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terça-feira, 8 de março de 2022

SERMÕES 150 - CRESCER É NECESSÁRIO

 CRESCER É NECESSÁRIO

 

Hoje estamos lançando o tema do ano 2022 – CRÊ-SER. Este tema irá nos conduzir em nossas séries de mensagens deste ano. Queremos crescer na fé e em nossa identidade como ser humano, por isso estamos unindo a palavra “crê” e a palavra “ser” de tal forma que ao lermos as palavras juntas temos a ideia de crescimento.

Desejamos crescer juntos em todas as dimensões de nossas vidas, nos tornando mais parecidos com o ser humano criado por Deus. Entendemos que este crescimento só é possível para nós cristãos quando crescemos na compreensão de nossa fé, uma vez que esta afeta o crescimento de nosso ser.  Durante a jornada deste ano, a cada lição aprendida, você deve sempre se perguntar: “Eu sou o que creio?” “Eu vivo o que creio?” A busca pelas respostas destas duas perguntas deve levar você a um movimento de crescimento de sua compreensão de Deus e de seu ser como indivíduo de fé.

A vida cristã não é estática neste tempo presente, ela não está em repouso, você e eu precisamos desenvolvê-la. Não podemos nos acomodar no nível de fé que chegamos, e nem mesmo no ser humano que somos hoje. Podemos crescer ainda mais. Quero convidar você a se engajar neste desenvolvimento de sua fé e de seu ser.

Crescer é necessário e veremos isso através da primeira carta de Paulo aos Coríntios.

1 Eu mesmo, irmãos, quando estive entre vocês, não fui com discurso eloquente nem com muita sabedoria para lhes proclamar o mistério de Deus. 2 Pois decidi nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. [...] (1 Coríntios 2.1,2)

O apóstolo Paulo inicia o capítulo dois de sua carta aos coríntios afirmando que pregou o Evangelho de Cristo para eles fazendo uso de uma linguagem simples, sem tentar persuadi-los por meio de palavras belas ou de uma filosofia atraente. Ele desejava que eles fossem alcançados somente pelo poder do Espírito de Deus e não por sabedoria humana.

6 Entretanto, falamos de sabedoria entre os maduros (τελείοις - teleiois), mas não da sabedoria desta era ou dos poderosos desta era, que estão sendo reduzidos a nada. 7 Pelo contrário, falamos da sabedoria de Deus, do mistério que estava oculto, o qual Deus preordenou, antes do princípio das eras, para a nossa glória. (1 Coríntios 2.6,7)

Contudo no verso seis e sete, Paulo menciona que falou de coisas mais profundas com alguns crentes maduros. Não sabemos sobre o que Paulo falou com estes crentes. Eu penso que ele tenha falado do mistério da unidade da fé e da unidade com Cristo e das implicações desta unidade. Mas talvez tenha falado sobre o novo céu e a nova terra ou das profecias bíblicas.

A verdade é que o apóstolo faz pela primeira vez nesta carta distinção entre crentes maduros e não maduros. A palavra “maduros” (τελείοις - teleiois) tem sua raiz na palavra grega “telos” que significa completo. O que Paulo provavelmente está falando é que alguns crentes de Corinto haviam abraçado a fé de forma completa. Ele não está dizendo que eles já tinham alcançado todo conhecimento, mas que estavam firmes na fé, dispostos a abrir mão do que fosse necessário por Cristo. Por outro lado, muitos ainda demonstravam sua infantilidade seguindo seus próprios valores e princípios.

A partir do verso oito, o apóstolo começa a falar da forma como nós seres humanos nos relacionamos com as coisas espirituais, com as coisas de Deus. Paulo mostra que o nosso relacionamento com Deus e com as coisas de Deus depende de nossa condição humana.

Paulo separa os seres humanos em duas categorias: natural e espiritual.

·      Natural é aquele que não nasceu de novo, que não foi alcançado pela luz do Evangelho, que não tem o Espírito de Deus.

·      Espiritual é aquele que nasceu de novo, que foi alcançado pela luz do Evangelho de Cristo, que tem o Espírito de Deus.

