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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

MISSÕES 24 - A FRAGILIDADE DE MISSÕES

A Fragilidade de missões

Parece claro à todos nós, que a igreja do chamado terceiro mundo tem tido e terá uma grande e importante participação no avanço do Evangelho em termos mundiais nesse novo milenium. Não podemos negar que houve uma vasta mudança no centro de gravidade em missões e que agora possuímos uma nova agenda. Cristãos vindos da Asia, África e América Latina para a Europa, ficam impressionados e até mesmo chocados com o declíno do cristianismo nesse continente. Em geral eles encontram um cristianismo apologético e ansioso para assegurar à todos que eles não querem impor a sua fé sobre ninguém.
Isto acontece ao mesmo tempo em que testemunhamos um vibrante crescimento da Igreja de Cristo, jamais visto em toda história, especialmente no chamado terceiro mundo. Patrick Johnstone1, quando fala sobre o crescimento dos evangélicos nos últimos quarenta anos, ressalta que esse crescimento tem acontecido predominantemente nas partes mais pobres do mundo. Citando a América Latina e o que tem acontecido em nosso continente, especialmente na década de 70, nos faz sentir que vivemos num verdadeiro tempo de Deus (kairos). Tempo esse que com certeza nenhum de nós quer perder. Continuando ele declara que “existem mais evangélicos no Brasil do que em toda Europa”, o que deveria ser motivo de alegria, mas quando pensamos no velho continente e o que ele significa para todos nós hoje, não só como o berço da Reforma Protestante mas também em termos missionários. Sem dúvida alguma sentimos a grande responsabilidade que pesa sobre todos nós.

Porém, quando no meio de todo esse processo, começamos a refletir em nossa participação e em como podemos contribuir com a obra missionária como um todo, logo vamos nos deparar com algumas realidades desfavoráveis. Elas denunciam nossas muitas fraquezas, inabilidades e falta de poder político e econômico para abrir o caminho à nossa frente. Pois essa foi uma das alavancas impulsionadora do Cristianismo em direção ao chamado terceiro mundo no passado. David J. Bosch2, menciona o fato de que “era natural para as nações do ocidente argumentar que aonde quer que o poder delas fossem a sua religião também tinha que ir”.
Não podemos esquecer que somos um Continente marcado pela instabilidade política e que também vive sob o signo da instabilidade econômica. Nem tão pouco devemos esquecer que quanto ao nosso contexto social estamos mais para recipientes do que para doadores. Além do mais no que diz respeito a missões, como disse Newbigin, que mesmo vivendo em um mundo globalizado ainda possuímos uma mentalidade paroquial3.
Indubitavelmente, esse é um quadro que tem profundas implicações em nosso fazer missionário. Creio que até podemos dizer que essa é realmente uma das fraquezas de missões a partir do chamado terceiro mundo e também um dos nossos pontos mais vulneráveis. Segundo a Revista Mission Frontiers, citando estudo feito pela World Evangelical Fellowship Mission Comission4, falando sobre o Brasil, diz que entre as causas de atrito indesejável que acontecem anualmente com missionários no campo fazendo-os voltar ao país de origem, são encontrados basicamente cinco fatores que alistados por eles são: Treinamento inadequado; falta de sustento financeiro; falta de compromisso; fatores pessoais tais como auto-estima, stress e problemas com colegas. Todos estes aspectos refletem um pouco daquilo que somos enquanto igreja neste momento histórico e do nosso envolvimento com missões mundiais.
Talvez devéssemos concordar com alguns que pensam que, neste exato momento de nossa história, não estamos amadurecidos o suficiente para participar em tal projeto ou mesmo nos questionar: Será que podemos, enquanto igreja do mundo pobre, fazer Missão?

