A perspectiva missiológica de Paulo II
I
- MISSÕES EM PAULO
1.1. A missiologia de Paulo
Dentre algumas dicotomias que a igreja evangélica brasileira enfrenta
atualmente, uma delas é a polarização entre teologia e missões. Este
reducionismo evangélico foi detectado pelo Dr. Augustus Nicodemus Lopes
(Paulo,Plantador de Igrejas,1997, p. 5), ao dizer que a separação entre
teologia e missões tem penetrado nas igrejas e organizações missionárias no
período moderno, e tem produzido efeitos perniciosos até o dia de hoje. Isto é
verdade. E a causa dessa divergência teológica, com sua conseqüência danosa
para a igreja, foi acertadamente observado pelo Dr. Michael Green
(Evangelização na Igreja Primitiva, 1989, p. 7) quando disse: A maior parte dos
evangelistas não se interessa muito por teologia; e a maioria dos teólogos não
se interessa muito por evangelização.
Alguns teólogos, como o renomado Dr. Nicodemus, e missiólogos, como o
igualmente ilustre Dr. Timóteo carriker, são concordes quanto a importância da
teologia e missões na vida da igreja. No entanto, será que a ênfase que eles
dão às motivações missionárias de Paulo está correta? É o que procuraremos
mostrar a seguir.
a. As motivações missionárias de Paulo
.O conceito do Dr. Augustus Nicodemus Lopes
O Dr. Nicodemus é pastor presbiteriano, mestre em Novo Testamento pela
Potschefstroom University for Christian Higher Education, na
África do Sul e doutor em hermenêutica e estudos bíblicos pelo Westminster
Theological Seminary, Filadélfia, USA, com cursos especiais na Universidade
Teológica da Igreja Reformada da Holanda. Atualmente coordena a área de
teologia exegética do Centro de Pós-Gradução Andrew Jumper, em São Paulo e
leciona exegese no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição,
também em São Paulo. É autor de vários livros e artigos, dentre os quais
destacamos Paulo, plantador de igrejas: Repensando fundamentos bíblicos da obra
missionária (Fides Reformata. São Paulo: JMC, Vol. II, Nº 2, 1997).
De acordo com o Dr. Nicodemus, a atividade missionária de Paulo era resultado
direto da sua teologia.
Ele pergunta:
O que motivava o apóstolo Paulo a sair plantando igrejas, organizando
comunidades ao longo da bacia do Mediterrâneo, apesar da rejeição dos seus
patrícios e das implacáveis perseguições que sofria? (p. 7)
E responde:
O que o movia não eram arroubos de piedade, espírito proselitista, amor ao
lucro, popularidade ou qualquer outra motivação similar. Essas motivações não
teriam suportado as angústias do campo missionário por muito tempo. Paulo
estava movido por suas convicções teológicas. (p. 7, grifo do autor).
Segundo ele, a ação missionária de Paulo era resultado dessas convicções
teológicas.
Um ponto que esclarece bem o que o Dr. Nicodemus entende por "convicções
teológicas" de Paulo é a exemplificação que ele faz com a teologia de
missões de William Carey, missionário batista que viveu no século XIX. Carey
era um calvinista ardoroso, que tinha um coração inflamado por missões e não
podia compreender a obra missionária como outra coisa senão a extensão das suas
convicções como crente no Senhor Jesus (pp. 5,6). E prossegue:
É interessante observar que no livrete Enquiry, onde estabelece os motivos da
sua atividade missionária, Carey segue uma seqüência similar à obra Theory of
Missions, escrita pelo teólogo e missiólogo alemão Gustav Warneck (1834-1910).
Isso mostra que Carey, mesmo sem ter tido o treinamento teológico de Warneck,
esboça a sua missiologia teologicamente. Carey nunca usa o argumento das
"almas que estão se perdendo" nem justifica-se a partir de suas
convicções batistas. Sua preocupação é com a promoção do Reino de Cristo (p. 6,
nota 2).
O Dr. Nicodemus salienta, ainda, que toda reflexão teológica deveria desembocar
em subsídios para o esforço expansionista da Igreja de Cristo. Esses esforços,
segundo ele, nada mais podem ser do que teologia em ação. Entende que quando a
nossa prática missionária não é fertilizada e controlada por uma reflexão
teológica correta, ela acaba se tornando em ativismo, desempenho estilizado ou
simplesmente uma aplicação frenética de métodos.
E quais eram, segundo o Dr. Nicodemus, as convicções teológicas que motivavam a
obra missionária de Paulo? Eram basicamente três. A primeira dessas convicções
é que os últimos dias já começaram. Paulo estava vivendo nos últimos dias, dias
de cumprimento, em que os fins dos séculos haviam chegado para ele. A segunda
convicção do apóstolo Paulo era que as antigas promessas de Deus encontravam
concretização histórica na Igreja de Cristo. Era na Igreja que a restauração de
Israel se consumava e a plenitude dos gentios estava entrando. A terceira
convicção de Paulo era que Deus o havia chamado para edificar essa Igreja (1).
