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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

MISSÕES 29 - ANTIOQUIA: A IGREJA E SUA MISSÃO

ANTIOQUIA: A IGREJA E SUA MISSÃO


Estudo bíblico de Atos 13.1-3

"Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram" (At 13.1-3)
Uma das primeiras coisas que podemos observar como resultado da ação missionária do Espírito Santo em Atos é o chamado ou vocação de obreiros para a missão. Em Atos o cronograma de Cristo para a igreja é cumprido à risca pelo Espírito. Sua missão é glorificar a pessoa de Jesus Cristo na continuação do que Ele começou a fazer e ensinar através de homens e mulheres que O amam.
O texto bíblico relata que "havia na igreja de Antioquia profetas e mestres" (At 13.1).


Breve histórico
Antioquia (da Síria), também conhecida como Antioquia do Orontes por causa do rio de mesmo nome, era a mais famosa das dezesseis Antioquias fundadas por Seleuco Nicátor em memória de seu pai Antíoco, por volta do ano 300 a. C. Nos tempos do Novo Testamento Antioquia era a capital da província da Síria, a terceira cidade do império romano, célebre por sua riqueza, cultura e imoralidade. Com exceção de Jerusalém, nenhuma outra cidade esteve tão ligada aos primórdios do cristianismo como Antioquia. Lucas registra em At 6.5 que certo Nicolau abandonara o paganismo grego e se tornara membro de uma sinagoga judaica em Antioquia.
Durante a perseguição que se seguiu à morte de Estêvão, alguns cristãos subiram para o norte até Antioquia (At 11.19), cerca de 480Km de Jerusalém, e ali pregaram aos judeus. Logo chegaram outros que levaram o evangelho aos gregos também (At 11.20), e como ocorresse ali muitas conversões, a igreja de Jerusalém enviou Barnabé a Antioquia. Vendo a graça de Deus naquela cidade, Barnabé foi até Tarso e trouxe Saulo consigo para o auxiliar (At 11.25,26). Durante um ano eles permaneceram em Antioquia ensinando muita gente.


Principais características da igreja de Antioquia
O caráter extraordinário dos cristãos de Antioquia foi demonstrado primeiramente naquele envio de esmolas para a igreja mãe de Jerusalém, quando a fome assolou esta cidade (At 11.27-30). Além disso, a igreja de Antioquia era o que nós podemos chamar de uma igreja semi-autônoma, isto é, apesar dela reconhecer o primado espiritual de Jerusalém, não seguia em todos os detalhes o ponto de vista evangelístico corrente ali. Desde o início de sua formação a igreja de Antioquia ministrava igualmente a judeus e gentios. E quando alguns judeus cristãos da Judéia visitaram Antioquia proclamando que os gentios deveriam ser circuncidados como pré-requisito para se tornarem cristãos, foi a igreja de Antioquia que, resistindo a essa imposição, enviou a Jerusalém uma delegação encabeçada por Paulo e Barnabé para resolver este impasse. O chamado Concílio de Jerusalém (c. 50 A.D.), o primeiro da história da Igreja Cristã, só aconteceu por causa das reivindicações da igreja de Antioquia. Contudo, o zelo missionário e evangelístico, notabilizado pelas viagens missionárias de Paulo foi, com certeza, a característica principal da igreja de Antioquia. "Era apropriado que a cidade onde foi fundada a primeira igreja cristã gentia, e onde os cristãos receberam seu nome característico, talvez sarcasticamente, fosse o berço das missões cristãs ao estrangeiro (At 13.1)" (1). A primeira viagem missionária aconteceu entre 45 e 50 A.D., quando Paulo e Barnabé partiram do porto Selêucia Pieria em Antioquia e velejaram para Chipre. Esta viagem, Ásia Menor a dentro, terminou quando Paulo e Barnabé voltaram para Antioquia e apresentaram um relatório de seus feitos para a igreja reunida. Paulo também começou e terminou sua segunda viagem missionária em Antioquia (c. 50 A.D.). Aquela igreja notável também viu o início da terceira viagem missionária (c. 54 A.D.).
Profetas e mestres
Os profetas e mestres do Novo Testamento em geral, e da igreja de Antioquia em particular, eram (principalmente os primeiros) o que os teólogos chamam de "órgãos ocasionais da inspiração", isto é, profetas no sentido estrito da palavra, visto que no sentido amplo cada crente é um profeta. Através deles o Espírito Santo se comunicava com a igreja. Tendo isso em mente podemos entender sem maiores dificuldades como o Espírito falou em Atos 13.2 e, deste modo, evitar uma série de especulações desnecessárias. Uma vez que o versículo 1 diz que "havia na igreja de Antioquia profetas e mestres", nada mais natural entender que "enquanto a igreja orava, o Espírito falou pelos profetas e tornou sua vontade conhecida" (2).
