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sábado, 24 de outubro de 2009

MINISTÉRIO PASTORAL - 1 - O PODER PASTORAL - SEGUNDA PARTE

O PODER PASTORAL - 2 Parte

2. O poder pastoral convoca a comunidade para a responsabilidade da missão
Quando Jesus convocou seus discípulos para a responsabilidade da missão, Ele não estava convocando apenas seus discípulos mais próximos (os apóstolos), mas a todos seus discípulos, de todas as épocas, a todos que creram e aos que virão a crer em Suas palavras.

A multidão dos discípulos, chamados pelo Senhor para a tríplice missão de ensinar, batizar e governar (Mt 28.19s), alargam-se no Povo de Deus da nova Aliança que na diakonia tou logou (At 6.4); na fração do pão (At 2.42), e no ministério caritativo (At 4.32ss), continua a missão recebida por Cristo.

O apóstolo Pedro compreendeu que esse poder pastoral serviçal não era algo exclusivo a eles apóstolos, mas era um poder que deveria ser exercido por toda a Igreja de Cristo. Esse conceito pode ser percebido através de suas palavras, ao escrever aos eleitos que eram forasteiros da dispersão:

Também vós mesmos como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo (1 Pe 2.5).
Vós porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pe 2.9)

Pedro compreendeu que havia sido chamado para proclamar o amor de Deus a todas as nações, povos, raças, e muito mais que isso, compreendeu que a Igreja havia sido chamada para ser um povo de sacerdotes, isto implica dizer, que ela possui um poder pastoral a serviço do mundo.
Ênio R. Mueller reafirma as palavras de Pedro que todos são sacerdotes e não alguns poucos ordenados pela instituição.

Os crentes são as pedras que gradativamente vão compondo a estrutura da construção. Enquanto esta construção não está acabada, há uma missão a ser cumprida; a imagem usada sofre uma pequena transformação, tornando-se a construção um templo, e as pedras, vivas que são, os sacerdotes que nele oficiam. Os crentes são assim constituídos sacerdócio santo. A palavra hierateuma designa o sacerdócio como coletividade, o corpo de sacerdotes (Taylor). É significativo o fato de que todos fazem parte dele, e não somente um grupo de clérigos institucionalmente ordenados ou alguma casta sacerdotal.

Uma vez que todos são sacerdotes; todos são responsáveis pela construção da nova comunidade. Todos são chamados para ajudar na edificação dessa casa espiritual e dessa forma todos acabam manifestando o poder pastoral na busca de cumprirem a missão.
O cuidar das almas (pregar, discipular, ensinar, servir) é um mandamento dado para todos os crentes (Mt 28.19-10; Mc 10.45; 16.15). O poder pastoral não exclui ninguém, pelo contrário, ele inclui a todos na responsabilidade da missão.
Precisamos nos despertar para a noção de que toda a igreja é missionária, e que portanto, todos foram comissionados e não apenas aqueles que são ordenados para o ministério ou os que recebem um chamado missionário especifico. Diante da realidade que toda igreja é missionária, todos recebem autoridade e poder para realizarem a missão. Com isso não se desprestigia o lugar daqueles que são ordenados. Veja o que Charles Van Engen diz a respeito:

Ainda assim, a ordenação é muito importante. Sua importância reside no fato de que as pessoas ordenadas, por meio da consagração pessoal, da fé, do amor, da esperança e do discipulado sacrificial, são chamadas por Deus para dedicar-se à preparação do povo missionário para ministrar no mundo. A pessoa ordenada, nessa perspectiva, não é mais chamada para o ministério que qualquer outra pessoa; ao contrário, é designada para capacitar cada membro no ministério. Precisamos compreender que esses líderes não podem capacitar se não tiverem autoridade sobre os discípulos dispostos a trabalhar. Essa autoridade é lhes outorgada com o fim de fazer deles discípulos dedicados e servos obedientes nas tarefas que desempenham.

Toda Igreja é chamada para construir símbolos que dêem aos seres humanos um acervo de saber (dimensão da cultura) que formem sua identidade (dimensão da personalidade) e criem novas normas de ética e conduta que estruturem a sociedade (dimensão da sociedade). Dessa forma todo crente é um missionário, um agente influenciador na sociedade.
Embora todos sejam considerados sacerdotes, o próprio apóstolo Pedro, demonstra que algumas pessoas foram separadas para o exercício do pastorado.
“Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós...” (1 Pe 5.1-2).
O apóstolo diz que esses presbíteros ou pastores deveriam ser modelos para o rebanho (v. 3). O termo modelo designa que os presbíteros seriam, nesse caso, objetos para serem reproduzidos por imitação, pelo rebanho. O que Pedro estava querendo dizer com isso é que o poder pastoral, vivido pelos presbíteros, seria reproduzido pelo rebanho em seu serviço, como embaixadores de Cristo. Toda a comunidade exerceria o modelo de poder pastoral vivido pelos pastores da comunidade.
O poder pastoral deve ser exercido por toda a comunidade, pois todos são chamados a serem pregadores do Evangelho (Mc 16.15), cooperadores do Reino de Deus (1 Co 3.9), ministros da Reconciliação (2 Co 5.18), todos são chamados a sujeitarem-se uns aos outros (Ef 5.21), a amarem uns aos outros (Jo 13.34), a admoestarem uns aos outros em amor (Rm 15.14), a chorarem com os que choram, a consolarem uns aos outros (1 Ts 5.11), a interceder em favor dos outros (1 Ts 5.16). O chamado para o serviço pastoral é para toda a comunidade, diante disso o poder pastoral pertence à toda a comunidade. Entretanto, alguns são levantados por Deus, para conduzirem seus membros ao perfeito exercício desse poder-serviço.

