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terça-feira, 22 de junho de 2021

SERMÕES 126 - O CRISTÃO E A ESPIRITUALIDADE (2 parte)

 O CRISTÃO E A ESPIRITUALIDADE (2 parte)

Série: Juntos Podemos Mais

 

Daremos continuidade a nossa reflexão da manhã “O Cristão e a Espiritualidade”. Hoje de manhã falamos sobre o conceito geral de espiritualidade e também o conceito cristão de espiritualidade. Vimos também algumas práticas necessárias para o desenvolvimento de nossa espiritualidade. Hoje à noite iremos mostrar a diferença entre uma espiritualidade infantil e uma espiritualidade madura.

Vamos iniciar nossa reflexão apresentando as características de uma espiritualidade infantil.

 

1 – CARACTERÍSTICAS DE UMA ESPIRITUALIDADE INFANTIL

Hoje pela manhã falamos que espiritualidade cristã é o encontro do ser humano com seu Criador, Jesus Cristo, na cruz. Esse é o ponto de partida da espiritualidade cristã. Essa espiritualidade só se torna real na vida do ser humano quando ele se rende ao amor de Jesus e O reconhece como o único Senhor de sua vida.

Quando nós cremos em Jesus Cristo recebemos o Espírito Santo de Deus e a vida de Deus passa a ser presente em nós. Dessa forma nós que nos encontrávamos mortos espiritualmente somos vivificados pela presença do Espírito Santo de Deus em nós. A Bíblia chama esta experiência de novo nascimento. A espiritualidade cristã só pode ser vivida e experimentada através do novo nascimento, conforme lemos em João 3.5-7.

5 Respondeu Jesus: "Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito. 6 O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito. 7 Não se surpreenda pelo fato de eu ter dito: É necessário que vocês nasçam de novo. (João 3.5-7)

Uma vez nascido do Espírito o cristão começa o processo de desenvolvimento de sua salvação, de sua espiritualidade ou ainda de sua santidade. Veja bem estamos falando de um processo de desenvolvimento.

A nossa vida espiritual não se inicia já madura, pelo contrário ela se inicia infantilizada. Assim como não nascemos adultos na vida natural, também não nascemos na vida espiritual. Existe um processo que precisa ser trilhado para alcançarmos a maturidade espiritual. Este processo inclui práticas como oração, meditação, comunhão, missão que colaboram para o desenvolvimento espiritual quando praticadas juntamente com as outras dimensões da vida humana – o intelecto, o corpo físico e a alma.

Nossa relação com Deus é espiritual, mas também é intelectual, física e emocional, conforme lemos em Mateus 22.37.

27 Ele respondeu: "‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento’... (Lucas 10.27)

A nossa espiritualidade ela começa quase que totalmente verticalizada, ela é uma relação exclusiva com Deus e totalmente dependente da ação de Deus em nós. O Espírito Santo de Deus é quem nos faz tomar conhecimento do pecado, da justiça e do juízo de Deus. Ele inicia um processo de transformação de nossa mente por meio da Palavra de Deus. Nesta fase de nossa infância espiritual nos descobrimos como seres humanos e descobrimos o amor imensurável de Deus por nós.

O próximo ainda não faz parte da nossa espiritualidade, da nossa existência como ser humano. Nesta fase ainda nos vemos como seres individualizados; assim como Adão e Eva passaram a se ver depois de terem comido o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Nesse aspecto nossa espiritualidade se inicia de forma egoísta onde minha relação com Deus existe centrada e construída basicamente a partir das minhas necessidades, dos meus sentimentos. Ainda estou me relacionando com Deus em busca de preencher o vazio existencial de minha alma. Não nos sentimos responsáveis pela vida do outro. Não nos sentimos responsáveis pelo meio ambiente onde estamos inseridos. Não nos percebemos como unidade com as demais pessoas.

Nossas orações são voltadas para as nossas necessidades e para os nossos anseios. Oramos por aquilo que afeta a nossa dimensão pessoal com ser humano. O nosso “eu” ainda fala alto na relação com Deus. A nossa busca por Deus e pelo poder de Deus tem mais a ver com o nosso desejo de experimentar Deus do que com revelar o amor de Deus ao mundo.

A nossa relação com a comunidade também é voltada para o nosso próprio “eu”, pois nos relacionamos inicialmente com os irmãos com o fim de recebermos deles alimento espiritual e bênçãos espirituais. Nesse sentindo a nossa relação com a comunidade também é uma relação egoísta, voltada em busca de nossas necessidades. Precisamos crescer, precisamos amadurecer espiritualmente. Existem muitos crentes com dez, vinte, trinta anos na igreja que ainda continuam na infância espiritual. 

Vejamos as características de uma espiritualidade madura.

 

2 – CARACTERÍSTICAS DE UMA ESPIRITUALIDADE MADURA

Creio que ninguém no mundo tem dúvida de que Jesus possuía uma espiritualidade madura, perfeita. Até mesmos outras religiões reconhecem essa verdade. Assim sendo iremos analisar a espiritualidade de Jesus e dela extrairmos marcas de uma espiritualidade madura.