.O conceito do Dr. C. Timóteo Carriker
O Dr. Carriker é pastor da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (P. C. –
U.S.A.). Trabalha no Brasil desde 1977. Cursou o bacharelado na Universidade da
Carolina do Norte, em Charlote, o mestrado em teologia no Seminário Teológico
Gordon-Conwell, e o mestrado em missiologia e doutorado em estudos
interculturais do Seminário Teológico Fuller. É professor e diretor acadêmico
do Centro Evangélico de Missões, em Viçosa, MG. Dos seus escritos destacamos,
para este propósito, o livro Missão Integral: Uma teologia bíblica (São Paulo:
Editora Sepal, 1992) e o artigo A missiologia apocalíptica da carta aos Romanos
(Fides Reformata. São Paulo: JMC, Vol. III, Nº 1, 1998).
Enquanto o Dr. Nicodemus parte da teologia para a missão, o Dr. Carriker
claramente inverte a ordem. Segundo ele, as profundas convicções teológicas de
Paulo brotaram de intenso envolvimento missionário e pastoral. Segue-se, de
acordo com o Dr. Carriker, que a teologia consiste primariamente de reflexão
acerca da missão, não sendo esta mera aplicação conseqüente daquela, mas missão
está no âmago da teologia. (Missão Integral, p. 7). E ainda:
Como Martin Kahler reconheceu em 1908, missão, de fato,é a mãe da teologia
(Bosch 1980:24) e não uma subdivisão menor e dispensável da teologia prática.
De modo inverso, Pedro Savage observa que "a teologia é, em essência,
missiológica" (1984:56). Isto é, a missiologia é fundamental à teologia
porque é o lugar aonde a fé e a estratégia se encontram no caminho para o mundo
num dado momento específico. Entendendo a missiologia na sua devida relação teológica,
se torna patente a necessidade de seu enraizamento sólido na Bíblia. (pp. 7,8)
Em sua exposição de Romanos, o Dr. Carriker observa que esta carta se
caracteriza por uma extensa elaboração teológica e é a teologia que melhor
indica o contexto ou os contextos da carta, inclusive o apelo feito pelo
apóstolo para que os cristãos romanos apóiem a sua missão espanhola. Mas,
segundo ele, não é uma teologia abstrata e desconectada da situação missionária
de Paulo. É uma teologia de missão. Citando Krister Stendahl, assevera que este
é um dos poucos biblistas que percebeu isso, quando iniciou um dos seus últimos
livros com a seguinte afirmação:
Romanos é a última declaração de Paulo acerca da sua teologia de missão. Não é
um tratado teológico sobre a justificação pela fé... Quando falo de Romanos
como a declaração, feita por Paulo, da sua teologia de missão, estou convencido
de que a teologia paulina tem o seu centro norteador na percepção apostólica de
Paulo sobre a sua missão aos gentios. Conseqüentemente, Romanos é central à
nossa compreensão de Paulo, não por causa da sua doutrina da justificação, mas
porque a doutrina da justificação está aqui no seu contexto original e
autêntico: como um argumento a favor da posição dos gentios baseada no modelo
de Abraão (Romanos 4). (pp. 132,3). (2)
Quais eram, portanto, segundo o Dr. Carriker, as convicções que levaram um
"fariseu dos fariseus" a se tornar apóstolo dos gentios? De acordo
com ele, devemos qualificar que Paulo não desenvolveu seu ministério de fundamentos
exclusivamente dogmáticos. Nem podemos afirmar que Paulo era um
"teólogo" no sentido que muitos o fazem hoje em dia, como se fosse um
pensador sistemático. Em vez de considerá-lo como um teólogo sistemático,
devemos encará-lo como um teólogo pastoral, que desenvolveu sua perspectiva não
de reflexão acadêmica divorciada das situações concretas e problemas
eclesiásticos em que se envolvia. Paulo seria uma sorte de teólogo peregrino
(ou missionário!) que, na estrada da experiência da vida e do ministério,
procurava teologar a partir da sua realidade. Assim, Paulo seria melhor
descrito como um teólogo de práxis que, partindo da sua experiência, refletia
nela a base das escrituras hebraicas e do seu encontro com Jesus crucificado e
ressurreto.
.Avaliando os dois conceitos
Mesmo numa análise ligeira dos conceitos de nossos teólogos (Nicodemus e
Carriker), é possível observar que ambos enfatizam, de maneira positiva, a
importância do valor conjunto da teologia e missões no ministério de Paulo e da
igreja, e também o prejuízo que a igreja experimenta quando divorcia uma da
outra. Nenhum dos dois desmerece a teologia ou a missão. À despeito de tanto um
quanto o outro procurar rever os conceitos de "teologia" e
"missões" à luz de suas convicções teológicas. Mas isto também é
positivo, pois como o Dr. Nicodemus bem observa, quando a nossa prática
missionária não é conduzida por uma reflexão teológica correta, ela acaba se
tornando em mero ativismo. Por outro
lado, o Dr. Carriker salienta, com muita propriedade, que não podemos afirmar
que Paulo era um "teólogo" no sentido que muitos o fazem hoje em dia,
como se fosse um pensador sistemático. Em vez de considerarmos Paulo como um
teólogo sistemático, devemos encará-lo como um teólogo pastoral, que não desenvolvia
sua perspectiva teológica academicamente, mas no contexto da missão.
