Translate

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

SERMÕES 186 - MATURIDADE (3 parte): DESMISTIFICANDO A ESPIRITUALIDADE

 MATURIDADE (3 parte): DESMISTIFICANDO A ESPIRITUALIDADE

 

O tema de nossa mensagem de hoje é “Desmistificando a Espiritualidade”. Quando falamos de espiritualidade muitas compreensões vêem a nossa mente. Alguns pensam em espiritualidade apenas como uma busca por experiências que os transportem para além do mundo tangível, querem se conectar com seres místicos, como anjos, demônios, gnomos, fadas e deuses. Algo muito semelhante ao que vemos na maioria dos grupos religiosos cristãos denominados pentecostais e neo-pentecostais de nossos dias. A base de seus cultos é o desejo pelas experiências místicas, até mesmo no momento do ensino da Palavra de Deus.

Outros dão a espiritualidade um conceito maior, não apenas uma busca por experiências, mas um propósito para a própria vida. Para estes espiritualidade é um caminho de reencontro com a sua essência, levando-os a se conectarem com o universo, com algo maior que si mesmo, dando sentido a sua própria existência. A vida é compreendida como uma sintonia de energia que nos molda e nos une a todos e a tudo. Essa é a ideia que rege o filme Avatar. Para este grupo de pessoas céu, inferno, mundo espiritual, umbral, são nomes dados para dimensões vibratórias paralelas a nossa. Essas dimensões paralelas são chamadas de multiversos. O mundo espiritual é dos universos paralelos ao nosso. É a espiritualidade do Dr. Estranho personagem da Marvel.

Ainda outros entendem a espiritualidade como um caminho para um encontro com Deus. Este grupo de pessoas acredita que através de ritos e meditações de cunho espiritual conseguirão se conectar com Deus. Algo muito semelhante ao que vemos na maioria dos grupos religiosos cristãos denominados católicos e protestantes. Muitos membros destes grupos religiosos confundiram espiritualidade com religiosidade. A prática de um conjunto de ritos e crenças não tendo a compreensão e a motivação correta se tornam apenas atos religiosos desconectados de espiritualidade.

De certa forma todos estes grupos compreendem a espiritualidade como algo a parte de nossa vida cotidiana. A espiritualidade parece que tem que ser praticada fora do nosso ambiente ordinário. É preciso dedicar a ela um tempo de profunda meditação zen ou ir para um lugar sagrado, como um templo para que possamos nos conectar com o mundo espiritual.

Entretanto espiritualidade na visão bíblica é vivenciada no dia a dia de nossas vidas, na vida comum. É importante compreendermos isso, pois a maturidade na visão bíblica tem a ver com a compreensão correta a respeito de nossa espiritualidade. Este é o título de nosso primeiro ponto – compreendendo nossa espiritualidade.

 

1 – COMPREENDENDO NOSSA ESPIRITUALIDADE

O apóstolo Paulo diz que na vida precisamos amadurecer e não sermos mais meninos agitados de um lado para outro, levados por todo vento de doutrina. Somos tendenciosos a olharmos para este texto e pensarmos que Paulo está falando que precisamos alcançar uma maturidade espiritual desconectada de nossa maturidade física, racional e emocional. Este é um grande equivoco.

Em nosso último encontro aprendemos que precisamos crescer até atingirmos a medida da plenitude de Cristo, conforme lemos em Efésios 4.13.

13 até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo. (Efésios 4.13)

A maturidade espiritual está totalmente entrelaçada com a maturidade física, racional e com a maturidade emocional. Cristo era plenamente maduro e sua maturidade espiritual só pôde ser vista por nós, por ele ter submetido plenamente toda sua existência, todo seu ser fisico, racional, emocional a vontade do Pai celestial. Todo o falar e as ações de Jesus estavam alinhadas com a vontade do Pai. Ele viveu a vida focado em fazer a vontade do Pai. Ele afirmou que a vontade do Pai era o alimento que o sustentava nesta vida.

