que nos possibilitará vivermos eternamente com Deus.

A morte nos libertou para a nova vida. A ressurreição escatológica é a concretização plena dessa nova vida.  Eu não vou me deter na ressurreição escatológica porque meu objetivo hoje é olhar para a ressurreição através da segunda perspectiva de Paulo: a ressurreição com Cristo como realidade presente em nossas vidas.

 

2 – A RESSURREIÇÃO COM CRISTO COMO REALIDADE PRESENTE

O apóstolo Paulo ordena a igreja que se encontrava em Roma a viverem a ressurreição com Cristo de forma imediata, como realidade presente quando os manda se considerarem mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus, conforme Romanos 6.11,12.

11 Da mesma forma, considerem-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus. 12 Portanto, não permitam que o pecado continue dominando os seus corpos mortais, fazendo que vocês obedeçam aos seus desejos. (Romanos 6.11,12)

Segundo Paulo eles deveriam viver a nova vida com Cristo mortificando as obras da carne e vivendo para Deus. Assim deve viver todo aquele que é nascido de Deus, que professa Cristo Jesus como seu Salvador e Senhor.

Devemos considerar que a igreja de Roma tinha em sua membresia romanos, gentios e judeus; e também ricos, pobres, soldados e escravos.

Eles possuiam muitos conflitos relacionais devido à origem deles e das classes socias a que pertenciam. Os romanos, principalmente os soldados eram vistos como opressores. Eles era odiados pelos judeus e também pelos gentios que por eles foram conquistados. Os judeus desprezavam os gentios por considerarem eles impuros. Os pobres e escravos eram desprezados pelos ricos. Eles não tinham nada em comum. (Ainda bem que naquele tempo não existia assembleia na igreja. Já imaginou que confusão seria? rsrsrs) Como poderiam eles se reunirem para prestarem culto ao mesmo Deus? Paulo apela para que se considerassem mortos para o pecado, isto é, para o domínio da carne, a fim de que não dessem vazão aos seus desejos interiores e se considerassem portadores da nova vida por meio da ressurreição de Cristo. Assim como nós eles precisavam lutar interiormente todos os dias para viverem a nova vida ressurreta.

Para que estes grupos se relacionassem era preciso enfrentar a falta de confiança que tinham uns dos outros, abafar os desejos de vingança que possuíam e ignorar os conceitos já formulados que tinham uns dos outros. Assim como nós precisamos freiar muitos de nossos sentimentos, eles também precisavam freiar seus sentimentos para viverem relacionamentos saudáveis entre eles. Afinal a ressurreição com Cristo como realidade presente na vida deles os fizeram tomarem assentos juntos na mesa de Jesus.

Romanos, gentios e judeus que antes possuiam uma relação conflitiva agora eram irmãos em Cristo. Não existia mais opressores e oprimidos. Eles só poderiam sentar juntos estando mortos com Cristo e ao mesmo tempo considerando-se ressurretos com Cristo, pois na morte de Cristo há perdão para todos e morte do velho homem, enquanto na ressurreição com Cristo podiam se ver como um só povo, se alimentando do mesmo pão, da mesma vida.

Ricos e pobres, soldados e escravos, homens e mulheres deveriam se tratar como iguais, ninguém mais deveria se considerar superior ao outro, pois em Cristo a desigualdade entre eles deixou de existir. Agora eles deveriam estar prontos para servirem uns aos outros em amor.

A ressurreição com Cristo como realidade presente exige uma nova vida, nova postura, nova ética diante as relações humanas. A ressurreição com Cristo como realidade presente põe fim a toda hierarquia existente em nosso mundo, mantendo somente a hierarquia funcional estabelecida pelo próprio Deus, baseada na tarefa que ele deu a cada um. Assim temos a hieraquia familiar – marido e esposa; pais e filhos. Temos a hierarquia eclesiástica – pastores, líderes ministeriais e demais membros. Assim temos também a hierárquia institucionais, militares e governamentais, sem as quais não teríamos ordem. Dentro dessas estruturas funcionais, ninguém é maior que ninguém, apenas realizam funções diferentes, porque receberam de Deus capacidades e oportunidades diferentes e cada um deve ser respeitado por sua função. No reino de Deus não existe hierarquia entre os seres humanos estruturada no gênero sexual. Não existe hierarquia estruturada na santidade. Não existe hierarquia estruturada na classe social. Não existe hierarquia estruturada na raça, na etnia, na sabedoria, na idade, na força, no poder ou em qualquer outra coisa.    