Na medida em que desenvolvemos nossa relação com Deus e que todo o nosso ser vai sendo colocado sob o domínio do Espírito Santo, vamos aos poucos nos tornando mais como Jesus, isso significa que vamos nos tornando humanos como Jesus, possuidores de uma espiritualidade semelhante a de Jesus.

A espiritualidade de Jesus possui marcas muito claras, não estou falando de práticas que colaboram para a vida espiritual, como oração, jejuns, meditação, etc. (que fique claro que estas praticas colaboram para o sustento de nossa espiritualidade e devem ser praticadas), mas estou falando de uma cosmovisão de vida que determina o nível de espiritualidade. A espiritualidade de Jesus, no meu entender, não é determinada pelo tempo que ele dedicava as orações, jejuns e meditações, mas por sua compreensão da vida como um todo.

Eu vou tentar apontar algumas destas marcas, visando nos ajudar a percebê-las, mesmo entendendo que não é bom separar algo que pertence a um todo. Quando fazemos isso, temos uma forte tendência de enxergarmos as coisas de forma fragmentada e não inteira. Acho que esse é o grande erro da teologia sistemática. Muitos pastores se relacionam com um Deus fragmentado. Eles se relacionam com algumas características de Deus e não com o Deus todo.

·      Primeira marca de uma espiritualidade madura: Amor a Deus e ao Próximo

O amor ao Pai é evidenciado no amor ao próximo. A relação de amor de Jesus com o Pai O levou a encarnação e a morte na cruz pela humanidade.

A Bíblia nos ensina que não se pode amar a Deus sem amar ao próximo. No texto que lemos de Lucas 10.27 percebemos que o primeiro mandamento é amar a Deus, mas o texto nos mostra que aquele que ama a Deus é chamado para amar o próximo.

27 Ele respondeu: "‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento’ e ‘ame o seu próximo como a si mesmo’" (Lucas 10.27)

·      Segunda marca de uma espiritualidade madura: Vida Comunitária

Como eu disse, uma coisa está amarrada a outra. Jesus ama profundamente o Pai e junto com o Pai ele ama toda criação. Ele ama você profundamente, mas ele me ama profundamente também, por isso nos fez para vivermos em comunidade com Ele, num unidade harmônica.

Deus ao criar o ser humano, ele o fez a sua imagem e semelhança e soprou sobre as narinas do homem o fôlego de vida, isto significa que a vida do Espírito de Deus foi soprada em nós e assim nos tornamos almas viventes. Nascemos conectados com Deus na criação e Deus nos deu a capacidade de gerarmos vida, de procriarmos.

Geramos vida a partir de nós, isto é, a vida gerada está atrelada as nossas vidas e assim estamos todos conectados uns aos outros. Não existe vida humana independente. Somos uma grande comunidade, porque Deus projetou assim. De tal forma o que um fez produziu efeito sobre todos, conforme lemos em Romanos 5.19.

19 Logo, assim como por meio da desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores, assim também, por meio da obediência de um único homem muitos serão feitos justos. (Romanos 5.19)

Deus nos vê de forma comunitária. Ele nos trata de forma comunitária. Isso não significa que Deus não nos vê individualmente, mas que seus planos e ações neste mundo são para a comunidade humana e não para um indivíduo humano, pois ele ama todo ser humano. Ele deseja o bem de todos e não somente daqueles que estão próximos dele.

Jesus enxergava assim e vemos isso claramente no texto de Lucas 8.19-21.

19 A mãe e os irmãos de Jesus foram vê-lo, mas não conseguiam aproximar-se dele, por causa da multidão. 20 Alguém lhe disse: "Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te". 21 Ele lhe respondeu: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam". (Lucas 8.19-21)

Jesus não desprezava sua família, mas ele sabia que a vida se estende além de sua família, além de seus discípulos. Quando Jesus orou por seus discípulos, ele orou também por aqueles que viriam a crer Nele. Você já orou por alguém que ainda nem nasceu?

Na medida em que crescemos espiritualmente o Espírito Santo vai nos conduzindo a uma vida em comunidade e a espiritualidade infantil, que tem seu início centrada em nós, e por isso a chamo de uma espiritualidade egoísta, não necessariamente por ser má, mas por ser voltada apenas para uma relação vertical, onde me vejo como o filho único de Deus Pai, vai se transformando numa espiritualidade madura e consequentemente voltada para o próximo, para a comunidade. Meu horizonte se amplia e isso afeta minha oração e minha responsabilidade com as demais vidas.

·      Terceira marca de uma espiritualidade madura: Altruísmo

O amor do Pai levou Jesus a nos amar profundamente de forma que ele abre mão de sua glória, de seu poder, de sua riqueza para que nós pobres pudéssemos ser ricos, para que nós pecadores pudéssemos ser justificados, para que nós impuros fossemos revestidos com sua glória, é isso que Paulo está dizendo em 2 Coríntios 8.9.

