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terça-feira, 30 de abril de 2024

SERMÕES 226 - ATOS DE TRANSFORMAÇÃO: ESTEVÃO

 ATOS DE TRANSFORMAÇÃO: ESTEVÃO

Série: Atos de Transformação

 

Estamos na série “Atos de Transformação” onde estamos lendo o livro “Atos dos Apóstolos” buscando identificar as transformações ocorridas a partir do derramamento do Espírito na vida dos apóstolos e da sociedade onde estavam inseridos.

Eu vou iniciar nossa mensagem de hoje com um resumo do capítulo 6 e 7 do livro “Atos dos Apóstolos” buscando nos colocar a par dos acontecimentos descritos nestes capítulos e vou pinçar alguns pontos que considero relevante diante a proposta de nosso tema.

 

CAPÍTULO 6

Vs.1-7 – A Escolha dos Sete Diáconos

Hoje pela manhã o Rubinho ministrou sobre estes versos de uma forma mais exaustiva, portanto só vou pontuar algumas coisas que considero relevantes sobre a escolha destes sete diáconos.

O texto começa nos informando que a igreja crescia em número de discípulos, devemos nos lembrar que a igreja não tinha um templo, um lugar para se reunir e prestar culto a Jesus.

Os discípulos de Jesus ainda frequentavam o templo de Jerusalém, mas não tinham a liberdade de prestar culto a Jesus e nem autorização dos lideres religiosos de Israel para falarem a respeito de Jesus.

O crescimento do número de discípulos deu início ao surgimento de uma crise por conta da distribuição diária de alimentos, conforme podemos ler em Atos 6.1.

1  Naqueles dias, crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento. (Atos 6.1)

Quem são os judeus de fala grega e os de fala hebraica? Os judeus levados para o cativeiro babilônico passaram a falar o aramaico que era o idioma oficial do Oriente Médio, ao invés do hebraico dos seus ancestrais.

Dentre os judeus levados cativos para a Babilônia muitos foram habitar em terras gentias ao serem libertados do cativeiro. Estas terras onde eles foram habitar começaram a usar o grego como idioma após a expansão grega liderada por Alexandre o Grande. Estes judeus abandonaram o aramaico e passaram a falar o idioma grego.

Uma outra parte dos judeus libertados do cativeiro babilônico voltaram para a terra de Canaã, a terra de seus antepassados, e continuaram falando o aramaico e o idioma hebraico. Com o tempo alguns dos judeus helenistas (de fala grega) retornaram para a terra de seus pais.

O texto nos mostra que pessoas destes dois grupos se converteram ao cristianismo. Reconheceram Jesus como o Cristo, o enviado de Deus para a salvação de seus pecados, mas estavam em conflito por causa da má assistência social. Segundo os judeus de fala grega, suas viúvas estavam sendo negligenciadas pelos judeus de fala hebraica na distribuição dos alimentos.

Este conflito nos leva a primeira transformação que quero destacar em nossa reflexão de hoje.

 

PRIMEIRA TRANSFORMAÇÃO: De Comunidade Unida a Comunidade Dividida

Nós lemos em Atos 2.44 e 4.32 que todos os cristãos tinham um só coração e uma só mente. Havia entre eles uma unidade que acredito nunca mais houve igual na história da igreja. Eles tinham tudo em comum. Dividiam a mesa uns com os outros, compartilhavam o que possuíam com os que tinham necessidade de forma que todos eram assistidos, podendo assim afirmar Lucas, o autor deste livro que “ninguém tinha necessidade alguma” (At 4.34).

Entretanto o crescimento da igreja e consequentemente o crescimento da demanda impossibilitou que os apóstolos dessem conta de atender as necessidades de todos.  Segundo o relato bíblico, todas as ofertas eram entregues aos apóstolos que as distribuíam segundo a necessidade de cada um.

Não sabemos ao certo como esta distribuição era feita e nem quem as fazia. Contudo esta má distribuição dos alimentos estava causando a primeira divisão no corpo de Cristo pelos relatos de Lucas. Os judeus de fala grega preocupados com suas viúvas foram apresentar sua queixa aos apóstolos.

Na busca de não falharem com o ministério da pregação, que os apóstolos compreendiam ser a tarefa principal deles, pediram para que a igreja indicasse sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria para fazerem a distribuição dos alimentos, para servirem a mesa. Servir a mesa aqui não é servir a Ceia do Senhor, mas levar o alimento para aqueles que necessitavam.

Aprendemos neste episódio com os apóstolos que não podemos deixar o secundário nos desviar daquilo que é prioridade em nossos chamados. O secundário deve ser feito, mas não a custa do que nos foi dado como prioridade.

A palavra “servir” do grego “diácono” é usada aqui para se referir a tarefa dada a estes sete homens e não uma referência a um título recebido. Os apóstolos oram e impõem as mãos sobre eles indicando que estavam revestidos de autoridade para o exercício daquela tarefa.