Entretanto, a questão fundamental é se a teologia de Paulo era motivada por sua
missiologia e vice-versa. A tese que defendemos é pelo "sim". Paulo
foi um grande missionário porque era um grande teólogo, e que, por sua vez, era
um grande teólogo porque foi um grande missionário. Infelizmente esta tese não
é defendida pelo Dr. Nicodemus e muito menos pelo Dr. Carriker. Um teólogo
geralmente não admite que a teologia (principalmente a sua própria) é fruto de
uma missiologia bem definida e um missiólogo, por sua vez, não costuma afirmar
que a missão por ele defendida é o resultado de uma teologia bíblica coerente
(3).
Mas em Paulo a missão é teológica e a teologia é missiológica. Ele não apenas
não separava uma da outra, mas também subordinava uma a outra. Um bom exemplo
disso é sua carta aos Romanos. Tomemos como exemplo o capítulo 15 dessa carta.
Para Samuel Escobar, fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana,
A missiologia de Paulo muitas vezes é expressa como exposição teológica,
entrelaçada com referências de sua prática missionária. Penso que Romanos
15.11-33 é um texto ilustrativo da metodologia de Paulo, especialmente
relevante para a reflexão missiológica na América Latina. Esta passagem
apresenta uma interação entre a teoria e a prática, entre os fatos da vida em
obediência a Deus e a reflexão sobre esses fatos (Desafios da Igreja na América
Latina, 1997, p. 89).
E resume:
Uma leitura cuidadosa de Romanos 15.11-33 evidencia uma estrutura de quatro
partes da missiologia de Paulo. Em cada seção encontraremos um "fato"
central ligado à
Prática de Paulo, seguido da reflexão pastoral e
missiológica que é estimulada por esse fato e que gira em
torno dele. O primeiro é proclamação: "Proclamarei plenamente o evangelho
de Cristo" (v. 17-22); o segundo é previsão: "Planejo [vê-los] quando
for à Espanha" (v. 23-24); o terceiro é conclusão: "Agora, porém,
estou de partida para Jerusalém" (v. 25-29); e o quarto é luta:
"Recomendo-lhes, irmãos [...] que se unam a mim em minha luta" (v.
30-33). (Idem) (4).
Ademais, a motivação missionária de Paulo não era determinada somente por
convicções teológicas e escatológicas, como sugere o Dr. Nicodemus (1997, pp.
5-21), ou apocalípticas, como pretende o Dr. Carriker (1998, pp. 124-148), mas
que, além disso, o apóstolo possuía o coração inflamado de paixão e amor pelos
perdidos (5).
Como resultado do amor de e a Cristo, Paulo amava os perdidos (Cf. 2 Co 5.14;
Rm 1.5; 9.3; Ef 3.1; Fp 3.7; 1 Ts 1.5; 2 Tm 2.10). O amor tornava Paulo
afetuoso e caloroso em sua evangelização (PACKER, Evangelização e Soberania de
Deus, 1990, p. 38). Escrevendo aos tessalonicenses o apóstolo dizia que
"... nos tornamos dóceis entre vós...". E ainda, "assim,
querendo-vos muito, estávamos prontos a oferecer-vos não somente o evangelho de
Deus, mas, igualmente, a nossa própria vida, por isso que vos tornastes muito
amados de nós" (1 Ts 2.7,8). O amor também fazia Paulo ter sensibilidade,
sendo capaz de adaptar-se às circunstâncias em sua evangelização; embora se
recusasse terminantemente a alterar sua mensagem para agradar as pessoas (cf. 2
Co 2.17; Gl 1.10; 1 Ts 2.4), ele se esforçava ao máximo, em sua apresentação da
mesma, para evitar escândalo e não dificultar desnecessariamente o caminho para
aceitação e resposta positivas (cf. 1 Co 9.16-27; 10.33). Segundo Packer,
Paulo procurava salvar os homens e, visto que procurava salvá-los, não se
contentava apenas em informá-los sobre a verdade; mas empenhava-se em se pôr ao
lado deles, começando a pensar juntamente com eles, a partir de onde se
encontravam, falando-lhes em termos que podiam compreender e, acima de tudo,
evitando tudo quanto pudesse fazê-los adquirir preconceitos contra o evangelho
ou pôr pedras de tropeço em seu caminho. Em seu zelo por manter a verdade,
nunca perdeu de vista as necessidades e reivindicações das pessoas. Seu alvo e
objetivo, em todas as suas atividades no evangelho, até mesmo no calor da
polêmica evocada por pontos de vista contrários, nunca deixou de ser conquistar
almas, convertendo aqueles que considerava seus próximos à fé no Senhor Jesus
Cristo.
Tal era a evangelização, de acordo com Paulo: sair em amor, como agente de
Cristo no mundo, a fim de ensinar aos pecadores a verdade do evangelho, tendo
em vista a conversão e a salvação dos mesmos (Evangelização, 1990, p. 38).
b. As estratégias missionárias de Paulo
As estratégias missionárias de Paulo eram o resultado direto e natural de suas
motivações. Dentre os vários meios utilizados por Paulo para divulgar o
evangelho (6), destaquemos os mais utilizados pelo apóstolo; a saber, a escolha
de centros estratégicos e as sinagogas.
Paulo percorria as estradas romanas anunciando o evangelho e fazendo discípulos
nas principais cidades das províncias imperiais, verdadeiros centros
estratégicos. Ele concentrava suas atividades nesses locais, tornando o que
outrora eram campos missionários em bases de sua missão. Tessalônica, por
exemplo, tornou-se a base missionária para a província da Macedônia; Corinto a
base para a província da Acaia; Éfeso a sua base para a Ásia proconsular. A
igreja de Roma também seria uma possível base para a evangelização na Espanha
(cf. Rm 15.24).