A urgência e soberania do Espírito
"Disse o Espírito Santo: Separai-me agora" (At 13.2). A expressão 'afori/sate d/\\/h/ moi (Separai-me agora) é totalmente enfática. A partícula grega d/\\/h/ (agora) pode ser traduzida também como "agora mesmo", "já", "neste momento", "imediatamente". O verbo 'afori/sate (separai) que é um aoristo do imperativo ativo de 'afora/w, somado ao pronome pessoal moi favorece uma tradução assim: "Separai para mim mesmo de uma vez por todas". A urgência do Espírito Santo para aquela missão é inquestionável. Além disso, a expressão 'afori/sate d/\\/h/ moi é uma das identificações da soberania do Espírito Santo no livro de Atos. A iniciativa de escolher e enviar missionários para onde quiser é uma prerrogativa do Espírito (cf. At 16.6-7). O Senhor Jesus já havia dito aos Seus discípulos: "Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros, e vos designei para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda" (Jo 15.16). Em Atos a soberania do Espírito Santo é levada a sério. Ao contrário do que se vê hoje em dia, especialmente no meio pentecostal, em que pessoas por atrevimento ou ignorância talvez, dizendo-se cheias do Espírito Santo, querem fazer dEle o capacho de seus caprichos. Na Bíblia o Espírito Santo manda e Seus servos obedecem (At 13.2). Entretanto, Ele não age despoticamente. Em Atos o Espírito e a igreja trabalhavam, por assim dizer, em parceria (cf. At 15.28).
Os chamados
A ordem do Espírito Santo para a igreja de Antioquia era, então, a seguinte: "Separai-me agora mesmo a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado" (At 13.2). Duas coisas são evidentes nesta declaração. A primeira diz respeito aos chamados ou vocacionados pelo Espírito Santo. O Espírito manda separar Barnabé e Saulo. Quem eram Barnabé e Saulo senão a nata da Igreja Primitiva? O Espírito Santo é exigente. E Ele sempre vai pedir o melhor para missões. Isso tudo pede uma reflexão séria por parte da igreja brasileira, pois não são poucos os erros cometidos nesse particular. Quantas vezes nossos presbitérios enviam para o campo ou juntas de missões aquele candidato que não se saiu muito bem no seminário, ou até mesmo aquele pastor que sobrou na distribuição de campo porque nenhuma igreja local o quer por ser fraco de púlpito ou algo parecido? O Espírito Santo não precisa de e nem quer sobras. O Espírito exige sempre o melhor para a Sua obra. Não que a pessoa chamada pelo Espírito seja a melhor por sua capacidade e habilidade naturais, pelo contrário, será sempre alguém que o próprio Deus deverá capacitar com a Sua graça (cf. I Co 15.9,10; 2 Co 3.5; Ef 3.7,8). Uma coisa é certa: Se não é o melhor que a igreja manda para o campo, então não é o enviado do Espírito. Missões não é uma alternativa de trabalho para quem fracassou no ministério!  É interessante notarmos que João Marcos não estava entre os vocacionados pelo Espírito Santo. Pelo menos não naquela ocasião. Lembremos que Marcos já havia viajado com Paulo e Barnabé anteriormente (At 12.25). Depois, acompanhou Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária (At 13.5), mas logo desistiu (At 13.13-15), tornando-se o pivô da separação entre Paulo e Barnabé na segunda viagem missionária (At 15.36-41). Tudo indica que Marcos não era o missionário certo (pelo menos até aquele momento) para a obra missionária. O Espírito Santo não somente conhece o campo missionário mas também o perfil do missionário certo.
A segunda coisa que observamos na declaração do Espírito é que Ele sempre vocaciona para uma missão específica. "Para a obra a que os tenho chamado", diz o texto bíblico. Há tempos Paulo e Barnabé estavam sendo trabalhados pelo Espírito. Os dois missionários trabalharam juntos algumas vezes (cf. At 12.25). Como conseqüência disso o chamado para a missão passa a ser na verdade uma confirmação, isto é, o chamado de Paulo e Barnabé não aconteceu ali (At 13.2), mas apenas confirmou o que todo mundo, inclusive eles, sabia. Isto está claro no uso que Lucas faz do verbo proske/klhmai, imperfeito médio de kale/w, que indica uma ação ocorrida no passado mas confirmada no presente. Quer dizer, o Espírito confirmou perante a igreja de Antioquia o chamado de Paulo e Barnabé. "Quando o crente é chamado pelo Espírito, o mesmo Espírito o revela à igreja" (3).
