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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

ECLESIOLOGIA 24 - A DIMENSÃO DA IGREJA COMO POVO DE DEUS NA TEOLOGIA BÍBLICA

A DIMENSÃO DA IGREJA COMO POVO DE DEUS NA TEOLOGIA BÍBLICA
Esta monografia é de conclusão de curso no período de 1996-1999, no STL -Seminário Teologia de Londrina, hoje, STAGS - Seminário Teológico Rev. Antonio de Godoy Sobrinho da IPI.
 
 
 
Irani José Costa



INTRODUÇÃO

O presente trabalho não tem nenhuma pretensão de esgotar um assunto tão rico e fascinante, mas apenas abrir uma discussão mais ampla e objetiva quanto à recuperar essa dimensão da Igreja como Povo de Deus.
Entendemos que a categoria da Igreja como povo de Deus serve de elemento aglutinador dos fiéis e, que implica num status jurídico de pertença onde todos podem ter acesso a uma vida digna, à terra, à uma identidade legitimada pela comunidade e, a caminho da construção de uma nova sociedade, uma comunidade alternativa, diferenciada.
Veremos que o Antigo Testamento mostra o chamado de Abraão, e a formação do povo de Deus que se confirmou na aliança de Javé com Israel elegendo-o dentre os povos, para fazer dele o seu povo.
Como também no Novo Testamento, veremos que a Igreja, através de Cristo, é o novo Israel de Deus. Mediante Cristo todos poderiam fazer parte: judeus e gentios, surgindo o verdadeiro povo de Deus. E, como resposta a essa pertença e nova identidade, a Igreja desempenhará a missão recusada por Israel de ser bênção, e abençoar todos os povos mediante a obediência.
Mais, mostrar que a Igreja como povo de Deus pode e deve ser uma comunidade de eleitos para adorar a Deus, servindo ao próximo; que vive em comunhão fraterna e solidária com os seus, que acolhe os excluídos, que proclama as mensagem libertadora de Cristo mediante a instrumentalização do Espírito Santo que os torna, verdadeiramente, povo de Deus.
O exame de um tema como o nosso necessariamente nos obrigou a penetrar na obra de outros escritores, e, como já disse Alan Richardson, até mesmo o anão enxerga longe quando encontra um gigante que lhe permite instalar-se sobre seus ombros.


A DIMENSÃO DA IGREJA COMO POVO DE DEUS NA TEOLOGIA BÍBLICA

I - A NOÇÃO DE ISRAEL COMO POVO DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO

A linha principal da tradição do Antigo Testamento revela que Deus escolhe das muitas nações que existem no mundo um único povo, que seja sinal de salvação, pois, na medida em que cumpre sua missão, as nações vão aprender deste povo de Deus (Is 2.1-4).
A iniciativa é divina. A eleição e chamado de Abraão são inteiramente frutos da ação proposital de Deus. Abraão era um arameu de ascendência pagã (Gn 11.26-29) e originário de uma família idólatra (Js 24.2), logo, ele não poderia reivindicar qualquer mérito na escolha de Deus.

1.1 - A Dimensão de Israel como Povo de Deus começa com um homem: Abraão

1.1.1 - O Chamado de Abraão

Em termos bíblicos, Javé, em sua sabedoria infinita e soberania inquestionável, acolhe e escolhe um único povo, para fazer dele sinal de salvação. Esse fato começa com uma família: em Abraão (Gn 17.1-8), num clã, num grupo, num povo pequeno.
Assim, no começo da história de Israel, não se encontram grupos, tribos etnicamente homogêneas. Pelo contrário, deparamos famílias, grupos e tribos de origens bem diferentes, que eram denominados pelo termo Hapiru, que se referia às pessoas sem filiação familiar no sentido sociológico. Eram estrangeiros, cativos e escravos e de status inferior dentro de um reino. A família do patriarca Abraão enquadrava-se nessas características. Vivia em semi-desertos e estepes. Limitava-se a ocupar áreas e caminhos onde haviam poços de água suficiente para o rebanho.
É neste contexto de peregrinação que Javé convoca Abraão:
"O Senhor disse a Abraão: Parte da tua terra, da tua família e da casa de teus pais para a terra que eu te mostrarei. Eu farei de ti uma grande nação e te abençoarei. Tornarei grande o teu nome. Tu seja uma bênção. Eu abençoarei os que te abençoarem, e quem te injuriar, eu o amaldiçoarei: em ti serão abençoadas todas as famílias da terra." (Gn 12.1-3)

Portanto, em Gn 12 encontramos a resposta de Deus para a dispersão humana (Gn 11.1-9). A eleição e o chamado de Abraão são manifestações da graça de Deus para com um povo, mas visando todos os povos da terra.

1.1.2 - Aliança é estendida aos seus descendentes: Israel

Através do chamado de Abraão, sua fé e obediência ao chamado de Javé nasce o povo de Israel e, por conseguinte, a aliança de Javé com o patriarca abrange e se estende a toda a sua descendência - o povo de Israel.
Da mesma forma que Abraão, seus descendentes (Êx 6.7; Lv 26.12; 29.12; II Sm 7.24; 11.4.) deveriam lembrar-se constantemente de que sua eleição e chamado não se baseavam em seus próprios méritos, mas na iniciativa de Deus em amá-los e chamá-los dentre as nações (Dt 7.6-8).
Javé elegeu seu povo como instrumento a seu serviço para anunciar
a salvação aos povos de toda terra e conduzir assim o mundo inteiro no reconhecimento da glória de Deus. A escolha de Israel como povo de Deus tinha como objetivo testemunhar a glória do Deus criador, libertador e redentor de todas as nações.
Assim, conforme a teologia bíblica, Deus impõe sua soberania ao escolher um povo. É a pedagogia divina que começa com um pequeno grupo, e, no entanto, inclui o mundo inteiro, isto é, através do exemplo daqueles que foram chamados primeiro.
O vocábulo am (povo) contrapõe-se ao de goi, designado ao povo de Israel que o diferencia dos outros, e que se torna o objeto da eleição generosa de Javé. Os termos correspondentes no Novo Testamento e na versão dos Setenta são os de lao,j e e;q noj, com idêntica diferença de sentido. A natureza de Israel como povo se traduzem perfeitamente pela expressão lao,j q eou/ ou, simplesmente por sua forma arcaica lao,j .
Todavia, ser povo de Deus (~ [ ; - am) não deve levar ao egoísmo religioso ou inclusive à xenofobia; somente pode haver uma configuração autêntica de obediência à fé e ao serviço para a salvação dos povos. Não se vive para si mesmo, senão somente para Javé e, deste modo, para outros povos ( y w g - goyim). Assim, esta eleição e este chamado podem ser entendidos não como um mero privilégio, mas como uma responsabilidade para com as nações da terra.
Nesta predileção se concentra toda a dignidade religiosa de Israel. Javé é o seu Deus e Israel é seu povo. Israel toma consciência de ser povo eleito, de sua unidade nacional e religiosa, de sua missão de ser sinal para todos os povos, desde o momento em que Javé interveio sobre a escravidão do Egito:
"Por isso dize aos filhos de Israel: Eu sou o Senhor. Eu vos farei sair das corvéias do Egito. Libertar-vos-ei da sua servidão. Eu vos reivindicarei com poder e autoridade. Tomar-vos-ei como meu povo, e para vos eu serei Deus. Conhecereis que sou eu, o Senhor, que sou vosso Deus; aquele que vos faz sair das corvéias do Egito". (Grifo nosso). (Êx 6.6-7)