Dois destes homens, Estevão e Filipe, passaram a se distinguir por suas atividades evangelísticas. Semelhantemente aos apóstolos eles pregavam com autoridade e muitos milagres eram realizados por eles em nome de Jesus.

Não sabemos o impacto dessa divergência entre os judeus hebreus e gregos, contudo certamente a igreja já não era mais uma comunidade, de uma só mente e um só coração, como nos primeiros dias, logo após a experiência do pentecoste, descrita em Atos 2 e 4.

 

Vs.8-15 – A Prisão de Estevão

A pregação de Estevão começa a atingir seus compatriotas judeus de língua grega. Uma forte oposição se levanta contra ele dos membros da chamada sinagoga dos libertos.

Entretanto na medida em que tentavam argumentar com Estevão, provavelmente sobre sua pregação e no nome de quem operava seus milagres, não conseguiam resistir a sua sabedoria e ao Espírito de Deus que por meio dele falava e agia.

Não tendo eles argumentos contra Estevão subornaram alguns homens para dizerem que ouviram Estevão blasfemar contra Moisés e contra Deus. Com isso o prenderam e o levaram ao Sinédrio para ser julgado.

Não temos informações bíblicas sobre a vida de Estevão antes de sua conversão ao Evangelho de Jesus Cristo, para que eu possa trabalhar as transformações ocorridas em sua vida pessoal após sua regeneração pelo poder do Espírito Santo como propõe o nosso tema “Atos de Transformação”.  

Portanto o que vou destacar nesta passagem é a transformação ocorrida na vida dos religiosos diante a pregação do Evangelho por Estevão. Atos 6.8-10 diz:

8 Estêvão, homem cheio da graça e do poder de Deus, realizava grandes maravilhas e sinais entre o povo. 9 Contudo, levantou-se oposição dos membros da chamada Sinagoga dos Libertos, dos judeus de Cirene e de Alexandria, bem como das províncias da Cilícia e da Ásia. Esses homens começaram a discutir com Estêvão, 10 mas não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava. (Atos 6.8-10)

 

SEGUNDA TRANSFORMAÇÃO: Os Religiosos se Tornam Perseguidores

A pregação de Estevão, cheio da graça e do poder de Deus, o levou a realizar grandes milagres e sinais entre o povo. Entretanto os religiosos que ouviram esta mesma pregação se transformaram em perseguidores implacáveis de Estevão e de todos que pregavam o Evangelho de Cristo. Lembro que Pedro e João já haviam experimentado esta perseguição dos religiosos.

Temos a tendência de acharmos que nossas pregações sempre serão abraçadas pelos ouvintes. No fundo desejamos pregar e sermos acolhidos pelos nossos ouvintes. Contudo o mesmo Evangelho que tem o poder de transformar vidas em discípulos de Jesus, também pode transforma-las em perseguidores implacáveis do Evangelho e também nos transformar em inimigos para essas pessoas. Elas passam a destilar seu ódio da vida sobre nós.

Quando pregamos o Evangelho devemos estar preparados para tudo. Você pode ser surpreendido com acolhimento e gratidão daquele que recebeu o Evangelho, assim como pode ser surpreendido com palavras de desprezo e zombaria.

Assim como Estevão não podemos nos acovardarmos diante as perseguições e insultos a nossa pessoa por causa do Evangelho. Vivemos tempos que em nome do respeito e da boa política de vizinhança nos calamos e deixamos as pessoas continuarem vivendo em trevas, mesmo sabendo que elas irão sofrer eternamente se não tiverem um encontro com Jesus. Nos confortamos com a ideia de que a escolha foi delas. Mas como crerão se não há quem pregue, se não há quem as desafie a pensar diferente.

A verdade é que nós, crentes do Brasil, não estamos dispostos a nos tornarmos mártir por Jesus. Não estamos dispostos a sofrermos perdas por Jesus. Somos uma geração acomodada a um evangelismo eclesial institucionalizado. Somos uma geração de crentes que deseja viver sem perseguição, achando que isso é viver em paz. Somos uma geração de crentes que busca conforto e riqueza. De fato nos tornamos prisioneiros da cultura de nossos dias. Melhor que estivéssemos presos por causa do nome de Jesus como Estevão.

A paz de Cristo não é esta buscada pelos crentes de hoje. Neste sentido Jesus veio para trazer espada. A paz de Cristo é um estado relacional com o Pai conquistado na cruz, que se reflete em nosso homem interior, podendo ou não se refletir na vida exterior.

Muitos cristãos dizem: “Eu evangelizo com meu testemunho”. Essa é uma desculpa esfarrapada para não se envolver em conflito com o outro por causa da pregação proclamada do Evangelho. Você tem que viver um bom testemunho para que sua pregação seja ouvida. Não é testemunhar para não pregar. É testemunhar para dar crédito a sua pregação.