A ressurreição com Cristo como realidade presente nos colocou dentro do Reino de Deus e agora vivemos neste mundo dominado pelo maligno, mas vivemos fundamentado nos valores e principios do reino de Deus. Somos para este mundo de trevas inimigo, mas para aqueles que se encontram cansados e sobrecarregados um ponto de esperança, de claridade, por isso a ressurreição com Cristo exige de nós obras de justiça.

 

3 – A RESSURREIÇÃO COM CRISTO EXIGE DE NÓS OBRAS DE JUSTIÇA

Os irmãos de Roma além dos conflitos relacionais entre eles que precisavam ser vencidos, eles também sofriam pressões externas do império romano e dos líderes religiosos do judaismo que tentavam calar a voz da Igreja.  Em meio a tudo isso, que já não era pouco, também sofriam pressões internas dos judaizantes. Um grupo de judeus que embora cressem que Jesus Cristo era o Messias acreditavam que era preciso guardar a Lei de Moisés. Acostumados a ritos e tradições como forma de adoração os judaizantes se tornaram religiosos insuportáveis dentro da igreja cristã, exigindo de todos que guardassem os mandamentos de Moisés e que os homens se circuncidassem. Assim como Paulo antes de sua conversão que chegou até mesmo a matar cristãos, estes judaizantes pensavam estarem fazendo justiça e agradando a Deus, mas estavam de fato ferindo o Corpo de Cristo, como fazem os religosos de hoje apegados aos ritos, tradições e leis de homens.

A ressurreição com Cristo como realidade presente exige de nós obras de justiça como afirma o apóstolo Paulo em Romanos 6.13,14:

13 Não ofereçam os membros dos seus corpos ao pecado, como instrumentos de injustiça; antes ofereçam-se a Deus como quem voltou da morte para a vida; e ofereçam os membros dos seus corpos a ele, como instrumentos de justiça. 14 Pois o pecado não os dominará, porque vocês não estão debaixo da lei, mas debaixo da graça. (Romanos 6.13,14)

O texto nos deixa claro que quem se levanta da morte com Cristo, se levanta para uma nova vida em Cristo, portanto não pode mais viver na velha vida dominada pelo pecado e atormentado pela culpa, pois agora vive debaixo da graça.

Quando falamos de não viver mais na velha vida, logo pensamos nas coisas gritantes como não pular mais carnaval, não roubar, não mentir, não falar palavrões, não fazer sexo com a namorada, não adulterar, etc. Todas estas coisas precisam ser abandonadas, mas Paulo está falando de coisas mais profundas que essas. Paulo está falando de coisas que estão apegadas ao nosso homem interior e que nos torna instrumentos de injustiça.

No século VI o papa Gregório Magno definiu os sete pecados capitais: a gula, a avareza, a luxúria, a ira, a inveja, a preguiça e a vaidade (orgulho). Certamente todos estes comportamentos humanos são pecaminosos, pois levam o ser humano a tornarem seus corpos instrumentos de injustiça. Eles ferem a Deus em primeiro lugar ao destruir a capacidade do ser humano de ser livre, pois Cristo na cruz morreu para que fossemos verdadeiramente livres; e em segundo lugar ferem os nossos semelhantes.

Ser dominado pela gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça ou vaidade é tornar a obra de Cristo na cruz sem eficácia. Aquele que com Cristo morreu e ressuscitou precisa se considerar morto para o pecado e vivo para Deus. Precisa fazer morrer o velho homem com suas obras e tornar o novo homem dominante sobre seu ser. O crente em Cristo não pode aceitar viver no pecado. O crente em Cristo precisa lutar contra o domínio do pecado até o dia da ressurreição, quando receber um novo corpo, um corpo incorruptível.

O apóstolo João fala sobre essa realidade, conforme podemos ler em 1 João 3.7-10.

7 Filhinhos, não deixem que ninguém os engane. Aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo. 8 Aquele que pratica o pecado é do diabo, porque o diabo vem pecando desde o princípio. Para isso o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo. 9 Todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado, porque a semente de Deus permanece nele; ele não pode estar no pecado, porque é nascido de Deus. 10 Desta forma sabemos quem são os filhos de Deus e quem são os filhos do diabo: quem não pratica a justiça não procede de Deus; e também quem não ama seu irmão. (1 João 3.7-10)

João está falando a mesma coisa que Paulo, o crente, o nascido de Deus, o ressurreto com Cristo não pratica obras de injustiça, não usa seu corpo para obras de injustiça, pelo contrário pratica obras de justiça. João é mais inflamado nas suas palavras, pois ele diz que aquele que não pratica obras de justiça não procede de Deus, mas do diabo. 