Neste mesmo sentido se entende e confirma a idéia da aliança:
"Para vós outros olharei, e vos farei fecundos, e vos multiplicarei, e confirmarei a minha aliança convosco (...) porei o meu tabernáculo no meio de vós, e a minha alma não vos aborrecerá. Andarei entre vós e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo". (Lv 26.9-12)
Israel, portanto, tornou-se o povo escolhido dentre todos os outros povos, era propriedade exclusiva de Javé. Israel tornou-se o lao,j de Javé, com o qual Deus fez uma eterna aliança que se assenta, do início ao fim, na fidelidade de Javé. Seu conteúdo será eternidade irrevogável (Êx 32.13; Lv 26.42; Dt 4.31). Esse povo, segundo Stenzel, realiza assim o seu dogma nacional, o indissolúvel complexo étnico-religioso de ser o povo de Deus.
Mas a eleição não se destina a criar uma casta senhorial auto-suficiente e autólatra, mas missionários a serem enviados ao mundo e a dar testemunho (Is 43.10; 49.6; 60.3; Jr 1.5). R. P. Shedd argumenta que "a missão de Israel às nações tinha por objetivo atraí-las ao Deus de Israel, para que assim aprendessem a obedecer e a adorar ao Deus verdadeiro e crer nele". O desejo de Javé era fazer cumprir a promessa feita à Abraão. Sua meta era fazer de Israel um sinal elevado de visitação e bênção a todos os povos: "para a salvação dos muitos pelos poucos, dos orgulhosos e poderosos pelos fracos e oprimidos" .
Assim, podemos afirmar que a eleição e o chamado do povo de Deus no Antigo Testamento têm sua base na iniciativa divina, no propósito de que através deste povo outros sejam alcançados e abençoados. O modo através do qual Israel viria a ser usado é desenvolvido ao longo da história da salvação. Em Gênesis 12 podemos encontrar em forma embrionária a natureza e propósito do povo de Deus no mundo.
  
1.1.3 - O Fracasso da Aliança: Desobediência e Apostasia

No entanto, infelizmente, Israel não obedeceu, não cumpriu a missão pelo qual Javé o designara de ser luz para as nações (Is 42.6). A história de Israel nos mostra que, ao invés de tornar o nome de Deus conhecido e temido entre os povos da terra, Israel profanou aos olhos de todas as nações (Ez 36.22-23). Ele se afastou de Deus para a presença dos ídolos (Jr 5.19; 18.15; Ez 14.5-6). Seus líderes e juízes tornaram-se corruptos, favorecendo o rico e oprimindo o pobre (Is 3.14-15; Am 22.6-8; 5.7, 10-12; Mq 3.1-4,9-11). A desigualdade econômica e social prevaleceu (Is 5.8; Am 4.1; Mq 2.1-5). Seus pastores eram falsos (Mq 3.5-8,11).
O profeta Oséias fala da apostasia presente de Israel e de sua salvação escatológica. Oséias foi instruído a chamar um de seus filhos de "não-meu-povo", pois o Israel rejeitado não era mais o povo de Deus, e ele não era mais o seu Deus (Os 1.9; Am 3.2).
"Só no profeta Oséias é que Israel, por sua apostasia de Iahweh, perde inteiramente de forma provisória o caráter de povo de Deus: torna-se "não-povo"(Os. 1.9). Mas Oséias expressa a um só tempo a esperança de que num tempo posterior, Iahweh voltará receber Israel como meu povo." (2.25)

A resposta de Israel não corresponde à ação de Deus em seu favor. É uma história de fracasso e de traição, de queda e de infidelidade: uma história de pecado. Assim, Israel aprofunda a sua crise, tanto política quanto religiosa que resulta na queda do Estado como juízo e castigo pela conduta e pecados do povo. Mesmo diante do chamado de Deus para o arrependimento, Israel gradualmente se esqueceu da sua natureza particular como povo de Deus e do seu propósito para servir entre as nações.
Entretanto, e no mesmo contexto do anúncio de punição que emerge nos escritos proféticos o tema do "remanescente". O profeta declara: "Eis que os olhos do Senhor Deus estão contra este reino pecador, e eu o destruirei de sobre a face da terra; mas não destruirei de todo a casa de Jacó, diz o Senhor" (Am 9.8).
Assim, quanto maior o distanciamento de Israel, tanto maior era a esperança em um novo Israel, formado de novo por Deus:
"Hei de dar-lhes um coração leal; porei neles um espírito novo; eu lhes tirarei do corpo o seu coração de pedra e lhes darei um coração de carne, para que caminhem segundo minhas leis, guardem os meus costumes e os cumpram. Serão para mim um povo e eu serei para eles Deus." (Ez 11.19-20; cf. 14.11; 36.28; 37.23; Jr 7.23; 24.7; 30.22; 32.37-40)

1.2 - A Expectativa de um Novo Povo Escatológico

O que era para ser desfrutado como posse presente torna-se agora, depois do fracasso do povo da aliança, aspiração de promessa para o futuro. Israel, Povo de Deus, torna-se um conceito escatológico: Javé tornar-se-á de novo o Deus de Israel, voltará a ser o povo de Javé; o Fim dos Tempos restaurará de novo o começo dos tempos; Javé libertará de novo Israel, salvá-lo-á, e conquistá-lo-á; terá misericórdia do seu povo e perdoar-lhe-á os seus pecados. Serão chamados filhos do Deus vivo (Os 1.10). Serão um novo povo e um espírito novo. O Espírito do Senhor será derramado por sobre o povo (Jl 2.28-32) e a circuncisão do coração tomará o lugar da circuncisão da carne (Jr 4.4; 24ss; Dt 30.6).
Portanto, a expectativa escatológica rompe a barreira nacionalista e a nova comunidade escatológica: a Igreja toma para si o conceito de Povo de Deus baseada pela fé no Senhor Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, o grupo dos discípulos é prefiguração daquilo que o Israel escatológico, reconstituído em todos seus membros, deve ser um dia.
É o que veremos a seguir, agora, sob a perspectiva bíblica no Novo Testamento.

II - A NOÇÃO DA IGREJA COMO POVO DE DEUS NO NOVO TESTAMENTO

2.1 - A dimensão da Igreja como povo de Deus começa com um homem: Jesus Cristo
O ministério de Jesus era dirigido a Israel e desejava reuni-lo e fazer dele o verdadeiro povo de Deus e, mesmo na sua morte, manteve sua missão vinculada para com Todo-Israel.
A constituição dos doze é uma das indicações de que Jesus se dirige a Israel. O grupo dos discípulos não foi concebido como substituto ou sucessor de Israel, mas devia estar aberto e orientado para Israel. Ele deveria prefigurar o Israel escatológico; ele deveria representar, como sinal, aquilo que em si deveria ter acontecido em Todo-Israel.