Quando voltamos nossos olhos para o livro de Atos (7), percebemos que os missionários
daquela época, de modo geral, e Paulo, em especial, concentravam seus esforços
geralmente naqueles centros estratégicos do ponto de vista cultural, econômico,
religioso, político e geográfico até. Embora no caso deste último a estratégia
de trabalho de Paulo não era tanto geográfica quanto humana ou cultural, no
sentido de etnias (8).
O Dr. Timóteo Carriker faz uma importante observação acerca dos centros
estratégicos de Paulo. Diz ele:
Paulo procurava atingir primeiro os centros provinciais que não eram
evangelizados na sua missão. Isto era uma estratégia do "quadro
geral" e não dos detalhes, isto é, não de todo e qualquer lugar. Ele não
tentava evangelizar o mundo gentílico totalmente, mas contava com a obra
evangelizadora das comunidades que ele estabeleceu para continuar a missão. Ele
mesmo se apressava para a tarefa urgente de pregar o evangelho para aqueles que
não o ouviam (Romanos 10.14). Sua perspectiva era de "preencher" ou
"completar" os principais lugares que faltavam no mundo gentílico e
prosseguir em frente [veja peplérókenai em Romanos 15.19] (Missão Integral,
1992, pp. 235,6).
As sinagogas judaicas também faziam parte das estratégias missionárias de
Paulo. Roland Allen (9) reconheceu quatro características da pregação de Paulo
nas sinagogas. Em primeiro lugar, é possível ver em Paulo a simpatia e a
conciliação com as sensibilidades dos ouvintes: a apresentação é clara, ele
está disposto a aceitar o que há de bom na posição deles, simpatiza com suas
dificuldades, mostrando que ele os aborda com sabedoria e tato. Em segundo
lugar, ele tem coragem de reconhecer abertamente as dificuldades, de proclamar
verdades não muito fáceis de engolir, e de recusar-se inapelavelmente
a fazer coisas difíceis parecerem fáceis. Em terceiro lugar, vem o respeito por
seus ouvintes, suas capacidades intelectuais e suas necessidades espirituais.
Em quarto lugar, há uma confiança inabalável na verdade e no poder do
evangelho. Não estaremos longe da verdade ao supormos que estas eram
características típicas da pregação na sinagoga, nos primeiros tempos da
missão, em que as oportunidades ainda estavam abertas. Os missionários cristãos
aceitavam com gratidão esta oportunidade de falar a Israel, nas três primeiras
décadas decisivas antes que a porta das sinagogas lhes fossem fechadas (GREEN,
Evangelização, 1989, p. 240).
Mas por que será que o apóstolo Paulo priorizava as sinagogas judaicas como
parte de sua estratégia? Antes de tudo é preciso lembrar que Paulo era
essencialmente um apóstolo enviado por Cristo aos gentios. Na época de sua
conversão no caminho de Damasco, o Senhor Jesus disse que o livraria "dos
gentios, para os quais eu te envio" (At 26.17). Entre os apóstolos ficou
acertado
que Tiago, Pedro e João iriam para a circuncisão (judeus) e ele, Paulo,
"para os gentios" (Gl 2.9). Entre Pedro e Paulo, por exemplo, havia
uma consciência marcante da missão deles aos judeus e gentios, respectivamente
(Gl 2.7,8).
Em quase toda sinagoga judaica existiam, além de judeus é claro, dois grupos
distintos de gentios. O primeiro grupo era formado pelos denominados
"prosélitos", isto é, gentios convertidos ao judaísmo. Os homens eram
circuncidados, concordavam em obedecer a lei e guardar o sábado, faziam
peregrinações a Jerusalém, e daí em diante não eram mais gentios, e sim judeus.
O segundo grupo de gentios que normalmente freqüentava a sinagoga era formado
pelos "tementes a Deus". Eram apreciadores da lei e do ensinamento
judaicos, mas por uma série de razões pessoais achavam por bem não se
desvincular de suas raízes gentílicas, como os prosélitos, para se tornarem
judeus. Todavia, eles freqüentavam a sinagoga regularmente, ainda que tivessem
que ficar na parte que lhes era reservada, não lhes sendo permitido a
participação completa dos cerimoniais litúrgicos. Em suma, enquanto os
"prosélitos" eram ex-gentios, os "tementes a Deus" ainda
eram gentios. E embora Paulo tivesse o que dizer aos três grupos que
freqüentavam a sinagoga, seu objetivo principal era converter os gentios que lá
estavam, os tementes a Deus (10).
A estratégia de um homem como Paulo era basicamente simples: ele só tinha uma
vida, e estava decidido a usá-la o máximo possível, tirando dela o melhor
proveito no serviço de Jesus Cristo. Sua visão era ao mesmo tempo pessoal,
urbana, provincial e global (GREEN, Evangelização, 1989, p. 318).
1.2. As missões de Paulo
A obra missionária de Paulo é vastíssima, quer seja compreendida no tanto de
trabalho que ele realizou, quer seja no aspecto do próprio conceito de missões
que o apóstolo tinha. Para Paulo missões não era proclamação fria, automática e
desencarnada. Era, antes de tudo, proclamação compromissada, significando a
manutenção daqueles aos quais ele alcançou mediante a pregação e ensino do
evangelho. Missões em Paulo não era mero espiritualismo, mas pura encarnação.