Estudo bíblico de Atos 13.1-3
"Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram" (At 13.1-3)
Na primeira parte de nosso estudo fizemos uma apresentação geral da igreja de Antioquia. Agora trataremos de algumas implicações para a igreja evangélica brasileira.  Biblicamente falando, todo campo missionário deveria se tornar, obrigatoriamente, numa base missionária. Mas infelizmente nem sempre tem sido esta a realidade em termos de igreja brasileira. Já a igreja de Antioquia foi, inegavelmente, um exemplo de igreja missionária. A igreja que outrora foi campo, que o Espírito Santo preparou para receber a boa semente do evangelho, passaria a ser oficialmente o portal da missão entre os gentios. Portanto, quando o Espírito Santo disse em Atos 13.2, "Separai-me agora ...", a partir daquele momento a igreja de Antioquia não seria mais a mesma em termos de visão missionária. Os princípios que nortearam a vida da igreja de Antioquia, e que, certamente, deveriam inspirar todas as igrejas, foram cuidadosamente observados e registrados por Lucas em Atos 13.
Igreja missionária é igreja adoradora
Atos 13.2 inicia assim: "E, servindo eles (os profetas e mestres do v1) ao Senhor...". O particípio presente leitourgou/ntwn (servindo [ARA], workshiping [NIV]), do verbo leitourge/w, é empregado por Lucas em Atos 13.2 com o mesmo significado de latre/w, isto é, servir em adoração; prestar culto a Deus. O particípio presente indica ação contínua.
Uma igreja só pode ser verdadeiramente missionária se for verdadeiramente adoradora e vice-versa (1). O missiólogo Orlando Costas estava certo quando disse que "o culto está intrinsicamente relacionado com a ação de Deus na história e a conversão das nações ao Deus trino e uno" (2). E ainda:     O culto, em sua dimensão humana, surge da missão. É o resultado espontâneo da experiência da redenção. Do mesmo modo, a missão deve ser vista como um acontecimento cultual, porquanto celebra o que Deus tem feito por homens e mulheres em Jesus Cristo e os chama a receber e compartilhar o dom da graça de Deus (3).
Talvez um dos piores males que têm assolado, dividido e enfraquecido a igreja brasileira em nossos dias seja os debates em torno da tarefa prioritária da igreja. E eu não estou me referindo à questão da evangelização e responsabilidade social, outro assunto que deu e tem dado "pano pra manga" (Veja Evangelização e Responsabilidade Social, Série Lausanne, 1985) (4). Ao contrário, estou me referindo à dicotomia existente entre culto e missões. A discussão não é se a igreja deve adorar ou evangelizar (embora às vezes é o que de fato tem acontecido), mas sim, o que deve ser considerado em primeiro lugar. As opiniões são as mais variadas e extremistas até. De um lado temos os que insistem que "missões são a segunda mais importante atividade no mundo", ou que "missões existem porque o culto não existe". Do outro lado, tem quem afirme ser "um absurdo dizer que muitas são as responsabilidades da igreja. Igreja é missões". Para os defensores da primeira posição, só o fato do culto ser dirigido a Deus e as missões aos homens já definiriam, por si só, a questão da prioridade da igreja. Os defensores da segunda posição argumentam, por sua vez, que é preciso mais que adoração. "É preciso ter paixão pelos perdidos e obedecer ao ide de Jesus".
Mas será que precisamos mesmo priorizar uma tarefa em detrimento da outra, como temos visto na prática? Será que podemos afirmar que culto é mais importante que missões ou vice-versa? Mais uma vez contamos com o argumento equilibrado de Orlando Costas: Não existe dicotomia alguma entre culto e missão. O culto é a reunião do povo enviado ao mundo para celebrar o que Deus fez em Cristo e está fazendo mediante a participação deles na ação testemunhal do Espírito. A missão é a culminação e antecipação do culto. No culto e na missão a comunidade redimida dá evidência concreta do fato de que é, ao mesmo tempo, um povo de oração e testemunho" (5).