2.1.1 - A Aliança é estendida aos seus descendentes: a Igreja

Após o evento morte/ressurreição de Cristo, os discípulos de Jesus, compreendem-se como o verdadeiro Israel, não só como o verdadeiro mas, ao mesmo tempo, como o novo Israel. O fundamento era a fé mediante a experiência pessoal no ressuscitado. Para os que criam, tinham como cumpridas em Cristo as promessas do Antigo Testamento.
Para Lohfink, essa autocompreensão mostra-se primeiramente no seu comportamento. Os discípulos deixam a Galiléia e vão para Jerusalém. A razão é escatológica. Estavam convencidos de estarem no meio dos acontecimentos finais e, conforme a fé judaica, os acontecimentos finais tem início em Jerusalém.
Outro fato era quanto à questão do batismo (At 2.38-42). O batismo é pensado como sacramento escatológico para Israel: diante do fim iminente, o povo de Deus deve ser selado para poder subsistir no juízo do Filho do Homem. Ainda um terceiro fenômeno destaca a autocompreensão da comunidade primitiva, o círculo dos doze é completado por eleição (At. 1.15-26). Os doze são testemunhas escatológicas contra Israel.
Lohfink complementa: a reconstituição escatológica de Israel, começada por Jesus, está sendo continuada pela comunidade pós-pascal dos discípulos em fidelidade a Jesus.
A Igreja que consiste tanto de judeus como de gentios tornou-se os ramos da oliveira - o povo de Deus - o verdadeiro Israel. Chama-se a si mesma a "Ekklesia de Deus" (I Co 15.9; Gl 1.13). No grego, etimologicamente, ekklesia significa reunião pública, assembléia, reunião da comunidade política. No entanto, a versão das Setenta, em muitas passagens, traduz o termo qahal, isto é, a reunião do povo da aliança do Antigo Testamento por ekklesia. É compreendida como o verdadeiro povo de Deus. Os cristãos quando se chamam a si mesmos de "Ekklesia" de Deus, devem ter-se compreendido como o verdadeiro Israel.
Mesmo depois da abertura para a aceitação de gentios e pagãos incircuncisos, a idéia de ser povo de Deus é mantida. Todas as comunidades que professam sua fé no Cristo ressurreto, mesmo as comunidades em que os cristãos vindos do paganismo eram em maior número se consideram a si mesmas como povo de Deus.
Na primeira epístola de Pedro, o autor, referindo-se à Igreja de Cristo, concede títulos aos cristãos que são tomados diretamente do modo como se descreve o povo de Deus no Antigo Testamento (Êx 19.5-6; 23.22. Is 43.20; 61.6). Os cristãos assumem tais títulos como o novo Israel de Deus e, o autor da carta, sintetiza os privilégios e as responsabilidades do novo povo de Deus:
"Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia." (I Pe 2.9-10)

Observando a comunidade cristã primitiva, cônscias de sua pertença à Igreja como povo de Deus, podemos constatar que esta testemunhava não apenas pela proclamação (At 2.1-41), mas também pelas suas obras, comportamento e estilo de vida (At 2.44-47). A conseqüência disso é que a comunidade cristã contava com a simpatia de todo o povo, e o Senhor acrescentava, dia a dia, os que iam sendo salvos (At 2.47).

2.2 - A Noção de Paulo sobre a Igreja como povo de Deus:

O apóstolo São Paulo trabalhou e aprofundou a questão teológica deste termo: Igreja, povo de Deus e atribuiu-o aos cristãos vindos do paganismo como "descendência de Abraão" (Rm 4, Gl 3). Todos os que crêem em Cristo, são os verdadeiros descendentes de Abraão, portanto, o verdadeiro povo de Deus. A teologia paulina não privilegia nenhuma etnia: os benefícios e privilégios de Israel valem para todos o que crêem em Cristo: Abraão é seu pai (Rm 4.12); são herdeiros (Gl 3.29; são filhos da promessa (Gl 4.28); são os eleitos (Rm 8.33); são chamados (Rm 1.6s); são os amados (Rm 1.7); são os filhos de Deus (Rm 8.16; Gl 3.26).
Na teologia paulina, esses conceitos eram atribuídos ao contexto da idéia de povo de Deus. Aqueles que professam sua fé em Cristo estão sob a nova aliança do fim dos tempos (2 Co 3.6); refletem a glória do Senhor, o que antes, acompanhava e beneficiava apenas o povo de Israel (2 Co 3.8); são templo de Deus, habitação do Espírito Santo (1 Co 3.16); são a plantação de Deus (1 Co 3.5-9); são o edifício de Deus (1 Co 3.9); são os verdadeiros cincuncisos (Fl 3.3), pois a mesma se dá no coração e pelo Espírito (Rm 2.29).
É evidente que Paulo não trata a Igreja como o verdadeiro Israel, expressa-o indiretamente, trata-o como "Israel segundo o Espírito", o mesmo vale para os outros autores dos escritos do Novo Testamento (Tg 1.1). Esse passo teológico já foi dado no século primeiro pelos autores dos evangelhos: "Por isso vos afirmo que o Reino de Deus vos será tirado e confiado a um povo que produza seus frutos." (Mt 21.43; 8.12; Lc 20.16)
Portanto, já não mais se fazia necessário fazer parte da nação judaica para tornar-se povo de Deus, apenas fé em Jesus Cristo era condição suficiente para isso. Agora, todos aqueles que crêem, quer judeus, quer gentios, fazem parte do novo povo de Deus.

2.2.1 - A vinculação do Israel com a Igreja:

O apóstolo Paulo não desqualifica o Israel descrente na sua função histórico-salvífica, por isso elaborou uma teologia perene que vincula a igreja com a sinagoga (Rm 9-11). Por exemplo:
Foi devido ao fracasso de Israel que a salvação alcançou as outras nações (11.11);
O fracasso de Israel serve como advertência à Igreja. Assim como Deus não poupou a Israel, também não poupará a Igreja descrente. (11.20-22);
A Igreja pode aprender com Israel sobre a fidelidade de Deus. (11.29; 11.1; 11.12; 11.26s).
Despertar o ciúme de Israel para que, assim como a Igreja, alcancem a fé. (11.11-14).
Conclui-se, portanto, que a vinculação entre Israel e a Igreja é permanente, mostrando que a Igreja sem Israel nem sequer pode existir e, mais ainda, a Igreja perderia sua identidade se se esquecesse de sua relação contínua com Israel.
2.3 - A práxis concreta da Igreja como povo de Deus