Penso que deveríamos fazer algumas considerações que talvez venham a nos ajudar em nossa reflexão. Segundo Antonio Carlos Barro5, devemos lembrar que até mesmo todos esses fatores que pesam contra nós, acabam se tornando um ponto positivo em nosso fazer missionário. Dizendo ele que uma das razões pelas quais as igrejas do chamado terceiro mundo não poderiam imitar as igrejas ricas do primeiro mundo se dá justamente por causa da sua pobreza. Também citando, no mesmo artigo, René Padilla quando afirma que as nossas igrejas continuam a ser, de uma maneira geral, as igrejas dos pobres e as igrejas para os pobres.
Creio que é exatamente para dentro desta dimensão que deveríamos nos mover e refletir a nossa ação missionária, enquanto igreja do terceiro mundo. Se torna fundamental para nós neste momento, não só entendermos o papel que temos que desenvolver em nossa missão, mas como também buscar uma compreensão mais clara da natureza e origem da missão que nos alcançou. A priori este é um chamado para entender de onde viemos e para onde estamos indo em nossa caminhada.
Primeiramente, creio que devemos entender que Missões é um ato da Soberania de Deus. Não é pelo fato de não pertencermos ao chamado primeiro mundo que devemos nos privar do privilégio de fazer Missões. Não é o quanto possuímos ou o que temos sobrando que conta. Nem mesmo o poder, quer seja ele econômico ou político, que deve nos motivar em nosso envolvimento em missões, pois foi em aparente fraqueza, debilidade e pobreza que a salvação de Deus chegou até nós.
Foi exatamente isso que Isaías expressou quando pintou o quadro da fraqueza e debilidade do Servo Sofredor. A mensagem parecia tão absurda e sem sentido para aqueles que a ouviam, que ele diz: “Quem deu crédito à nossa mensagem?”6. Como podiam crer que o Deus criador de todas as coisas, que havia mostrado os seus atos salvíficos de modo tão poderoso, podia manifestar uma tão grande salvação morrendo daquela forma? Quem na verdade queria se associar com essa figura sem expressão e sem poder algum, que parecia incapaz de salvar-se a si mesmo?. Quando ele descreve o Salvador diz que “…Não tinha parecer nem formosura; e, olhando nós para Ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos.”7. O que fica implícito no texto é que foi através da fraqueza do servo que a salvação de Deus, não só se tornou possível, mas como também se manifestou.
Paulo mais tarde usa Isaías como background para fundamentar a mensagem das Boas Novas. Ele afirma que aquilo que aparentemente era frágil se revelou em uma tremenda demonstração do poder de Deus e consequentemente todo aquele que põe sua confiança Nele tem salvação. Creio que o ponto aqui é exatamente o fato de que Deus, para alcançar seus propósitos usa aquilo que aparentemente é frágil para revelar a sua salvação aos povos. “Deus em sua soberania escolhe as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que ninguém se glorie perante ele.”8 Foi assim que em meio ao aparente fracasso, Deus manifestou salvação à toda humanidade, com poder ao ressuscitar Jesus de entre os mortos.
Em segundo lugar, devemos entender que Missões é um ato de fé. Era para isto que Isaías queria chamar nossa atenção quando afirma “…O teu Deus reina9”. Esta foi a mensagem das Boas Novas anunciada por ele, mesmo antes de falar sobre o Servo Sofredor. Israel, enquanto povo de Deus, não entendeu que aquele que o chamou de entre os povos estava no controle de todas as coisas. Ele reina e os seus propósitos serão efetivados e sómente Ele vai ser glorificado e honrado por isso. O chamado é para Israel confiar em Deus, crer que para Ele tudo é possível. Em nossa caminhada missionária não devemos esquecer de crer que ele reina e está no controle, e que qualquer projeto missionário é viável porque Ele reina. Quem de nós cria que alguns anos atrás, a cortina de ferro, viria a baixo e que as portas da Rússia se abririam para o Evangelho? Quem acreditava que o Evangelho sobreviveria na China comunista após a expulsão de todos os missionários? Independentemente das circumstâncias, Deus está no controle. A nossa certeza tem que estar naquele que, como disse João Batista, “…até destas pedras Deus pode suscitar filhos à Abraão.”10
Mesmo em aparente fraqueza e debilidade a igreja do chamado terceiro mundo deve crer que aquele que reina, tem um chamado para seu povo independentemente de sua condição econômica, política ou social. Ele a esta chamando não por causa da força ou poder que ela porventura possua em si mesma. Ele a está chamando para que ande em obediência de fé, não olhando o tamanho de nossas congregações ou mesmo estar preocupados com a situação econômica e política do nosso país, que nos enfraquece. Creio que é exatamente neste contexto que Deus encontra o ambiente ideal para demonstrar o seu poder. O que cabe a nós é simplesmente ser fiéis. Entregar à Ele nossos talentos, recursos e energia como reconhecimento de que Ele reina. Para assim cumprirmos nosso papel no mundo.
O que resta então para nós, a luz do que foi dito acima, é pensar em como tudo isso pode afetar, de maneira prática a nossa expressão missionária no mundo, enquanto igreja dos pobres. Pensar em como podemos caminhar, mesmo em aparente fraqueza, em obediência ao chamado de Deus.
Primeiramente, penso que deveríamos fugir da tentação de ver missões como resultado de um mandato que pesa sobre nós enquanto Igreja. Abordando esse assunto Lesslie Newbigin diz que existe uma longa tradição que vê a missão da Igreja, primariamente como obediência a um mandato.11 Continuando ele diz: mesmo que esse venha a ser o caso, isso faz com que a tarefa missionária seja encarada muito mais como um fardo, do que como uma expressão de alegria. Muito mais como parte da Lei, do que da Graça de Deus.
Missões no inicio da Igreja Cristã acontece primariamente como uma explosão de alegria, daqueles que tiveram um encontro pessoal com Jesus. Mais tarde, daqueles que descobrem que Jesus está vivo e que são impulsionados a contar aos outros esse fato extraordinário que não podia se escondido.
Esta é uma das características da igreja do chamado terceiro mundo, que deveria ser preservada em nossa caminhada missionária. Muitas igrejas tem crescido ou são plantadas como fruto do esforço daqueles que, tendo sido alcançados por Deus, se sentem impulsionados pelo desejo de compartilhar alegremente as Boas Novas com suas famílias, vizinhos, amigos e parentes. Este é um dos aspectos que temos para contribuir enquanto igreja obediente. O simples fato de querer alegremente, compartilhar com outros as Boas Novas sem constrangimentos, nos leva a ser efetivos em missões.
Em segundo lugar, creio que a nossa fragilidade nos leva, inevitavelmente a uma interdependência, ou seja dependemos uns dos outros para a realização da nossa tarefa. É de capital importância para nós, realizar a obra em parceria com o resto do Corpo de Cristo no mundo.
Aprender com outras igrejas e contribuir com elas (e elas conosco) no esforço missionário, deve ser a nossa prioridade nessa área de parceria. Dentre as muitas coisas que temos que aprender com estas igrejas, e que não deveríamos negligenciar são: suas estruturas e como elas funcionam em todo o processo para melhorarmos também as nossas próprias estruturas e fazê-las funcionar de maneira correta; seu cuidado para com aqueles que são enviados por eles; qual o tipo de treinamento oferecido; visão de ministério e etc.
É preciso que entendamos que essa deve ser uma parceria aonde os obreiros da igreja do chamado terceiro mundo, sejam reconhecidos como parceiros de verdade, tratados no mesmo nível, tendo seus dons e ministérios reconhecidos, como uma contribuição a ser dada para a maturidade do Corpo de Cristo. Já não existem mais Judeus e nem Gregos, escravos e senhores, pois fomos feitos um em Cristo.
Em último lugar, a vantagem dessa igreja é que ela só pode contar com o poder de Deus para levar adiante a mensagem do Evangelho. Essa presença pode ser notada na forma como o Espírito Santo de Deus tem operado através dela e feito ela expandir.
Queria destacar a idéia tão bem expressada por Newbigin12, quando fala sobre a presença de poder velada na fraqueza. Num mundo de tantos conflitos étnicos e animosidade, especialmente contra a dominação dos países do primeiro mundo, considerados cristãos e opressores. Uma igreja que não possua o poder político, está livre do peso de tentar usar poderes humanos para dominar e influenciar o mundo.13
Uma boa maneira de pensar sobre tudo isso que temos falado até agora, é conforme descrito por David J. Bosch14, citando D. T. Niles, quando retrata missões como um mendigo contando a outro mendigo aonde encontrar pão. Creio que poderíamos dizer que nós somos (enquanto igreja dos pobres) tão dependentes desse pão quanto àqueles para quem nós estamos indo e que a medida que o compartilhamos podemos experimentar o verdadeiro sabor e o valor nutritivo dele.


