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terça-feira, 8 de setembro de 2009

RECONCILIAÇÃO 1 - CHAMADOS PARA O MINISTÉRIO DA RECONCILIAÇÃO

CHAMADOS PARA O MINISTÉRIO DA RECONCILIAÇÃO

“Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação” (2 Co 5:18).

Introdução: Paulo expressa neste quinto capítulo de sua segunda carta aos coríntios a obra da reconciliação feita por Deus. O apóstolo deixa bem claro que tudo provém de Deus, ele se refere à obra da salvação, onde Deus faz do ser humano uma nova criatura, dentro desta idéia de nova criatura, nasce na visão de Paulo um novo relacionamento entre Deus e os homens. Este novo relacionamento surge mediante a obra de Jesus Cristo.
O apóstolo está preocupado em deixar claro que essa reconciliação entre Deus e os homens é obra da maravilhosa graça de Deus, dada a nós quando Deus tomou a iniciativa de em Cristo Jesus remover todas as barreiras que impediam nossa aproximação.
A palavra reconciliou está no aoristo, o que indica que a reconciliação já se deu. Deus já derrubou, destruiu todas as muralhas que nos impediam de chegar até Ele. Entretanto, quando lemos que Deus nos deu o ministério da reconciliação, fica evidente que este processo conciliatório embora já tenha sido feito por Deus ainda não está finalizado.
Por isso, encontramos Paulo dizendo que Deus nos confiou a palavra da reconciliação (2Co 5:19). Deus já efetuou a reconciliação em Cristo Jesus, é necessário que anunciemos esta verdade, a fim de que todos possam desfrutar desta reconciliação. Todo aquele que já experimentou a reconciliação se torna um mensageiro dessa reconciliação.
Meu objetivo é apenas analisar as implicações deste ministério da reconciliação para nossas vidas e qual a abrangência desta reconciliação.

1 - O SIGNIFICADO DE RECONCILIAÇÃO
A palavra grega para reconciliação é (katalasso). Reconciliação é o ato ou efeito de reconciliar, restabelecer uma amizade que fora quebrada, restabelecer a paz. Através destas palavras, fica evidente que reconciliação significa harmonizar novamente, isto é, conciliar novamente.
Só existe reconciliação onde houve uma quebra dessa harmonia, onde algo causou o rompimento entre duas partes, de forma que uma se tornou hostil à outra.
Acredito que não há dificuldade para ninguém entender que quem quebrou este relacionamento foi o homem. O livro de Gênesis nos relata sobre a queda do homem, sua rebelião a Deus. Quando o homem e a mulher caíram na tentação de serem como Deus eles quebraram a harmonia que havia entre eles e Deus. O pecado é a causa da alienação do homem de Deus.
Paulo não gasta muito tempo em suas epistolas falando de reconciliação, mas essa idéia de reconciliação está muito ligada com a doutrina da justificação. Por exemplo: quando lemos “justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5:1). Temos paz com Deus, porque fomos justificados. A justificação nos colocou em harmonia novamente com Deus. Em outras palavras, a justificação nos reconciliou com Deus. Podemos entender que reconciliação é fruto da justificação ou que ambas acontecem ao mesmo tempo.
Paulo, ao falar da reconciliação, sempre deixa claro que Deus é o sujeito da reconciliação e o homem, ou o mundo é o objeto dessa reconciliação.
“Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2 Co 5:19). “Fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho” (Rm 5:10). “A vós também, que outrora éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora, contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte” (Cl l:21,22). A reconciliação é obra de Deus.