Vemos, então, que o culto deve levar a igreja a fazer missões (cf. At 2.42-47), e missões, por sua vez, devem levar os perdidos a prestarem culto a Deus (cf. At 13.44-49). Pois uma adoração que não leva a igreja a evangelizar não passa de mera contemplação, e uma evangelização que não leva os pecadores a adorarem a Deus está fora dos propósitos do próprio Deus. "A liturgia sem missão é como um rio sem manancial, a missão sem culto é como um rio sem mar. Ambos são necessários. Sem um o outro perde sua vitalidade e significado" (6).
Igreja missionária é igreja de oração
José Martins disse corretamente: "A oração é a essência da obra missionária. Não é só uma atividade necessária ao sucesso da obra - é a obra em si. É a prática mais missionária possível, quando vivida de maneira bíblica" (7). Quando o Espírito Santo ordenou que a igreja de Antioquia separasse Paulo e Barnabé para a obra que os tinha chamado, a igreja estava em oração. Esta verdade está implícita e explícita em Atos 13.2 e 3, respectivamente. Implicitamente porque o versículo dois diz o seguinte: "E, servindo eles ao Senhor, e jejuando...". Seria incoerente pensar que uma igreja que estava adorando a Deus e jejuando não estivesse em oração. Somente o fato da igreja estar jejuando subentende-se que ela estivesse orando. Nem toda oração é feita em jejum, mas todo jejum bíblico é feito com oração. Além disso, temos uma evidência explícita de que a igreja de Antioquia realmente orava naquela ocasião: "Então, jejuando e orando..." (v3). Não sabemos ao certo se o jejum do verso 3 é o mesmo do verso 2. Pela urgência do chamado do Espírito, tudo indica que sim. Mas se é o mesmo ou deixa de ser, não é tão importante sabermos. Basta saber que a igreja de Antioquia era uma igreja de oração e que fazia da oração a base de sua missão.
É provável que o exemplo da igreja de Antioquia tenha marcado positivamente o ministério de Paulo. Paulo foi um homem de muita oração e recomendava às igrejas que orassem por ele e pela expansão do evangelho de Jesus Cristo. Agora, mais do que simplesmente orar, a igreja de Antioquia era uma igreja que exercia a prática do jejum. É impressionante a ênfase que Lucas dá ao jejum na igreja de Antioquia. Em Atos 13.2 ele diz que a igreja jejuava, e não menciona a oração, embora sabemos que ela também orava, conforme descrevemos acima. No verso 3, do mesmo capítulo 13, Lucas coloca a palavra "jejuando" na frente de "orando". No texto grego é a mesma coisa: nhsteu/santej kai/ proseuca/menoi. A ordem das palavras é significativa e não pode ser menosprezada, como tem feito a maioria dos autores que consultei.  
A ênfase de Lucas é importante por duas razões pelo menos: 1) Não devemos pensar que a igreja de Antioquia jejuava porque trazia resquícios do judaísmo. Esta não seria uma forma inteligente de pensar, primeiro porque Lucas era gentio e, por isso mesmo, qual o interesse dele em dar tanta ênfase a uma prática estritamente judaica? Segundo, a igreja de Antioquia foi uma das igrejas mais anti-judaicas do passado, naquilo que se refere às práticas religiosas do judaísmo. Direta ou indiretamente o concílio de Jerusalém aconteceu em razão desse anti-judaísmo-cerimonialista. 2) Acreditamos que Lucas fez questão em enfatizar a prática do jejum pela igreja de Antioquia, primeiramente para mostrar que o jejum e oração não são incompatíveis na vida de uma igreja e, em segundo lugar, mostrar como esta prática era (e deve ser) valorizado no meio de uma igreja verdadeiramente missionária.
Se muito de nossas igrejas têm falhado na prática da oração, e falhado mais ainda em rogar ao Senhor da seara para que mande trabalhadores para a sua seara, em interceder pelos missionários e orar pela obra missionária de um modo geral, o que dizer então da prática do jejum em nossas igrejas?  Sou pastor da IPB, amo demais a minha denominação, mas acredito que ela falhou e tem falhado até agora em subestimar a importância do jejum na vida do povo de Deus.