Em Gl 3.28 e 1 Co 12.13, o apóstolo Paulo elenca algumas das características que devem nortear a Igreja como comunidade que toma para si o conceito de povo de Deus:
1. "Não há mais judeu nem grego". A condição religiosa do ser humano já não era mais impedimento para fazer parte da comunidade de fé. Todos podem ser integrados ao povo de Deus, colocando, assim, em evidência a unidade do povo de Deus.
2. "Não há escravo nem livre". A condição sócio-política dos homens em nada influencia a questão da salvação. As diferenças entre escravo e livre, na comunidade dos salvos, não significava nada (Fl 16).
3. "Não há homem nem mulher". Mostrava que era nas comunidades domésticas que as barreiras eram rompidas e se tornavam irrelevantes, em favor da nova vinculação de todos a Cristo.
Compreende-se daí que todos os fiéis constituem o sujeito social da Igreja: os fiéis desta vertente não podem mais se satisfazer com o papel de "objeto" e funções ministeriais de direção, todos se tornam sujeito destacado do agir eclesial. Agora, a realidade eclesial abrange e integra todos os fiéis, sem diferenciação alguma, como Povo de Deus.
Portanto, podemos concluir este capítulo compreendendo que o conceito da "Igreja como Povo de Deus" expressa bem o caráter universal e missionário da Igreja; Deus suprime na nova aliança o corte entre o único povo eleito de Israel e os muitos povos gentios, ao reunir para si um "povo dentre os povos". Essa reunião só se realiza, portanto, como acontecimento permanente da missão e da auto-superação deste povo uno rumo ao muitos povos e culturas. Para a Igreja, a missão não deve se tornar conseqüência da comunhão entre os seus, mas ambas as tendências básicas constituem somente em recíproco condicionamento, a verdadeira identidade do povo de Deus.
  
I - A DIMENSÃO DA IGREJA COMO POVO DE DEUS NA TEOLOGIA SISTEMÁTICA

Considerações preliminares

A Igreja é povo de Deus e corpo de Cristo. Ao reconhecer essa imagem, a Igreja confirma seu vínculo com a tradição veterotestamentária, relembrando os símbolos que giravam em torno das idéias de eleição e aliança.
Assim, a categoria da Igreja como povo de Deus está fundamentada pela Sagrada Escritura no que concerne às idéias: eleição, aliança, serviço e missão de Deus entre os homens.
O estudo dos textos do Antigo e Novo Testamento estabelecem características históricas visíveis e concretas, referidas ao povo de Deus, de que foram elegidos para testemunhar a presença de Deus na história dentro de um propósito de redenção universal.
A Igreja, eleita e vocacionada, foi escolhida para proclamar às nações os atos redentores de Deus, por intermédio de seu filho Jesus Cristo. "A igreja tem por missão despertar, acordar, preocupar, mostrar os caminhos, exortar e estimular constantemente."
Portanto, evidencia-se a relevância de tratar o tema a que nos propomos, pois, as distorções quanto à compreensão são inúmeras.

1. A natureza do povo de Deus

A Igreja, assim como o povo de Israel, é uma comunidade de eleitos, não havia méritos que a qualificasse para entrar em aliança com Deus, a iniciativa foi unilateral, procede de Javé; não está condicionada somente aos organismos institucionais e não se sujeita ao espírito humano; sua vida provém do fato de sua eleição: sua linhagem é santa, sua missão está a serviço do Reino do céus.
Estas dimensões, derivadas de sua eleição, demonstram, ao mesmo tempo, seu caráter humano e transitório de comunidade. Assim, a Igreja é também uma instituição de membros pecadores e falhos; sua pureza e santidade se mesclam com a existência de falsos profetas, que, embora realizando as obras de Cristo estão muito distantes de seu espírito; ela não é o Reino e por isso sua missão e serviço podem converter-se até mesmo num pseudo-cristianismo.
A Igreja, diferente do povo de Israel, é uma comunidade constituída exclusivamente por vínculos religiosos; sua estrutura não supõe e nem exige uma continuidade num plano ético, cultural ou social com nenhum povo da terra, senão que está aberta ao todo, à plenitude, à pluralidade das nações.
Por outro lado, este universalismo não contempla as peculiaridades específicas de cada povo, com os carismas dos seus membros e de suas formas religiosas. Ademais, a Igreja é a forma escatológica da intervenção de Deus na história do ser humano por intermédio da ação ministerial de Jesus, presente na terra como realizador perfeito do amor da Trindade ao gênero humano.
A imagem de povo nos apresenta aspectos familiares e profundos da realidade eclesial; descreve a Igreja em sua dimensão tanto mística como social e temporal; na mística, quando os membros se agrupam em torno de Cristo presente nos sacramentos e no acontecimento da proclamação de Sua Palavra; a dimensão temporal e social se manifestam no destino da Igreja, em sua peregrinação para o Reino de Deus.
Para o reformador João Calvino, a Igreja deveria ser uma comunidade onde houvesse o estímulo e o encorajamento para o exercício da fé e da obediência, e sua qualidade maior deveria ser norteada pela "comunhão dos santos", mesmo que implicasse uma vivência em meio a lutas, privações e perseguições.
Calvino fazia distinção entre Igreja visível e invisível. A igreja visível é aquela que podemos conhecer, ver, apalpar, ou melhor, uma assembléia visível de pessoas que se reúnem num edifício especial, que pertencem a certa paróquia ou diocese. A igreja deveria possuir os seus ofícios; pastor, professor, presbítero e diácono, que deveriam colaborar na manutenção da disciplina eclesiástica. Assim a igreja, deveria cuidar e ter o controle da moral e dos costumes. A igreja invisível é composta pelos eleitos e fundamentada pela Palavra de Deus e os sacramentos. É o conjunto de todos na terra que têm fé em Cristo, onde a comunhão interna é compartilhada por todos os que possuem fé comum e a mesma esperança.
Lutero, por seu turno, entende a Igreja não propriamente como Povo de Deus, mas como a comunhão dos crentes ou "comunhão dos santos" como aparece no Terceiro Artigo do Credo Apostólico. Refletindo a unidade da fé, compartilhada por todos da comunidade. Portanto, a pertença à Igreja é uma questão de fé. E essa comunhão entre os fieis era fruto do Espírito Santo, assim, desqualificava qualquer conceito institucional para Igreja. Lutero entendia a Igreja como uma união mística, espiritual e invisível. Conceito novo e revolucionário para o seu mundo.
Para Lutero, as características da Igreja eram: batismo, Ceia do Senhor e a proclamação da Palavra da Deus. A igreja existe pela Palavra e em torno da Palavra de Deus e, através dos sacramentos, o Espírito Santo opera e reúne os cristãos no mundo todo.

