A IGREJA
Creio que sempre que falamos sobre a Igreja muitas figuras vem a nossa mente. Estas figuras representam nossa visão sobre a igreja.
Quando alguém procura uma igreja ela a faz porque acredita que a igreja será um lugar que irá acolhe-la sem julgá-la, que irá lhe socorrer sem nada lhe cobrar. Podemos afirmar que a Igreja é:
1 – Lugar de misericórdia (Jo 5:1-9)
A palavra BETESDA significa, em hebraico, casa de misericórdia. Espalho-se naquele tempo que, em Betesda, ocorriam milagres. Então muitas pessoas iam para lá na expectativa de receberem a cura. Deitados pelo chão, ficavam esperando o milagre. Contudo um homem se encontrava ali há muito tempo, impossibilitado de receber a cura e ninguém o ajudava.
Embora Betesda significa casa da misericórdia, o que podemos perceber aqui neste texto é justamente a falta de misericórdia. Todos buscavam resolver seu próprio problema e não conseguiam ver que existiam outras pessoas ao seu redor sofrendo e que também precisam de cura. Talvez até mais do que muitos que ali se encontravam. E quanto aos sãos de Jerusalém, estes sequer manifestavam misericórdia por alguém, estavam mais preocupados com o seu dia a dia, se escondiam atrás da lei para viverem de forma imoral e cruel.
Hoje, nós também vivemos esta situação. A Igreja é lugar de misericórdia, poderia também ser chamada de casa de misericórdia. Contudo muitos vem para a Igreja doentes fisicamente, espiritualmente, emocionalmente e não encontram cura para os seus problemas. O que está errado?
Falta a centralização da pessoa de Jesus como motivação de nossos gestos e atitudes na prática do viver diário.
Sem Jesus no centro da vida da Igreja faltará com certeza misericórdia.
Jesus assumiu toda a misericórdia existente no Pai e a exerce com toda força e significação que a palavra contém.
Para realizar o projeto divino, Jesus tornou-se em tudo semelhante a seus irmãos (Hb 2:17), com o propósito de experimentar a mesma miséria em que estamos envolvidos.
Jesus coloca os pobres, cegos, aleijados, presos, oprimidos, os de coração ferido como prioridade de seu ministério (Lc 4:18-19). Os pecadores vêem nele um “amigo” (Lc 7:34), não um companheiro do pecado, mas alguém que lhes ama e lhes mostra o caminho pelo qual se deve andar. Jesus também se identifica com a dor e demonstra misericórdia para com as multidões (Mt 9:36; 14:14), sem esquecer das misérias individuais. Atende e identifica-se com a viúva que perderá o filho único: “Vendo-a, o Senhor se compadeceu dela e lhe disse: Não chores!” (Lc 7:14). Jesus mostra uma bondade incomparável em contraste à mesquinhez dos fariseus.
O exercício da misericórdia encontra sempre muita resistência. O exercício da misericórdia torna-se uma denúncia contra a insensibilidade da igreja aos “paralíticos” da vida, aos pobres, marginais, famintos, prostitutas, homossexuais, aidéticos, mendigos, deprimidos, oprimidos e contra todos que, de alguma forma, tornaram-se vítimas do pecado e da sociedade cruel em que vivemos.
Uma Igreja que não exerce as características da misericórdia divina, que vem da presença misericordiosa de Jesus entre nós, será uma igreja incapaz de promover cura, alivio, restauração, mesmo que tenha grande estrutura, perfeita organização, liturgia, projetos, profetas, anjos, etc. Sem misericórdia não há saúde na igreja.
2 – Lugar da concretização do amor (Jo 13:1-5)
2.1 – O amor se concretiza no serviço
Jesus tinha plena consciência do que era ou de quem era. Não precisava bater na mesa, esbravejar-se, nem exigir nada para provar que era líder. Ao se levantar deixou sua posição de honra, tirou o seu manto, tomou a toalha e cingiu-se, pegou uma bacia, encheu-a de água e passou a lavar os pés dos discípulos.
Jesus estava ensinando a seus discípulos que o amor era algo a ser praticado, isto é, o amor se concretizava no serviço (Jo 13:12-17). Você pode até dizer que ama Jesus, isso é fácil. É o seu serviço que vai mostrar se realmente ama a Jesus. O quanto você tem se envolvido com sua obra? Você tem visitados os enfermos? Você tem pregado o evangelho sempre que tem oportunidade? Tem orado pela conversão de sua cidade e de todos aqueles que estão colocados como autoridade sobre você? Você tem sido fiel nos dízimos? Tem feito novos discípulos? É trabalhando, servindo a Jesus que você vai manifestar seu amor por Ele. Jesus estava ensinando a servir, pois quando servimos fazemos com que o amor seja concretizado. É necessário esquecermos nossa posição de honra dentro da Igreja, nossa posição de honra dentro da sociedade, nossa posição de honra dentro do nosso local de trabalho e servir aqueles que nos rodeiam. Não adianta falar do amor, conhecer o amor e não viver a pratica do amor.
