O CRISTÃO E A CULTURA (1 parte)
Série: Juntos
Podemos Mais
O tema de nossa mensagem de hoje é “O Cristão e a Cultura”.
Essa mensagem está dividida em duas partes. Neste período da manhã veremos a
primeira parte e a noite nós encerraremos com a segunda parte dessa reflexão.
Estamos dando continuidade a nossa série deste mês:
“Juntos Podemos Mais”. Queremos mostrar que ao vivermos a unidade do Corpo de
Cristo, ao agirmos juntos, nós podemos influenciar mais nossa sociedade do que
quando agimos individualmente ou solitariamente como igreja. Podemos fazer mais
politicamente pelo nosso país quando nos unimos e hoje veremos que podemos
fazer mais culturalmente também.
Para iniciarmos esta reflexão quero primeiro apresentar o conceito do termo cultura.
1 – O
CONCEITO DE CULTURA
Etimologicamente,
a palavra provém do latim “colere” que significava cultivar as plantas, tratar
a terra para o desenvolvimento das plantas. Essa palavra deu origem ao termo
“culturae” se referindo ao cultivo da mente, do conhecimento.
Nós distinguimos o que é cultura do que é natural pelo
fato de vermos nela evidências de esforço e propósitos humanos. Um rio é natureza,
um canal é cultura; um galho bruto é natureza, uma flecha é cultura; um gemido
é natural, uma palavra é cultura. Cultura é a obra de mentes e mãos humanas. É
aquela porção de herança do homem em qualquer lugar ou tempo que nos foi
deixada intencionalmente e laboriosamente por outros homens.
Para o nosso
estudo consideraremos cultura tudo aquilo que é produzido pelo homem,
construído pela sociedade humana, seja no plano concreto, que pode ser tocado,
como artefatos, livros, comidas, bebidas, esportes, lazer, trabalho; como
também o que é produzido pelo homem no plano abstrato, como ideias, crenças, costumes,
músicas, ideologias, valores e princípios, linguagem, educação, estruturas
governamentais, etc. A esse conjunto de realizações humanas que rege a vida da
sociedade humana é que chamamos de cultura.
Uma vez que
definimos o que é cultura, vejamos agora a relação do cristão com a cultura.
2 – A RELAÇÃO DO CRISTÃO COM A CULTURA
Quando um indivíduo se converte
ao cristianismo logo ele se vê diante um conflito cultural que afeta sua
espiritualidade. Esse conflito espiritual se deve em parte por causa das
palavras de Jesus que estão registradas no Evangelho de João (Jo 17.13-16).
13 "Agora vou para ti, mas
digo estas coisas enquanto ainda estou no mundo (criado), para que
eles tenham a plenitude da minha alegria. 14 Dei-lhes a tua palavra, e o mundo (seres humanos) os odiou, pois eles
não são do mundo (sistema/cultura), como eu também não sou. 15 Não rogo que os tires do mundo (criado), mas que os protejas do Maligno. 16 Eles não são do mundo (sistema/cultura), como eu também não sou".
(João 17.13-16)
Jesus em sua oração sacerdotal
afirma ao Pai que seus discípulos eram odiados pelo mundo, se referindo ao ódio
dos seres humanos de forma geral. Ele também afirma que eles não pertenciam a
este mundo, se referindo ao sistema, a cultura dominante sobre este mundo
criado. Seus discípulos não pertenciam ao mundo, pois passaram a pertencer ao
Reino dos Céus. Depois, Jesus, pede ao Pai para que eles não sejam tirados do
mundo, se referindo ao mundo criado, isto é, que eles continuassem vivos para
poderem testemunhar o que haviam aprendido com Ele.
Isso significa que nós discípulos
de Jesus somos odiados neste mundo pelos demais seres humanos de forma geral,
porque não pertencemos a este mundo, não nos associamos ao sistema maligno e a
cultura anticristã que governam este mundo.
