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sexta-feira, 11 de junho de 2021

SERMÕES 123 - O CRISTÃO E A CULTURA (1 parte)

 O CRISTÃO E A CULTURA (1 parte)

Série: Juntos Podemos Mais

 

O tema de nossa mensagem de hoje é “O Cristão e a Cultura”. Essa mensagem está dividida em duas partes. Neste período da manhã veremos a primeira parte e a noite nós encerraremos com a segunda parte dessa reflexão.

Estamos dando continuidade a nossa série deste mês: “Juntos Podemos Mais”. Queremos mostrar que ao vivermos a unidade do Corpo de Cristo, ao agirmos juntos, nós podemos influenciar mais nossa sociedade do que quando agimos individualmente ou solitariamente como igreja. Podemos fazer mais politicamente pelo nosso país quando nos unimos e hoje veremos que podemos fazer mais culturalmente também.

Para iniciarmos esta reflexão quero primeiro apresentar o conceito do termo cultura.

 

1 – O CONCEITO DE CULTURA

Etimologicamente, a palavra provém do latim “colere” que significava cultivar as plantas, tratar a terra para o desenvolvimento das plantas. Essa palavra deu origem ao termo “culturae” se referindo ao cultivo da mente, do conhecimento.

Nós distinguimos o que é cultura do que é natural pelo fato de vermos nela evidências de esforço e propósitos humanos. Um rio é natureza, um canal é cultura; um galho bruto é natureza, uma flecha é cultura; um gemido é natural, uma palavra é cultura. Cultura é a obra de mentes e mãos humanas. É aquela porção de herança do homem em qualquer lugar ou tempo que nos foi deixada intencionalmente e laboriosamente por outros homens.

Para o nosso estudo consideraremos cultura tudo aquilo que é produzido pelo homem, construído pela sociedade humana, seja no plano concreto, que pode ser tocado, como artefatos, livros, comidas, bebidas, esportes, lazer, trabalho; como também o que é produzido pelo homem no plano abstrato, como ideias, crenças, costumes, músicas, ideologias, valores e princípios, linguagem, educação, estruturas governamentais, etc. A esse conjunto de realizações humanas que rege a vida da sociedade humana é que chamamos de cultura.

Uma vez que definimos o que é cultura, vejamos agora a relação do cristão com a cultura.


2 – A RELAÇÃO DO CRISTÃO COM A CULTURA

Quando um indivíduo se converte ao cristianismo logo ele se vê diante um conflito cultural que afeta sua espiritualidade. Esse conflito espiritual se deve em parte por causa das palavras de Jesus que estão registradas no Evangelho de João (Jo 17.13-16).

13 "Agora vou para ti, mas digo estas coisas enquanto ainda estou no mundo (criado), para que eles tenham a plenitude da minha alegria. 14 Dei-lhes a tua palavra, e o mundo (seres humanos) os odiou, pois eles não são do mundo (sistema/cultura), como eu também não sou. 15 Não rogo que os tires do mundo (criado), mas que os protejas do Maligno. 16 Eles não são do mundo (sistema/cultura), como eu também não sou". (João 17.13-16)

Jesus em sua oração sacerdotal afirma ao Pai que seus discípulos eram odiados pelo mundo, se referindo ao ódio dos seres humanos de forma geral. Ele também afirma que eles não pertenciam a este mundo, se referindo ao sistema, a cultura dominante sobre este mundo criado. Seus discípulos não pertenciam ao mundo, pois passaram a pertencer ao Reino dos Céus. Depois, Jesus, pede ao Pai para que eles não sejam tirados do mundo, se referindo ao mundo criado, isto é, que eles continuassem vivos para poderem testemunhar o que haviam aprendido com Ele.

Isso significa que nós discípulos de Jesus somos odiados neste mundo pelos demais seres humanos de forma geral, porque não pertencemos a este mundo, não nos associamos ao sistema maligno e a cultura anticristã que governam este mundo.