Ele se preocupava com o ser humano em sua totalidade. Um bom exemplo disso está
em ele não se esquecer dos pobres (cf. 2 Co 8; Gl 2.10). Sua missão era fazer
"missão integral", no sentido em que essa expressão é usada na missiologia
contemporânea.
Neste tópico nos limitaremos às missões pelas quais Paulo é mais conhecido e
através das quais ele deu forma ao seu ministério e de onde produziu suas
epístolas inspiradoras, isto é, suas viagens missionárias, conforme registradas
em Atos (11) e em seu testemunho de Romanos 15.
a. A primeira viagem missionária de Paulo
Obedecendo à direção divina e sob os auspícios da igreja de Antioquia, o
apóstolo iniciou sua primeira viagem missionaria entre 45 e 50 A.D. Com Paulo
estavam Barnabé e João Marcos. Partiram de Antioquia para Selêucia, situada na
foz do Orontes e dali para Chipre, terra de Barnabé. Desembarcando em Salamina,
na costa de Chipre, começaram a trabalhar, como de costume, nas sinagogas.
Percorreram toda a ilha até chegarem a Pafos, na costa sudoeste. Neste lugar
despertaram a atenção de Sérgio Paulo, procônsul romano. Saiu-lhes ao encontro
um feiticeiro chamado Barjesus, também conhecido por Elimas o mago, que
opondo-se a Paulo procurava Desviar a atenção do procônsul (At 13.6, 7). Paulo
resistiu-lhe indignado e repreendeu-o severamente, ferindo-o temporariamente
com cegueira. Resultou disto a conversão de Sérgio Paulo (At 13.12). Partindo
de Chipre navegaram para a Ásia Menor e chegaram a Perge na Panfília. Ali
Marcos, por motivos ignorados, deixou seus companheiros e regressou a
Jerusalém. Os dois, Paulo e Barnabé, saíram de Perge, rumo ao norte, passando
por Frígia e indo até Antioquia da Pisídia. Ali o povo da cidade, incitados
pelos judeus, levantou-se contra Paulo e Barnabé e os expulsaram (At 13.50). De
Antioquia passaram a Icônio, outra cidade da Frígia, onde uma copiosa multidão
de judeus e gregos foram convertidos (At l3.51). Por causa da perseguição dos
judeus, partiram de Icônio para Listra e Derbe, cidades da Licaônica (At
14.1-7). Em Listra Paulo curou um coxo, foi adorado juntamente com Barnabé,
pregou o evangelho, foi apedrejado e lançado fora da cidade como morto (At
14.8-19). Restabelecido vão a Derbe, de Derbe a Listra, de Listra a Icônio, de
Icônio a Antioquia da Pisídia, fortalecendo os discípulos e elegendo
presbíteros. Atravessando a Pisídia, passam pela Panfília e Perge. Tendo
anunciado a Palavra em Perge, desceram a Átalia e dali navegaram para Antioquia
da Síria (At 14.20-26).
b. A segunda viagem missionária de Paulo
Tempos depois, por volta do ano 50, Paulo propôs a Barnabé uma segunda viagem
missionária (At 15.16). Mas o apóstolo não queria que João Marcos fosse com
eles, o que provocou a separação dos dois grandes missionários da Igreja
Primitiva. Silas foi o companheiro de Paulo nessa segunda viagem. Primeiro
visitaram as igrejas da Síria e da Cilícia; depois passaram para os lados do
norte, atravessaram as montanhas do Tauro e passaram às igrejas que Paulo havia
fundado na sua primeira viagem. Foram a Derbe e a Listra. Nesta última cidade
Timóteo se juntou a eles. De Listra foram para Icônio e Antioquia da Pisídia.
Após alguns "impedimentos" do Espírito Santo (At 16.6,7), desceram a
Trôade, onde Paulo teve a visão do varão macedônio. Obedecendo a este chamado,
os missionários vão, juntamente com Lucas, para a Europa. Desembarcando em
Neápolis, seguem logo para a importante cidade de Filipos. Vale lembrar que
Atos 16 e a carta de Paulo aos filipenses formam um dos mais belos retratos de
sua missiologia. De Filipos, onde Lucas ficou, Paulo, Silas e Timóteo foram
para Tessalônica, lugar em que alcançaram grandes resultados entre os gentios,
fundando ali uma igreja (At 17.1-9). Por causa da perseguição dos judeus, os
irmãos enviaram Paulo para a Beréia; deste lugar, após valiosos resultados até
mesmo dentro da sinagoga, seguiu para Atenas (At 17.10-15), cidade onde Paulo
proferiu seu famoso discurso, mas com poucos resultados (At 17.16-31). Depois
partiu para Corinto, onde ficou dezoito meses e, ao contrário de Atenas, os
resultados foram admiráveis (At 18.1-11). A missão de Paulo em Corinto foi uma
das mais frutíferas da história da Igreja Primitiva. De Corinto foi para Éfeso,
ficando pouco tempo, seguiu para Cesaréia, indo apressadamente para Jerusalém.
