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segunda-feira, 21 de junho de 2010

ALIANÇA 1 - ALIANÇA ENTRE IRMÃOS

ALIANÇA ENTRE IRMÃOS
1 Samuel 18:1-4

INTRODUÇÃO: Estamos em aliança com o Senhor e com os nossos irmãos. Estamos unidos em um só corpo – a Igreja de Cristo –, e como membros desse corpo estamos unidos de uma forma viva e orgânica. Não somos, simplesmente, uma mera platéia assistindo cultos dominicais, nem simples consumidores de um produto espiritual produzido nas igrejas. Somos a comunidade da aliança.
Foi Deus mesmo quem, de uma forma misteriosa, nos inseriu nesse contexto de vida. Basta observar o amor que surge em nossos corações pelos irmãos, logo que se convertem. Esse amor não é fruto da convivência, nem mesmo de uma identificação pessoal ou circunstancial. Quando a gente se encontra com outro irmão, algo dentro de nós grita por algo que está dentro dele. Eu sei que é a vida de Deus nos unindo.
Quando estive na Bolívia, percebi o quanto isso é precioso. Irmãos que falavam outro idioma, que tinham outros costumes e fisionomias tão diferentes, pareciam fazer parte da minha própria família. É por isso que declaramos em alto e bom som: somos a comunidade da aliança. A vida de Deus em nós é o vínculo dessa aliança. Uma mãe não precisa aprender a amar o filho recém-nascido. Parece que algo dentro dela a impulsiona para ele. Há uma ligação de vida entre ambos. A nossa união fraternal não é meramente doutrinária; é uma realidade espiritual.
O amor de Deus não precisa da convivência entre as pessoas para desenvolver-se. Não confessamos o nosso amor, uns pelos outros, simplesmente porque estamos juntos na mesma comunidade, ou porque conhecemos as fraquezas uns dos outros e aprendemos a aceitá-las, ou porque nos identificamos com elas. A expressão desse amor tem uma motivação bem simples: existe algo – a vida de Deus – em você que é atraído por algo – a vida de Deus – que está dentro de mim, como se fôssemos parte de um todo que procura unir-se em e através de nós. É por isso que podemos olhar no olho do nosso irmão e dizer: “Meu irmão, eu preciso de você! Não sei como nem por quê, mas sem você eu sou incompleto.” Que coisa misteriosa é esse vínculo que nos une!
A nossa aliança de amor é uma aliança de amizade. Depois de ter feito uma aliança com Deus, Abraão foi chamado amigo de Deus. A aliança foi a base dessa amizade.
Quando andou na terra, Jesus foi chamado de amigo de pecadores. Qual a razão disso? Porque, sendo Deus, Ele se fez homem para tomar o nosso lugar na cruz. Ele estava em aliança com o homem pecador. Só há amizade genuína quando há aliança.
Um grupo familiar bom, saudável e forte não é, necessariamente, o maior, mas o é aquele onde os membros estão vinculados em amor e amizade. Não fazemos cultos familiares; ao contrário: temos um encontro da família de Deus nas casas.
Ao contrário de Davi e Jônatas, nós não temos a opção de escolher uma pessoa, em particular, e fazer uma aliança com ela. Assim como não escolhemos pais e irmãos na carne, também não escolhemos nossos irmãos na fé. Deus os escolheu por nós. Mas as características da aliança entre Davi e Jônatas são comuns a todos nós.
Na aliança entre Davi e Jônatas, encontramos alguns princípios que também se aplicam a nós, a comunidade da aliança. Precisamos compreender esses princípios e aplicá-los. Não queremos ser apenas uma igreja centrada na Palavra, uma igreja de fé e sinais, uma igreja de vencedores; mas, acima de tudo, queremos ser conhecidos como uma igreja de amor.