2. A Igreja, povo de Deus na História

A história é concebida, teologicamente, como a resposta divina ao drama humano. Essa resposta se dá em diferentes níveis, dentre eles o acontecimento de Cristo - nascimento, seu ministério, sua morte, sua ressurreição - constituem a fase final mais sublime.
Todo o relato bíblico coincide com os acontecimentos da vida, morte e ressurreição do Senhor e os primeiros cristãos foram homens e mulheres convertidos pela pessoa de Cristo que, posteriormente, expressaram sua fé em termos doutrinários. Calvino ao comentar Gálatas 3.26, afirma que "todos quantos crêem nele é dado o privilégio de serem feitos de Deus. Como? Pela fé em Cristo."
No entanto, a revelação e a vida de Deus não se limitam ao mundo cristão, a Igreja é concebida como comunidade de fé, mas também como um povo, na história, como instituição que se integra aos planos de salvação de Deus a toda a humanidade.
Desta forma, a Igreja está no vértice da história da salvação e dos seres humanos, evidenciado pela ação de Deus sobre o mundo e, mais especificamente, no povo de Israel por ser este sua continuação e sua perfeição. A ênfase do livro dos Atos dos Apóstolos aponta para os desígnios de Deus sobre Israel e sobre o Messias como etapa final da comunicação de Deus com os homens.
Assim, a perspectiva da revelação progressiva de Deus na história se concebe nas narrações de ambos os testamentos. A chamada de Deus para fazer de Abraão um povo de sua propriedade (Gn 12.1-8; 17.1-8); a fé do Patriarca (Gn 15.6); a revelação à Isaque e Jacó (Gn 26.1-6; 28-10-12); a aliança com esse povo (Êx 19.1-8; 20.1-20); o preparo do povo pelos profetas para a espera do Messias.
Jesus é para a comunidade cristã primitiva o cumprimento das esperanças de Israel (Lc 2.29-32; At 4.11-12). A Igreja surge como a continuação e culminação das esperanças messiânicas do povo eleito. Assim, a igreja representa uma nova economia de graça e salvação em Jesus Cristo e, também, o Israel escatológico, elevada à dimensões cósmicas, em que culminam todas as intervenções salvíficas de Deus na história.
Na epístola aos Efésios, podemos ler:
"Vocês, portanto, já não são estrangeiros, nem hóspedes, mas concidadãos do povo de Deus e membros da família de Deus. Vocês pertencem ao edifício que tem como alicerce os apóstolos e os profetas... Em Cristo, toda construção se ergue, bem ajustada, para formar um templo santo no Senhor. Em Cristo, vocês também são integrados nessa construção, para se tornarem morada de Deus, por meio do Espírito". (2.19-20;22)

Este tema está fortemente arraigado no espírito de Paulo, que dele fez um símbolo interpretativo do crescimento da comunidade cristã, uma realidade a ser edificada à maneira como a Igreja é compreendida no ministério de Jesus.

3. Povo de Israel e Igreja de Deus

Depois de percebermos a ação de Deus na história dos seres humanos, convém que tratemos de especificar as relações existentes entre o povo de Israel e a Igreja, como comunidade continuadora das promessas daquele povo.
Em primeiro lugar, nos termos "povo de Deus" e "Israel", nos escritos neotestamentários, é praticamente impossível evitar a ambivalência. Em alguns momentos, como em At 26.17, a Igreja parece situar-se em um plano superior ao povo e aos gentios; em outros, como em Rm 15.7-12, se descreve como formada tanto pelo povo eleito como pelos gentios.
Em segundo lugar, o conceito de povo neotestamentário é unitário; em nenhuma parte existe uma contraposição radical entre Israel e a Igreja. Existe uma continuidade entre os dois testamentos, o mesmo Deus revela seus desígnios de amor ao mesmo povo.
Nesse contexto, R. Schnackenburg admite que existe uma certa tensão entre Israel e a Igreja. De um lado, Deus não revogou suas promessas à Israel e a Igreja é a continuação legítima, na história da salvação cujo processo começou na criação de Israel, que Deus elegeu para ser seu povo; por outro lado, a Igreja é uma criação nova, uma entidade espiritual originada pelo sangue de Jesus, composta por muitos povos, na qual participam todos, judeus e gentios, homens e mulheres, escravos e livres, segundo a distribuição dos carismas pelo Espírito.
Assim, sintetizando este item, por exemplo, a interpretação de Hans Küng, complementa que:
"A Igreja é, sempre e em toda a parte, todo o Povo de Deus, toda a Ecclesia, toda a comunidade de crentes. Todos são a estirpe eleita, o sacerdócio régio, o povo santo. Todos os membros deste Povo de Deus são chamados por Deus, justificados em Cristo, santificados no Espírito Santo. Nisto todos são iguais, dentro da Igreja."

4. A Igreja e o Reino de Deus

Uma grande questão que fica aberta a muitos questionamentos e interpretações é quanto ao relacionamento da Igreja com o Reino de Deus. Para os cristãos dos primeiros séculos, o Reino foi sempre considerado escatológico. Uma oração primitiva do segundo século continha: Lembra-te, ó Senhor, da tua Igreja, para... ajuntá-la como um todo, em sua santidade, dos quatro cantos da terra, para entrar no teu reino, que tens preparado para ela.
No período patrístico, Santo Agostinho de Hipona identificou o Reino de Deus com a Igreja. A partir da Reforma Protestante, embora em uma forma modificada a identificação de um com o outro foi perpetuada. João Calvino (1509-1564), um dos sistematizadores da teologia reformada utilizou a passagem do Evangelho de Mateus, 13.47-50, como argumento bíblico, com o propósito de fundamentar o princípio da identificação da Igreja com o Reino de Deus.
Tais conceitos relacionados com o Reino e a Igreja, e a relação existente entre os mesmos, são trabalhados e desenvolvidos por Ladd, quando afirma:
"A missão de Jesus foi a de inaugurar uma era de cumprimento como evento antecipado de uma consumação escatológica, e, se num sentido real, o Reino de Deus, em sua missão, invadiu a história humana, ainda que de um modo inesperado, segue-se que aqueles que recebem a proclamação do Reino são considerados não apenas com o povo que iria herdar o Reino escatológico, mas como o povo do Reino há no tempo presente e, consequentemente, em algum sentido da palavra, a Igreja."

