CRESCER É NECESSÁRIO
Hoje estamos
lançando o tema do ano 2022 – CRÊ-SER. Este tema irá nos conduzir em nossas
séries de mensagens deste ano. Queremos crescer
na fé e em nossa identidade como ser
humano, por isso estamos unindo a palavra “crê” e a palavra “ser” de tal
forma que ao lermos as palavras juntas temos a ideia de crescimento.
Desejamos
crescer juntos em todas as dimensões de nossas vidas, nos tornando mais
parecidos com o ser humano criado por Deus. Entendemos que este crescimento só
é possível para nós cristãos quando crescemos na compreensão de nossa fé, uma
vez que esta afeta o crescimento de nosso ser.
Durante a jornada deste ano, a cada lição aprendida, você deve sempre se
perguntar: “Eu sou o que creio?” “Eu vivo o que creio?” A busca pelas respostas
destas duas perguntas deve levar você a um movimento de crescimento de sua
compreensão de Deus e de seu ser como indivíduo de fé.
A vida cristã
não é estática neste tempo presente, ela não está em repouso, você e eu
precisamos desenvolvê-la. Não podemos nos acomodar no nível de fé que chegamos,
e nem mesmo no ser humano que somos hoje. Podemos crescer ainda mais. Quero
convidar você a se engajar neste desenvolvimento de sua fé e de seu ser.
Crescer é necessário e veremos isso através da primeira carta de Paulo aos Coríntios.
1 Eu mesmo, irmãos, quando estive
entre vocês, não fui com discurso eloquente nem com muita sabedoria para lhes
proclamar o mistério de Deus.
2 Pois
decidi nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado.
[...] (1 Coríntios 2.1,2)
O apóstolo Paulo inicia o capítulo dois de sua carta aos coríntios
afirmando que pregou o Evangelho de Cristo para eles fazendo uso de uma
linguagem simples, sem tentar persuadi-los por meio de palavras belas ou de uma
filosofia atraente. Ele desejava que eles fossem alcançados somente pelo poder
do Espírito de Deus e não por sabedoria humana.
6 Entretanto, falamos de sabedoria entre
os maduros (τελείοις - teleiois), mas não
da sabedoria desta era ou dos poderosos desta era, que estão sendo reduzidos a
nada. 7 Pelo contrário, falamos da sabedoria de Deus, do
mistério que estava oculto, o qual Deus preordenou, antes do princípio das
eras, para a nossa glória. (1 Coríntios 2.6,7)
Contudo no verso seis e sete, Paulo menciona que falou de coisas mais
profundas com alguns crentes maduros. Não sabemos sobre o que Paulo falou com
estes crentes. Eu penso que ele tenha falado do mistério da unidade da fé e da
unidade com Cristo e das implicações desta unidade. Mas talvez tenha falado
sobre o novo céu e a nova terra ou das profecias bíblicas.
A verdade é que o apóstolo faz pela primeira vez nesta carta distinção
entre crentes maduros e não maduros. A palavra “maduros” (τελείοις - teleiois) tem sua raiz na palavra grega “telos” que significa
completo. O que Paulo provavelmente está falando é que alguns crentes de
Corinto haviam abraçado a fé de forma completa. Ele não está dizendo que eles
já tinham alcançado todo conhecimento, mas que estavam firmes na fé, dispostos
a abrir mão do que fosse necessário por Cristo. Por outro lado, muitos ainda
demonstravam sua infantilidade seguindo seus próprios valores e princípios.
A partir do verso oito, o apóstolo começa a falar da forma como nós seres
humanos nos relacionamos com as coisas espirituais, com as coisas de Deus.
Paulo mostra que o nosso relacionamento com Deus e com as coisas de Deus depende
de nossa condição humana.
Paulo separa os seres humanos em duas categorias: natural e espiritual.
· Natural é aquele que não nasceu de novo, que não foi alcançado pela luz do
Evangelho, que não tem o Espírito de Deus.
· Espiritual é aquele que nasceu de novo, que foi alcançado pela luz do Evangelho de
Cristo, que tem o Espírito de Deus.