Essa realidade de vivermos no mundo e não pertencermos ao mundo se tornou ao longo dos anos um campo de conflito entre a Igreja e a cultura do mundo. A teologia católica produziu a partir dessa realidade uma dicotomia na vida entre o sagrado e o profano. Ela separou a vida e as obras em atividades espirituais e seculares. Esse erro teológico produziu e tem produzido ainda hoje cristãos carnais, por estes separarem a vida religiosa da vida secular. Isso explica porque muitos cristãos pulam carnaval, sonegam impostos, têm relacionamentos sexuais com as namoradas, cometem adultérios, e outros pecados e nos finais de semana cultuam a Deus sem demonstrar arrependimento algum de seus erros, pois separaram a vida religiosa da secular.

Nesta dicotomia católica o que fazemos dentro do espaço pertencente a igreja são consideradas atividades sagradas, e o que fazemos dentro do espaço pertencente ao mundo, a vida secular são consideradas atividades profanas.  Por exemplo: orar e ensinar a Palavra de Deus são consideradas atividades sagradas; ser padre, pastor é exercer um ofício sagrado, é exercer um ministério sagrado. Por outro lado construir um prédio, ensinar matemática, exercer profissões fora do campo eclesiástico é realizar coisas profanas, não é considerado como um ministério sagrado.

Precisamos vencer essa dicotomia, pois Deus dá a cada ser humano um dom especial. Para uns ensinar a Sua Palavra, para outros construir edificações, para que aqueles que ensinam a Palavra tenham onde morar e onde ensinar a Palavra; para outros Ele dá o dom de concertar objetos, criar programas, atuar, dançar, administrar, ensinar matemática, português, exercer a medicina, advogar, cantar, cozinhar, varrer, etc. Todos os trabalhos são ministérios sagrados quando feitos como para o Senhor, não com o fim de obter riquezas e nem glória pessoal, mas quando exercidos com o fim de servir a Deus e ao próximo.

Nós cristãos evangélicos, em sua grande maioria, continuamos vivendo dentro desse erro teológico, dentro desse dicotomismo do sagrado e do profano.

Quando Jesus disse “Eles não são do mundo, como eu também não sou” (Jo 17.16), ele não estava dizendo que a cultura do mundo é totalmente maligna. Ele não afirma que não há nada de bom na cultura secular. Ele apenas estava afirmando que o sistema que rege sobre este mundo é dominado pelo maligno e por isso seus discípulos seriam odiados, mas não que tudo o que os seres humanos produzem é maligno.

João em sua primeira epístola faz uma afirmação mais contundente, mais categórica a respeito da cultura mundana em 1 Jo 2.15-17.

15 Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. 16 Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo. 17 O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre. (1 João 2.15-17)

Diante deste texto preciso levantar uma pergunta: “João está afirmando que a cultura mundana é totalmente pervertida?” É importante respondermos a esta pergunta, pois atualmente nos tornarmos uma subcultura dentro de nossa própria cultura. Embora sejamos cidadãos do reino celestial, somos chamados para vivermos nossa fé, nossos valores e princípios dentro da cultura de nossa pátria terrena. Nós cristãos criamos o mundo gospel, uma cultura paralela, mas similar à cultura que rege o nosso mundo. Não fomos chamados para criarmos uma cultura à parte, mas para sermos sal e luz neste mesmo mundo o qual João diz para não amarmos, e nem amarmos o que nele há.

