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terça-feira, 22 de junho de 2021

SERMÕES 125 - O CRISTÃO E A ESPIRITUALIDADE (1 parte)

 O CRISTÃO E A ESPIRITUALIDADE (1 parte)

Série: Juntos Podemos Mais

 

O nosso tema de hoje é “O Cristão e a Espiritualidade”. Nossa espiritualidade como cristãos quando vivida de forma correta e em unidade com o Corpo de Cristo produzirá uma grande influência sobre a sociedade humana. Todas as vezes que a Igreja de Cristo experimentou um avivamento ela provocou grandes mudanças na sociedade onde estava inserida. Mas por que não temos visto esta influência sobre nossa sociedade brasileira, sobre nossa pátria, uma vez que 80% de nossa população é cristã?

Eu acredito que isso se deve por três razões: A primeira razão por causa da dicotomia que recebemos da teologia católica, onde o mundo foi separado em sagrado e profano, secular e espiritual. Falamos sobre isso no último domingo. A segunda razão por causa da institucionalização da igreja. Passamos a amar as nossas instituições eclesiásticas mais do que o próprio Reino de Deus. Trabalhamos mais em prol de nossas instituições do que em prol do Reino de Deus. Discutimos e brigamos por tradições organizacionais rígidas e inflexíveis que são totalmente baseadas nos modelos de organizações humanas e por isso sujeitas a erros e as limitações do tempo, uma vez que os comportamentos e as estruturas sociais humanas se transformam de geração em geração, e assim limitamos através da institucionalização rígida e fria de nossas igrejas a própria ação do Espírito Santo. A terceira razão por causa de nossa teologia contemporânea que é mais voltada para o bem-estar do ser humano em sua individualidade do que com seu compromisso com Cristo e Seu Reino neste mundo.

Estas três razões têm no meu entender produzido uma espiritualidade enfraquecida, egoísta, incapaz de influenciar a sociedade humana, pois ela não é capaz de oferecer gestos de sacrifícios, isto é, gestos que produzam beneficios para o outro e perdas para si mesmo.

Na busca de uma reflexão sincera a respeito de nossa espiritualidade, precisamos primeiro definir o que compreendemos de espiritualidade, por isso iremos iniciar nossa reflexão definindo o conceito geral de espiritualidade.

 

1 – O CONCEITO GERAL DE ESPIRITUALIDADE

espiritualidade pode ser definida de maneira geral como uma "propensão humana a buscar significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível, ou à busca de um sentido ou de uma conexão com algo maior que si próprio". Você percebe que o conceito de espiritualidade de maneira geral está ligado com a ideia de você superar a si mesmo – transcender o tangível, ter um sentido de vida maior que a si próprio, ou um conectar-se com algo maior que a si mesmo.

Em nossos dias a espiritualidade não está mais condicionada somente ao campo religioso. Alguns autores da sociologia defendem a existência de uma espiritualidade no ateísmo. Para estes o ser humano está aberto para o ilimitado, em busca de uma harmonização de sua vida com as demais vidas do planeta, uma experiência de existência com os demais seres vivos. Algo mais intelectual do que exotérico.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) vem aprofundando investigações sobre a espiritualidade enquanto constituinte do conceito multidimensional de saúde; atualmente, o bem-estar espiritual vem sendo considerado mais uma dimensão do estado de saúde, junto às dimensões corporais, psíquicas e sociais. Não é uma defesa de uma fé em si, mas o reconhecimento de que a saúde espiritual afeta positivamente ou negativamente as demais dimensões da vida do ser humano.

Entretanto nós cristãos temos um conceito mais relacional a respeito de Espiritualidade. Vamos definir o conceito cristão de espiritualidade.

  

2 – O CONCEITO CRISTÃO DE ESPIRITUALIDADE

Quando falamos de espiritualidade dentro do nosso meio cristão, acredito que muitas imagens passam nas nossas cabeças. Para alguns, espiritualidade está ligada com as manifestações dos dons espirituais: falar em línguas, profetizar, ter visões, etc. O que leva alguns a pensarem que as igrejas pentecostais sejam mais espirituais que as nossas igrejas chamadas popularmente de tradicionais.

Para outros, espiritualidade está ligada as expressões sentimentais: dar gritos de “glória a Deus”, pular igual pipoca, girar até ficar tonto, se arrepiar todinho, cair na unção, e outras manifestações psíquicas. Estas acreditam que a espiritualidade está na liberdade das expressões sentimentais. Isto se tornou muito comum nas igrejas neopentecostais. Estes tipos de manifestações também são muito comuns nas religiões afro-brasileiras (Candomblé, Umbanda, Xangô, etc.).

Para outros, espiritualidade está ligada a fidelidade: dizimar, ofertar, participar ativamente de todas as atividades da igreja.  Para estes a espiritualidade é compreendida no cumprimento aos rituais, na obediência as leis. Estes veem no legalismo a espiritualidade.

