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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

TEOLOGIA 4 - OS CAMINHOS DA TEOLOGIA NO BRASIL - A INFLUÊNCIA DA LIDERANÇA NA FORMAÇÃO TEOLÓGICA

OS CAMINHOS DA TEOLOGIA NO BRASIL
A INFLUÊNCIA DA LIDERANÇA NA FORMAÇÃO TEOLÓGICA
ANOS 1500...
·        Brasil foi descoberto.
·        A Igreja Católica dava sustento a colonização do Brasil, afirmando que índios e negros eram pagãos, raças sem salvação.  A Igreja Católica defendia uma Teologia Colonizadora (Jesuítas, etc.).
·        31 de Outubro de 1517 – Lutero dá inicio a Reforma. Este movimento se espalha por toda Europa.

ANOS 1800...
·        Os americanos chegam ao Brasil e começam a plantar igrejas baseadas na Teologia Reformada.
·        O Brasil foi dominado pela teologia católica colonizadora por 300 anos.
·         Por força da Guerra Civil Americana ocorrida nos Estados Unidos em 1865, os cidadãos dos Estados Unidos começam a buscar outras terras onde pudessem tentar a vida. O Brasil é um dos países escolhidos, e, em 1867, grupos de americanos que somaram mais de 50.000 pessoas desembarcam nos portos brasileiros. Avançando para o continente escolhem a cidade de Santa Bárbara d'Oeste, para adquirirem terras e fixarem residências, atuando na formação de forte agricultura. Entre os emigrados a maioria era evangélicos e entre esses, muitos eram Batistas. Já em 1870 os evangélicos fizeram publicar um "Manifesto para Evangelização do Brasil." Tal manifesto, publicado na imprensa contou com assinaturas de Presbiterianos, Metodistas, Congregacionais e, por um Batista, o jovem Pastor Richard Raticliff, um dos emigrados, cuja família havia convertida por ação de Thomas Jefferson Bowne, então nos Estados Unidos. Em 1871, os Batistas emigrados dos Estados Unidos organizam a Primeira Igreja Batista do Brasil em Santa Bárbara d'Oeste. Anos mais tarde, em 1879, outro grupo de emigrados americanos fazem surgir a segunda Igreja Batista em solo brasileiro em Santa Bárbara d'Oeste, no Bairro da Estação, onde atualmente se localiza a cidade de Americana.
·         A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma igreja ou denominação cristã protestante. Foi fundada em 1862 por um missionário estadunidense chamado Ashbel Green Simonton, que chegou ao Rio de Janeiro no dia 12 de agosto de 1859.
·         Toda Evangelização Protestante no Brasil passou a ser focada no alcance dos cristãos católicos.
ANOS 1960 - DITADURA
·        31 de Março de 1964 – Inicio da ditadura militar (AI-1)
·        Prendeu os líderes de nosso país ou os exilou (isto é os mandou para fora do país).
·        Pôs fim a toda liderança e capacidade de pensar, criticar que havia em nosso país.
·        A igreja neste período não fazia lideres. Ela ensina apenas que todos deveriam se submeter ao Estado. Era pecado questionar, se opor ao Estado e a qualquer tipo de liderança.
·        “É preciso entender o contexto dos anos 60 e a falta de uma metodologia nova para a militância cristã. Nestes anos, a teologia tradicional católica (devemos incluir aqui a teologia protestante) estava longe da realidade e não respondia aos anseios e questionamentos existenciais do homem e da mulher concretamente. Por isso, a fé era caracterizada pelo excesso de dogmatismo que levava os cristãos a uma certa "passividade" diante da situação conflitiva do mundo, fazendo com que a opção em favor do instrumental histórico fosse necessário para a transformação da sociedade, mas esquecia do componente ideológico e utópico de tal opção e, principalmente, de suas raízes no racionalismo moderno que foi sendo absorvido indubitavelmente pela sociedade e pela ciência nestes anos de chumbo”.
·        1969 – Primeiro Congresso Latino Americano de Evangelização (CLADE 1). Após estes congresso nasce a Fraternidade Teológica Latino-Americana (FAT).