Além disso, essa relação entre o Reino de Deus e a Igreja pode ser demonstrada nas atitudes de Jesus. Em primeiro lugar, Jesus não assumiu o seu ministério com o propósito de iniciar um novo movimento, reconheceu a Israel, a quem o pacto e as promessas foram dados, como os naturais "filhos do Reino" (Mt 8.12; 10.5-6). Sua missão foi a de proclamar ao povo de Israel que Deus estava agindo naqueles dias a fim de cumprir as suas promessas e conduzir Israel ao seu verdadeiro destino.
O segundo fato é que Israel rejeitou a Jesus e a sua mensagem a respeito do Reino. A proclamação do Reino e a chamada ao arrependimento caracterizavam o ministério de Jesus desde o início, mas o evangelhos registram o conflito e a rejeição de Israel à mensagem que culminou na sua morte.
Um outro aspecto, o terceiro fato, é significativo. Embora Israel como um todo rejeitou a oferta do Reino feita por Jesus, um grupo remanescente abraçou a fé no Cristo, tornando-se o verdadeiro Israel e os representantes da nação como um todo, portanto, os discípulos de Jesus são os recipientes da salvação messiânica, o povo de Deus, o povo do Reino, o verdadeiro Israel.
O fato de que Jesus considerou o círculo daqueles que receberam a sua mensagem como sendo os filhos do Reino, o povo peculiar de Deus, como o verdadeiro Israel de Deus, que assumiram o lugar da nação rebelde, no entanto, os discípulos de Jesus pertencem ao Reino; mas eles não são o Reino.
Essa aparente contradição pode ser explicada. Em primeiro lugar, o NT não iguala os cristãos com o Reino. Jesus não equaciona os discípulos com o Reino. Muitas passagens apontam para a relação inseparável entre a Igreja e o Reino, mas não a sua identidade (Mt 13.38-43; 16.18-19); os missionários pregavam o Reino de Deus, não a Igreja (At 8.12; 19.8; 20.25; 28.23-31). Assim, a Igreja constitui-se no povo do Reino, nunca no próprio Reino.
Em segundo lugar, o Reino gera a Igreja. Aqueles que aceitaram a mensagem e o cumprimento da esperança messiânica do VT foram constituídos como o novo povo de Deus, os filhos do Reino, o verdadeiro Israel, a Igreja incipiente. Assim a entrada no Reino significa participação na Igreja, mas a entrada na Igreja não significa, necessariamente, entrada no Reino.
Em terceiro lugar, a missão da Igreja é dar testemunho do Reino. Ela não pode edificar o Reino ou mesmo tornar-se Reino, mas pode proclamar os atos redentores de Deus em Cristo em favor da criação e das criaturas, como se lê no evangelho de Mateus, tanto judeus como gentios (Mt 8.11-12).
Em quarto lugar, a Igreja é considerada como sendo a agência do Reino. Os discípulos foram considerados como agentes instrumentais do Reino, pelo fato de as obras do Reino terem sido realizadas por eles como se fossem realizados pelo próprio Jesus. Pregavam o Reino mas também curaram os enfermos e expulsavam demônios (Mt 10.8; Lc 10.17). Assim, a Igreja torna-se o instrumento do Reino de Deus na proclamação da Palavra e na batalha contra os poderes satânicos.
Por fim, a Igreja é a guardadora do Reino. O conceito veterotestamentário tinha Israel como o guardador do Reino. Desde o chamamento de Abraão e a entrega da Lei, o domínio e o governo de Deus podiam ser experimentados somente através da lei, e, Israel, sendo a guardiã da lei, mantinha o Reino de Deus em custódia.
Assim, diante disso tudo, podemos concluir este capítulo reafirmando que na pessoa de Jesus, o reinado de Deus manifestou-se em um novo evento redentor. A nação de Israel rejeitou a proclamação deste evento divino, mas aqueles que o aceitaram se tornaram os verdadeiros filhos do Reino. A ekklesia torna-se a guardadora do Reino, em lugar dos israelitas.
Portanto, a Igreja não somente testemunha a respeito do Reino, mas também se constitui em instrumento do Reino, à medida que este manifesta o seu poder neste era presente, ela é também a guardadora do Reino. Hans Küng, conclui: "A Igreja não é o Reino de Deus, mas levanta para ele os olhos, aguarda-o, ou melhor, vai ao seu encontro como povo peregrino e prega-o ao mundo como seu arauto".

A DIMENSÃO DA IGREJA COMO POVO DE DEUS NA TEOLOGIA LATINO-AMERICANA

Considerações Preliminares

É um dos fatos marcantes de nossa era que no contexto latino-americano começa surgir uma reflexão que leva em consideração justamente a realidade sofrida, injusta e oprimida em que vive a maior parte da população deste continente. A Igreja, corpo de Cristo, não está isenta destas injustiças, pelo contrário, pelo seu espírito pacífico e resignado, não oferece resistência, nem alternativas práticas eficientes que desmontem e desmascarem as intenções implícitas e explicitas destas estruturas injustas, extratificadoras e desumanas da nossa sociedade.
Como conseqüência dessa profunda crise, quando a Igreja latino-americana inicia seu processo de reestruturação, ao mesmo tempo, ocorre uma desestruturação mundial das formas tradicionais de pensamento e de crenças e, muitas vezes, a caótica procura de novas formas e estruturas que respondam a esses anseios. A Igreja afastada e, sempre, na defensiva durante séculos, torna-se agora uma parte da busca do homem hodierno e, como "Povo de Deus" toma posição frente a uma sociedade sem vínculos afetivos, fragmentada e totalmente alienante. Como a Igreja poderá ser e fazer diferença nesta sociedade pós-moderna?
A Igreja latino-americana encontra-se num momento novo. Nunca se produziu tanta reflexão bíblico-teológica como agora. E, entretanto, sua identidade teológica, sua práxis precisa ser elaborada, pois ainda não existe. A Igreja precisa manter seus dogmas e sua verdade, no entanto, deve traduzi-la para o homem moderno e, ao mesmo tempo, participar do próprio desenvolvimento desta cultura pós-moderna e influenciá-la.
Sejam quais forem as verdades que a Igreja proclame, o Povo de Deus deve distinguir-se sempre como a comunidade de homens e mulheres que confessem o Senhorio de Jesus Cristo, que vivam sob a proteção e inspiração do Santo Espírito e se comprometam como membros e assumam seu compromisso e sua missão em prol do Reino de Deus. Deixará de ser Igreja quando Jesus não for mais reconhecido como o Senhor, como o modelo-mor para a vida humana e a história. A Igreja primitiva distinguia-se por sua confissão de que "Jesus Cristo é o Senhor" tanto na sociedade quanto nos cultos.
No entanto, a missão da Igreja não se esgota com o querigma. Deve reconhecer sua responsabilidade de trabalhar e esforçar-se em todos os níveis e sentidos em prol do Reino de Deus na terra. O Reino torna-se um acontecimento que se manifesta através das ações seculares. Mais, a Igreja deve sempre ser uma comunidade empenhada num compromisso integral com as tarefas da diaconia. Torna-se uma parte do trabalho essencial da Igreja e um aspecto de sua tarefa missionária. Através do serviço no e para o mundo, a Igreja apressa, efetivamente, o dia em que todos os homens serão levados ao reconhecimento de que a verdadeira pregação do Evangelho teve um efeito relevante na vinda final do Reino.
À luz do Novo Testamento a Igreja possui três dimensões, as quais são possibilidades de expressar o modo pela qual a Igreja realiza o seu ministério e cumpre a sua missão. A tríade neotestamentária tem sido chamada pelos teólogos como Querigma (proclamação da Mensagem Cristã); Diaconia (serviço no e para o mundo) e Koinonia (o caráter fraterno e solidário do Povo de Deus).
No entanto, essa tríade não pode ser entendida como aspectos distintos, antes, se complementam, refletindo uma única realidade: o caráter integral da obra redentora da Igreja no desempenho de sua missão.
Os elementos que aqui colocamos como dimensões da Igreja, Martinho Lutero as chama de marcas da igreja, "notae ecclesia". Ele lista sete marcas, sob categorias diferentes de nossa exposição. No entanto, nossa opção é pela tríade pois abarca e abrange todas as categorias elencadas pelo Reformador.