Havendo saudado a igreja desta cidade, voltou a Antioquia, de onde havia
partido (At 18.22).
c. A terceira viagem missionária de Paulo
Depois de algum tempo em Antioquia, o apóstolo Paulo, talvez no ano 54 A.D.,
deu início à sua terceira viagem missionária. Primeiro atravessou a região da
Galácia e da Frígia, afim de fortalecer os discípulos (At 18.23); depois vai a
Éfeso, capital da Ásia e uma das cidades de maior influência no oriente. Paulo
permaneceu três anos em Éfeso (At 20.31). Durante três meses ensinou na
sinagoga e, depois, durante dois anos na escola de Tirano (At l9.8-10). Seu
trabalho nesta cidade notabilizou-se pela riqueza de instrução (At 20.18-31),
pela realização de milagres (At 19.11,12), pelos resultados obtidos, porque
todos os que habitavam na Ásia ouviram o evangelho (At 19.10) e pelas
constantes perseguições (At 19.23-40). De Éfeso partiu para a Macedônia, e
depois de fortalecer os discípulos com muitas exortações, viajou para a Grécia,
onde permaneceu três meses (At 20.12).
Agora iniciaria sua última viagem a Jerusalém, acompanhado de amigos,
representantes das várias igrejas dos gentios (At 20.4). Seu plano inicial era
navegar diretamente para a Síria, mas uma conspiração dos judeus o obrigou a
voltar pela Macedônia (At 20.3). Demorou-se em Filipos enquanto seus
companheiros foram para Trôade. Depois da festa da páscoa Paulo foi com Lucas
para Trôade (At 20.5), onde os companheiros os esperavam e ali ficaram uma
semana (At 20.6). De Trôade Paulo viajou para Assôs (At 20.13). Depois de uma rápida
passagem por Mitilene e Samos, Paulo e mais alguns amigos chegaram a Mileto (At
20.14, 15). De Mileto mandou chamar os presbíteros de Éfeso, e naquele local é
registrado um dos episódios mais emocionantes da Bíblia (At 20.17-38). Partindo
de Mileto o navio seguiu diretamente para a ilha de Cós e no dia seguinte
chegaram a Rodes. De Rodes passaram a Pátara, nas costas da Lícia (At 21.1).
Achando um navio que ia para a Fenícia embarcaram, e seguindo viagem passaram
por Chipre, desembarcando em Tiro (At 21.2, 3) ficando durante
sete dias nesta cidade. De Tiro partiram para Ptolemaida (At 21.5,6) e no dia
seguinte, após afetuosa despedida, chegaram em Cesaréia. A despeito de
alarmantes predições e das lágrimas dos irmãos para que não fosse a Jerusalém
(At 21.4, 10-12), Paulo seguiu em frente e assim, acompanhado dos irmãos,
terminou a terceira viagem missionária (At 21.12-15).
d. As "viagens" à Roma e à Espanha
Escrevendo aos crentes de Roma, Paulo observa que durante anos se esforçou em
pregar o evangelho "desde Jerusalém e circunvizinhanças, até o
Ilírico" (Rm15.19).
Mas agora, não tendo já campo de atividade nestas regiões, e desejando há muito
visitar-vos, penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha, pois espero que
de passagem estarei convosco e que para lá seja por vós encaminhado, depois de
haver primeiro desfrutado um pouco a vossa companhia (Rm 15.23,24).
Carlos Del Pino (In Missões e a igreja brasileira, 1993, p. 58) comenta que em
Romanos 15.22-24 todo esforço, a visão e o investimento de vida do apóstolo
durante anos naquelas regiões o levaram a duas atitudes específicas em relação
aos romanos. Segue-se abaixo um esboço de Del Pino dessas atitudes de Paulo:
1. Não visitar os romanos (15.22). E o próprio Paulo nos dá suas razões para
isso:
a) O evangelho já havia se estabelecido em Roma, já havia igreja lá. E, de
acordo com o que ele mesmo disse no v. 20, não seria conveniente que ele,
Paulo, exercesse seu ministério ali;
b) Muitos outros povos ainda careciam de receber o evangelho e Paulo via-se
impulsionado por força do ministério recebido de Deus, para trabalhar em
regiões ainda não atingidas.
2. Visitar os romanos (15.23,24). Agora Paulo tinha razões para visitar os
romanos.
São elas:
a) Término das atividades naquelas regiões; novos lugares precisam ser
alcançados (15.23);
b) Desejo antigo de conhecer a igreja romana (15.23);
c) Devido a sua visão de alcançar novos povos, esta visita não seria para
lazer, mas para estabelecer na igreja em Roma uma base missionária para o
Ocidente até a Espanha – "para lá ser por vós encaminhado"
(15.24,28).
Mas por que Paulo não tinha mais campo de atividades naquelas regiões? O que
ele fazia lá para que tenha terminado o seu trabalho? Del Pino lembra que
Paulo proclamava o evangelho naquelas regiões. O que ele está dizendo no v. 23
é que houve o cumprimento de um ministério específico por uma pessoa específica
(Paulo). Não significa que ninguém mais teria nada para fazer ali; ao
contrário, muito trabalho ainda havia para ser feito, tanto de evangelismo
quanto de ensino, exortação etc. Outros poderiam e deveriam continuar ali
exercendo seus ministérios, mas aquilo para o que Paulo havia sido chamado por
Deus já havia se completado naquelas regiões. Isso também não significa que o
ministério de Paulo em si houvesse terminado por completo, tanto que ele
buscava uma nova região onde pudesse desenvolvê-lo. O que o apóstolo fez
"desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico", que foi
"pregar o evangelho" (15.20), era exatamente o que ele pretendia
continuar fazendo, em seguida, na Espanha. Para isso, ele precisava de uma nova
base de missões: a igreja em Roma! (1993, p. 59).
