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domingo, 26 de setembro de 2010

ECLESIOLOGIA 4 - PERSEVERAR

PERSEVERAR
Mt 24.13

Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo.

INTRODUÇÃO: Vivemos dias maus. A maldade do homem tem se multiplicado. Nosso mundo está corrompido pelo egoísmo, perversidade, falta de compaixão, violência, idolatria, pela falta de verdades absolutas - uma vez que tudo hoje é relativo. Esse conceito de relatividade tem transformado nossa sociedade em uma sociedade fragmentada, a família está fragmentada.
Em meio a tanta tecnologia e a globalização, o ser humano está cada vez mais só. Hoje nos comunicamos através da internet: Orkut, e-mails, twitter, etc. Mas não existem mais relações profundas e verdadeiras. O homem e a mulher estão cada vez mais carentes de amor.
As pessoas estão em busca de contentamento, de satisfação, de um sentimento de reconhecimento e valorização pessoal; para isso estão dispostas a pagar um alto preço para terem um corpo escultural, para se tornarem “pop star”. Acreditam que a fama e a riqueza as tornarão mais felizes.
O mundo afirma que a felicidade pode ser adquirida por meio do dinheiro e do sucesso. Contudo sabemos que a felicidade não é um estado que adquirimos em nosso mundo exterior, mas é um estado que adquirimos em nosso mundo interior. Somente quem está em Cristo Jesus consegue alcançar a felicidade verdadeira, porque felicidade não é ausência de lutas, de sofrimento, e não pode ser comprada pelo dinheiro, pelo sexo, pela droga,... Felicidade não e um pacote que podemos adquirir em alguma loja.
A felicidade só pode existir e fazer parte da vida do ser humano quando este tem a certeza de que este mundo passará e que um dia viverá eternamente no Reino de Deus. Quando este deixa de amar este mundo e suas concupiscências, para se entregar plenamente ao Senhorio de Cristo Jesus. Este é feliz porque para ele não importa o sofrimento, não importa as dores, as dificuldades desta vida, porque todo seu ser, seus pensamentos, sonhos, estão projetados na realização de viverem plenamente para Cristo, e como conseqüência visualizam e sonham com o Reino que virá. Este suporta as mazelas da vida com alegria porque sabe que a vitória não este em vencer a doença em si mesmo ou em vencer a pobreza ou ainda outras lutas apresentadas pela vida, mas a vitória está em permanecer fiel a Cristo Jesus, mesmo em meio a tudo isto.
Contudo trago aqui hoje a minha preocupação porque ao olhar para a Igreja percebo que grande parte dela já não prega mais o Evangelho de Cristo Jesus, mas prega o “evangelho do mundo”.

TRANSIÇÃO: O texto que lemos está dentro de um contexto onde Jesus está respondendo a pergunta feita pelos seus discípulos a respeito do fim dos tempos. Eles queriam saber quando Jesus voltaria e quando se daria o fim do tempo.
Jesus responde a esta pergunta apresentado a eles vários sinais. Contudo no meio de sua resposta ele alerta seus discípulos de que estes deveriam perseverar até o fim para alcançarem a salvação.
Eu gostaria de afirmar através das palavras de Jesus que a igreja precisa perseverar diante:

1 - Os falsos profetas (v.11)
Ha 100 anos atrás as Igrejas Protestantes Históricas (Batistas, Presbiterianas, Metodistas, etc.) sofreram muitas divisões com o surgimento do Movimento Pentecostal Histórico. Vários grupos de irmãos que passaram pela experiência do “falar em línguas” resolveram abrir novas igrejas uma vez que esta experiência não era aceita nas igrejas históricas, da qual até então faziam parte. Estes irmãos deram início ao surgimento das Igrejas Pentecostais Históricas (Assembléia de Deus, Quandrangular, etc).
Através deste Movimento Pentecostal muitas igrejas foram abertas, muitos pastores consagrados, muitas vidas salvas.
Contudo o “espírito de liberdade religiosa” manifestado já há muito pelos reformadores, permitiu que um novo Movimento surgisse do meio dos Pentecostais, chamado por nós de Néo-Pentecostal. Várias Comunidades surgiram e várias novas denominações eclesiásticas (Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça, Igreja Renascer em Cristo, Igreja Deus é Amor, Igreja Mundial do Poder de Deus, Igreja Sara Nossa Terra, etc.).
Esse “espírito de liberdade religiosa” associado a ignorância espiritual, orgulho, interesses próprios, etc. levaram muitos a abrirem igrejas e se auto-denominarem pastores, profetas, bispos, apóstolos e patriarcas, sem terem profundo conhecimento da Palavra de Deus ou mesmo intimidade profunda com Deus.
A estes que saíram por aí abrindo portas de igrejas associados a ignorância, ao orgulho, pessoas que usam da igreja para enriquecimento próprio, que transformaram o nome de Jesus em amuleto e a igreja em um grande mercado consumista, vendendo desde sal grosso à viagens de turismo. Sim a estes é que entendo que Jesus se referia como falsos profetas, homens que induzem o povo ao erro.
Infelizmente são estes que ocupam a “mídia”. E para nossa infelicidade quando a sociedade olha para a igreja, a imagem que eles vêem da igreja é a que é transmitida por estas denominações, através da televisão.
Cuidado porque eles enganam até os cristãos mais sinceros, porque apresentam sinais e maravilhas como prova de que Deus está com eles nesta obra.
Devemos nos lembrar que não são os sinais que marcam o verdadeiro profeta. O próprio Senhor Jesus disse: Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? (Mt 7.21-22).
Isso não significa que nossos ministérios não devam ser marcados pelos sinais, pelo contrário, o próprio Senhor Jesus disse: Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome expelirão demônios, falarão novas línguas, pegarão em serpentes, e se alguma coisa mortífera beberem não lhes fará mal, se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados(Mc 16.17-18).
Estes sinais acompanham o ministério, mas não são a razão maior do ministério. Quem entrará no Reino dos céus? Aqueles que fazem a vontade do Pai. A vontade do Pai é que anunciemos o Evangelho de Jesus Cristo a toda criatura. A vontade do Pai é que demos continuidade ao ministério de Jesus.
O verdadeiro profeta carrega o peso do coração de Deus (Ed Rene Kivitz). O verdadeiro profeta tem empatia por Deus e pela causa de Deus. Seu amor por Deus o leva a uma vida de obediência e de serviço a Deus; que se traduz e se manifesta ao próximo em um serviço sem interesse, sem troca, sem barganha.
Para que o profeta pudesse sentir empatia por Deus, pudesse compreender o coração de Deus e sentir o peso do coração de Deus; Deus o fazia passar por situações reais que o levassem a vivenciar o sofrimento de Deus com relação a Israel. Jeremias teve que usar um cinto velho, sujo, rasgado, para sentir a vergonha que Deus sentia por andar com Israel. Oséias foi chamado por Deus para se casar com uma prostituta para que pudesse sentir traído, enganado, envergonhado, como Deus se sentia em relação a Israel.
Entretanto os falsos profetas não querem andar como Jesus andava, não querem sentir fome, serem odiados pelo mundo, não terem onde repousar a cabeça, viverem de forma altruísta. Não sentem o peso que está no coração de Jesus. Pelo contrário escolheram uma vida oposta a esta. Que possamos perseverar contra os falsos profetas.