A pastoral é a mediação da salvação na Igreja e através dela. Se, se compreende a Igreja como povo de Deus e – MISTÉRIO de Cristo no sentido pleno do seu caráter humano-divino, então toda a Igreja resulta responsável pela pastoral dentro do ordenamento estruturado hierarquicamente, determinado pela universal convocação cristã, pelo oficio e pelo carisma, e de acordo com a diversidade das tarefas.

Toda a comunidade exerce um poder-serviço para com as pessoas, porém, todos devem sujeitar-se ao pastor da comunidade, que, por sua vez é chamado para ser modelo do rebanho, devendo então ser um modelo do poder serviço (1 Pe 5.3).
A afirmação de que o poder pastoral deve ser vivido por toda a comunidade nos traz um certo desconforto proveniente da incompreensão do conceito “pastor”. No entanto, não encontramos nenhum desconforto quando afirmamos que todos na igreja são missionários. Talvez devêssemos pensar melhor no que significa ser missionário. A separação que a igreja fez durante anos do que é Igreja e do que é Missões, levou-nos a construir um conceito e um lugar concreto para a palavra “pastor” e para a palavra “missionário”.
Entendo que “Igreja” e “missões” passaram a ser vistos isoladamente, a partir do momento em que a Igreja Católica usou o poder pastoral para tornar os membros refém da própria Igreja. O ensino da igreja era que somente nela o povo poderia obter salvação, somente o sacerdote (padre) poderia exercer o poder pastoral para impetrar benção, ministrar os sacramentos, etc., se tornando assim os únicos mediadores da graça de Deus aos laicatos.
Vimos até o momento que a Palavra de Deus nos mostra que o poder pastoral é um poder-serviço porque está estruturado na missão e está presente em toda a comunidade, embora alguns recebam um chamado especial para ser pastor.
A carta do apóstolo Paulo à Igreja de Éfeso é a base desse pressuposto. Vejamos:

Ler – Efésios 4.11-13
Paulo ao escrever sua carta a igreja de Éfeso (4.11) fornece uma lista contendo cinco ministérios: apóstolo, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Paulo não está preocupado em apresentar uma lista completa de ministérios aos irmãos de Éfeso, como podemos verificar, por meio de uma comparação com sua primeira epístola aos irmãos de Corinto (1 Co 12.28).

Segundo Francis Foulkes, “o apóstolo não está pensando nos ministros de Cristo em seus ofícios, mas sim em seus dons espirituais específicos e suas tarefas...”.
Temos visto que essa lista de ministérios, descrita na carta de Éfeso, tem definido na história da igreja os ofícios de liderança da mesma. Contudo, precisamos compreender que Paulo não estava tão preocupado em definir a lista de ministérios da igreja, mas sim em dizer que esses ministérios são dons de Cristo para a igreja. Tal compreensão é importante, pois, a partir dela poderemos reconhecer que esses ministérios não são dados a qualquer membro do corpo, mas para àqueles que receberam de Cristo o dom para exerce-los, isso é, que foram separados por Cristo para tal tarefa.
A expressão a uns registra o fato de que nem todos podem exercer tais ministérios, além do mais, essa expressão indica também o fato de que, nessa passagem Paulo não trata esses ministérios como cargos ou departamentos da igreja. Esses ofícios não devem ser tratados apenas como uma função dentro de uma estrutura eclesiástica inorgânica. A expressão a uns está totalmente ligada a pessoas, significa que dentro do Corpo de Cristo uns receberam autoridade e poder-divino para exercerem oficialmente determinadas funções e outros não.

“A Igreja pode indicar homens para diferentes trabalhos e funções, mas a menos que tenham os dons do Espírito e sejam, portanto, eles mesmos os dons de Cristo à Sua Igreja, sua indicação será sem valor”.