E mais:
Para tratarmos sobre esta nova base de missões, precisamos entrar no v. 24.
Aqui Paulo revela claramente seus propósitos e seus meios. Veja bem, o
propósito final de Paulo, seu objetivo real, não era apenas conhecer a igreja
de Roma. Isso ele poderia ter feito em outras circunstâncias. Seu objetivo
final era chegar à Espanha. Este objetivo reflete o esforço de Paulo (15.20) e
sua vocação (15.21), conforme já temos enfatizado. Ele pretendia chegar à
Espanha para ali continuar desenvolvendo o seu ministério; "de
passagem" por Roma (15.24), ele esperava ir à Espanha, enviado pela igreja
de Roma. Quando Paulo diz no v. 24 "para lá seja por vós
encaminhado", ele não apenas tinha em mente, mas estava claramente dizendo
as coisas necessárias para a sua viagem e subsistência lá (1993, p. 59).
Paulo chegou em Roma por volta do ano 60 A.D. como prisioneiro (cf. At 27 e
28). Lucas relata que "por dois anos permaneceu Paulo na sua própria casa
que alugara" (At 28.30) com toda liberdade de receber a todos que o
procuravam e de pregar o evangelho (At 28.30,31). Para quem pretendia apenas
passar por Roma, e livre, dois anos, e preso, era tempo de mais. Após esta sua
primeira prisão (domiciliar), o apóstolo, entre outras viagens, provavelmente
tenha chegado à Espanha (DEL PINO, 1993, p. 59).
II - RELEVÂNCIA PARA O NOSSO POVO E IMPLICAÇÕES PARA A MISSÃO DA IGREJA
A sociedade brasileira carece de uma mensagem evangélica confrontadora. Não que
ela queira ser tocada em suas feridas, mas à luz da Bíblia não podemos oferecer
às pessoas um evangelho paliativo e barateado. O cristianismo puro e simples
(para usar o título em português do livro de C. S. Lewis) precisa ser a
mensagem e o estilo de vida de todo homem e de toda mulher salvos em Cristo.
Em se tratando de evangelho para o povo brasileiro, a igreja evangélica, não
raramente, tem ido ou para o extremo da mensagem desencarnada, distante da
realidade cotidiana do povo, mediante a apresentação de um evangelho
transcendente que alcança as estrelas mas esquece da terra; ou tem, por outro
lado, oferecido Jesus Cristo às pessoas como se Ele fosse um produto de consumo
a disposição nas prateleiras do mercado eclesiástico. Apresenta-se Cristo no
melhor dos estilos "fada madrinha". Em nome de Cristo promete-se ao
povo casa, carro, dinheiro; enfim, toda sorte de prosperidade, sem contar a
confusão que se faz entre as fraquezas e tristezas sentidas por alguém em
relação aos objetivos não alcançados por ele e a verdadeira convicção de
pecados. As pessoas não devem ser confrontadas em termos de "você não
conseguiu? Venha para Jesus que você consegue", mas sim encaradas como
pecadoras que precisam urgentemente da graça redentora.
Cremos sinceramente que Cristo pode dar tudo e até mais do que é prometido às
pessoas em termos de prosperidade; porém, não podemos perder de vista as
implicações e exigências do evangelho autêntico.
Além disso, a sociedade brasileira carece do evangelho que seja encarnado na
vida dos crentes. Um cristianismo integral que seja a expressão de uma vida
santificada e consagrada ao Senhor. Em outras palavras, a manifestação viva
daquilo que dizemos acreditar.
Hoje em dia parece que virou moda e status ser crente. No meio artístico, por
exemplo, ouve-se falar daquele e daquela como os mais novos irmãos na fé;
entretanto, aqui e ali ficamos sabendo dos escândalos que esses
"irmãos" cometem. Não negamos que haja conversões de verdade entre os
artistas, porém, é preciso que o quanto antes a pureza do evangelho, com todas
as suas implicações para a igreja e a sociedade, seja resgatada em nosso meio.
É necessário que "o sal da terra" e "a luz do mundo", a Igreja
de Jesus Cristo, seja a verdadeira opção de vida, ou mais que isso, seja, de
certo modo, o sentido da vida para todo aquele que perece em seus próprios
pecados; a verdadeira diferença na vida de tantos que permanecem indiferentes.
Que Deus nos ajude a começar em nós, nos impulsionando a pregar o evangelho
como o fez com Paulo. O apóstolo Paulo fazia do evangelho a razão de seu viver
e de outras pessoas. Paulo é um exemplo fabuloso de compromisso com a verdade
do evangelho. Ele nunca a comprometia. Podia como poucos ser imitado como
imitador de Cristo (1 Co 11.1). Acredito que não seria exagero de minha parte
dizer que Paulo alcançou mais pessoas para Cristo por sua vida de dedicação e
seriedade ao reino de Deus do que em suas pregações propriamente ditas.