1. A Dimensão Querigmática da Igreja

O termo "querigma" significa "mensagem". Logo, a Igreja é chamada para proclamar uma mensagem. A sua mensagem consiste na proclamação ao mundo daquilo que Deus tem feito pelo homem em Jesus Cristo. Bonino avança nessa distinção da tarefa da Igreja, quando afirma: "A Igreja, isto é, a comunidade daqueles que abraçam uma tarefa histórica na liberdade do perdão e da santificação de Deus, não pode existir a não ser na celebração, proclamação e testemunho concretos dessa liberdade."
Esta função de anunciar é fundamental e a torna diferente de tudo mais. A mensagem que ela proclama é uma mensagem de libertação e de chamado à maturidade. Os textos bíblicos do Novo Testamento apontam para a mensagem que a Igreja tem que proclamar: Jesus Cristo. A Boa Nova é a libertação que Cristo trouxe e oferece aos homens que nele crêem.
O lugar da pregação e do ensino na Igreja se deduz facilmente do que já foi dito. Eles são essenciais para a vida eclesiástica porque são instrumentos poderosos para comunicar o evangelho que se encontra no âmago da vida da Igreja e para tornar efetivo este evangelho, também, dentro da Igreja.
No entanto, a proclamação da Palavra não está confinada às quatro paredes do templo, nem é monopólio da liderança da Igreja. A palavra de Deus não é mais propriedade da instituição, não está mais presa sob a velha ortodoxia alienante e desfigurada. A Igreja é Povo de Deus. Todos participam. Todos podem participar do serviço de ensinar, todos são enviados à missão, todos são responsáveis pela comunidade, todos devem se santificar, "todos somos irmãos" (Mt 23.8).
Boff expressa esta idéia da seguinte maneira: "(...) uma Igreja do povo, com os valores do povo, em termos de linguagem, expressão litúrgica, religiosidade popular, etc."

2. A Dimensão Diaconal da Igreja

A Igreja não se limita apenas à Palavra de Libertação, mas também deve juntar-se a Cristo em sua obra de libertação do homem. Isto é "diaconia" ou serviço. Harvey Cox ao conceituar diaconia, o faz afirmando: "A diaconia se refere, realmente, ao ato de curar e reconciliar, de tratar as feridas, de ligar o abismo e de restaurar a saúde do organismo." A Igreja não se restringe à proclamação da chegada do Reino, tem a função, também, de anunciar os seus benefícios. O ministério de Jesus estava imbuído de um projeto que envolvesse o homem integral, quando proclamou:
"O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para pregar boas novas aos pobres, enviou-me a proclamar libertação aos cativos e restauração de vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitável do Senhor." (Lc 4.18-19)

O Cristo vai à frente, e, a Igreja não tem outra alternativa senão a de seguir o mestre. Servi-lo é juntar-se à sua obra de libertação no mundo. A diaconia, portanto, está envolvida no ato de tornar a Palavra de Deus em ação libertadora. No entanto, diaconia não é meramente um serviço social, mas ela significa, sobretudo, que toda a comunidade cristã é uma comunidade chamada a servir. Assim, a tarefa da Igreja é a de ser diáconos do mundo, que se submetem e se entregam à luta pela libertação, saúde, educação, dignidade e integridade do homem e do mundo.
Portanto, a proclamação sem a diaconia é abstrata e vazia. A diaconia sem a proclamação não faz sentido. Jesus Cristo evangelizava curando e curava evangelizando.
Esta dimensão da vida da Igreja tem seu próprio valor intrínseco, de acordo com o exemplo e a mensagem de Jesus, mas também possui um valor instrumental no fortalecimento do Povo de Deus para seu ministério no mundo.
Assim, Paulo retrata esse princípio afirmando que a Igreja é um corpo com muitos membros, todos vivificados pelo mesmo Espírito e cada qual com sua função. Não existe nenhum membro não carismático, vale dizer, ocioso, sem ocupar um determinado lugar na comunidade: "cada membro está a servido do outro membro" (Rm 12.5). Assim, o verdadeiro serviço do Povo de Deus aflora quando homens e mulheres colocam o que são, o que têm e o que podem a serviço de Deus e dos irmãos. Referem ao Espírito Santo seus dons e os fazem frutificar como dádivas de Deus.

3. A Dimensão Fraternal da Igreja

A palavra koinonia, grega, é geralmente traduzida, na ótica latino-americana, por "comunhão", "fraternidade", "solidariedade". H. Cox diz que a fraternidade é o "aspecto da responsabilidade da Igreja que exige uma demonstração visível daquilo que a Igreja está dizendo no querigma e apontando na sua diaconia".
Karl Barth fala da Igreja como sendo "a demonstração da intenção de Deus para toda a humanidade". Assim, a Igreja é mais do que uma simples esperança. Ela é o lugar onde a esperança já se tornou realidade, onde o futuro já assumiu uma forma concreta.
Leonardo Boff afirma que a Igreja, Povo de Deus, é configurada por "comunidades de batizados, de fé, esperança e amor, animados pela mensagem de absoluta fraternidade de Jesus Cristo que se propõe, historicamente, a concretizar um povo de livres, fraternos e participantes."
Depois de termos nos ocupado com a significação teológica de Igreja, vamos nos dedicar ao caráter essencialmente missionário da Igreja, que, por sua vez, efetivamente, torna-se a prática da tríade epigrafada.

4. A Dimensão Missionária da Igreja

Os textos bíblicos relatam que a Igreja é uma comunidade que Deus criou para uma missão. É esse o conceito de "Povo de Deus" no Antigo Testamento (Gn 12.4; 18.18; Is 43.10; 42.6-8), e no Novo Testamento (Mt 20.23-28; 28.16-20; Jo 17.15; 20.19-23; I Pe 2.9-10; 2.18-25). Assim, a missão da Igreja não pode ser concebida como uma atividade, mas sim, como a própria razão de ser e existir.
A Igreja não é um fim em si mesma. Foi idealizada por Deus com um propósito distinto e definido, é o seu agente. A igreja não existe para si mesma. Só tem sentido na medida em que está a serviço de Deus no mundo. Tudo o mais deve girar em torno deste imperativo: missionar. Os missionários surgem dentro da própria comunidade. Missionário e comunidade são correlativos e complementares. Sua esfera de ação é o mundo. Só assim a Igreja tem sentido. Só assim ela é verdadeiramente Igreja de Jesus Cristo.
Diante disso, a Igreja não é uma estranha no mundo e nem é sua inimiga. A missão nos leva a pensar na Igreja como serva do mundo.

4.1 - O Mundo como obra de Deus

Deus criou o mundo e por isso lhe pertence (Sl 24.1). Asensio, confirma: "o israelita recorda no culto, interpelando assim a Deus, as antigas façanhas de Javé (...). Javé acima de todos os deuses, dominador das "águas", vencedor do monstro (Raab), criador e rei."
Essa compreensão perpassa toda a Escritura como credo confessional sobre a percepção de Deus, não como um ser abstrato, etéreo, mas ao contrário, como unicidade concreta por sua grandeza e incomparabilidade com os deuses das nações circunvizinhas. Josué proclama que sua casa serviria a Javé. Elias argumenta ao povo infiel para que escolhesse a quem serviriam: a Javé ou a Baal (I Re 18.21).
Portanto, os textos bíblicos mostram a centralidade de Javé como criador e mantenedor da criação. O israelita sabe que o feito criacional de Javé foi a seu favor e que somente ele, como Povo escolhido de Deus, pode ser o intérprete da ação criadora de Deus.