Quantos são os membros de nossas igrejas presbiterianas que jejuam? Quantos pastores presbiterianos jejuam? Muitos de nós mal oramos, diga-se de passagem.   Desde cedo aprendi na IPB: "Sem o propósito de santificar de maneira particular qualquer outro dia que não seja o dia do Senhor, em casos muito excepcionais de calamidades públicas, como guerras, epidemias, terremotos, etc., é recomendável a observância de dia de jejum ou, cessadas tais calamidades, de ações de graças" (PL, xi). Se o povo de Deus tiver que jejuar somente em tempos calamitosos, conforme sugerem os princípios de liturgia da IPB, nunca existirá um dia de jejum neste país! Da forma como foi redigido o princípio para a prática de jejum na IPB, ao invés de estimular o crente a praticá-lo, ele faz exatamente o contrário. Não que o princípio fosse escrito com o objetivo de desestimular quem quer que seja, porém, na prática é o que tem acontecido. Creio que o capítulo sobre jejum deveria ser revisto pela IPB, até porque ele não expressa corretamente a realidade brasileira e muita menos o verdadeiro conceito bíblico de jejum. Que o jejum deve ser praticado em dias de calamidade não questionamos, pois a Bíblia nos dá vários exemplos disso. Mas será que só devemos jejuar em dias de calamidade? Apesar da Igreja Primitiva ter vivido momentos de muitas provações, nada indica que naquela ocasião especial de Atos 13 a igreja de Antioquia estivesse jejuando e orando porque passava por momentos difíceis. Pelo contrário, o contexto próximo (cap. 12) indica que a Igreja Primitiva, de modo geral, estava vivendo um dos seus melhores dias. A igreja de Antioquia buscava a presença de Deus pelo simples prazer de estar servindo a Deus. E continuou assim quando enviou seus missionários e os sustentou com fervorosas orações. Que Deus conceda à igreja brasileira a graça de ser uma igreja que se alegre em estar em Sua presença, intercedendo dia após dia pela obra missionária do Brasil e do mundo.


Igreja missionária é igreja que ouve a voz do Espírito Santo
Não sabemos ao certo como o Espírito Santo falou aos profetas da igreja de Antioquia. O importante é saber que Ele falou e a igreja ouviu. "Ouvir" é empregado em mais de um sentido nas Escrituras. Pode significar: captar, entender, abraçar e obedecer o que se ouve. Alguém pode escutar e ouvir, no sentido literal, o som das palavras, entender as palavras, mas ser totalmente surdo quanto à prática dessas palavras.
A igreja de Antioquia era uma igreja sensível à voz do Espírito, e mais do que aguçar os ouvidos para ouvir a voz sonora do Espírito (se de fato é isso que aconteceu em Atos 13.2), ela ouviu, principalmente, obedecendo. E é exatamente nesse sentido de fazer o que Deus manda que a igreja brasileira hoje deve ouvir, através da Escritura, o que "o Espírito diz às igrejas" (Ap 2.7) (8).
O Espírito Santo continua falando e ouvimos a Sua voz, mas lamentavelmente este "ouvir" nem sempre tem sido traduzido em termos de "obediência". O Espírito Santo falou à igreja de Antioquia e ela imediatamente colocou Paulo e Barnabé no mundo. Eis aí a voz do Espírito que muitas vezes tem sido ignorada pelos crentes. A igreja no mundo e para o mundo, é nisso que Deus espera ser ouvido e obedecido.
Se ouvir o Espírito Santo significa obedecê-lO, a maior expressão dessa obediência é estar no mundo para ouvir o mundo. E o que significa ouvir o mundo? John Stott responde: "O mundo de hoje está repleto de clamores que refletem ira, frustração e sofrimento. Mas muitas vezes nós nos fazemos de surdos diante dessas vozes de angústia" (9). Stott nos lembra, ainda, que existem dois grupos de pessoas no mundo que, além de precisarem ouvir o que a igreja tem a lhes dizer, precisam, antes, ser ouvidos pela igreja. Primeiro, temos o sofrimento daqueles que nunca ouviram o nome de Jesus, ou que, embora tenham ouvido falar nele, ainda não o aceitaram e, portanto, em sua alienação e perdição, estão sofrendo terrivelmente. Neste caso, o que costumamos fazer é sair correndo com o evangelho nas mãos, subir no nosso poleiro e vomitar a nossa mensagem, sem a mínima consideração para com a situação cultural ou as verdadeiras necessidades dessas pessoas. O resultado é que, com muito mais freqüência do que gostaríamos de admitir, nós afastamos as pessoas e até mesmo aumentamos sua alienação, pois a forma como apresentamos a Cristo é insensível, desajeitada e até irrelevante. De fato, "responder antes de ouvir é estultícia e vergonha".