2 - A DIMENSÃO DESSA RECONCILIAÇÃO
Ao falarmos da dimensão da reconciliação precisamos compreender que estaremos analisando a dimensão da salvação. Em Cristo Jesus, Deus estava salvando somente o homem ou estava salvando toda sua criação? Se Deus estava salvando apenas o ser humano podemos cair na tentação de pensar que a reconciliação é apenas entre Deus e os homens. Entretanto, se pensarmos que a salvação de Cristo Jesus tem por finalidade alcançar toda a criação, então, podemos dizer que a reconciliação não é apenas entre os homens e Deus, mas entre Deus e toda sua criação.
A narração da queda do ser humano nos mostra algumas conseqüências para toda criação. Em primeiro lugar, o ser humano passou a viver em desarmonia consigo mesmo (Gn 3:3-7). O ser humano não aceitou sua finitude, o que lhe causou um desejo de ser como Deus.
A primeira conseqüência de nossa própria desarmonia é que passamos a ter medo de mostrar nossa nudez, nossa alma. Todos temos medo de sermos visto nus, temos medo de que nossos pensamentos possam ser ouvidos... Quem aqui se sente a vontade quando entra no consultório médico e ele pede para você tirar suas calças. Nos sentimos mal, incomodados...
Na verdade nos escondemos de Deus porque no fundo sabemos que somos podres demais por dentro, falhamos demais quando nos comparamos com outros, fracos demais diante de Deus e todo Seu poder. Temos dificuldade de nos despir diante de Deus, de nos deixar ser vistos por Ele, por isso, nos escondemos a vida toda de Deus como Adão. Contudo Deus está te chamando, Deus quer ter um relacionamento com você e quer te revestir como vestes novas, com um novo corpo, incorruptível.
Em segundo lugar passou a viver em desarmonia com o mundo espiritual (Gn 3:15, 23, 24). Uma vez que o ser humano se rebelou contra Deus, não aceitando sua natureza finita, ele criou uma relação desarmoniosa com Deus e com as demais criaturas espirituais.
Em terceiro lugar, sua inconformidade em ser uma criatura o colocou em desarmonia com a terra também (Gn 3:17-19). A humanidade perdeu os benefícios que a terra lhe produzia prazerosamente e passa a ter que trabalhar duramente para poder sobreviver.
A queda causou uma desarmonia cosmológica, isto é, atingiu toda estrutura criada, danificou toda relação da natureza, criando uma nova estrutura de relação do cosmo. Portanto, uma reconciliação entre Deus e os homens somente seria insuficiente para harmonizar o cosmo.
A dimensão da reconciliação alcança o cosmo. “A salvação que resulta da vida, morte e ressurreição de Cristo não só tem alcance que afetam o pessoal e o social senão também o cósmico. Um texto Paulino relaciona especificamente a salvação cósmica com a morte reconciliadora de Cristo (Co 1:15-20)”.
Devemos cuidar neste ponto para não enveredarmos por caminhos perigosos, não estamos dizendo que todos serão salvos. A salvação que nos foi dada em Cristo Jesus só será experimentada pelos que crerem. Quando dizemos que toda criação, toda a terra ou todo o cosmos aguarda os benefícios desta reconciliação devemos compreender que estamos falando da relação harmônica que existia antes da queda do homem. O ser humano, enquanto no Éden, vivia em harmonia perfeita com Deus (o mundo espiritual), consigo mesmo e com a terra (natureza).
(Rm 8:19-22) - Estas palavras do apóstolo Paulo nos mostram que toda natureza sofreu após a queda de Adão e Eva, a harmonia entre o homem e a terra se quebrou como podemos ver descrito no livro de Gênesis. Paulo entende que quando Jesus se manifestar novamente toda a criação será restaurada, de forma que o homem e a terra viverão em harmonia novamente.
Os apóstolos Pedro e João também fazem menções da reconciliação de Jesus com toda criação. Pedro, em sua segunda carta, diz: “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2 Pe 3:13). João diz: “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram..” (Ap 21:1).
A harmonia entre o homem e a terra se deve à reconciliação feita na cruz por Jesus Cristo. Os discípulos de Jesus entenderam que em Cristo e por meio de Cristo, todo o cosmo se reconciliará novamente. Essa compreensão já era demonstrada pelos profetas no Antigo Testamento.
A visão de que o Messias reconciliaria toda a criação aparece em vários textos do Antigo Testamento, contudo vou destacar apenas alguns: (Is 11:6-10) - (Is 65:17, 20, 21) - (Is 66:22).
O profeta Isaias nos mostra a reconciliação da criação. Os animais passam a viver em harmonia um com o outro. O profeta anuncia a reconciliação do homem com a natureza criada mediante a obra reconciliadora do Messias. A salvação que o Messias trará ao ser humano também o salvará da maldição que havia sido colocada por Deus entre o ser humano e a terra.
(Zc 3:9-10) - Zacarias também fala da reconciliação que o Messias traria a terra, mas Zacarias fala da reconciliação na perspectiva da justiça e da paz.
(Mi 4:1-8; Zc 9:10) - A reconciliação é entendida também como reconciliação social. O Messias traria paz para Israel e para as nações, seu reinado implicaria numa nova vida social. A justiça seria realizada por meio do Messias de forma que todos viveriam em paz, porque o Messias reinará com justiça sobre todos os povos