4.2 - O mundo como objeto do amor de Deus

Deus se revela na história. Os relatos bíblicos são os relatos do caminhar de Deus junto com os seres humanos. Chama um povo para faze-lo bênção e sinal de Deus na terra (Gn 12). Contrai uma aliança com Abraão (Gn 15,18) e através de Moisés com o povo de Israel (Êx 24.8). Este é o Deus que se revelou no Êxodo e na caminhada do povo pelo deserto até a conquista da terra prometida. Deus está sempre agindo e imiscuindo-se na história para o bem do homem e do mundo. É através dos eventos históricos que Deus fala, se revela e renova a vida no mundo.
Assim, o mundo é a arena da atuação libertadora e renovadora de Deus. A Igreja participa na medida em que participa do mundo. A missão da Igreja é juntar-se a Deus no seu trabalho de libertação e renovação.
No entanto, os pobres devem ser os primeiros destinatários da missão da Igreja, uma vez que a boa-nova de Jesus se mostra como boa na capacidade de gerar sentido lá onde a existência parece ter fracassado. Uma evangelização que não trouxer uma potenciação maior de vida, que não desafogar as mentalidades dos medos existenciais, que não levar a estruturas sociais de maior colaboração e humanização, dificilmente prolonga e atualiza a boa-nova de Jesus. Assim, cabe à Igreja atualizar os atos redentores de Deus em favor de todos, mas, prioritariamente, aos empobrecidos, como sujeito principal da evangelização.
Odilon Chaves avança um pouco mais, complementando a tese de Boff, afirmando:
"A Igreja deve anunciar que chegou para ficar ao lado dos oprimidos (...) a Igreja não deverá somente se preocupar em resolver seus problemas sociais. Cristo deve habitar em cada coração, dando conforto, amor, alegria, certeza que Deus está presente. Deve haver uma transformação interior, no coração, e uma transformação social."
Mas, para proclamar a ação histórica de Deus ao mundo, torna-se necessária a compreensão de que o mundo é o "locus teológico", onde Cristo envia sua Igreja e promete conduzi-la.



4.3 - O mundo como "Locus teológico" do Povo de Deus

O Povo de Deus é chamado a viver no mundo. É o local para onde Deus enviou sua Igreja, para viver a sua fé, e ser um sinal de esperança e libertação para o mundo. Não é concebível uma vivência cristã fora do mundo. O mundo é a terra onde Deus plantou a semente da sua Igreja.
Essa compreensão do propósito intencional, missional e universal de Deus para com o mundo, deve causar grande impacto na sua Igreja, tanto da forma de pensar, como também de agir como Povo de Deus.
Primeiramente, como aqueles que foram eleitos e chamados para ser parte integrante do Povo de Deus, reside apenas na ação intencional que Deus teve um dia para conosco; temos que reconhecer que esse fato reside tão somente na graça de Deus. Como Povo de Deus precisamos aprender acerca do sentimento de Jesus quando ora: "Não te peço para tirá-los do mundo; e, sim, para guardá-los do maligno." (Jo 17.15)
Em segundo lugar, o Povo de Deus precisa reconhecer que a ação intencional de Deus nos concedendo "vida juntamente com Cristo" não é apenas dom de Deus, mas também responsabilidade para com aqueles que nos cercam, pois somos agora "feitura dele, criados em Cristo para boas obras" (Ef 2.1-10). Como Abraão foi chamado para ser uma bênção para todas as nações da terra, em Jesus fomos escolhidos e chamados para sermos sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16). Assim, como Israel, fomos eleitos e chamados não apenas para ser "depósito" das bênçãos de Deus, mas principalmente "canal" para que estas cheguem a todo homem e mulher latino-americano.
Em terceiro lugar, uma vez compreendido nosso papel como veículos das bênçãos de Deus aos povos da terra, precisamos reavaliar nossas atividades e estruturas eclesiais, tendo em vista uma postura missionária mais clara e objetiva em relação ao povo brasileiro. Assim como os discípulos foram chamados para ir e dar frutos, e frutos que permanecessem, nós também fomos chamados por Deus e enviados a gerar frutos em nosso locus vivendi (Jo 15.16).
Concluindo este capítulo, podemos perceber que a compreensão de pertença ao Povo de Deus é, realmente, uma descoberta maravilhosa. A pessoa surge, apoiada na força da esperança, das profundezas de seu desespero. Sua covardia é substituída pela coragem. Os laços rígidos de seu egoísmo são rompidos pelo sabor da gratidão que o desprendimento traz. A alegria brota e inunda sua dor, e o amor entra na vida do homem para aniquilar sua solidão e restaurar sua dignidade.
Ademais, ao proclamar a Palavra libertadora, ao experimentar a comunhão dos santos e ao servir o outro, o Povo de Deus pode encontrar seus semelhantes e seu lugar na história, tal é a transformação do isolamento existencial no modelo saudável de Jesus Cristo e, paralelamente, descobrir o que significa viver na dimensão da Igreja como Povo de Deus.

CONCLUSÃO

Chega o momento de uma conclusão final. O texto bíblico e a sua teologia mostram que Deus confiou uma missão ao povo de Israel, no entanto, Israel fracassou pela sua desobediência e apostasia, embora, Deus havia revelado toda a sua vontade em fazer de Israel um sinal de sua presença e bondade a todos os povos.
Com o advento de Jesus Cristo, rompendo todas as barreiras sócio-político-religiosas, fora transferida à Igreja toda urgência dessa tarefa.
Se Jesus não for levado a sério, a igreja pode justificar sua passividade. O texto bíblico, porém, declara exatamente o oposto. Se Israel que era "considerada" a oliveira boa e, por causa da desobediência, foi rejeitada, quanto mais não rejeitará a oliveira brava, precisamente, nós, a Igreja de Jesus Cristo. À luz do destaque bíblico a complacência e a indolência da Igreja não serão toleradas.
A conclusão que chegamos resume em poucas palavras o que requereu muitas páginas para desenvolver e explicar. Martinho Lutero disse:
"Acaso esses [discípulos de Jesus] eram chamados de povo de Deus naquele tempo? Eles certamente eram o povo restante de Deus, mas não tinham esse nome, ao passo que quem tinha esse nome não o era. Quem sabe se em todo o curso do mundo, desde a origem da Igreja de Deus, o estado desta sempre tenha sido tal que alguns eram chamados de povo e santos de Deus e não o eram, ao passo que outros dentre eles o eram efetivamente qual remanescente, mas não eram chamados de povo ou santos?" (LUTERO, p. 62, V. 4)

Possa Deus ajudar seu Povo a compreender que a proclamação da Palavra não está confinada às quatro paredes do templo, nem é monopólio da liderança da Igreja. A palavra de Deus não é mais propriedade da instituição, não está mais presa sob a velha ortodoxia alienante e desfigurada. A Igreja é Povo de Deus. Todos participam. Todos podem participar do serviço de ensinar, todos são enviados à missão, todos são responsáveis pela comunidade, todos devem se santificar, "todos somos irmãos" (Mt 23.8).



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