Segundo Paulo, o homem natural não pode compreender as coisas de Deus, para ele, elas são loucuras. Entretanto o homem espiritual pode compreender, uma vez que este tem o Espírito de Deus, e este lhe ensina todas as coisas, conforme ele descreve a partir do verso onze (1 Coríntios 2.11-16):

11 Pois, quem dentre os homens conhece as coisas do homem, a não ser o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, ninguém conhece as coisas de Deus, a não ser o Espírito de Deus. 12 Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que entendamos as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente. 13 Delas também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, interpretando verdades espirituais para os que são espirituais. 14 Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente. 15 Mas quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido; pois 16 "quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo?" Nós, porém, temos a mente de Cristo. (1 Coríntios 2.11-16)

Que afirmação maravilhosa! Nós os que cremos em Jesus Cristo temos a mente de Cristo. Isso significa que deveríamos discernir com clareza todas as coisas espirituais, uma vez que o Espírito de Deus habita em nós e compartilha a vida de Cristo conosco. Mas as coisas não são tão simples assim.

Depois de Paulo fazer estas afirmações tão fortes e belas para os irmãos de Corinto afirmando que todos eles eram espirituais por possuírem a mente de Cristo, ele inicia o capítulo três aparentemente recuando no que havia dito (1 Coríntios 3.1-7).

1 Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. 2 Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições, 3 porque ainda são carnais. Porque, visto que há inveja e divisão entre vocês, não estão sendo carnais e agindo como mundanos? 4 Pois quando alguém diz: "Eu sou de Paulo", e outro: "Eu sou de Apolo", não estão sendo mundanos? 5 Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos por meio dos quais vocês vieram a crer, conforme o ministério que o Senhor atribuiu a cada um. 6 Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fazia crescer; 7 de modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento. (1 Coríntios 3.1-7)

O apóstolo faz uma nova divisão agora entre os espirituais. Ele está falando aos espirituais, isto é, a todos que creram em Jesus e que tem o Espírito de Deus, e afirma a eles que não lhes pôde falar como a espirituais. Embora eles fossem espirituais, segundo Paulo, eles continuavam se portando como carnais, como crianças em Cristo.

Portanto vemos que Paulo passa a dividir os crentes em duas categorias: os maduros e não maduros.

·      Os maduros – Ele os chama de espirituais. Estes são os crentes que cresceram e continuam crescendo na fé, e consequentemente em sua humanidade.

·      Os não maduros – Ele passa a chama-los de carnais ou crianças em Cristo. Paulo os chama de carnais, não com o sentido de mau caráter ou imorais, mas por agirem como crianças na fé.

O apóstolo aponta para eles o porquê são crianças na fé. A inveja e a divisão existente entre eles demonstravam a infantilidade da espiritualidade deles. Eles agiam como mundanos, não no sentido de serem imorais, mas por serem dominados por uma natureza egoísta, individualizada, que enxergava somente a si mesmo. Assim é uma criança, incapaz de enxergar a vontade e necessidade do outro. O mundo gira em torna de suas necessidades e de seus interesses pessoais. A criança desconhece que existe o outro, com outras necessidades e outros interesses. Para a criança tudo é meu. Meu quarto, meu brinquedo, meu doce, meu pai.  

É visível nesta carta a frustração de Paulo de não poder falar a eles como a espirituais. O tempo passou e eles não cresceram espiritualmente. Embora fossem adultos biologicamente, eram crianças em sua humanidade, em sua consciência como ser humano.

Você pode ter quarenta anos, cinquenta anos, contudo talvez você seja uma criança em sua compreensão de si mesmo como ser humano. Se você é uma criança em Cristo, você é criança como ser humano. O seu referencial é somente o seu “eu”, o seu “jeito”. Ainda que inconsciente você se considera o padrão para medir os outros.

A criança se relaciona com o mundo a partir de seus instintos e do que seu corpo dita a ela. Se ela tem fome, chora. Se ela deseja algo, ela pega. Ela faz essas coisas sem se preocupar com o outro.

Sendo criança você enxerga o mundo, a igreja, a família somente a partir do que você pensa, do que você considera ser correto, do que você sente. Você não leva em consideração o que o outro sente, pensa e juga ser correto. Para você o outro não existe. Você desconsidera a vontade e a existência do outro. Você caminha levando em consideração somente suas necessidades e seus interesses. Você só considera legitimo o seu jeito de ser e pensar. Você só acha correto o que você considera certo e não consegue perceber que Pedro, Paulo e Apolo eram igualmente importantes, mesmo sendo eles diferentes.