1. Entregando a capa – proteção da honra
Após ter firmado uma aliança com Davi, Jônatas despojou-se da capa que vestia e a deu ao amigo. Com esse ato, ele estava dizendo que amigo é aquele que guarda o outro. O amigo nunca expõe a debilidade do outro. Um irmão não se alegra com as falhas do outro e jamais as expõe ao público. Pelo contrário, ele tira e dá a própria capa, e a dá ao amigo para cobrir-se e proteger-se com ela. É como se o irmão estivesse desnudo, e colocássemos uma capa sobre ele. Não significa que vou tornar-me cúmplice dos pecados dele. Significa que, mesmo confrontando-o, eu jamais mostrarei aos outros as fraquezas dele.
Gênesis 9:18-23 – Temos que fazer como Sem e Jafé. Algumas pessoas agem como Cam e usam da velha desculpa da oração para propagar a nudeza do seu irmão. Falam mal do pastor sem vergonha nenhuma. A Bíblia diz: “ai daquele que tocar no ungido do Senhor”.
A capa significa proteção da honra, isto é, devemos cuidar em zelar pelo nome do nosso irmão.

2. Despojando-se da armadura – Proteção espiritual - intercessão
Jônatas despojou-se ainda da armadura e a entregou ao amigo. Numa aliança de amizade, não basta colocar a capa para guardar e cobrir o outro; é preciso dispor-se a protegê-lo. Despojar-se da armadura é dizer: “Agora, assumo o compromisso de proteger dos seus inimigos.” São muitos os tipos de ataques a que estamos sujeitos no nosso dia-a-dia... Por isso, só nos sentiremos seguros e protegidos quando estivermos unidos numa comunidade de aliança. Talvez, nenhum outro sinal da aliança seja tão importante como este.
Tiago 5:16 – “... orai uns pelos outros ...” Hb 13:18 – “... orai por nós...” 2 Ts 3:1 – “... irmàos, orai por nós...” 2 Ts 1:11 – “... não cessamos de orar por vós...”.
Se o lobo está atacando o rebanho e não o percebemos, é porque ainda não entramos em aliança uns com os outros. Um grupo que não aprendeu a defender os seus membros, não é um grupo ainda, mas apenas alguns religiosos, reunidos numa quarta-feira, quinta-feira qualquer, simplesmente praticando uma inócua cerimônia para-eclesiástica (reunião liderada fora dos limites do templo). Paulo afirma em sua primeira carta aos coríntios que, quando um membro sofre, todo o corpo sofre com ele. Paulo está afirmando que, quando estamos unidos, numa aliança orgânica, isto naturalmente acontecerá.

3. Despojando-se da espada - Desarmar - abrir a guarda
Jônatas despojou-se também da espada. Isso tem um significado duplo:
3.1) De um lado, significa que estou me desarmando para o meu irmão. Caminharemos juntos, desarmados de qualquer atitude de desconfiança.
Creio que podemos dizer que a Igreja é um lugar de gente desarmada. Se existe alguma arma, ela somente é usada contra o diabo. Não precisamos ser arredios e avessos à comunhão na vida da Igreja. Precisamos correr o risco. Jesus correu o risco e foi traído por Judas. O mesmo risco também está sobre nós. Todavia, não devemos ter medo de amar.
Sempre esperamos o melhor dos irmãos. Por causa desta expectativa nos desapontamos muita vezes. Entretanto não podemos para de correr o risco. Não e porque uma namorada me deixou, me desapontou que não vou mais namorar.
1 Jo 3:18 – Quando amamos temos que estar prontos a sofrer. Nunca saberemos o tempo de duração do objeto amado. Posso sofrer por perder alguém a quem tanto amei, entretanto meu sofrimento será maior se perde-lo e perceber que não o amei enquanto tive tempo.
Este é o motivo por que relutamos entrar numa aliança: é preciso entregar nossas armas e deixar a nossa defesa sob a responsabilidade de uma pessoa desconhecida, que pode nos ferir a qualquer momento.
3.2) De outro lado, entregar a espada implica abandonar um relacionamento superficial. Entregar a espada é interferir na vida do nosso irmão. É usar a espada não para ferir, nem para atacar ou agredir, mas para extirpar um tumor que está ameaçando a vida do amigo. Precisamos de pessoas que não tenham nenhum receio de interferir em nossa vida. Pergunte-se a si mesmo se existe alguém com a liberdade de tratar abertamente com você. Caso não exista ninguém, provavelmente o seu crescimento está comprometido. Quando estamos em aliança, a espada da verdade tem liberdade para atuar entre nós. O autor de Provérbios nos desarma de qualquer temor, quando afirma: “Leais são as feridas feitas pelo que ama” ( Pv 27.6).
Sempre existirá alguém que não aceita ninguém interferindo na vida dele. A justificativa é: “Ninguém tem nada a ver com a minha vida.” Mas isso é um grande engano. A partir do momento em que entramos para a Igreja, entramos também numa comunidade de alianças. Eu estou ligado ao irmão, e ele, por sua vez, está ligado a mim. Por isso a nossa comunhão não pode restringir-se apenas ao futebol, ou ao churrasco. Momentos de lazer juntos, são situações estratégicas para gerar comunhão. Mas o que a desenvolve e fortalece é a interatividade, em amor, entre os irmãos.