Quando Jesus sentou-se com a mulher samaritana no poço e todos ficaram escandalizados com ele, quando deixou que uma mulher impura lhe tocasse, quando curou pessoas no sábado ou quando permitiu que seus discípulos colhessem espigas no sábado, os religiosos o condenaram por estas coisas; ele não se importou porque estava fazendo a vontade do Pai celestial. Quando ele chamou os fariseus de raposas, sepulcros caiados, quando virou a mesa dos cambistas do templo ou quando transformou água em vinho; ele estava agindo em concordância com o sentimento de seu Pai celestial. Quando ele se sujeitou à autoridade de Pilatos ou a de Cesár, Imperador de Roma, pagando os impostos cobrados por Roma; ele estava se sujeitando aos princípios estabelecidos pelo Pai celestial.

Durante sua vida terrena, encarnada, Jesus interagiu com o mundo ao seu redor sujeitando todo o seu ser de forma racional e voluntária a vontade e aos princípios do nosso Pai celestial, assim ele viveu a mais profunda e verdadeira espiritualidade que um ser humano pode viver.

Espiritualidade não tem nada haver com fazer viagem astral, meditações zen, falar com anjos ou se conectar com a energia que envolve o mundo criado. Espiritualidade para Deus é você viver a vida ordinária, em todas as suas dimensões, de forma inteligente e voluntária para Ele, compreendendo que o que te faz espiritual não são os ritos religiosos e nem as obras de justiça em si, mas a compreensão e a fé no que Jesus fez por você na cruz.

Jesus viveu a espiritualidade de forma plena porque se entregou plenamente ao Pai. Ele cumpriu o primeiro mandamento descrito em Marcos 12.30.

30 Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças. (Marcos 12.30)

A maturidade espiritual é um estado que só pode ser alcançada por nós quando nos submetemos inteiramente à vontade de Jesus, assim como ele se submeteu inteiramente a vontade do Pai.

Maturidade espiritual e maturidade humana são a mesma coisa, e, só é possível ser alcançada em Jesus Cristo. Não existe ser humano maduro sem que este viva um relacionamento de submissão plena ao único e verdadeiro Deus, nosso Criador, por meio de Seu Filho, Jesus Cristo. O nosso crescimento se constrói e se concretiza dia a dia na sujeição plena de todo nosso ser a pessoa de Jesus Cristo.

Como o meu e o seu alvo é chegar à estatura de Cristo, nós precisamos olhar para Cristo e fundamentar todas nossas ações e falas em seus princípios de vida. Quais eram os princípios de vida de Jesus? Ele baseava todas suas ações e falas com o fim de realizar a vontade do Pai e assim cumprir a missão que o Pai lhe havia dado. Essa era a regra de vida que Jesus tinha para Ele mesmo. Ele mesmo afirmou, conforme lemos em João 6.38.

38 Pois desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou. (João 6.38)

Portanto se desejamos ser homens e mulheres maduros precisamos viver de forma que todo nosso ser fisico, racional, emocional e espiritual estejam submissos, sujeitos à vontade do Pai; e isto só é possível se nos sujeitarmos inteiramente a Jesus Cristo.

Acredito que alguns entre nós já alcançaram esta maturidade, assim como Maria, Pedro, Paulo e Barnabé alcançaram em seus dias. Muitos de nós ainda estamos no processo de amadurecimento, caminhando para a maturidade. Contudo mesmo aqueles que já alcançaram a maturidade não conseguem viver a maturidade de forma estável; de vez em quando agem de forma imatura. Entendo que isso se deve por causa da luta entre a nossa carne e o Espírito de Deus que opera em nós.