ANOS 1970
·        Inicia o processo de transferência de liderança dos americanos para os brasileiros.
·        Este processo ocorreu de maneira não planejada.
·        Os Seminários Teológicos neste período até a década de 70 eram todos comandados por americanos. Algumas igrejas ainda permaneciam debaixo do comando dos americanos.
·         Teologia da Libertação começa a ser elaborada por vários teólogos católicos. “Com isso, há diversas mudanças epistemológicas a respeito do ponto de partida da teologia e ocorrem muitas conseqüências na articulação entre o transcendente e o imanente da teologia e nas suas relações com a prática teológica. Assim, o ponto de partida da teologia da libertação muda o foco da revelação da Palavra de Deus e sua comunicação com a humanidade para a práxis histórica, na qual está presente a imagem imanente de Cristo e do seu Reino que incentiva a ação concreta dos cristãos na busca pela libertação humana. Esta mudança exige o uso das ciências sociais e a escolha de um instrumental teórico anterior à elaboração teológica. Assim, há uma alteração do princípio do método teológico tradicional, provocando uma variedade de críticas no âmbito eclesial e despertando interesses na sociedade civil, com exageros e oposição entre um lado e o outro, acontecendo um conflito na Igreja. Estas atitudes, por sua vez, incentivaram um debate sobre as influências da realidade sócio-econômico-político-cultural no contexto teológico e, por outro lado, a definição da especificidade da teologia como razão da fé, com uma perspectiva epistemológica, preocupando-se com sua relação com as demais ciências e com a influência dos movimentos e correntes filosóficas contemporâneas no seu campo específico”.
·         1974 Congresso de Evangelização de Lausanne – Missão Integral (Rene Padilla).
ANOS 1980
·        15 de Janeiro de 1985 – Fim da ditadura militar – elege-se Tancredo Neves.
·        As lideranças brasileiras se voltam contra os americanos.
·        A Teologia da Libertação que se iniciou dentro da Igreja Católica (Hugo Assmann, Leonardo Boff, Guilherme Gutiérrez) começa a se propagar na igreja evangélica de maneira geral. Segue-se a hermenêutica da Teologia da Libertação: VER – JULGAR – AGIR.
·        As igrejas brasileiras começam a expulsar os americanos de sua liderança – não se preocuparam em fazer lideres – surge um vácuo (ausência de líderes).

ANOS 1990
·         Rev. Caio Fabio ocupa o vácuo da liderança religiosa no Brasil.
·        A queda do Rev. Caio Fabio trás um novo vácuo para a liderança do Brasil, que neste período vem sendo influenciado pela teologia da Prosperidade.

ANOS 2000
·        As igrejas néo-pentecostais ocuparam este vácuo deixado pelo Rev. Caio Fabio e propagaram definitivamente a Teologia da Prosperidade. 
·        O grande líder deste movimento no Brasil foi o Sr. Edir Macedo.


ANOS 2010/2020
·        Está surgindo um novo vácuo.
·        As pessoas aos poucos estão percebendo a grande fraude da Teologia da Prosperidade.
·        A cada ano aumenta o número de SEM IGREJAS.


QUE TIPO DE LIDERANÇA OU DE TEOLOGIA TEREMOS?
·        Nossa teologia está cada vez mais profissionalizada. Isto tem aspectos positivos e negativos:
o   Positivo: Tem estimulado a abertura de novos cursos teológicos, o aumento do quadro docente e de alunos.
o   Positivo: Aumentará o número de teólogos críticos e pensantes. Isto significa dizer que teremos um número de teólogos mais preparados para responder as necessidades contemporâneas.
o   Negativo: Haverá, cada vez mais, uma busca maior pelo “empreguismo” do que realmente uma resposta a uma vocação.




QUAIS OS CAMINHOS QUE DEVEMOS TOMAR PARA TERMOS UMA BOA LIDERANÇA E UMA BOA TEOLOGIA?
·        Precisamos construir novas lideranças com base sólidas.
·        Precisamos de uma teologia que responda as necessidades sociais e humanas, mas que seja verdadeiramente pautada nas verdades bíblicas. Não adiante termos uma boa teologia científica-acadêmica, mas que não seja uma pastoral-popular.