Segundo Paulo, o homem natural não pode compreender as coisas de Deus,
para ele, elas são loucuras. Entretanto o homem espiritual pode compreender,
uma vez que este tem o Espírito de Deus, e este lhe ensina todas as coisas,
conforme ele descreve a partir do verso onze (1 Coríntios 2.11-16):
11 Pois, quem dentre os homens
conhece as coisas do homem, a não ser o espírito do homem que nele está? Da mesma
forma, ninguém conhece as coisas de Deus, a não ser o Espírito de Deus. 12 Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o
Espírito procedente de Deus, para que entendamos as coisas que Deus nos tem
dado gratuitamente. 13 Delas também falamos, não com palavras ensinadas pela
sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, interpretando
verdades espirituais para os que são espirituais. 14 Quem
não tem o Espírito não aceita as coisas que
vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las,
porque elas são discernidas espiritualmente. 15 Mas quem é
espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido; pois
16 "quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo?" Nós, porém, temos a mente de Cristo. (1 Coríntios 2.11-16)
Que afirmação maravilhosa! Nós os que cremos em Jesus
Cristo temos a mente de Cristo. Isso significa que deveríamos discernir com
clareza todas as coisas espirituais, uma vez que o Espírito de Deus habita em
nós e compartilha a vida de Cristo conosco. Mas as coisas não são tão simples
assim.
Depois de Paulo fazer estas afirmações tão fortes e
belas para os irmãos de Corinto afirmando que todos eles eram espirituais por
possuírem a mente de Cristo, ele inicia o capítulo três aparentemente recuando
no que havia dito (1 Coríntios 3.1-7).
1 Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como
a carnais, como a crianças em Cristo. 2 Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não
estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições,
3 porque
ainda são carnais. Porque, visto que há
inveja e divisão entre vocês, não estão sendo carnais e agindo como mundanos?
4 Pois
quando alguém diz: "Eu sou de Paulo", e outro: "Eu sou de
Apolo", não estão sendo mundanos? 5 Afinal de contas,
quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos por meio dos quais vocês vieram a
crer, conforme o ministério que o Senhor atribuiu a cada um. 6 Eu
plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fazia crescer;
7 de
modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento. (1 Coríntios 3.1-7)
O apóstolo faz
uma nova divisão agora entre os espirituais. Ele está falando aos espirituais,
isto é, a todos que creram em Jesus e que tem o Espírito de Deus, e afirma a
eles que não lhes pôde falar como a espirituais. Embora eles fossem
espirituais, segundo Paulo, eles continuavam se portando como carnais, como
crianças em Cristo.
Portanto vemos
que Paulo passa a dividir os crentes em duas categorias: os maduros e não
maduros.
·
Os maduros – Ele os chama de espirituais.
Estes são os crentes que cresceram e continuam crescendo na fé, e
consequentemente em sua humanidade.
·
Os não maduros – Ele passa a
chama-los de carnais ou crianças em Cristo. Paulo os chama de carnais, não com
o sentido de mau caráter ou imorais, mas por agirem como crianças na fé.
O apóstolo
aponta para eles o porquê são crianças na fé. A inveja e a divisão existente
entre eles demonstravam a infantilidade da espiritualidade deles. Eles agiam
como mundanos, não no sentido de serem imorais, mas por serem dominados por uma
natureza egoísta, individualizada, que enxergava somente a si mesmo. Assim é
uma criança, incapaz de enxergar a vontade e necessidade do outro. O mundo gira
em torna de suas necessidades e de seus interesses pessoais. A criança
desconhece que existe o outro, com outras necessidades e outros interesses. Para
a criança tudo é meu. Meu quarto, meu brinquedo, meu doce, meu pai.
É visível nesta
carta a frustração de Paulo de não poder falar a eles como a espirituais. O
tempo passou e eles não cresceram espiritualmente. Embora fossem adultos biologicamente,
eram crianças em sua humanidade, em sua consciência como ser humano.
Você pode ter quarenta
anos, cinquenta anos, contudo talvez você seja uma criança em sua compreensão
de si mesmo como ser humano. Se você é uma criança em Cristo, você é criança
como ser humano. O seu referencial é somente o seu “eu”, o seu “jeito”. Ainda
que inconsciente você se considera o padrão para medir os outros.
A criança se
relaciona com o mundo a partir de seus instintos e do que seu corpo dita a ela.
Se ela tem fome, chora. Se ela deseja algo, ela pega. Ela faz essas coisas sem
se preocupar com o outro.
Sendo criança
você enxerga o mundo, a igreja, a família somente a partir do que você pensa,
do que você considera ser correto, do que você sente. Você não leva em
consideração o que o outro sente, pensa e juga ser correto. Para você o outro não
existe. Você desconsidera a vontade e a existência do outro. Você caminha
levando em consideração somente suas necessidades e seus interesses. Você só
considera legitimo o seu jeito de ser e pensar. Você só acha correto o que você
considera certo e não consegue perceber que Pedro, Paulo e Apolo eram
igualmente importantes, mesmo sendo eles diferentes.