3 - AS IMPLICAÇÕES DO MINISTÉRIO DA RECONCILIAÇÃO PARA A IGREJA
Paulo em sua segunda carta aos coríntios diz que “Deus estava reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação” (2 Co 5:19).
A partir da reconciliação de Deus com o mundo iremos analisar as implicações do ministério da reconciliação para a igreja.
A igreja deve ser a portadora do ministério da reconciliação. Este ministério deve ser tão abrangente quanto foi a obra da reconciliação que Jesus Cristo efetuou na cruz.

1. A Igreja deve levar os seres humanos a se reconciliarem com Deus
O pecado criou uma relação de desarmonia entre Deus e os homens. Contudo Deus já realizou a obra da reconciliação, por meio de Jesus Cristo.
O conflito entre Deus e o ser humano também pode ser entendido como a causa do conflito que ocorre no interior do homem. Uma vez que o homem perdeu o sentido de sua existência ao se rebelar contra o seu Criador, passou a ter um conflito interno. O ser humano perdeu a direção, perdeu o sentido claro de sua existência e se tornou um ser ambíguo, cheio de impulsos conflitantes.
Somente na reconciliação com Deus o homem consegue superar sua crise interior, somente na aceitação de ser finito, dependente de Deus, o homem consegue enxergar claramente seu dever ou o sentido de sua existência.
Cabe à Igreja anunciar a mensagem da reconciliação, levando o ser humano a desfrutar da paz com Deus que já lhe foi proporcionada em Cristo.
Paulo, em sua segunda carta aos coríntios, diz para os crentes que estes receberam o ministério da reconciliação (2 Co 5:18, 19). Portanto, devemos entender que a Igreja deve ser portadora deste ministério. A Igreja deve fazer com que todos os seres humanos conheçam a reconciliação que foi realizada por Deus em Cristo Jesus.

2. A Igreja deve levar a humanidade a se reconciliar com o mundo criado
2.1. Reconciliação com os seus semelhantes.
Umas das grandes bênçãos da reconciliação com Deus é que esta promove uma reconciliação entre os homens. Em Cristo somos chamados para amar aqueles que continuam negando a obra da reconciliação, porque Deus os reconciliou consigo em Cristo. Somos chamados para anunciar a eles a obra da reconciliação (2 Co 5:19-20).
Paulo fala bem desta reconciliação quando ele trata do relacionamento entre os judeus e os gentios (Ef 2). Para os judeus, os gentios sempre estiveram fora do relacionamento com Deus. Entretanto, Paulo diz para eles, que uma vez eles estiveram afastados de Deus, mas agora foram reconciliados em Cristo Jesus, por meio de seu sangue. De forma que não pode mais existir hostilidade, rejeição, inimizade entre os judeus e os gentios. Antes, os gentios não eram chamados de povo de Deus, mas agora foram unidos e contados como povo de Deus, formando juntamente com os judeus, um só povo. Surge através desta união um novo povo, um novo relacionamento entre eles.
Com estas palavras de Paulo, podemos entender que não pode mais haver hostilidade entre os homens, não há para Deus diferença nas raças, nos sexos, nas condições sociais, todos são amados da mesma forma por Deus. Todos são em Cristo seu povo. Em Cristo há paz entre os homens.
A igreja deve unir todos os povos, a igreja deve lutar pela igualdade das raças, a igreja deve lutar pelo direito das mulheres. A igreja deve lutar por tudo aquilo que é justo, pois toda injustiça é falta de compreensão da reconciliação feita por Deus em Cristo.
Nossa ética não deve ser de domínio sobre nosso semelhante e nem sobre a criação como veremos em nosso próximo ponto, mas deve ser uma ética de responsabilidade e cuidado.