A melhor coisa é ouvir antes de falar, procurar penetrar no mundo das idéias e pensamentos da outra pessoa, tentar descobrir quais são as suas possíveis objeções ao evangelho e então compartilhar com ela as boas novas de Jesus Cristo de uma maneira que fale às suas necessidades. Esta atividade desafiadora, humilde e perspicaz é chamada, e com razão, de "contextualização". Mas é essencial acrescentar que contextualizar o evangelho não é de maneira alguma manipulá-lo.
Em segundo lugar, temos o sofrimento dos pobres e dos famintos, dos despossuídos e dos oprimidos. Muitos de nós só agora é que estão despertando para a obrigação que a Escritura sempre colocou sobre o povo de Deus, de preocupar-se com a justiça social.
Nós deveríamos ouvir com mais atenção os clamores e os suspiros daqueles que estão sofrendo. Quero compartilhar aqui um versículo bíblico que nós temos negligenciado e que, em se tratando deste assunto, quem sabe deveríamos destacar. Ele contém uma solene palavra de Deus para aqueles que, dentre o seu povo, carecem de consciência social. Encontra-se em Provérbios 21.13: "O que tapa o ouvido ao clamor do pobre também clamará e não será ouvido." (10).  Se a igreja brasileira der ouvidos à voz do Espírito, com certeza ouvirá a voz dos que precisam ser ouvidos. Além disso, igreja missionária é igreja compromissada com os missionários. E o que determina se uma igreja é ou não missionária é o seu compromisso com os missionários. Este compromisso mostrará até onde a igreja está engajada em missões e, principalmente, até onde ela tem sido obediente à voz do Espírito de Deus.
A igreja de Antioquia era uma igreja de compromissos. Ela estava compromissada com Deus (servindo a Deus, jejuando e orando, At 13.2,3) e com os missionários (impondo sobre eles (Barnabé e Saulo) as mãos, os despediram, At 13.3).   É importante destacar, antes de tudo, que o envolvimento missionário da igreja de Antioquia não estava limitado àqueles cinco nomes de Atos 13.1. E mesmo se a imposição de mãos sobre Paulo e Barnabé tivesse sido realizada por apenas três deles, nem por isso deixaria de ser o trabalho da igreja toda. Comentando o envio dos missionários pela igreja de Antioquia, Simon J. Kistemaker disse com razão que "toda a igreja de Antioquia estava envolvida em comissionar Barnabé e Saulo, pois quando os missionários retornaram, eles relataram à igreja o que Deus tinha feito (14.27)" (11). E ainda, "o Espírito Santo movimenta a igreja e não meramente cinco pessoas para se engajarem na obra missionária" (12).
A imposição de mãos sobre Paulo e Barnabé não deve ser entendida, conforme observa W. L. Liefeld, como "uma ordenação para ensinar (Paulo e Barnabé já tinham estado no ministério cristão, e Paulo considerava que a sua autoridade vinha diretamente de Deus, e não dos homens, nem sequer por intermédio dos homens, Gl 1.1)" (13). "O certo é que Paulo e Barnabé foram enviados para uma obra específica numa atmosfera de adoração, oração e jejuns (At 13.1-3), uma ação que, segundo At 14.26, os 'recomendou à graça de Deus'" (13). A interpretação de Liefeld é boa mas poderia ser melhorada. É que, além do que Liefeld diz, houve naquele ato de imposição das mãos um pacto entre a igreja de Antioquia e os missionários. Deste modo, a igreja estaria definitivamente vinculada aos missionários (14) e os missionários à igreja. Lucas registra que a igreja de Antioquia acompanhou todas as viagens missionárias de Paulo e este, por sua vez, relatava à ela as coisas que Deus fazia por seu intermédio (cf. At 14.27).  A igreja de Antioquia tomou para si a responsabilidade da obra missionária. E por que? Porque ela se propôs a ser co-participante do Espírito no envio e sustento dos missionários (15). A missão do Espírito seria a missão da igreja.
Em Atos 13.3 não aconteceu o que vemos hoje em dia. Paulo e Barnabé não foram jogados no campo e deixados ao deus dará. A igreja não se esqueceu daqueles que enviou e os missionários, por outro lado, não se lembraram da igreja somente quando o dinheiro da missão encurtou. Não quero generalizar, mas não é, infelizmente, o que muitas vezes temos visto? Além disso, a igreja de Antioquia não entregou Paulo e Barnabé aos cuidados da igreja de Jerusalém e muito menos os deixou por conta de uma junta de missões. De maneira nenhuma! A igreja de Antioquia tinha responsabilidade missionária.