4. Entregando o arco – Auxilio material – provisão material
Nos dias de Davi e Jônatas, o arco não era, exclusivamente, uma arma de guerra. Sua prioridade maior era a caça. Ao entregar o arco a Davi, Jônatas estava dizendo: “Eu não vou deixar você na mão. Eu não sou rico; mas o que eu possuo, usarei para abençoar você também.”
Que coisa linda, quando um grupo se mobiliza para ajudar um membro que perdeu o emprego ou que, por outro motivo qualquer, precisa de ajuda financeira! Um grande sinal de nossa aliança é quando nos dispomos a levar a mão ao bolso, tirar o nosso “arco” e entregá-lo ao nosso irmão.
Ef 4:28 – “... para que tenha com que acudir ao necessitado”. Tg 2:15-17.
Precisamos ser Igreja, e não apenas reuniões, encontros ou comunhão. Precisamos ser Igreja nos compromissos e nos relacionamentos. Se toda a vida da Igreja resumir-se apenas a uma reunião de fim de semana, então eu não entendo ainda o que é a aliança do corpo. Se o meu compromisso com a Igreja é apenas para desempenhar um cargo, o que será de tantos que não têm cargo algum na Igreja? O meu compromisso é com o corpo, e não com a estrutura ou com o trabalho. Mesmo não fazendo coisa alguma, eu estou comprometido, porque tenho uma aliança com a Igreja e com o grupo familiar.

5. Entregando o cinto – auxilio psicológico (emocional)
Depois de entregar a capa, a armadura, a espada e o arco, finalmente, Jônatas entregou o cinto. O cinto era usado para dar firmeza e sustentação. Isso significa que o amigo é aquele que dá suporte. Nós somos a “escora” do nosso irmão. Se ele está com a perna quebrada, nós somos a “muleta” que o ampara. Muitas vezes, é desagradável; outras vezes, é como um fardo pesado, mas o amor de Deus, em nós, nos dá graça para avançar. Fomos chamados para ser companheiros de jugo, diz Paulo (Gl 6.2; Fp 4.3).
As alianças, na Igreja, não têm caráter transitório. Ao contrário, são eternas. Na Eternidade, estaremos sempre juntos com esses mesmos irmãos que nos abençoam hoje. Eu penso que uma das grandes diferenças entre o céu e o inferno é esta: o inferno é individualista, enquanto o céu é uma comunidade ajudadora.
Conta-se que, certa vez, um homem foi levado, respectivamente, ao céu e ao inferno. Primeiro, levaram-no ao inferno, onde ele viu uma grande mesa com todo tipo de comida saborosa. Contudo, as pessoas sentadas à mesa tinham uma deficiência: os braços eram retorcidos, para o lado de fora. Por causa desse defeito, elas não conseguiam levar o garfo à boca. Sempre que o faziam, o garfo seguia direção contrária. A agonia daquelas pessoas era terrível. Apesar de estarem famintas e diante de tão farto banquete, ninguém podia alimentar-se.
Depois, ele foi levado ao céu. Lá, ele viu uma mesa semelhante, e nela um grande banquete era servido. As pessoas ali também tinham os braços retorcidos para o lado de fora, mas todos riam e se alegravam tremendamente. Qual era o segredo? Era que, não podendo levar o garfo à própria boca, cada um deles colocava a comida na boca do vizinho, e assim todos se alimentavam.
O que dá à nossa vida um caráter celestial é justamente essa aliança de amizade e amor que temos estabelecido uns com os outros. É hora de nos despojarmos da capa, da armadura, da espada, do arco e do cinto. São as condições estabelecidas por Deus para mantermos relacionamentos vivos, numa aliança real de amor.

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

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