Para Paulo os ministérios citados em sua epístola aos Efésios não possuem poder porque a instituição lhes conferiu poder, nem porque declararam a si mesmos possuidores desse poder. O poder que esses ministros possuem provém de Cristo, provém de fonte divina e não humana.
No Novo Testamento a palavra “igreja” não aparece com o sentido de prédio ou uma instituição, mas como “corpo”, como algo que possui vida. Paulo escreve sua lista de ministros com essa visão de igreja orgânica, igreja o Corpo de Cristo.
Podemos concluir diante das palavras do próprio apóstolo Paulo que para ele o (Paulo) o pastor não é apenas uma pessoa que possui um cargo numa instituição. Paulo compreende o pastor como uma pessoa separada por Cristo, de quem recebeu o dom para exercer o pastorado.
O pastor possui um poder legitimado por Deus para exercer sua função dentro do Corpo de Cristo, embora os demais membros sejam vistos como detentores do mesmo poder pastoral para o serviço do reino, na comunidade estes devem sujeitar-se ao pastor.
Podemos dizer que o poder pastoral é um poder comum a todos, não é exclusivo daquele que é levantado por Deus para o ministério pastoral.
Uma vez que Paulo demonstrou que o pastor foi concedido à Igreja por Cristo, ele preocupou-se em justificar a razão pela qual Cristo instituiu essa figura na nova comunidade que se formava. “Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.12).
No entendimento de Paulo, o pastor é uma pessoa separada por Deus, no meio de tantos que fazem parte do corpo, para aperfeiçoar os santos (os demais membros do corpo).
A palavra aperfeiçoar (katartismos) tem que ser destacada nesse texto, pois muitos pastores têm trabalhado apenas para manter os santos como estão, não buscando aperfeiçoá-los na graça que lhes foi concedida por Deus. Não trabalham para levá-los a um aperfeiçoamento, isto é, a um desenvolvimento de sua salvação (Fp 2.12). Paulo está dizendo que o pastor não recebeu poder (autoridade) de Cristo para apenas manter o rebanho como está nem para usufruir da gordura e da lã de suas ovelhas. Para Paulo é indiscutível que o poder pastoral tenha que levar os santos ao aperfeiçoamento, ao desenvolvimento de sua salvação.
Os santos precisam aprender como viver sua nova vida em Cristo, como desfrutar da liberdade que Cristo lhes deu, em meio a um mundo tenebroso, envolto pelos poderes malignos, repleto de falsas religiões e ciladas que levam a destruição àqueles que se deixarem ser envolvidos por ele. Os santos precisam aprender a lidar com um sistema que os cerca que é, por tantas vezes, injusto, opressor e alienador. Cabe a esses homens, que receberam de Deus o poder pastoral, aperfeiçoar os santos para viverem livres no mundo que constantemente os busca aprisionar.
Esse aperfeiçoamento busca levar os santos a desempenharem seu serviço. “Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço” (Ef 4.12). O poder pastoral visa desenvolver ou aperfeiçoar os santos em sua fé com a finalidade de que eles desempenhem o serviço que lhes foi outorgado por Cristo. Os santos são aperfeiçoados para, com o pastor, pastorear o mundo.
Jesus viveu para libertar as pessoas do pecado e de suas conseqüências; sua práxis pastoral visa libertar o individuo de si mesmo e deste mundo opressor. Não nos esqueçamos de que essa libertação visa todas as dimensões da vida.
Diante disso, temos que Jesus liberta as pessoas de si mesmas e do mundo que as oprime – entre as pessoas que Jesus liberta, ele escolhe algumas para pastores - Esses pastores trabalham na Igreja ou no Corpo de Cristo como administradores ou gerenciadores do corpo, levando os demais membros a um aperfeiçoamento do seu serviço.
O resultado desse aperfeiçoamento é que a Igreja deve se transformar numa agente libertadora do mundo como Cristo o foi. As pessoas libertas pelo poder de Jesus manifestado agora através da Igreja, a ela se unem e dão continuidade à existência da Igreja. Esse é um círculo que terá seu fim somente com a parousia (segunda vinda de Cristo).
Nesse contexto o pastor tem a função de aperfeiçoar, treinar, administrar os dons da Igreja para que toda a Igreja (todos os membros) desempenhe sua missão libertadora.
No funcionamento pleno desse círculo é que se concretiza “a edificação do corpo de Cristo”. Para que essa edificação venha a acontecer, para que a Igreja alcance sua maturidade (Ef 4.13), ela precisa do pastor treinando-a para ser agente transformadora (libertadora) do mundo.
Paulo, por meio desse texto, dá uma importância fundamental aos pastores, a esses homens que receberam do Senhor Jesus poder para pastorear.
O poder pastoral, conforme o texto, serve para aperfeiçoar a Igreja para sua missão e em conseqüência para edificá-la.
“Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13). A palavra todos inclui nestes versos o pastor também.
O poder pastoral exercido sobre a igreja a conduz à maturidade, incluindo o próprio pastor. Não há na igreja de Cristo, quem não precise aprender, quem não precise se submeter em amor ao outro. É precisamente na unidade promovida quando todos estão na busca do aperfeiçoamento, do desenvolvimento que todos chegamos a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus.
Para Paulo, o poder do pastor é um poder dado por Cristo para o aperfeiçoamento dos santos, que por sua vez devem servir como Cristo serviu e dessa forma edificar a Igreja. Cristo pastoreou todo o povo de Israel, não apenas seus discípulos. Isso se faz presente em seus discursos aos fariseus, em seu diálogo com a mulher samaritana, na purificação dos leprosos, no contato com os doentes que vinham até ele. Assim a Igreja é chamada para pastorear o mundo.

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