Atualmente, o que temos visto com freqüência são as agências ou juntas de missões ocupando o lugar da igreja local. Não que as juntas de missões não tenham seu devido valor, é claro que têm (16). Ademais, as agências de missões, em si, não tiram a responsabilidade missionária das igrejas. Contudo, se hoje elas estão ocupando o lugar das igrejas, indo além de suas atribuições, é porque as igrejas estão aquém de sua vocação. "Um grande número de igrejas espalhadas por este nosso Brasil precisa ver-se como vocacionadas por Deus para exercerem a tarefa missionária como um fator de peso em seu ministério, precisa ver-se como a força missionária de Deus nesse mundo e em nosso país" (17).
Falando acerca da importância da igreja local em missões, Carlos Del Pino destaca quatro coisas que, segundo ele, deveriam acontecer em nossas igrejas. Em resumo, são elas:
1. A igreja local como um todo precisa receber, compreender e assumir a visão de seu lugar na obra missionária, além de compreender as dimensões bíblica, espiritual, cultural e financeira desta tarefa.
2. A igreja local, compreendendo sua importância para missões, não pode transferir esta responsabilidade.
3. A igreja local, ainda, precisa assumir por completo a sua responsabilidade missionária. O que mais comumente vemos é que a igreja muito se alegra com o despertar de uma vocação em seu meio, ora por aquele irmão e diz para ele ir. Mas quando chega o momento de assumir o compromisso financeiro regular e decente, ela se silencia, como se isso não fosse problema dela.
4. Por fim, a igreja local precisa conscientizar-se e ver-se como a principal agência missionária da face da Terra. Orar tendo isso em mente, agir tendo isso em mente, pregar tendo isso em mente, trabalhar tendo isso em mente (18).
Para Deus só existem duas coisas: Ou somos campo, ou somos base missionária. Se somos campo, precisamos ser evangelizados, mas se somos base, então está na hora de trabalhar. A omissão não pode ser a missão de uma igreja vocacionada pelo Espírito Santo de Deus.
COMO SUSTENTAR UM MISSIONÁRIO
"E orai em todo o tempo com toda oração e súplica no Espírito. Vigiai nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos. Orai também por mim, para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança, para com intrepidez fazer conhecido o mistério do evangelho," (Efésios 6:18-19)
Paulo neste ponto de sua vida e ministério, como missionário, exorta a Igreja de Éfeso sobre a necessidade de se revestir completamente com a armadura de Deus, na batalha contra o mal. Ele nos abre a porta, nesta seção da carta, para compreendermos sobre a crença na existência do mundo dos espíritos maus, crença esta que aparece por todo o Novo Testamento.
Nossa luta na verdade, diz Paulo, não é contra a carne ou sangue, não é contra pessoas, não é contra regimes políticos ou religiosos que governam países, dificultando a penetração do evangelho em terras distantes ou tão pouco contra os partidos mais de esquerda que sonham com um país mais justo para aqueles que sofrem com o trabalho duro sem contudo gozar dos benefícios do seu suor. É claro para o apóstolo-missionário, a existência de Satanás e suas hostes, principados e potestades que agem neste mundo poderosamente contra toda a humanidade, armando ciladas e tornando os homens cegos para não contemplarem a glória de Deus, sendo privados de experimentarem realmente o fim principal de sua existência que, conforme a confissão de fé de Westminster é: "...glorificar a Deus e gozá-lo para sempre." Rm.11:36; I Cor.10:31; Sl. 73:24-26; João 17:22-24.
Apesar de muitos hoje em dia colocarem de lado esta doutrina, porque acham que alguns cometem excessos quanto a questão da batalha espiritual, não podemos negar o fato de que esta luta contra os espíritos maus é tratada freqüentemente nas Escrituras e que mesmo em nossos dias temos muitas e infalíveis provas, até mesmo por parte dos vários estudos que se tem feito no campo da parapsicologia, que revelam a existência de forças estranhas e poderosas, de natureza negativa e que operam no mundo. Paulo mesmo em outras passagens Neotestamentárias nos revela como nosso mundo está tomado por manifestações malignas, como por exemplo quando se refere ao evangelho encoberto, dizendo: "Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus." 2 Cor.4:3-4.
Penso que a compreensão adequada desta revelação nos levará diretamente a percepção de que os 5.8 bilhões de seres humanos, que vivem hoje no planeta terra, estão a mercê do "Príncipe das potestades do ar, que agora opera nos filhos da desobediência" Ef. 2:1-3. Satanás como inimigo de nossas almas, tem armado ciladas ao longo dos séculos a fim de que os homens não venham a conhecer o evangelho de Cristo. Ele tem se entrincheirado entre as nações construindo fortalezas, laços, sofismas, teias e é nosso dever interceder ao "Pai das luzes em quem não há mudança nem sombra de variação", Tiago 1:17, repetindo as palavras do salmista: "Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e os confins da terra por tua possessão." Salmo 2:8.