Parece que o contexto teológico nacional e internacional passa por uma estagnação nos últimos anos. Ele sofre com as impostações da pós-modernidade, baseada na variedade de informações e pluralidades de opções, mas pior que tudo é a falta de uma visão de totalidade que garanta a especificidade da teologia como racionalidade da fé e provoca a fragmentação de seus objetivos. Neste sentido o retorno sobre o fundamento da teologia é retomado por diversos autores, com a preocupação a respeito do seu sentido, da sua veracidade e do seu fundamento, mas existe ainda uma concepção de teologia que a separou da prática pastoral da Igreja e ao mesmo tempo privatizou a teologia científica, colocando-a de lado por suas características metódicas. Assim, ocorre um reducionismo positivista da teologia, uma promoção de uma teologia mais holística e sensacionalista, baseada no sentimento pessoal de cada sujeito, uma separação entre a prática pastoral da Igreja e os conteúdos científicos da faculdade de teologia e, enfim, um desinteresse por sua veracidade baseada na primazia de Deus, que se revela em Cristo, na plenitude do Espírito Santo.
          Portanto, é necessário redescobrir o sentido e a importância da teologia, principalmente, da sua epistemologia para indicar ao Povo de Deus a necessidade de uma palavra que imprima o valor da redenção cristã e a manifestação de sua revelação e credibilidade.
          No Brasil, penso que isto seria necessário aprofundando o processo iniciado pela teologia da libertação, abrindo-se para novos contextos, revendo seus erros e considerando seus acertos, que se reflete na vivacidade da Igreja do Brasil. Isto exigiria aprofundar o conhecimento da gênese, desenvolvimento e debate do método desta teologia. Aprofundar estes conhecimentos indicaria os seguintes passos:
  1. Reconhecer o caráter inovativo e conflitivo de H. Assmann, a partir da práxis de libertação, o seu esforço de valorizar os conteúdos da fé e a sua crítica à teologia moderna, por causa de sua não incidência na práxis. Contudo, fazer uma advertência sobre o risco de uma horizontalização com a identificação entre a verdade e a práxis, como foi apresentado por este autor.
  2. Valorizar as articulações sacramental e científica de Leonardo Boff, sabendo que a sua articulação sacramental permite perceber o valor da experiência religiosa latino-americana enquanto a articulação científica reconhece o processo de libertação. Todavia, o conceito de processo deve ser atribuído ao homem e à sua circunstância transitória, pois não se pode admitir devir na divindade, porque a teologia trata de Deus absconditus como objeto transcendente e definitivo, que se revela na circunstância histórica de Jesus de Nazaré. Com isto existe a possibilidade do homem, responder, no aqui e agora, à revelação de Deus e recebendo-a, possa experimentá-la nas lutas de libertação, como ação do Espírito que instaura progressivamente no presente o Reino até chegar a sua plenitude, com a manifestação da justiça de Deus.
  3. Reconhecer a complexidade do percurso metodológico de Clodovis Boff, distinguindo uma primeira fase marcada pela Teologia do Político, que se subdivide em dois momentos: meta-teórico e lógico-teológico. Esta diferença ajudaria a desenvolver uma teologia meta-teórica, que teria em consideração os elementos imanentes trabalhados pela teologia de modo transcendente, na qual a teologia da libertação é uma opção inspiradora, que manifesta a experiência de Deus no meio dos pobres por meio da luta de transformação.
  4. Distinguir a diversidade de impostação e variedade metodológica no interno da própria teologia da libertação no Brasil, bem como das diversas correntes que a suscitam, sem esquecer a intuição primordial e comum desta teologia de ver com os olhos de Deus o mundo dos pobres e sua situação de opressão, na qual a Igreja quer oferecer uma resposta evangelicamente transformadora.
  5. Dar a possibilidade de construir uma teologia sobre uma temática particular na Igreja, tal como foi reconhecida pelo Magistério ordinário e pelos teólogos, como também já aconteceu ao longo da história.
  6. Incluir a realidade no corpo da teologia e, conseqüentemente, aprofundar as questões epistemológicas, dando atenção especial, ao conceito de teologia, ao método teológico e à razão de seu estatuto, na Igreja e na sociedade.
  7. Compreender a evolução da teologia brasileira a partir dos seus representantes, verificando as características próprias na sua metodologia teológica, que é mais intuitiva que lógica, mais valorativa que acadêmica, mais preocupada com a práxis cristã que com o seu discurso e teoria.
  8. Inserir na teologia, o valor da realidade, seja como «contexto», seja como «paradigma», dando atenção à metodologia cristológica, à compreensão da autocomunicação de Deus aos homens, em palavras e gestos, e ao valor da história como Historia salutis, na qual se desenvolve constantemente a compreensão dos dogmas.
  9. Possibilitar uma abertura ao futuro reconhecendo o mysterion do Pai, do Filho e do Espírito Santo, presente e atualizado pelas Escrituras e pela Tradição, celebrado pela liturgia da Igreja e atuante na realidade do mundo, na qual o cristão é convidado a viver com o olhar da fé.
                Deste modo, a pesquisa teológica deveria aprofundar o interesse pela definição de teologia em geral e, particularmente, dar continuidade para a teologia desenvolvida pela teologia da libertação no Brasil. Isto implicaria compreender a relação entre o método pastoral e o teológico, incluindo a necessidade e o valor da interdisciplinariedade, oferecendo outros campos de estudos e reflexão. Quem sabe este aprofundamento ajudaria a fazer uma analise da teologia nos últimos anos e a desenvolver uma nova síntese sobre o valor da realidade para a elaboração teológica.

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

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