Entretanto, o testemunho cristão de nossos dias nos mostra que a grande maioria dos cristãos não conseguem alcançar a maturidade espiritual; não conseguem ser humanos, plenamente a imagem e semelhança de Deus, como Cristo foi. Diante disso eu levanto a pergunta: “Por que?” Este é o assunto de nosso segundo ponto – nossa incapacidade de vivermos a maturidade.

 

2 – NOSSA INCAPACIDADE DE VIVERMOS A MATURIDADE

Diversas são as razões pela qual não conseguimos submeter todo nosso ser a vontade de Jesus nosso Senhor e vivermos como Ele viveu. Possivelmente você responderia rapidamente que é por causa do pecado. É verdade que o pecado nos empurra para fora da vontade de Deus, milita contra as coisas espirituais. Contudo o pecado não é a razão de não vivermos a vontade de Deus por meio de Jesus Cristo. O pecado pode nos levar a errar em alguns momentos de nossas vidas e nos distanciar da vontade de Deus. Contudo o pecado não é a razão de não vivermos a maturidade bíblica. Uma vez em Cristo, o pecado não nos subjuga mais a ponto de continuarmos na prática do erro. O Espírito de Deus nos dá força e ensinamento para corrigirmos nossas falas e atitudes erradas. O Espírito Santo nos conduzirá a uma vida de santidade, a uma vida onde a vontade do Pai será prioridade assim como foi na vida de Jesus.

Portanto, eu penso que não é o pecado que nos impede de vivermos plenamente submissos a Jesus e sim a falta de conhecimento de Deus e de seus princípios. Veja o que escreveu Paulo a igreja que se encontrava na cidade de Colosso (Colossenses 2.8-10,16-18).

8 Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo. 9 Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade, 10 e, por estarem nele, que é o Cabeça de todo poder e autoridade, vocês receberam a plenitude. (Colossenses 2.8-10)

Estas palavras do apóstolo Paulo são uma afirmação clara de que o que de fato nos impede de vivermos a maturidade é a nossa falta de conhecimento de Deus e do que Ele realizou em Cristo. Nossa visão é míope com relação à obra de Jesus Cristo na cruz.

A realidade de estarmos Nele, em Jesus, segundo o apóstolo Paulo, nos tornou pleno. Não há mais nada a realizar em nosso favor e por isso mesmo não há mais nada que precisemos guardar, pois já estamos Nele. Isto significa que não existe maior comunhão para se alcançar do que a que já foi realizada por Cristo na cruz. Diante disso o apóstolo conclui sua fala chamando a atenção dos crentes de Colosso para não aceitarem as palavras de julgamento de ninguém com relação ao que comiam, bebiam ou aos dias que não guardavam (Colossenses 2.16-18).

16 Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. 17 Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo. 18 Não permitam que ninguém que tenha prazer numa falsa humildade e na adoração de anjos os impeça de alcançar o prêmio. Tal pessoa conta detalhadamente suas visões, e sua mente carnal a torna orgulhosa. (Colossenses 2.16-18)

O verso dezesseis começa com a palavra “Portanto”, que é uma conjunção coordenativa conclusiva. Paulo está concluindo que a realidade de vivermos em Cristo e Nele estarmos pleno deve nos libertar da prática das coisas que eram apenas sombras do que haveria de vir. A realidade é que Cristo já veio, e todas as coisas que eram sombras perderam o sentido de existirem, de continuarem a serem praticadas ou guardadas.

Mas por nos deixarmos ser escravizados por toda forma de filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas, como a Lei de Moisés, apontada pelo próprio apóstolo nesta epístola, nos versos 16 a 18, não conseguimos viver a maturidade bíblica. Ou por nos deixarmos ser escravizados pelas filosofias que se apóiam nos princípios elementares deste mundo, como fazem os devotos do gnosticismo – se submetendo a regras severas como: “Não toque, não coma, não prove”.