A missão em Filipós   Atos 16
Uma das passagens mais impressionantes sobre a relação do Espírito Santo com a obra missionária é Atos 16.6,7: "E percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia, defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia (1), mas o Espírito de Jesus não o permitiu". Como e por que o Espírito Santo impediu que Paulo e seus companheiros pregassem na Ásia e fossem também para Bitínia? A maioria dos comentaristas bíblicos admite não saber ao certo como foi que o Espírito Santo revelou-lhes que possuía outro programa de viagem. Mas todos eles sugerem uma ou mais possibilidades. Citemos algumas: De acordo com Norman Champlin, "pode ter sido por impulso interior, ou circunstâncias adversas que fugiam ao controle de Paulo, ou alguma visão ou sonho noturno, ou mesmo alguma declaração profética por parte de seus convertidos que possuíssem o dom da profecia" (2). Simon Kistemaker sugere Silas, pois era um profeta (cf. At 15.32) (3). Na minha opinião, é provável que eles só passaram a entender o significado dos impedimentos do Espírito após analisarem os fatos ocorridos. Aquele duplo impedimento (vv6,7), a visão de Paulo (v9) e a declaração de Lucas no verso 10 parecem lançar luz sobre esta possibilidade. Quanto ao "por que?" não há necessidade de se especular. Em Atos a soberania e a liberdade do Espírito Santo na obra missionária são inquestionáveis. O Espírito Santo dirige e coordena a obra missionária. É ele que determina quem vai, como se vai e para quem se vai pregar o evangelho (4).
Acredita-se que havia cerca de meio milhão de pagãos em Antioquia no tempo de Paulo, mas o Espírito não o quis em Antioquia. Certamente o número de habitantes que não ouviram o evangelho na Ásia e Bitínia também não era pequeno, contudo, o Espírito Santo tinha outros planos!  Do início ao fim do livro de Atos não é difícil perceber que o Espírito Santo é quem prepara o campo para receber a boa semente do evangelho. Somente pela atuação direta do Espírito é que a Palavra de Deus germina, cresce e frutifica. E é ele, o Espírito, que além de vocacionar, capacitar e enviar seus obreiros ao campo missionário, sai na frente e prepara com antecedência o coração daqueles que haverão de ouvir a pregação da Palavra. Um exemplo disso é o capítulo 16 de Atos. O campo que o Espírito preparou para aquela ocasião não seria, por enquanto (5), a província da Ásia e Bitínia que, a princípio, Paulo e seus companheiros tanto queriam ir. O objetivo do Espírito Santo era a Europa (At 16.9,10). E naquela ocasião, em especial, "Filipos, cidade da Macedônia, primeira do distrito, e colônia" (At 16.12). O nome da cidade é originário de Filipe da Macedônia, que a conquistou dos tásios por volta do ano 300 a.C. Em Filipos Paulo teria uma das experiências mais frutíferas de seu ministério. Ali nasceria uma igreja abençoada, sua "alegria e coroa", como ele mesmo diria mais tarde em sua epístola aos filipenses (Fp 4.1).