Se levanta e comece a pregar o Evangelho em tempo e fora de tempo, e se prepare para ser perseguido e odiado como foi Estevão. Quando isto acontecer bem-aventurado é você por ser perseguido por causa do nome de Jesus.

 

CAPÍTULO 7

Vs.1-53 – O Discurso de Estevão no Sinédrio

Em seu discurso Estevão narra a história de seu povo iniciando por Abraão e a promessa de Deus dada a ele, passa pela história de José e a rejeição de seus irmãos a ele, e depois cita Moisés que também foi rejeitado por seu povo, mostrando que Deus sempre proveu libertadores e que eles sempre rejeitaram os libertadores oferecidos por Deus.  

No segundo momento de seu discurso ele dá ênfase ao Tabernáculo da Aliança, como o local figurado da morada de Deus durante a peregrinação no deserto, e assim foi até a construção do templo em Jerusalém, por Salomão, filho de Davi, contudo ainda sim, o povo se desviou de Deus para adorar falsos deuses.

Estevão ainda os acusa de transformarem o templo em um ídolo, acreditando que Deus, o Altíssimo habitasse no templo em Jerusalém. Ele lembra a eles as palavras dos profetas que Deus não habita em casas feitas por homens. E por fim ele termina o seu discurso afirmando aos homens do Sinédrio que eles eram rebeldes e obstinados como os seus antepassados, resistindo à voz do Espírito Santo.

 

Vs.54-60 – A Descrição do Apedrejamento de Estevão

O discurso de Estevão despertou paixões hostis da parte dos seus ouvintes. Sua declaração no sentido de ter tido uma visão de Jesus em pé à destra de Deus exasperou os sentimentos deles. Houve uma explosão de violência, e ele foi levado para fora da cidade e morto por apedrejamento, a forma tradicional judaica da pena de morte. As últimas palavras de Estevão foram de perdão para seus executores.

Os versos finais relatam que Saulo estava ali, consentindo na morte de Estevão. Lucas introduz Saulo, mais conhecido por nós como Paulo, que passa a ser o personagem principal do restante do livro Atos dos Apóstolos.

O que me chama a atenção na descrição do apedrejamento de Estevão foi à capacidade dele de responder ao ódio de seus perseguidores e algozes com perdão. Esta é a terceira transformação que eu quero destacar dentro desta passagem.

 

TERCEIRA TRANSFORMAÇÃO: A Capacidade de Responder ao Ódio Com Perdão

Assim como Cristo, Estêvão foi injustamente acusado pelos religiosos. Ele da mesma forma que Jesus entrega sua vida para Deus e perdoa aqueles que estão lhe fazendo mal. Mesmo no momento final de sua vida Estevão continua imitando Cristo.

Como já havia dito não sabemos nada sobre Estevão e sua personalidade antes de sua conversão a Cristo. Todavia acredito que esta capacidade de responder ao ódio daqueles que estavam atirando pedras sobre ele com perdão, só pôde ser manifestada por que ele era um homem cheio do Espírito de Deus. Esta capacidade é sem dúvida uma marca da ação poderosa do Espírito Santo em sua vida.

Como você responde aqueles que te perseguem? Como você trata aqueles que te fazem mal? O ensinamento de Jesus é que devemos perdoar e amar os nossos inimigos. Se você não for capaz de amar alguém porque não o considera seu amigo, ame-o por ser seu inimigo e ore por ele, por que Jesus nos ordenou a orarmos por nossos inimigos.

Precisamos ter esta capacidade de responder ao ódio lançado contra nós com perdão. O apóstolo Paulo nos exorta a vivermos da seguinte forma (Efésios 4.32).

32 Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou vocês em Cristo. (Efésios 4.32)

 

REFLEXÃO FINAL

A história da vida de Estevão e o contexto em que ele está inserido no livro de Atos nos apresentam três desafios:

·      Primeiro: Não podemos deixar que nossas falhas humanas quebre a unidade de nossa igreja. A negligência com as viúvas gregas deu inicio a um mal estar entre judeus de fala hebraica e gregos. Foi preciso homens cheios do Espírito de Deus e de sabedoria para conseguirem contornar aquela situação. Viver em comunhão não é fácil, mas é na comunhão que aprendemos o que é amar.

·      Segundo: Seja uma testemunha de Jesus com palavras e ações. Esteja pronto ao proclamar o Evangelho de Jesus a ser acolhido por seus ouvintes, assim também esteja pronto a ser odiado e rejeitado por eles. Mas não se acovarde, você foi chamado para pregar o Evangelho de Cristo.

·      Terceiro: Responda aos seus inimigos e perseguidores com perdão. Não permita que seu coração se encha de amargura e ódio, pois é isto que o diabo deseja produzir em seu coração. O rancor te levará a possuir uma alma amarga. Perdoe este é o melhor remédio para você que é perseguido e odiado.

 

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

25/04/2024

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