9 Pois vocês conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que por meio de sua pobreza vocês se tornassem ricos. (2 Coríntios 8.9)

Jesus se sacrificou por todos. Ele abriu mão de seus interesses pessoais por amor a nós seres humanos.

Uma espiritualidade madura é aquela que é altruísta, capaz de um gesto de benefício em prol do outro, implicando em perda para si mesmo. A morte de Jesus beneficiou a todos nós, mas trouxe sobre Ele sofrimento.

Sacrificar é abrir mão de algo, com o fim de beneficiar outro, quando abrir mão lhe custa algo valioso. Quando se abre mão de algo, mas isto não lhe custa nada, você não sacrificou nada. Uma espiritualidade adulta é altruísta, como Jesus o foi. A si mesmo se entregou por nós.

 

REFLEXÃO FINAL

Essas marcas de espiritualidade madura encontradas em Jesus Cristo, eu penso que só foram possíveis por causa da cosmovisão que Jesus possuía a respeito de si na relação com o Pai, com a humanidade e com o mundo criado.

Acredito que se buscarmos ter uma relação madura com o Pai, o Espírito Santo desenvolverá em nós uma cosmovisão a respeito de nós na relação com o Pai e com o mundo, como a cosmovisão de Jesus, teremos a mente de Cristo, e então alcançaremos uma espiritualidade madura.

 O reflexo de uma espiritualidade madura se mostrará em nossas orações, meditações, jejuns, mas principalmente na forma como lidamos com o nosso próximo e com o mundo criado.

Nossas orações não estarão mais centradas em nós e no circulo de relações próximos a nós. Quando orarmos por emprego para os nossos filhos, iremos nos lembrar que existem em nosso país milhares de pessoas desempregadas. Então abriremos mão de orar por nós e pediremos para Deus prover trabalho remunerado para todos. Quando nos sentirmos injustiçados, nos lembraremos que muitos também assim se sentem, e oraremos por eles e não por nós. Quando formos orar pelos nossos irmãos que estão com covid-19, nos lembraremos que o mundo está com covid-19, e oraremos pelo mundo e não somente por nós. Nossa relação horizontal se estenderá. Nos veremos na dor e na alegria de cada ser humano.

Nos veremos responsáveis pela intercessão do mundo e não apenas pelo nosso circulo familiar e relacional. Continuaremos orando por nós, por nossos filhos, por nossos familiares, mas não conseguiremos deixar de orar pelo mundo, pois nos sentiremos responsáveis por todos, porque a vida do Espírito nos conecta com todos. Assim como Jesus compreenderemos que nossa família é todos que confessam a Jesus Cristo como Senhor de sua vida e que o desejo de Deus é alcançar todos os homens com seu amor.

A relação entre nós irmãos e com as demais pessoas será dominada por um sentimento altruísta. Estaremos sempre prontos a considerar o outro com maior honra. Estaremos sempre dispostos a perder algo para que o outro ganhe. Teremos o mesmo sentimento de Jesus. Ele não fez nada por ambição egoísta ou por vaidade. Assim devemos proceder uns com os outros, assim devemos proceder em todas nossas relações (Fp 2.3-5).

3 Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. 4 Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. 5 Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, (Filipenses 2.3-5)

Cuide não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. Maior prova de que Jesus fez isso é a cruz. Ele morreu cuidando dos nossos interesses.

Cuidar dos interesses dos outros é sermos solidários uns com os outros. Essa semana perdemos nosso irmão Rafael Mendes. Ele viveu de forma solidária. Ele buscou melhorar como pôde a vida de outros. Precisamos agora ser solidários a sua família. Ajudá-los no que precisarem e apoiá-los através das orações, mas também visitando-os, estando presente com eles. Assim também com as demais famílias de nossa igreja que perderam seus entes queridos. Quem destas famílias você visitou de nossa igreja? Você visitou a família de seus amigos que veio a falecer neste tempo de covid-19? Ao menos ligou para saber como estão, para oferecer a eles uma oração.

Cuidar dos interesses dos outros é viver de maneira sustentável também. É assumir a responsabilidade com o mundo criado e com as necessidades das demais pessoas no mundo. É pensar em que mundo você estará deixando para a futura geração. É orar por eles hoje, como Jesus orou por nós e morreu por nós antes mesmo que viéssemos a existir. É ser altruísta hoje para que a futura geração encontre um mundo melhor.

A Bíblia nos ensina a vivermos comunitariamente. Jesus nos fez um com todos os povos, de todos os tempos. A lógica da revelação de Deus para a vida é a vida em unidade, solidária, altruísta. A lógica da vida em Deus é se alegrar vendo o outro feliz.

Portanto uma espiritualidade madura é marcada por uma atitude altruísta diante de Deus e diante o mundo criado. Vamos buscar com todo o nosso ser viver uma espiritualidade como Cristo viveu. Se você deseja isso, você só precisa morrer para si mesmo e começar a ver o mundo através dos olhos de Deus. Deus te abençoe!

 

 

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

20/06/2021 (manhã)

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