A infantilidade divide. Acaso Cristo está dividido? Você foi batizado em nome de quem? Seu nome? Em nome do Pr. Paulo Moncalvo? Em nome do Pr. Cornélio? Pr. Décio? Bolsonaro? Lula? A quem você serve? Quem é seu referencial?

A maturidade une. Se Cristo não está dividido, somos todos membros do mesmo corpo. A maturidade vê na pluralidade e na diversidade o caminho para o desenvolvimento de todo o corpo. A maturidade considera a necessidade do outro, a opinião do outro, os interesses do outro. Pessoas adultas buscam o bem comum e não partidariza, não divide, não polariza. Pessoas adultas buscam o consenso visando sempre o melhor para todos, diferentemente das crianças que sempre agem buscando suprir suas vontades e necessidades, sem se importar com o bem comum de todos.

As praticas religiosas e os serviços religiosos deveriam ser exercidos com o fim de desenvolvermos a vida espiritual. Entretanto é possível fazermos tudo isso durante anos e continuarmos crianças em Cristo.

Crescer é necessário. Crescer espiritualmente não é algo natural. Para crescermos precisamos ser intencionais neste propósito. Precisamos refletir com seriedade nos ensinos bíblicos e nos avaliarmos profundamente e constantemente para vermos se temos vivido conforme a Palavra de Deus. 

As pessoas parecem espirituais, mas ao lidar com o casamento, com a submissão as autoridades, com as injustiças cometidas contra elas, agem como crentes carnais. Não se dispõem a sacrificar a si mesmo, a perdoar quem lhe ofendeu, a andar uma milha, a dar a outra face. Ao lidar com o desemprego, com as crises, com as enfermidades, com a política, age de forma infantil. A forma como lidamos com o mundo que nos cerca revela se somos crentes carnais ou espirituais.

O que é ser um crente espiritual, um crente maduro?

Em primeiro lugar: É ter uma experiência pessoal e consciente com Jesus Cristo. É reconhecer Jesus Cristo como o Senhor absoluto de sua vida. A espiritualidade ela se inicia a partir dessa consciência de que Jesus é o Senhor, o Deus que se fez carne. Portanto me rendo inteiramente a Ele.

Em segundo lugar: É assumir a responsabilidade de sua vida tendo Jesus Cristo como referência única para todas as suas decisões. É abandonar a si mesmo como referência para as suas decisões, deixar de lado seus interesses e desejos pessoais, e se referendar em Cristo e nas Escrituras, nos ensinos de Paulo, Pedro, João, Tiago, etc.

Pessoas espirituais não terceirizam sua consciência. “O que o Pr. João disser eu concordo”. Elas não seguem ideias sem avaliar profundamente as propostas do outro. Elas não abraçam ensinos, ideologias e partidos sem antes estudá-las para ver se são verdadeiros e merecem o seu apoio. Pessoas espirituais pensam a partir da comunhão com Cristo. Elas chamam para si a responsabilidade de pensar e decidir, mas o fazem referenciadas em Cristo e nas Escrituras.

 

REFLEXÃO FINAL

Deus deseja que cresçamos e nos tornemos espirituais, pessoas que não dividam o corpo de Cristo, mas que pensem por si e assumam a responsabilidade de suas vidas neste mundo presente, fundamentados em Cristo e nas Escrituras Sagradas.

Pessoas espirituais não são dirigidas por seus interesses e desejos pessoais, mas buscam o bem comum de todos, veem na pluralidade e na diversidade a oportunidade de aprender com o outro e de servir ao outro. Pessoas espirituais decidem a partir de si mesmas referendadas por Cristo e por todos os autores da Bíblia. Quem decide a partir de si referendada em si mesma é criança.

Crescer é necessário para que nos tornemos uma comunidade onde cada membro seja uma expressão do amor de Deus onde estiver. Por isso o desafio deste ano é se junte a nós em busca do crescimento. Cresçamos juntos em Cristo.

 

 

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

06/03/2022 (manhã)

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