2 - As falsas doutrinas (v.11)
O que caracteriza um falto profeta, pastor, pregador, padre, e outros títulos que você queira usar, são suas ações e seus ensinos.
Aquele que é falso, pode até parecer com o verdadeiro, entretanto seu caráter, seu ideal e seus ensinamentos o denunciam. Foi isso que Jesus quis dizer quando afirmou: Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvores boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bom. Toda a árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis (Mt 7.15-20).
Jesus está sendo claro, os falsos profetas não podem dar bons frutos. Isso porque estes homens, embora pareçam ovelhas, pensamos que são como nós, que estão em busca da verdade, do bem e do próprio Senhor do rebanho, eles na verdade só querem extrair o que podem das pessoas. O interesse destes falsos profetas, com suas falsas doutrinas é “se dar bem”. Eles estão trabalhando para o beneficio de si próprio e não para o Reino de Deus. Eles amam o mundo e suas concupiscências. Usam da fé para estimular as pessoas a doarem tudo o que podem para suas igrejas; enquanto o povo padece, eles se enriquecem.
A teologia da prosperidade é um grande engano. Não podemos descartar que Deus quer o bem de seu povo, de seus filhos e que Deus pode nos enriquecer. Contudo esta não a ênfase do Evangelho, pelo contrário, a ênfase do Evangelho é um chamado para renunciarmos o apego ao dinheiro e as concupiscências deste mundo. A ênfase do Evangelho é abrirmos mãos de nossas vidas para lutarmos pela implantação do Reino de Deus neste mundo. O apóstolo Paulo já nos definiu que o Reino de Deus não é comida e bebida, mas justiça, alegria, paz e todas as coisas que caracterizam o nosso Deus.
Acredito que se formos fiéis a Deus poderemos nos enriquecer... Mas este enriquecimento não acontece se aproveitando da fé e da bondade das pessoas. Deus enriquece aqueles que trabalham honestamente e de maneira sábia investem no Reino de Deus.
A teologia da prosperidade transformou Deus em um amuleto (se eu quero acabar com o mal em minha casa eu compro “sal grosso”, rosa ungida, etc.) e empregado da humanidade (passamos a exigir de Deus que Ele cumpra suas obrigações como Deus). Essa mesma teologia transformou as igrejas em grandes casas comerciais. Essa não é uma teologia bíblica, ela é uma teologia criada pela mídia. Homens e mulheres que se dizem servos de Deus, só anunciam o que o Cristo fez por eles, se forem bem pagos para isso. A Bíblia diz: e, à medida que seguirdes, pregai que está próximo o reino dos céus. Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça daí (Mt 10.7 e 8).
Eu já escrevi livros e sei o quanto estes se tornaram pesados para mim financeiramente. Por um período eu os vendi, para pagar os custos que tive para sua edição. Mas não usei destes livros para me enriquecer, para cobrar “cachês evangélicos” para falar de Jesus. Jesus pagou um alto preço por mim. Tudo que eu puder fazer pelo Evangelho eu farei, e sei que nunca será suficiente para pagar o que ele me fez. Portanto eu não tenho direito de cobrar nada para fazer a obra de Deus.
Muitos cantores e pregadores que se julgam acima dos demais, cobram para ir as igrejas além do que deveriam, além do custo real de seus gastos para despesas de viagem. Cobram valores exorbitantes visando enriquecimento e não a sustentação de seu ministério.
Existem muitas outras doutrinas que não são bíblicas. O apóstolo Paulo ao escrever para o jovem pastor Timóteo o alerta a respeito de algumas destas doutrinas (1 Tm 4.1-5). Paulo afirma ser doutrina de demônios estas que proíbem o casamento, que ensinam abstinência de alimentos. Ao escrever aos irmãos de Colosso, Paulo, também faz referências as falsas doutrinas ensinadas pelos falsos profetas (Cl 2.16-22). Contudo não irei abordá-las nesta mensagem, pois nosso tempo não nos permite.
A ênfase que dei a teologia da prosperidade, se faz pelo fato de ser esta a que está em vitrine em nossos dias, mas todas elas são malignas e devem ser extirpadas da vida da igreja.
Portanto que poçamos perseverar fiéis a Cristo diante as falsas doutrinas.