A conversão de Lídia
O pouco que sabemos de Lídia está em Atos 16.14. Sua cidade natal era Tiatira. Uma próspera cidade da província romana da Ásia, a oeste do que atualmente se conhece como Turquia Asiática. Foi colonizada por Seleuco Nicator, rei da Síria, em 280 a.C. No ano 133 a.C. passou para o domínio dos romanos. Era um ponto importante do sistema de estradas dos romanos, pois ficava na estrada que vinda de Pérgamo, a capital da província, se estendia até às províncias orientais. Nos tempos do Novo Testamento Tiatira era também um importante centro manufatureiro; tinturaria, feitura de vestes, cerâmica e trabalhos em bronze figuravam entre os trabalhos da região. Hoje, uma cidade bastante grande chamada Akhisar, continua existindo no mesmo local.
Profissionalmente Lídia era uma vendedora bem sucedida. Ela trabalhava no próspero comércio de tecidos de púrpura (6) e/ou na venda da tinta quando se mudou para Filipos. Quanto à sua religiosidade, Lídia era "temente a Deus" (cf. At 10.1,2). A expressão "temente a Deus" de Atos 16.14 significa mais do que dizer simplesmente que Lídia cria em Deus ou algo parecido, e sim, que ela fazia parte de uma classe de gentios simpatizantes, por assim dizer, do judaísmo.
Em quase toda sinagoga judaica existiam, além de judeus é claro, dois grupos distintos de gentios. O primeiro grupo era formado pelos denominados "prosélitos", isto é, gentios convertidos ao judaísmo. Os homens eram circuncidados, concordavam em obedecer a lei e guardar o sábado, faziam peregrinações a Jerusalém, e daí em diante não eram mais gentios, e sim judeus.
O segundo grupo de gentios que normalmente freqüentava a sinagoga era formado pelos "tementes a Deus". Eram apreciadores da lei e do ensinamento judaicos, mas por uma série de razões pessoais achavam por bem não se desvincular de suas raízes gentílicas, como os prosélitos, para se tornarem judeus.
Lucas relata: "Quando foi sábado, saímos da cidade para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que para ali tinham concorrido. Certa mulher chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às cousas que Paulo dizia" (At 16.13,14). Aqui temos o que biblicamente denominamos de novo nascimento ou conversão de Lídia. Uma obra do Espírito de Deus. O verbo grego dih/noicen (abriu) está no aoristo e significa que ali houve uma ação completa e definitiva do Espírito Santo. Durante a pregação de Paulo Lídia "escutava" e o seu coração foi "aberto" para que atendesse. É necessário que a intervenção divina, que torna o homem natural receptivo para com a Palavra de Deus, anteceda o ouvir com proveito a pregação do evangelho. "Deus concedeu a Lídia um coração receptivo para compreender coisas espirituais. Ele deu a ela o dom da fé e a iluminação do Espírito Santo" (7). E como resultado desta conversão o Senhor Deus salvou, pela instrumentalidade de Lídia, e principalmente de Paulo, toda a família dela (At 16.15).