Semelhantemente o povo brasileiro precisa ver na igreja de hoje pessoas que
vivam o que dizem crer. A prática é a expressão do que acreditamos. Se não
praticamos o que falamos, então a nossa pregação não passará de retórica
evangélica desqualificada.
III - CONCLUSÃO
A perspectiva missionária de Paulo era "preencher" ou
"completar" os principais lugares que faltavam no mundo gentílico e
continuar seguindo em frente, motivado por uma teologia pastoral de vida, pela
esperança escatológica do retorno imediato de Cristo e por seu amor aos
perdidos como resultado do seu amor por Jesus, com estratégias missionárias bem
definidas. Valeria a pena seguirmos o apóstolo com essa mesma perspectiva
missionária? Certamente que sim. Pois é nesse contexto de missão que o
intrépido sede meus imitadores como eu sou de Cristo encontraria, aqui, a sua
melhor e mais completa aplicação. Se a igreja hoje imitasse Paulo como ele
imitava Cristo, missões seriam o nosso maior projeto de vida.
Entendemos que para uma melhor compreensão da perspectiva missionária de Paulo
era indispensável uma análise do conceito "apóstolo", visto que é o
título que melhor designa a missão de Paulo, e por ele preferido. Achamos
necessário também, ainda que tratado rapidamente, um apanhado de sua vida e do contexto
de sua época para situarmos e entendermos melhor a missão dele. Mesmo em termos
das viagens missionárias de Paulo em Atos dos Apóstolos, muita coisa os
eruditos disseram e têm a dizer. Nosso propósito foi dar apenas um resumo
dessas viagens conforme registradas em Atos.
Como uma análise histórica, teológica e exegética dessas viagens tornaria este
estudo extenso demais para seu propósito inicial, isto é, o de tentar
apresentar um panorama geral sobre a perspectiva missionária de Paulo, achamos
por bem sugerir, para quem lê inglês, a leitura do comentário bíblico de Simon
Kistemaker que, na minha opinião, é um dos melhores neste tipo de análise (12).
Apesar de não ser missiólogo (no verdadeiro sentido do termo), Kistemaker pode
ajudar bastante. É só conferir.
A minha oração é que este estudo seja proveitoso para você, assim como foi para
mim a sua elaboração e preparo.
NOTAS
(1) Para uma explanação completa destes três pontos veja, no referido artigo do
Dr. Nicodemus, as páginas 7 a 12.
(2) Veja mais sobre o conceito de teologia paulina na conclusão do artigo do
Dr. Carriker, p. 148. E ainda, do mesmo autor, Missões na Bíblia: Princípios
Gerais (1992, pp. 47-54).
(3) Veja GREEN (Evangelização na Igreja Primitiva, 1989, p. 7).
(4) Para a exposição completa dessas partes, veja Escobar (1997, pp. 89-103).
Para um estudo interessante de Romanos 15.20-24, com ênfase na Igreja
brasileira, consulte Carlos Del Pino (In Missões e a igreja brasileira, 1993,
pp. 55-61). E para uma análise exegética de Romanos 15.14-21 veja Carriker
(1998, pp. 124-140).
(5) Uma excelente análise da teologia de missões de Paulo, suas motivações
teológicas e missionárias, incluindo sua paixão e amor pelos perdidos, pode ser
encontrada em James I. Packer (1990, pp. 31-57), D. G. Miller (1961, pp. 72-84)
e Michael Green (1989, pp. 289-312).
(6) Estudos importantes sobre as diversas estratégias missionárias de Paulo
podem ser vistos na literatura missionária e evangelística de T. Carriker
(1992, pp. 233-238), M. Green (1989, pp. 313-330) e C. Fábio (In Plantando
igrejas no Brasil, pp. 103-121), entre outros.
(7) Um estudo das estratégias missionárias de Paulo em Atos dos Apóstolos, com
aplicação para os nossos dias, pode ser encontrado no livro Plantando Igrejas
no Brasil: "Anais da I Conferência Missionária para Plantadores de
Igrejas". São Paulo: Cultura Cristã,1997, pp. 81-140.
(8) Veja T. Carriker (Missão Integral, 1992, p. 51).
(9) Citado por M. Green (Evangelização, 1989, p. 241).
(10) Veja GREEN (Evangelização, 1989, pp. 239-241).
(11) Mesmo em termos das viagens missionárias de Paulo em Atos dos Apóstolos,
muita coisa os eruditos disseram e têm a dizer. Nosso propósito aqui é dar
apenas um resumo dessas viagens conforme registradas em Atos. Como uma análise
histórica, teológica e exegética das viagens missionárias de Paulo tornaria
este trabalho muito maior do que já se encontra, recomendamos, para este fim,
que se consulte o excelente comentário bíblico de Simon J. Kistemaker (1990,
pp. 451-969).
(12) Em português um dos melhores comentários bíblicos é Atos: Introdução e
Comentário de Howard Marshall (Vida Nova/Mundo Cristão, 1985), mas infelizmente
não é tão exegético e profundo como o livro do Dr. Kistemaker.
BIBLIOGRAFIA
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1966.
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1992.
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NICHOLS, R. H. História da Igreja Cristã. 6 ed. São Paulo: CEP,
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AUTOR DESCONHECIDO
(Não nos responsabilizamos pelo conteúdo teológico deste material)
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