Essa realidade de vivermos no
mundo e não pertencermos ao mundo se tornou ao longo dos anos um campo de
conflito entre a Igreja e a cultura do mundo. A teologia católica produziu a partir
dessa realidade uma dicotomia na vida entre o sagrado e o profano. Ela separou
a vida e as obras em atividades espirituais e seculares. Esse erro teológico
produziu e tem produzido ainda hoje cristãos carnais, por estes separarem a
vida religiosa da vida secular. Isso explica porque muitos cristãos pulam
carnaval, sonegam impostos, têm relacionamentos sexuais com as namoradas,
cometem adultérios, e outros pecados e nos finais de semana cultuam a Deus sem
demonstrar arrependimento algum de seus erros, pois separaram a vida religiosa
da secular.
Nesta dicotomia católica o que
fazemos dentro do espaço pertencente a igreja são consideradas atividades
sagradas, e o que fazemos dentro do espaço pertencente ao mundo, a vida secular
são consideradas atividades profanas.
Por exemplo: orar e ensinar a Palavra de Deus são consideradas
atividades sagradas; ser padre, pastor é exercer um ofício sagrado, é exercer
um ministério sagrado. Por outro lado construir um prédio, ensinar matemática,
exercer profissões fora do campo eclesiástico é realizar coisas profanas, não é
considerado como um ministério sagrado.
Precisamos vencer essa dicotomia,
pois Deus dá a cada ser humano um dom especial. Para uns ensinar a Sua Palavra,
para outros construir edificações, para que aqueles que ensinam a Palavra tenham
onde morar e onde ensinar a Palavra; para outros Ele dá o dom de concertar
objetos, criar programas, atuar, dançar, administrar, ensinar matemática,
português, exercer a medicina, advogar, cantar, cozinhar, varrer, etc. Todos os
trabalhos são ministérios sagrados quando feitos como para o Senhor, não com o
fim de obter riquezas e nem glória pessoal, mas quando exercidos com o fim de
servir a Deus e ao próximo.
Nós cristãos evangélicos, em sua
grande maioria, continuamos vivendo dentro desse erro teológico, dentro desse
dicotomismo do sagrado e do profano.
Quando Jesus disse “Eles não são do
mundo, como eu também não sou” (Jo 17.16), ele não estava dizendo que a cultura do mundo é totalmente maligna. Ele não afirma que não há
nada de bom na cultura secular. Ele apenas estava afirmando que o sistema que
rege sobre este mundo é dominado pelo maligno e por isso seus discípulos seriam
odiados, mas não que tudo o que os seres humanos produzem é maligno.
João em sua primeira epístola faz
uma afirmação mais contundente, mais categórica a respeito da cultura mundana
em 1 Jo 2.15-17.
15 Não amem o mundo nem o que nele
há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. 16 Pois tudo o que há no
mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo. 17 O
mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece
para sempre. (1 João 2.15-17)
Diante deste texto preciso
levantar uma pergunta: “João está afirmando que a cultura mundana é totalmente
pervertida?” É importante respondermos a esta pergunta, pois atualmente nos
tornarmos uma subcultura dentro de nossa própria cultura. Embora sejamos
cidadãos do reino celestial, somos chamados para vivermos nossa fé, nossos
valores e princípios dentro da cultura de nossa pátria terrena. Nós cristãos
criamos o mundo gospel, uma cultura paralela, mas similar à cultura que rege o
nosso mundo. Não fomos chamados para criarmos uma cultura à parte, mas para
sermos sal e luz neste mesmo mundo o qual João diz para não amarmos, e nem
amarmos o que nele há.
