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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

CORAGEM 2 - A CORAGEM DE PERGUNTAR

A CORAGEM DE PERGUNTAR
AUTOR DESCONHECIDO
 

Maria das Dores é uma sofredora. Procurou-me em lágrimas, e contou-me que seu esposo havia falecido algumas horas antes depois de ter recebido uma fortíssima descarga elétrica no emprego. Contou-me, ainda, que já havia perdido dois dos seus sete filhos. Um deles era um motorista de táxi que fora assaltado e assassinado por um meliante travestido de passageiro. O outro havia desembarcado de um ônibus, e atravessava a rua quando foi atropelado por um automóvel.
A pergunta da irmã das Dores foi "Por que Deus faz isso comigo?", e nela foi inserido um profundo senso da injustiça divina em sua vida pessoal. Isso me trouxe à mente as palavras de Jó:
"Porque as flechas do Altíssimo voltaram-se contra mim, ...Deus desencadeou contra mim males terríveis ".
Na realidade, a história da irmã das Dores é paralela à de Jó.


TEOLOGIA POPULAR
1. Na tentativa de lidar com o problema da dor e do sofrimento, diferentes respostas têm sido sugeridas. Algumas, de modo extremamente linear, sugerem que nós o merecemos como castigo por nossos pecados. Esta foi a doutrina ortodoxa de Israel, e são apresentados como exemplos deste modo de teologizar,
"Buscai o bem, e não o mal, para que vivais". e,Nenhuma desgraça sobrevém ao justo; mas os ímpios ficam cheios de males".
Este princípio de retribuição diz que toda dor vem do pecado, seja do nosso presente pecado, seja de outrem no passado. No entanto, Jó é uma negação disso, porque ele sofreu todo tipo de calamidade (perdeu sua propriedade, sua saúde, seus filhos, e o amor de sua esposa ), e "era homem íntegro e reto, que temia a Deus e se desviava do mal".
No caso da irmã Maria das Dores, também, não pude encontrar base para aplicar essa abordagem retributiva. Não pude encontrar qualquer explicação para as mortes brutais e irracionais de três homens tementes a Deus e trabalhadores que deixaram aquela senhora com filhos pequenos e sem qualquer arrimo. Não, a abordagem da retribuição não podia ser aplicada a seu caso.
2. Algumas pessoas crêem que o sofrimento é bom em si mesmo, e visto que têm prazer na dor, a única explicação é que são elas mesmas enfermas. De fato, os psicanalistas chamam a isso de masoquismo, e ensinam que é uma perversão.
Não era o caso da irmã Dorinha; ela não encontrava qualquer motivo de satisfação em seu sofrimento, mas estava extremamente machucada e dolorida.
3. Outros querem ver um princípio disciplinador no sofrimento, com isso dizendo que o Senhor tem que nos punir como um pai pune a um filho a quem ama, pelo amor desse filho. Fornecem passagens da Escritura como:
"Quem se recusa a bater no seu filho não o ama; se o ama, não hesita em castigá-lo".
"Feliz o homem que aceita que Deus o corrija e não despreza o castigo do Senhor".
"porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem".
Por que no caso de Maria das Dores? De que tipo de disciplina estava necessitando?
4. E que dizer das pessoas que crêem que a dor não tem existência real? Para os budistas tudo é ilusão. A única dor é a do desejo, que podemos negar até entrarmos no Nirvana, dizem. A Ciência Cristã ensina que o sofrimento é simplesmente o "erro da mente mortal".
Também essa abordagem não encontrou aplicação na vida da irmã Dorinha, porque o sofrimento estava ao seu lado, no seu coração, mesmo, a dor estava lá, a ferida estava lá, não era ilusão.