João  não está dizendo que o crente não peca, mas que não vive na prática do pecado, isto é, não vive abraçado com o pecado. Segundo ele aquele que vive na prática do pecado é do diabo e aquele que vive na prática da justiça procede de Deus.

Penso que precisamos refletir mais nessas palavras, pois acredito que muitos crentes praticam as obras da injustiça, obras do diabo. Muitos estão nas igrejas pensando que são filhos de Deus, mas são filhos do diabo. Eles creem em Deus, mas a Bíblia afirma que até os demonios creem em Deus. Eles declaram Jesus como Senhor, mas o próprio Senhor Jesus disse “nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7.21).

O que nos define como ressurretos com Cristo são as obras de justiça que praticamos. Mas cuidado porque muitas obras de injustiça são praticadas escondidas nas obras de justiça. Os religiosos são peritos nesta prática. Jesus apontou várias dessas obras e ainda assim muitos ainda hoje continuam praticando. Vejamos algumas dessas obras apontadas por Jesus:

1.      Orações, jejuns e esmolas  podem ser obras de injustiça quando não são feitas no secreto (Mt 6.1-5,16). São obras de injustiça quando são realizadas com o fim de que todos vejam e admirem sua bondade. Quando elas são praticadas por você com a intenção de mostrar sua espiritualidade a outros. Elas podem ser praticadas na presença de outros, mas quando o lugar e o momento são apropriados para isso.

2.      Dizimar pode se tornar uma obra de injustiça quando se faz sem exercer no dia a dia justiça, misericórdia e fidelidade (Mt 23.23). Exercer justiça não é ficar cobrando dos outros perfeição. Não é condenar outros por seus erros. Não é usar da lei para punir, humilhar e condenar os que nela cairem. Exercer justiça é repartir com os necessitados o pão de cada dia. Você deve entregar seu dízimo na igreja que congrega, mas não pode negligenciar a dor da fome de seu semelhante. Exercer justiça é lutar para que os pobres e aqueles que estão abaixo da linha da pobreza possam ter pão, escola, saúde todos os dias. Ser misericordioso é se compadecer da dor do próximo e agir para socorrê-lo, mas sem cair no erro de querer ser visto fazendo o bem.

3.      Adorar a Deus desprezando o irmão ou vivendo uma relação conflitante com ele é obra de injustiça (Mt 5.21-24). Deus não aceita essa oferta de adoração. É preciso primeiro se reconciliar com seu irmão.

4.      Sentar na mesa de Jesus considerando-se superior a um de seus irmãos é praticar obras de injustiça. Jesus repreendeu seus discípulos quando estes brigavam para ver quem seria maior entre eles (Lc 9.46). Esse foi um dos erros praticados pela igreja de Corinto quando celebravam a festa do ágape (1 Co 11.17-22).

5.      Tentar tirar o cisco do olho do seu irmão, quando se tem uma trave no seu próprio olho é praticar um ato de injustiça (Lc 6.42). Tire primeiro a trave do seu olho, julgue a si mesmo primeiro, para depois em amor ajudar o seu irmão. Todos temos ciscos em nossos olhos, todos pecamos.

 

Possivelmente você pode estar se lembrando de outras obras de injustiça apontada por Jesus. Note que estas obras embora pareçam justas, são atos de hipocresia aos olhos de Deus, pois são feitas com intenções escusas, egoístas, sem levar em consideração a vontade de Deus para os homens e sem estarem fundamentadas no amor.

 

REFLEXÃO FINAL

Quero encerrar essa mensagem lembrando que a ressurreição com Cristo é uma realidade presente que exige de você que crê nessa ressurreição uma nova vida, uma nova postura ética e moral diante as relações humanas e sociais, que exige que você viva usando seu corpo para a pratica de obras de justiça. Encerro com as palavras do apóstolo Paulo.

13 Não ofereçam os membros dos seus corpos ao pecado, como instrumentos de injustiça; antes ofereçam-se a Deus como quem voltou da morte para a vida; e ofereçam os membros dos seus corpos a ele, como instrumentos de justiça. (Romanos 6.13)

Deus te abençoe em todo tempo!

 

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

25/04/2021

 

 

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