Ainda há aqueles que consideram espiritualidade viver a vida como um monge: não ouvem músicas seculares, não vão ao cinema, não bebem vinho e muito menos cerveja, não fazem sexo por prazer, somente para procriar. Espiritualidade para estes só é possível vivendo fora do mundo. Confundem o ser santo com viver fora do mundo.

Existem ainda aqueles que acreditam que a espiritualidade cristã está ligada a proclamação pública da fé em Cristo Jesus ou ao fato de possuir um grande conhecimento bíblico. Em fim, há muitos conceitos de espiritualidade dentro do meio cristão.  Mas, o que é de fato uma espiritualidade cristã a luz da Bíblia?

Espiritualidade cristã é o encontro do ser humano com seu Criador, Jesus Cristo, na cruz. Essa espiritualidade só se torna real na vida do ser humano quando ele se rende ao amor de Jesus e O reconhece como o único Senhor de sua vida. A espiritualidade cristã só pode ser vivida e experimentada através do poder regenerador do Espírito Santo, conforme lemos em João 3.5-7.

5 Respondeu Jesus: "Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito. 6 O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito. 7 Não se surpreenda pelo fato de eu ter dito: É necessário que vocês nasçam de novo. (João 3.5-7)

Portanto a espiritualidade cristã não nasce do esforço humano, mas da rendição humana a voz do Espírito Santo. Ela não é fruto das boas obras, mas da graça de Deus revelada em Seu Filho Jesus Cristo. Entretanto uma vez nascidos de Deus pelo poder regenerador do Espírito Santo somos convocados a desenvolvermos nossa espiritualidade, conforme lemos em Filipenses 2.12,13.

12 Assim, meus amados, como sempre vocês obedeceram, não apenas em minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor, 13 pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele. (Filipenses 2.12,13)

Quando o apóstolo Paulo diz “ponham em ação a salvação de vocês”, ele está dizendo “aperfeiçoem a espiritualidade de vocês”, “desenvolvam a espiritualidade de vocês”.

Diante desta fala do apóstolo Paulo, eu acredito que seja importante diferenciarmos espiritualidade de religiosidade. Devemos desenvolver nossa espiritualidade e não nossa religiosidade, nem nossa religião.

Espiritualidade é algo inerente do nosso ser, pois fomos criados por Deus a sua imagem e semelhança. Somos seres espirituais necessitados da graça de Deus. Existe um grito em nossa alma por um encontro com nosso Criador. A espiritualidade é esta dimensão humana que antecede às religiões.

As religiões vieram a existir pegando as expressões de espiritualidade de determinados grupos e as transformando em conjuntos de doutrinas, crenças, símbolos, tradições, ritos e hierarquias afirmando que aqueles que as cumpre serão religados a Deus. A religiosidade é o indivíduo buscando se religar a Deus através da religião.

Nós cristãos não anunciamos uma religião e nem incentivamos uma experiência religiosa, nós pregamos um encontro com um Deus vivo e pessoal, este encontro é o ponto de partida da espiritualidade cristã, e toda espiritualidade cristã é construída na relação do crente com Deus.

Portanto o desenvolvimento de nossa espiritualidade implica no desenvolvimento de nossa relação com Deus, isso implica em um processo de maturidade.

Vejamos como podemos desenvolver nossa espiritualidade, nossa maturidade espiritual.

 

3 – DESENVOLVENDO A ESPIRITUALIDADE

Creio que seja relevante ressaltar que uma espiritualidade madura, desenvolvida, saudável não consiste simplesmente pelas manifestações dos dons espirituais, nem simplesmente pelas manifestações psíquicas estereotipadas no meio evangélico, assim também como não consiste simplesmente na obediência de alguns ritos ou mandamentos.

Todas estas ações podem fazer parte de uma espiritualidade madura, mas elas sozinhas não caracterizam uma espiritualidade madura. Isso porque a espiritualidade não pode ser desmembrada em partes, ela precisa abranger todas as dimensões da vida. Há muitas pessoas que oram em português, em línguas estranhas, jejuam, são dizimistas, praticam boas obras, dão gritos de “Glória a Deus”, mas não são espirituais aos olhos de Deus.

Ser espiritual no contexto cristão é viver a espiritualidade em Cristo de forma racional e emocional ao mesmo tempo em todas as áreas da vida. Ser espiritual na visão cristã, bíblica é ser humano como Cristo. Jesus nunca perdeu o domínio de sua razão e de suas emoções. Mesmo quando agia no sobrenatural, ele tinha o controle de sua mente, de seu corpo e de suas emoções. Quanto mais espirituais nos tornamos, mais humanos e parecidos com Cristo nos tornamos.