A cura de uma jovem adivinhadora  e a salvação dos presos
Quando Paulo e seus amigos seguiam para o lugar de oração, eis que saiu ao encontro deles "uma jovem possessa de espírito adivinhador" (At 16.16). Era uma escrava de Satanás e de seus senhores. Após perturbar por muitos dias os missionários do Senhor, Paulo, já indignado, expulsou o espírito malígno que nela havia. Isto bastou para que os senhores daquela jovem se juntassem e os lançassem no cárcere, mas não sem antes os levarem diante das autoridades e insuflarem o povo contra eles para que fossem açoitados. Entretanto, se Satanás pensou que estivesse frustrando o trabalho de Deus naquela cidade, ele se enganou profundamente, pois jamais imaginava que a obra de Deus ali estava por começar. É na prisão de Filipos que encontramos uma das mais belas cenas do testemunho cristão. "Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam" (At 16.25). Paulo e Silas não somente glorificavam a Deus e se edificavam e fortaleciam a si mesmos orando e cantando, mas também davam bom testemunho, além de servirem como fonte de encorajamento para os presos que ouviam suas orações e hinos. O verbo e\phkrow=nto (3ª p. pl. imperf. médio de a)kou/w = ouvir) indica que enquanto os missionários oravam e cantavam hinos de louvores a Deus, por um período indefinido de tempo, os outros prisioneiros ouviam prazerosa e atentamente.
A atitude incomum de Paulo e Silas de orarem e cantarem louvores a Deus na prisão e o terremoto súbito que abriu as portas do cárcere soltando as cadeias de todos, foram os meios utilizados pelo Espírito Santo para salvar aqueles prisioneiros. A prova de que eles realmente foram salvos está no fato de não fugirem (v28) após o terremoto do verso 26.

A conversão do carcereiro
Outro exemplo fabuloso do extraordinário alcance do evangelho em Filipos foi a conversão do carcereiro. "O carcereiro despertou do sono e, vendo abertas as portas do cárcere, puxando da espada, ia suicidar-se, supondo que os presos tivessem fugido" (At 16.27). Aquele terremoto, as portas do cárcere abertas e a "ausência" dos presos levaram o carcereiro ao desespero. Ele ia se suicidar. "Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos!" (v28). E neste episódio todo, o que realmente importa é uma pergunta e uma resposta. O carcereiro pergunta a Paulo e Silas: "Senhores, que devo fazer para que seja salvo?" (v30). swqw= é o aoristo passivo subjuntivo de s%/zw (salvar). "O aoristo indica a totalidade da salvação do carcereiro, o passivo implica que Deus é o agente, e o subjuntivo denota o pedido cortês do carcereiro" (8). O contexto anterior e posterior da pergunta do carcereiro mostra que seu desejo de ser salvo era tão somente por salvação eterna. A resposta de Paulo e Silas implica que eles dois entenderam o tipo de salvação que o carcereiro buscava. "Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e tua casa" (v31). Se o carcereiro verdadeiramente direcionasse a sua fé para o Senhor Jesus, conforme sugere a preposição e/pi/, a salvação dele e de sua família estaria definitivamente garantida, pois a expressão grega swqh/s$ su/ kai/ o/ oi/=ko/j sou é regida por um verbo no futuro (swqh/s$). Na língua grega o futuro é definido.
A dádiva oferecida ao carcereiro também seria concedida à totalidade da sua casa (kai/ o/ oi/=ko/j sou). Diz Marshall:
O Novo Testamento leva a sério a união da família, e quando a salvação se oferece ao chefe de um lar, torna-se logicamente disponível ao restante do grupo familiar (inclusive dependentes e servos) também (cf. 16.15). A oferta, porém, segue as mesmas condições: devem ouvir a Palavra também (16.32), crer e ser batizados; a fé do próprio carcereiro não dá cobertura a todos eles (9).

As conversões relatadas no capítulo 16 de Atos são alguns exemplos de que a obra missionária só é bem sucedida quando o Espírito Santo vocaciona, capacita e envia Seus obreiros, além é claro, de preparar o caminho para eles. Assim acontece dentro do livro de Atos e não pode ser diferente fora dele. 

AUTOR DESCONHECIDO
(Não nos responsabilizamos pelo conteúdo teológico deste material)

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