DEUS
Onde estava o Eterno quando essas mortes aconteceram? Estaria ausente? Essa foi a queixa de Jó em 23.3,
"Ah, se seu soubesse onde encontrá-lo, e pudesse chegar ao seu tribunal!"
E, embora na mente de Jó Deus fosse tão difícil de ser encontrado, ele acredita que "ele sabe o caminho por que eu ando; provando-me ele, sairei como o ouro".
Não era essa a queixa de D. Maria das Dores. Ela não acusava o Senhor de estar ausente. Sua pergunta tinha uma dimensão diferente; ela me perguntou: "Por que Ele faz isso comigo?" Seu Deus não era um ausente como Jó imaginava, mas presente embora tremendamente injusto. Na sua teologia, a irmã das Dores buscava encontrar uma punição por alguma falta não merecida, o que tornava o Criador culpado de injustiça.
Finalmente eu havia encontrado o ponto: trabalhar com ela de modo que pudesse ter uma nova visão de Deus. Não era Ele um ausente (ela bem o sabia), mas pensava a Seu respeito como um Deus injusto. A irmã Maria das Dores teve a coragem de questioná-lo e queria uma resposta.
O Antigo Testamento fala do Eterno como um Deus de justiça e que exerce o Seu julgamento; não é um Deus que se caracteriza pela falta de julgamento e de lógica.
"Justiça e juízo são a base do teu trono".
Também a justiça de Deus (mishpat) O apresenta como salvador,
"E desposar-te-ei comigo para sempre; sim, desposar-te-ei comigo em justiça,
e em juízo, e em amorável benignidade, e em misericórdias" .
Destas passagens e das suas referências, podemos perceber o Eterno como um Deus de justiça, que ama e que salva. Deus não está ausente, não é injusto, e não deixaria a irmã das Dores com a sua dor sem resposta e orientação.

DIREÇÃO
O que havia acontecido à nossa irmã e a outras pessoas sofredoras é conseqüência de nossa condição humana. Ocorre com crentes e incrédulos porque é uma experiência comum a toda a humanidade. A grande pergunta é "por que sofremos?" ou num tom pessoal, "por que isso acontece COMIGO?" Provavelmente, o cristão tem um problema mais profundo por causa de sua fé em Deus, e do conhecimento em primeira mão do Seu amor. ROBINSON fala de um princípio revelador no sofrimento . É compreensível porque em um sentido a dor torna possível que a consciência de alguém receba um conhecimento mais profundo de Deus e do Seu relacionamento com o ser humano. O sofrimento nos revela um Cristo sofredor, e nos dá percepções (insights) de Sua pessoa como um amigo sempre presente, e que nos compreende porque Ele mesmo sofreu as dores pelas quais passamos, e levou sobre Si as que não podemos transportar. Isso é o que Buttrick chama de "dor como compreensão" de modo a ter entendimento do mundo natural, da nossa natureza como seres humanos, e da natureza de Deus.
A grande diferença , então, é de compreensão. Fiéis e infiéis sofrem, mas para os primeiros "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra", não construindo uma barreira de proteção ao redor deles, mas dando-lhes compreensão e entendimento do que está acontecendo. É nesse sentido que Jó exclama, "De facto, eu mal tinha ouvido falar de ti, mas agora vi-te com os meus próprios olhos". Sim, a dor como um mal será destruída, permanecendo após a presença e a consolação de Deus-conosco. A consolação imediata vem do conforto trazido pela compreensão (insight) e a certeza da constante presença do Eterno e Vivo Deus.


OUTRAS LEITURAS
1. BAKER, Wesley C. More Than a Man Can Take. Philadelphia, Westminster, 1966.
2. FITCH, William. God and Evil. London, Pickering & Inglis, 1967.
3. GERSTENBERGER, E.S. e SCHRAGE, W. Suffering. Nashville, Abingdon, 1977. Trad. John E. Steely.
4. LEWIS, C.S. The Problem of Pain.New York, MacMillan, 1962.
5. MURPHY, Roland E. The Psalms, Job. Philadelphia, Fortress, 1982.



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