3 - A tentação de transformar a igreja em uma instituição empresarial onde o amor é aniquilado em nome da organização (v.12)
Quando a igreja deixa de manifestar o amor, é porque se tornou uma instituição iníqua. Ela perdeu seu fim. A igreja existe para proclamar o Evangelho de Jesus Cristo. Este Evangelho é um chamado para que as pessoas reconheçam o Senhorio de Jesus Cristo. O Evangelho é um chamado para que todos venham a Jesus e o amem pelo que Ele é. Jesus é Deus e deve ser adorado, amado, pelo simples fato de ser Deus e não pelo que Ele pode proporcionar ou nos prometeu dar.
Eu não devo adorar a Jesus só porque desejo receber a vida eterna. Você não deve amar outro ser humano só porque ele tem algo de bom a te oferecer. Você deve amar simplesmente porque ele é um ser humano, objeto do amor de Deus.
Se permitirmos que a igreja se torne apenas uma instituição empresarial, comercial e judicial, nos tornaremos religiosos. Pessoas religiosas tem a tradição e as regras como o que há de mais importante. Por meio das regras buscam controlar as pessoas e por meio das tradições buscam controlar a Deus e transformá-lo em um objeto utilitário.
Não sou contra as regras, elas são necessárias. Estou falando do problema quando as regras matam pessoas, destroem relacionamentos e não percebemos o que estamos fazendo.

Ilustração: Certo pastor foi procurado por um de seus membros. Este iria se casar, com uma linda jovem da igreja. Ele era um irmão atuante no louvor e ela uma irmã atuante, professora da EBD. Este jovem foi pedir para o pastor se seria possível ele guardar um pote de sorvete de 20 litros no freezer da igreja. Este sorvete era para ser servido em seu casamento, e ele não tinha outro lugar para colocá-lo. O pastor respondeu ao jovem com um simples não e justificou sua resposta dizendo que iria gastar muita energia elétrica.
O que você acha que aconteceu depois disto?

O que podemos concluir desta história? O coração do pastor não estava mais preocupado com as pessoas, mas com os números, com os valores, com a burocracia, com as regras. Os fariseus eram assim.
Os religiosos eram os maiores inimigos de Jesus. Muitos pastores se tornaram religiosos e estão vivendo uma possibilidade muito real de se tornarem os maiores inimigos de Deus.
Não sou contra o fato das igrejas usarem recursos empresarias em suas ações e planejamento. Não sou contra o contratar profissionais cristãos para exercerem os ministérios da igreja, mas sou contra a igreja que se torna uma instituição empresarial e que só vê números, estatísticas e se esquecem que a igreja é formada de pessoas.
Jesus veio para pessoas, morreu pelas pessoas, portanto a igreja deve servir as pessoas e não tratá-las como se elas não tivessem vida, como se fossem apenas números ou mercadorias.
Muitos pastores hoje em dia não conhecem suas ovelhas, o que sabem de suas ovelhas é por meio dos números apresentados por meio das pesquisas de campos.
Volto a dizer que estes recursos são validos, mas não podemos nos esquecer de que as pessoas buscam relacionamentos. Reconheço que as megas-igrejas impossibilitam os pastores de conhecerem cada ovelha individualmente. Contudo estas igrejas devem proporcionar meios que viabilizem relacionamentos saudáveis entre seus membros e pastores.
As pessoas necessitam se relacionar para aprenderem a amar, a perdoar, a ensinar, a admoestar, a colocarem seus dons e sua vida a serviço do Reino de Deus. Em fim ela precisa se relacionar para viver toda a dimensão da vida com Cristo.

Conclusão: Jesus nos alertou que nos últimos dias surgiriam falsos profetas, falsas doutrinas e que o amor se esfriaria por causa da iniqüidade. Creio que não podemos impedir aquilo que está determinado a acontecer; mas o alerta do Senhor é para nós que O amamos e que desejamos ser fiéis até o fim. Este alerta é para que não nos esmoreçamos, não abaixemos a guarda, não venhamos permitir que estas coisas atinjam nossas vidas e nossas casas. Este alerta tem que nos motivar a continuarmos orando e vigiando para não cairmos. Aquele que está de pé cuide para que não caia.


Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

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