João não está dizendo que toda
cultura do mundo é totalmente pervertida, nem mesmo está dizendo que tudo o que
há no mundo é maligno. Ele não diz que não podemos amar “qualquer coisa”
que esteja no mundo material. Ele diz que não podemos amar o que procede da
cobiça da carne, dos olhos e da ostentação dos bens. Ele não diz que não
podemos sentir interesse em animais, flores, florestas, riachos e fontes. Ele
não diz que não podemos admirar ou amar o que Deus fez como criador de todas as
coisas. Também não diz que não podemos amar nenhum dos habitantes do mundo,
nossos amigos e parentes. João não está dizendo que não podemos obter nenhum bem
nesta vida e nem buscar recursos para prover nossas famílias. O que ele está
dizendo é que não devemos amar as coisas que são procuradas com o fim de
satisfazer o apetite de nossa carne
(luxuria, glutonaria, bebedeira, a preguiça), o apetite dos nossos olhos (tudo que nossos olhos veem – isso pode
nos levar ao adultério, a busca por riquezas) ou o apetite do nosso orgulho quando desejamos ser vistos,
reconhecidos pelas demais pessoas (roupas caras, carros caros, casas enormes,
etc.). Esses são os objetos desejados e procurados pelas pessoas do mundo, que
não conhecem a Jesus Cristo, que não optarem em viver como Cristo. Esses não
deveriam ser os objetos de desejo e de busca dos cristãos, mas tem sido! Esses
desejos, segundo o apóstolo João, não provém do Pai, mas do mundo, ou seja, são
produtos do príncipe deste mundo que governa a partir de nossa própria
corrupção.
Nesta cultura paralela chamada “Gospel” a cobiça da carne, dos olhos e
da ostentação dos bens tem sido cada vez mais notório. O aumento de cristãos
evangélicos despertou o interesse da cultura econômica regente no mundo pela
subcultura cristã e em nome da excelência, da prosperidade, da necessidade de
lazer para os cristãos o mercado criou o que chamamos de mercado gospel colonizando
o submundo cristão e despertando sua cobiça. Portanto não vivemos mais somente
em conflito com a cultura do mundo, mas também com a subcultura cristã, a
cultura paralela à cultura do mundo.
REFLEXÃO FINAL
Quero concluir afirmando que não existe uma cultura neutra. A cultura
sempre refletirá a situação moral e espiritual das pessoas que a compõe. A
cultura do mundo ela jaz no maligno, porque as pessoas que a constroem são em
sua grande maioria ímpias. A subcultura cristã reflete o domínio de um
cristianismo distorcido de sua essência, de sua verdade, levando as pessoas
para a morte eterna.
Diante a realidade dos nossos dias eu quero apresentar um desafio a
você em nome de Jesus, como servo do Deus Altíssimo. Por amor a Jesus, seja um
cristão que brilhe tanto para o mundo o qual Jesus te enviou, como também seja
um cristão que brilhe para este submundo gospel, dominado pelo mercado, pela
cultura econômica que rege o mundo. Seja um cristão que conduza as vidas
perdidas no mundo e também as vidas perdidas no submundo gospel para Jesus
Cristo.
Seja sal e luz neste mundo. Evangelize todas as pessoas que façam parte
de seu circulo de relações, pois a salvação delas depende do conhecimento da
verdade. Muitas estão sendo enganadas pelos falsos pastores. Jesus é a verdade
e as suas palavras são verdadeiras.
PASTORAL: A Bíblia afirma que só entrarão no Reino de Deus aqueles que fazem a
vontade do Pai, aqueles que vivem os ensinos de Jesus. Não basta dizer que
creem em Jesus. Não basta dizer que Jesus é Senhor de sua vida. É preciso viver
em conformidade com a vontade do Pai. É isso que nos move a fazermos mensagens
profundas a respeito da Palavra de Deus. Nós os pastores desta igreja queremos
que você seja um discípulo de Jesus, uma pessoa que vive como Jesus viveu e que
age como Jesus agiria em seu lugar.
Como discípulo você precisa evangelizar. Você precisa ser sal e luz
para o mundo. Não viva numa cultura paralela. Influencie a cultura onde você
está inserido com os valores e princípios do Reino de Deus. Não se incomode se
te odiarem, pois você não pertence a este mundo. Nunca se esqueça, Jesus estará
sempre contigo. Deus te abençoe!
Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
13/06/2021 (manhã)
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