Segundo o pastor Naamã Mendes “...a crise que vive qualquer igreja, está ligada à necessidade que os líderes e seus membros têm de serem grandes e da sua incapacidade em servir”.
A Igreja é o lugar da concretização do amor. Jesus morreu por nós e ressuscitou para que pudéssemos ser um com Ele. Jesus demonstrou o Seu amor morrendo a nossa morte. Assim como ele demonstrou o amor; a Igreja precisa demonstrar este amor ao mundo. Somos chamados para continuarmos Sua obra. “POIS O PROPRIO FILHO DO HOMEM NÃO VEIO PARA SER SERVIDO, MAS PARA SERVIR E DAR A SUA VIDA EM RESGATE POR MUITOS ” (Mc 10:45).
Espero que você se encontre preparado para colocar sua vida a serviço do Reino de Deus.
2.2 – O amor se concretiza no carregar as cargas uns dos outros (Jo 13:35)
Naquela reunião estavam pessoas com quem Jesus tinha a mais íntima comunhão, e que pelo trabalho, correrias e lutas da caminhada, estavam com os pés empoeirados. Precisavam de água, de alívio. Os retirantes mais antigos sabem disso. Não existe nada mais aliviante que uma bacia de água morna depois de uma caminhada!
Lideranças leigas (presbíteros, diáconos e membros) trabalham anos a fio, comprometidas diretamente com a vida da igreja. Labutam, ensinam e nunca são aliviadas pelos seus pastores! Também são seres humanos como todos os outros!
Às vezes, caminham dia a dia, dividem o prato, oram por e com seus pastores, evitam levar os problemas para os mesmos, mas nunca são aliviados nas suas lutas e dramas pessoais!
Muitos pastores pensam que esses não fazem mais do que obrigação! Ao invés de aliviarem exigem, cobram, repreendem. Exercem uma verdadeira tirania sobre os seus comandados, quando deveriam demonstrar amor. “LEVAI AS CARGAS UNS DOS OUTROS, E ASSIM CUMPRIREIS A LEI DE CRISTO” (Gl 6:2).
2.3 – O amor se concretiza no perdão (Jo 13:21-26)
No versículo 21 diz que Jesus se angustiou, acredito que sua angustia se deve ao amor que sentia por Judas, embora soubesse que esse o trairia. Este amor pode ser evidenciado no versículo 26. Era costume nas refeições orientais que o anfitrião oferecesse a um dos convidados um pedaço de pão como gesto de amizade especial. Com isto, Jesus estava demonstrando Seu amor pelo traidor.
Hoje a competição excessiva, o medo de perder posições, as jogadas políticas, todas estas questões e mais outras, levam os pastores e líderes a viverem o papel de traidores, ou o de traídos. Boa parte dos pastores vê nos colegas, nas juntas diretivas, e nos conselhos, inimigos e vice-versa. Existem inúmeras piadinhas “evangélicas” que retratam este fato, como “resisti aos diáconos e eles fugirão de vós” ou “no mundo tereis presbíteros, mas tende bom ânimo...”
Sou novo como pastor, mas já ouvi várias queixas de colegas pastores que viveram ou vivem mágoas profundas por terem sidos traídos por seus liderados. Por diversas vezes presenciei pastores reclamando dos presbíteros de sua igreja, ou membros reclamando de outros membros de sua igreja.
Jesus, ao lavar os pés de Judas, nos ensina, entre outras verdades, que as traições, inimizades, incompreensões, precisam ser trabalhadas pela graça de Deus no nosso coração, com toda a intensidade, e de tal maneira que ela nos leve a reagir de forma positiva, perdoadora, àquele que tenha nos provocado mágoa. Os traidores e inimigos precisam experimentar o amor de forma concreta e, assim, serem transformados (Lc 6:27-37).
Jesus alicerça seu amor, aliviando quem tem dificuldade em ser amado. Ama quem nunca recebeu amor. Jesus ama incondicionalmente, ama até o fim, ama ao extremo.
“E, QUANDO ESTIVERDES ORANDO, SE TENDES ALGUMA COISA CONTRA ALGUÉM, PERDOAI, PARA QUE VOSSO PAI CELESTIAL VOS PERDOE AS VOSSAS OFENSAS” (Mc 11:25).
Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
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