Paulo não está escrevendo estas palavras de alerta para os não-cristãos, pelo contrário, ele está escrevendo para os cristãos. Tenham cuidado para que ninguém os escravize. Não permitem que ninguém os julgue. Entretanto as pessoas se tornam escravos dos gurus evangélicos e dos profetas que afirmam detalhadamente suas visões e compreensões a respeito das verdades bíblicas, dizendo terem recebido uma revelação de Deus ou de algum anjo e assim tornam os seus ouvintes cegos, incapazes de compreenderem o que lêem, pois suas mentes estão aprisionadas por seus ensinos tolos.

Os saduceus, um grupo religioso do judaísmo, não acreditavam na ressurreição dos mortos. Segundo Jesus, por não conhecerem a Deus e o seu poder. Eles interpretavam as Escrituras Sagradas de maneira errada. O que nos ensina que podemos ler a Bíblia, mas interpretá-la de forma errada. Eles a liam constantemente, mas só conseguiam ler o que já haviam formatado em suas mentes. Eles se tornaram escravos das vãs filosofias.

Os fariseus, outro grupo religioso do judaísmo, não conseguiram crer que Jesus era o Filho de Deus, embora fossem estudiosos das Escrituras Sagradas. A percepção deles a respeito de Deus era superficial. Eles não conseguiam enxergar através das Escrituras os princípios de Deus e o seu mover por meio delas. O que nos ensina que podemos estudar arduamente a Bíblia, até mesmo decorá-la, mas não identificarmos os princípios de Deus e nem o seu mover na história.

Os discípulos de Jesus sofriam deste mesmo mal. Fazendo uso das palavras do apóstolo Paulo, eles estavam com suas mentes escravizadas pelas vãs filosofias dos religiosos de seus dias. A leitura errada das Escrituras Sagradas que receberam dos religiosos os impediam de reconhecerem os gentios como povo que Deus desejava salvar e alimentava neles uma esperança messiânica vingativa com relação aos romanos e gentios de forma geral.

Nossa incapacidade de vivermos a maturidade bíblica, humana é porque não refletimos seriamente nas Palavras e nos ensinos bíblicos, não levamos a sério a advertência do apóstolo Paulo. Lemos a Bíblia, mas a Bíblia não nos lê. Lemos as letras impressas, mas não lemos o que diz as letras deste livro sagrado, de tal forma que não sabemos aplicar os ensinos no dia a dia de nossas vidas, em nossas relações humanas diárias. Acabamos nos relacionando com o nosso próximo a partir de nosso próprio conceito de justiça construído ao longo de nossas vidas. Assim como os discípulos de Jesus construímos uma esperança messiânica distorcida da realidade bíblica. Esta falta de conhecimento tem produzido muitos cristãos imaturos e arrogantes.

 

REFLEXÃO FINAL

Vivemos dias em que espiritualidade tem sido um termo muito abrangente e bem visto por todos. Diversos livros e seminários sobre este tema têm sido produzidos e realizados. Mas infelizmente este tema tem sido abordado de forma errada; inclusive vivenciado de forma errado no meio cristão de nossos dias.

Muitas igrejas, hoje, têm ensinado teologias que são vãs filosofias de tradições humanas, que escravizam e nos impedem de vivermos a plenitude da estatura de Cristo. Muitos crentes possuem suas mentes aprisionadas pelos ensinos dos religiosos de nossos dias praticando obras de cunho espiritual, mas desconectadas de espiritualidade.

Tenham cuidado para que ninguém os escravize com suas filosofias e tradições humanas. Não permitem que ninguém os julgue pelo que come, bebe ou com relação a guarda de qualquer festa ou dia de sábado.

Espiritualidade é você viver a vida ordinária, em todas as suas dimensões, de forma inteligente e voluntária para Deus, compreendendo que o que te faz espiritual é o abrir mão de si mesmo, de forma plena, para que Jesus Cristo seja glorificado por meio de sua vida.

 

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

19/02/2023 (noite)

Nenhum comentário:

Postar um comentário