A infantilidade
divide. Acaso Cristo está dividido? Você foi batizado em nome de quem? Seu
nome? Em nome do Pr. Paulo Moncalvo? Em nome do Pr. Cornélio? Pr. Décio?
Bolsonaro? Lula? A quem você serve? Quem é seu referencial?
A maturidade
une. Se Cristo não está dividido, somos todos membros do mesmo corpo. A
maturidade vê na pluralidade e na diversidade o caminho para o desenvolvimento
de todo o corpo. A maturidade considera a necessidade do outro, a opinião do
outro, os interesses do outro. Pessoas adultas buscam o bem comum e não
partidariza, não divide, não polariza. Pessoas adultas buscam o consenso
visando sempre o melhor para todos, diferentemente das crianças que sempre agem
buscando suprir suas vontades e necessidades, sem se importar com o bem comum
de todos.
As praticas
religiosas e os serviços religiosos deveriam ser exercidos com o fim de
desenvolvermos a vida espiritual. Entretanto é possível fazermos tudo isso durante
anos e continuarmos crianças em Cristo.
Crescer é
necessário. Crescer espiritualmente não é algo natural. Para crescermos
precisamos ser intencionais neste propósito. Precisamos refletir com seriedade
nos ensinos bíblicos e nos avaliarmos profundamente e constantemente para
vermos se temos vivido conforme a Palavra de Deus.
As pessoas
parecem espirituais, mas ao lidar com o casamento, com a submissão as
autoridades, com as injustiças cometidas contra elas, agem como crentes carnais.
Não se dispõem a sacrificar a si mesmo, a perdoar quem lhe ofendeu, a andar uma
milha, a dar a outra face. Ao lidar com o desemprego, com as crises, com as
enfermidades, com a política, age de forma infantil. A forma como lidamos com o
mundo que nos cerca revela se somos crentes carnais ou espirituais.
O que é ser um
crente espiritual, um crente maduro?
Em primeiro lugar: É ter uma
experiência pessoal e consciente com Jesus Cristo. É reconhecer Jesus Cristo
como o Senhor absoluto de sua vida. A espiritualidade ela se inicia a partir
dessa consciência de que Jesus é o Senhor, o Deus que se fez carne. Portanto me
rendo inteiramente a Ele.
Em segundo lugar: É assumir a responsabilidade de
sua vida tendo Jesus Cristo como referência única para todas as suas decisões. É
abandonar a si mesmo como referência para as suas decisões, deixar de lado seus
interesses e desejos pessoais, e se referendar em Cristo e nas Escrituras, nos
ensinos de Paulo, Pedro, João, Tiago, etc.
Pessoas
espirituais não terceirizam sua consciência. “O que o Pr. João disser eu
concordo”. Elas não seguem ideias sem avaliar profundamente as propostas do
outro. Elas não abraçam ensinos, ideologias e partidos sem antes estudá-las
para ver se são verdadeiros e merecem o seu apoio. Pessoas espirituais pensam a
partir da comunhão com Cristo. Elas chamam para si a responsabilidade de pensar
e decidir, mas o fazem referenciadas em Cristo e nas Escrituras.
REFLEXÃO FINAL
Deus deseja que
cresçamos e nos tornemos espirituais, pessoas que não dividam o corpo de
Cristo, mas que pensem por si e assumam a responsabilidade de suas vidas neste
mundo presente, fundamentados em Cristo e nas Escrituras Sagradas.
Pessoas
espirituais não são dirigidas por seus interesses e desejos pessoais, mas
buscam o bem comum de todos, veem na pluralidade e na diversidade a
oportunidade de aprender com o outro e de servir ao outro. Pessoas espirituais
decidem a partir de si mesmas referendadas por Cristo e por todos os autores da
Bíblia. Quem decide a partir de si referendada em si mesma é criança.
Crescer é
necessário para que nos tornemos uma comunidade onde cada membro seja uma
expressão do amor de Deus onde estiver. Por isso o desafio deste ano é se junte
a nós em busca do crescimento. Cresçamos juntos em Cristo.
Pr. Cornélio
Póvoa de Oliveira
06/03/2022
(manhã)
Nenhum comentário:
Postar um comentário