Não é tanto exagero dizer que milhões de pessoas estão morrendo sem Jesus, neste mundo de Deus, por causa da estratégia de nosso inimigo. Pergunto a você? Por que o legislador de nosso país tem dificultado, juntamente com a FUNAI, a penetração de missionários evangélicos nas tribos indígenas que nunca ouviram falar de Jesus? Por que milhões de Indianos estão presos nas garras do Hinduísmo, adorando a criatura em vez do criador? Por que nações inteiras em todo o mundo estão se tornando Islâmicas, fechando as portas para qualquer perspectiva de liberdade religiosa? Por que alguns países europeus considerados cristãos e que no passado mudaram o curso da história com a pregação da Palavra de Deus estão vivendo hoje na indiferença? Essa grande multidão está vagando sem achar resposta para a sua necessidade de serem aceitos por Deus e de se relacionarem pessoalmente com o Criador. Estas são perguntas que nós como cristãos só podemos responder a luz da Palavra de Deus que nos mostra esta grande realidade espiritual de que "o mundo inteiro jaz no maligno". I João 5:19.
No contexto da exposição de Paulo, neste capítulo que está se encerrando com estes dois versículos de convocação dos cristãos para a intercessão, não podemos descrever a oração como parte da armadura, mas ao descrevermos o equipamento cristão para o conflito não podemos deixar de incluir uma referência a oração. Não podemos separar estes dois versos da descrição anterior mas entendê-los conjuntamente como se ele estivesse fazendo um pedido de vestirmos cada uma das peças desta armadura com oração e a esta altura, como havia pedido oração por todos os santos, não deixa de pedir aos seus leitores súplicas e orações sinceras por ele mesmo.
Paulo tinha uma profunda consciência da sua posição na frente do campo de batalha. Mesmo estando na prisão, ele sabia da sua vulnerabilidade. Creio que a sua solicitação não era motivada pelo desejo de libertação da cadeia, mas por duas razões: primeiramente, porque sabia que possuía a grande responsabilidade de levar aos homens o evangelho da salvação eterna que lhe foi confiado pelo próprio Deus e por isso necessitava de sabedoria; E em segundo lugar, porque precisava de intrepidez para anunciar com poder este mesmo evangelho conforme o desígnio de Deus. Isto da mesma forma que os discípulos faziam (Atos 4:29), oravam não pelo seu próprio sucesso, nem para ficarem livres das prisões, dos perigos ou dos sofrimentos, mas oravam para que lhes fosse dada intrepidez na proclamação do evangelho de Cristo.
Portanto, se para o apóstolo Paulo esta era uma questão vital em seu ministério, nós não podemos considerá-la menos importante. Existem muitos homens e mulheres que tem sido enviados com uma missão e que se acham carentes de cobertura espiritual. Não devemos esquecer de que esta missão pertence a todos nós como Igreja de Cristo e ao nos unirmos em oração com estas pessoas estamos garantindo vitória e unidade, na tarefa de guerrear contra as trevas e saquear o exército inimigo, libertando os que estão cativos e "trazendo nossos irmãos, dentre todas as nações, como presente à presença do Senhor assim como os filhos de Israel trazem as suas ofertas de cereais em vasos limpos à casa do Senhor" Is.66:20.
Quero então estabelecer o nosso propósito dizendo que missionários são soldados do mesmo exército que nós somos, eles estão na frente de batalha, lutam onde o conflito está se dando de modo mais acentuado. Estão muitas vezes cercados em território inimigo e sentem-se sozinhos, algumas vezes desanimados, estão batalhando diariamente e diretamente no território do inimigo e precisam do apoio de outros batalhões do seu exército para ajudá-los nos momentos mais críticos de suas atividades.

A Igreja, o Corpo de Cristo, cada crente, cada membro sem exceção é convocado a tomar parte nesta obra de intercessão por todos os missionários, nossos representantes no campo de batalha. Por isso "perseverai na oração, velando nela com ações de graça. Orai também juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual estou preso. Orai para que o manifeste como devo fazer." Col.4:2-4. 



AUTOR DESCONHECIDO
(Não nos responsabilizamos pelo conteúdo teológico deste material)

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