Acredito que uma espiritualidade desenvolvida é altruísta enquanto uma espiritualidade infantil é egoísta. Todos nós iniciamos nossa espiritualidade de forma egoísta, partimos de uma espiritualidade infantil, e na medida, que nossa relação com Deus se desenvolve nossa espiritualidade também vai se desenvolvendo e se tornando cada vez mais altruísta.

Infelizmente muitos cristãos mesmo tendo muitos anos de conversão permanecem numa espiritualidade infantil. Não passaram pelo processo de amadurecimento. Por isso é importante compreender que as práticas que apresentaremos para o desenvolvimento de sua espiritualidade não pode estar desassociadas das demais dimensões de sua vida. O desenvolvimento espiritual só é possível em conjunto com o desenvolvimento intelectual e emocional. Quando falo aqui de um desenvolvimento intelectual ou racional não estou falando de um saber acadêmico, mas de uma compreensão da vida. O desenvolvimento emocional implica em saber dominar suas emoções diante as muitas variáveis que a vida pode apresentar. Na linguagem Paulina é ter domínio próprio.

O desenvolvimento de nossa espiritualidade é na verdade o desenvolvimento de nossa santidade. Vejamos algumas que práticas podem nos ajudar a desenvolver nossa espiritualidade.

 

Ø Oração

17 Orem continuamente. (1 Tessalonicenses 5.17)

A oração é feita por muitos mais como um instrumento para mudar o coração de Deus. Por meio dela apresentamos a Deus nossos desejos e ficamos aguardando que Ele faça o que pedimos. Ás vezes isso acontece, mas nem sempre.

Contudo deveríamos orar mais com o fim de buscar o saber de Deus, de nos relacionarmos com Ele e através deste diálogo sermos transformados por Seu saber, e assim alinharmos a nossa vontade a Dele.

C.S. Lewis, escritor da famosa série do cinema “As Crônicas de Nárnia”, quando questionado sobre a importância da oração disse: “Deus não precisa da minha oração. Sou eu quem preciso dela. A oração me aproxima de Deus, revela minha dependência, minha fome e sede por Sua vontade, seu Reino, sua pessoa. A oração muda principalmente a mim — minha visão de Deus, do próximo, das circunstâncias.

 

Ø Solitude  

63 Certa tarde, saiu (Isaque) ao campo para meditar (Gênesis 24.63)

Quando falamos de solitude estamos falando de meditação. A meditação bíblica não trata de algo exotérico, não se refere a ficar no silêncio tentando se conectar com o universo. Nem tampouco trata de ficar filosofando a respeito da vida ou de Deus. Meditar na bíblia é buscar Deus de forma contemplativa, se abrindo para compreender sua revelação.

Enquanto na oração eu me abro a Deus por meio das palavras, na solitude eu paro para ouvir a Deus e contemplá-lo em Sua formosura.

 

Ø Comunhão  

44 Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. (Atos 2.44)

Manter-se unido e ter tudo em comum é fundamental para o desenvolvimento de nossa espiritualidade. Uma espiritualidade que não é centrada no outro, que não é altruísta, é uma espiritualidade infantilizada e egoísta. (Hoje à noite pretendo tratar mais sobre a diferença de uma espiritualidade infantilizada e egoísta de uma espiritualidade madura e altruísta)

 

Ø Missão 

15 E disse-lhes: "Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas. (Marcos 16.15)

Enquanto nos encontramos fazendo missões somos desafiados em todas as dimensões da vida. Estes desafios colaboram das mais diversas formas para o desenvolvimento de nossa espiritualidade.

Nossa conduta ética é muitas vezes colocada a prova no trabalho, na escola, nos negócios, nas relações pessoais. Nossa paciência é constantemente testada no transito, no elevador, na fila do caixa, no tratar com aqueles que pensam diferente de nós.

Os desafios da missão nos leva a necessidade de orarmos, meditarmos, buscarmos a comunhão dos irmãos para com eles aprendermos e encontrarmos apoio para continuarmos sendo cristãos no mundo e nos desenvolvendo espiritualmente.

 

REFLEXÃO FINAL

Quero concluir ressaltando que ser espiritual aos olhos de Deus não é simplesmente praticar obras pertencentes ao campo religioso. Uma pessoa espiritual é aquela que é parecida com Jesus, pois Ele foi o ser humano perfeito, conectado com Deus e com todas as dimensões da vida humana. 

Por isso  entendemos que não são as atitudes religiosas, sejam elas do contexto pentecostal ou tradicional que definem sua espiritualidade, mas sim, viver da maneira que você foi criado por Deus para viver, se deixando ser guiado pelo Espírito Santo em uma vida prática com Deus dentro deste mundo tenebroso em que nos encontramos, como Jesus viveu.

 

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

20/06/2021 (manhã)

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