2.2. Reconciliação com toda a natureza
“Uma visão incorreta do ser humano quanto ao seu lugar na criação pode ser comprometedora, tanto para ele como para a criação inteira” . estas palavras de Arzemiro Hoffmann nos chamam a atenção para o grande perigo de uma má compreensão da teologia da criação. Deus criou o ser humano como parte integrante de toda a criação. O ser humano recebeu uma tarefa especial, contudo o ser humano não se tornou parte separada da criação por ter recebido a tarefa de cuidar do jardim. J. Stam diz que “nós humanos pertencemos à mesma ordem criada que a terra e os animais, e não podemos ser amos e senhores do que não criamos” .
O dever de cuidar e guardar o jardim foram dados à igreja e os cristãos, por mandato do Criador. Esta é uma tarefa ecológica intransferível. Entretanto, o pecado tem feito com que essa tarefa ecológica não seja cumprida pelo ser humano.
Arzemiro Hoffmann diz que “a criação do Senhor geme e sofre sob a ação e ambição devastadoras dos seres humanos” .
Bruce Milne consegue perceber o problema que o pecado traz a toda natureza.

“A humanidade destoa da ordem natural e nossa administração do ambiente dá lugar à pilhagem pecaminosa. Isto manifesta-se como exploração, a destruição inútil do mundo sem consideração pela sua beleza criada ou valor intrínseco. Manifesta-se outrossim como poluição, o uso egoísta e ganancioso das matérias-primas, contaminando os oceanos e a própria atmosfera, muitas vezes a conseqüência da prioridade dada a lucros financeiros, uma vida luxuosa e auto-indulgência” .

A igreja deve levar seus membros a terem uma nova ética da criação que leve cada individuo a respeitar as demais criaturas do reino animal e vegetal, além de um uso racional dos minérios.
O ser humano precisa compreender urgentemente que sua existência depende de seu relacionamento com a natureza. É necessário que o ser humano compreenda que ele é parte desta natureza e não pode viver à parte dela.
Chegou o tempo da igreja se mobilizar, com atitudes praticas para a preservação do nosso meio ambiente.

CONCLUSÃO: A reconciliação é sem duvida a mais importante obra que Deus fez pelo homem, é verdade que esta não poderia existir sem a justificação, contudo nos aproximamos de Deus porque sabemos que agora estamos novamente reconciliados com Ele.
A reconciliação nos tornou amigos de Deus, e nos convoca a proclamarmos isto ao mundo e aos homens. A reconciliação dá a nós um sentido de existência, afinal existimos para glorificar a Deus e não poderíamos glorificá-lo sem que houvesse uma reconciliação. Sim, somos ministros da reconciliação, chamados para dizer ao mundo que Deus nos perdoou e nos chama a viver em comunhão com Ele.
A reconciliação nos coloca em igualdade com todos os seres humanos, nos faz um, pois todos fomos reconciliados em Cristo Jesus. Todos foram atraídos para a cruz em Cristo. Não há mais escravos, nem livres, não há mais negros, pardos ou brancos, não há mais distinções em Cristo, todos nos tornamos um por meio da cruz. Fomos lavados pelo mesmo sangue, batizados no mesmo Espírito. Estamos reconciliados.
A reconciliação nos faz enxergar a importância do mundo, da natureza, da criação de Deus, pois nos faz compreender que Jesus reconciliou com Ele o mundo, e pôs ordem ao cosmo. Tudo era perfeito antes do homem cair na tentação. Entretanto, após a tentação tudo saiu da ordem, a natureza sofre com a desordem, mas em Cristo teremos uma nova terra, um novo céu, uma nova ordem. Cristo reconciliou todas as coisas.
Hoje é o momento de vivermos esta reconciliação, é hora de reconhecermos que em Cristo somos todos irmãos, não há rico, nem pobre, não há negro, nem branco, não há judeu, nem gentio. Estamos todos do mesmo lado, precisamos despertar-nos para juntos lutarmos por um mundo melhor. Salvemos a natureza, salvemos os rios, os mares, os homens e os animais. Conciliados, harmonizados viveremos melhor.
Lutemos para viver hoje a reconciliação que Cristo conquistou para nós na Cruz.


Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
01/09/09

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