João não está dizendo que toda cultura do mundo é totalmente pervertida, nem mesmo está dizendo que tudo o que há no mundo é maligno. Ele não diz que não podemos amar “qualquer coisa” que esteja no mundo material. Ele diz que não podemos amar o que procede da cobiça da carne, dos olhos e da ostentação dos bens. Ele não diz que não podemos sentir interesse em animais, flores, florestas, riachos e fontes. Ele não diz que não podemos admirar ou amar o que Deus fez como criador de todas as coisas. Também não diz que não podemos amar nenhum dos habitantes do mundo, nossos amigos e parentes. João não está dizendo que não podemos obter nenhum bem nesta vida e nem buscar recursos para prover nossas famílias. O que ele está dizendo é que não devemos amar as coisas que são procuradas com o fim de satisfazer o apetite de nossa carne (luxuria, glutonaria, bebedeira, a preguiça), o apetite dos nossos olhos (tudo que nossos olhos veem – isso pode nos levar ao adultério, a busca por riquezas) ou o apetite do nosso orgulho quando desejamos ser vistos, reconhecidos pelas demais pessoas (roupas caras, carros caros, casas enormes, etc.). Esses são os objetos desejados e procurados pelas pessoas do mundo, que não conhecem a Jesus Cristo, que não optarem em viver como Cristo. Esses não deveriam ser os objetos de desejo e de busca dos cristãos, mas tem sido! Esses desejos, segundo o apóstolo João, não provém do Pai, mas do mundo, ou seja, são produtos do príncipe deste mundo que governa a partir de nossa própria corrupção.

Nesta cultura paralela chamada “Gospel” a cobiça da carne, dos olhos e da ostentação dos bens tem sido cada vez mais notório. O aumento de cristãos evangélicos despertou o interesse da cultura econômica regente no mundo pela subcultura cristã e em nome da excelência, da prosperidade, da necessidade de lazer para os cristãos o mercado criou o que chamamos de mercado gospel colonizando o submundo cristão e despertando sua cobiça. Portanto não vivemos mais somente em conflito com a cultura do mundo, mas também com a subcultura cristã, a cultura paralela à cultura do mundo.

 

REFLEXÃO FINAL

Quero concluir afirmando que não existe uma cultura neutra. A cultura sempre refletirá a situação moral e espiritual das pessoas que a compõe. A cultura do mundo ela jaz no maligno, porque as pessoas que a constroem são em sua grande maioria ímpias. A subcultura cristã reflete o domínio de um cristianismo distorcido de sua essência, de sua verdade, levando as pessoas para a morte eterna.

Diante a realidade dos nossos dias eu quero apresentar um desafio a você em nome de Jesus, como servo do Deus Altíssimo. Por amor a Jesus, seja um cristão que brilhe tanto para o mundo o qual Jesus te enviou, como também seja um cristão que brilhe para este submundo gospel, dominado pelo mercado, pela cultura econômica que rege o mundo. Seja um cristão que conduza as vidas perdidas no mundo e também as vidas perdidas no submundo gospel para Jesus Cristo.

Seja sal e luz neste mundo. Evangelize todas as pessoas que façam parte de seu circulo de relações, pois a salvação delas depende do conhecimento da verdade. Muitas estão sendo enganadas pelos falsos pastores. Jesus é a verdade e as suas palavras são verdadeiras.

PASTORAL: A Bíblia afirma que só entrarão no Reino de Deus aqueles que fazem a vontade do Pai, aqueles que vivem os ensinos de Jesus. Não basta dizer que creem em Jesus. Não basta dizer que Jesus é Senhor de sua vida. É preciso viver em conformidade com a vontade do Pai. É isso que nos move a fazermos mensagens profundas a respeito da Palavra de Deus. Nós os pastores desta igreja queremos que você seja um discípulo de Jesus, uma pessoa que vive como Jesus viveu e que age como Jesus agiria em seu lugar.

Como discípulo você precisa evangelizar. Você precisa ser sal e luz para o mundo. Não viva numa cultura paralela. Influencie a cultura onde você está inserido com os valores e princípios do Reino de Deus. Não se incomode se te odiarem, pois você não pertence a este mundo. Nunca se esqueça, Jesus estará sempre contigo. Deus te abençoe!

 

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

13/06/2021 (manhã)

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